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UM SÍMBOLO DE AVANÇO E PROGRESSO DO QUE FORAM OS OITO ANOS DO GOVERNO KLEBER: O DESMONTE FORÇADO DO PRÉDIO DA LOJA HAVAN, EM GASPAR

Nada mais simbólico do que foram – oficialmente só termina no dia primeiro de janeiro do ano que vem quando passa o governo – os oito anos do governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, com Luiz Carlos Spengler Filho e Marcelo de Souza Brick, ambos do PP, do que a saga de parcerias, erguimento, a “fábrica de desmentidos e pressões para que tudo ficasse escondido”, a marquetagem contra o que estava exposto e frágil, bem como os remendos inúteis e finalmente, o desaparecimento forçado do prédio da Loja Havan, na Rua Anfilóquio Nunes Pires, no Bairro Bela Vista, a meio caminho de Blumenau. 

Nada mais simbólico do vazio e abandono daquele terreno para quem passa diariamente por ali, no timming equivocado do atual governo, na farra marqueteira e naquilo que aconteceu neste final de semana. Como se fossem vencedores, assinaram – e prometem assinar mais – papelinhos para começar várias obras, num governo que teve oito anos para fazer exatamente o que assinou e não foi capaz de levar adiante para benefício da sua comunidade e o que é pior: da própria continuidade no poder de plantão.

O vazio de apoiadores, inclusive os da máquina, nos atos deste final de semana é outra advertência simbólica que os políticos teimam em não perceber e por isso, foram retirados do poder por falta de votos, muitos votos. Impressionante!

Estou de alma lavada, mais uma vez.

Quando o político se mistura com o particular, neste caso quem pagou a conta foi só o particular. É raro. Menos mal para os pagadores de pesados impostos. Ruim, para esperto empresário Luciano Hang e que caiu no conto dos políticos, e logo em Gaspar e olhando tudo por anos da sua vizinha Brusque. Advertido, ele foi. E por aqui. Mandou me desmentir. Preferiu os novos amigos. Nada como um dia após o outro. Já contei isso em outros artigos, mas vou repeti-los para contextualizar e não espezinhar quem ficou, infelizmente, com a conta de uma aposta em dobro, depois de ver sinais de ruinas em seu prédio e tentou remendá-los para não perder a pose.

POLÍTICOS COLOCAM ÁGUA NO CHOPE

Era 24 de março de 2018, parte do programa de comemorações da Emancipação de Gaspar, e a única Loja Havan, em Gaspar  (a 108ª naquela época) era inaugurada ao custo de R$25 milhões (e teve outro tanto de remendos, lucros cessantes e desmonte além dos 105 empregos diretos que foram para o ralo). Festas das grandes. Luciano e Kleber discursaram se babaram em elogios mútuos. Luciano botou em pedestal de super star no político e prefeito Kleber, à equipe de engenheiros, à forma como se agilizou tudo dentro prefeitura para dar forma ao sonho, bem como as parcerias amarradas para botar o empreendimento de pé.

Avisei de que aquele terreno era instável por aterro. Ouvi conversa de quem montava aquele prédio de seis mil metros quadrados e um pátio maior ainda era craque no assunto e eu um ignorante no assunto. Estavam certos quanto a minha ignorância técnica. Mas, reproduzia gente entendida. Zombaram. Entretanto, ninguém, nem mesmo as autoridades e o próprio empreendedor desconheciam o que lhes rondavam. Só não podiam tornar isto público e ainda por um canal de credibilidade que não tinha patrocínio -e nunca teve – de ninguém. Dobraram a aposta que sabiam arriscadíssima. Na foto a estátua da “Liberdade” sendo retirada daquilo que um dia tinha sido uma loja.

FECHOU E NÃO REABRIU EM OUTRO LUGAR COMO SE ANUNCIOU

Bingo. No dia 23 de dezembro de 2018 a “mega loja” estava fechada. E a turistada, passando por ali. Reabriram no dia primeiro de maio de 2019. Em outubro, a reforma não suportou à realidade instável do solo e a loja fechou novamente. Eu escrevi que não voltaria mais. Fui desmentido na prefeitura e na Havan. Um ano depois, no dia 28 de julho de 2021 – ampliado pelo reflexo e baque do fluxo físico nas lojas de varejo devido a Covid, Luciano disse ao jornal “Cruzeiro do Vale”, de Gaspar, que a loja não voltaria mais ser aberta no Bela Vista, onde praticamente tudo já tinha sido retirado de lá – local (ponto comercial) que também se revelou impróprio para a rentabilidade de uma loja daquele gênero e porte, avaliação real feita enquanto ela esteve aberta. Segundo Luciano, ela seria erguida em breve em outro lugar Gaspar.

Noves fora, estamos praticamente em dezembro de 2024 e o elogiado Kleber por Luciano está indo embora, derrotado como poucos até agora, depois de oito anos de governo. E a Havan nunca mais respirou entre nós. Só atacarejos abriram desde então e não caíram nem na lábia, nem na escolha dos parceiros técnicos e dos terrenos.

O que se desmanchou e foi embora, não foi exatamente a Havan. Foi o discurso, a marquetagem, a enrolação e a falta de resultados daquilo que não se sustenta de pé, num mundo de gente cansada de tanta enrolação. 

ARMANDO O PALANQUE PARA O PRÓXIMO GOVERNO DESMANCHAR E SE DESGASTAR

O que aconteceu neste final de semana e vai ter mais para os próximos dias? O prefeito Kleber, seu vice Marcelo e alguns poucos pingados – pois faltaram lideranças, políticos e gente da cidade e das comunidades beneficiadas -, antes de sair da prefeitura, fechar a porta e entregar as chaves para os novos inquilinos Paulo Norberto Koerich e Rodrigo Boeing Althoff, ambos do PL, viraram uma espécie de Papai Noel, tão comum entre nós, e que passa de caminhão pelas ruas, vielas no Centro e dos bairros – esta empoeiradas – distribuindo balas às ingênuas crianças e gente barbada que sabe muito bem que Papai Noel é uma estória de fantasias.

Kleber e Marcelo assinaram papelinhos para o próximo prefeito e vice fazerem aquilo que não conseguiram, mas tiveram quase oito anos – no caso de Marcelo, quatro – executarem. 

Tudo com dinheiro do BRDE e que a Câmara já aprovou estes financiamentos há muitos anos atrás.

Um papelinho é para um trecho de 1,2 quilometro, com ciclovia, da Rua Frei Solano, no Gasparinho, com outros 1,2 quilômetro de esgotamento pluvial na mesma rua, ao custo inicial de R$8 milhões, porque no decorrer das obtas terá reajustes. A outra é preparação e pavimentação de 2,2 quilômetros da Leonardo Pedro Schmitt, no Macucos – onde estão empresários que trocaram de time deixando Kleber por Paulo -, por R$5,6 milhões. Esta prometida até agosto do ano que vem. Uau! Só para lembrar, um trecho de menos de um quilômetro no pasto do Jacaré há três anos custou R$12 milhões, já foi reparado e está uma lástima. Por outro lado, Paulo e Rodrigo estão num silêncio só sobre as prioridades do governo deles ditadas pelo atual prefeito. Então…

O que a Havan tem a ver com estas obras dos papelinhos assinados e exibidos nas fotos na enxurrada que tomou conta das redes sociais? A Havan e o governo de Kleber, Luiz Carlos e Marcelo desafiaram a lógica e as advertências de quem via perigo na insistência daquilo que não se sustentava aos olhos de todos. A Havan teve um aprendizado caro. Os políticos, por sua vez, continuam desafiando a capacidade de discernimento dos cidadãos e cidadãs, mesmo diante das duras lições que tomaram nas urnas. Muda, Gaspar!

TRAPICHE

Uma foto fora de contexto. O prefeito eleito de Gaspar pelo PL, Paulo Norberto Koerich, delegado de polícia, resolveu republicar neste final de semana nas suas redes sociais, esta foto ao lado. Nela, levado por apoiadores a um convescote em Balneário Camboriú no ano passado, bem antes dele ser oficialmente candidato a prefeito, aparece com o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro, PL, em raro momento de descontração daquele encontro marcado pela cara fechada e desconforto do anfitrião.

Na campanha, Jair Messias Bolsonaro, PL, foi um ausente da campanha de Paulo Norberto Koerich e Rodrigo Boeing Althoff, ambos do PL. Até a candidata a vereadora pelo PL, Teresa da Trindade, conseguiu uma foto com o “mito” dias antes da eleição, mas não Paulo. Althoff já está escalado para liderar o Republicanos. E qual a razão da foto? Bolsonaro está metido numa embrulhada de suposto golpe de estado com farta documentação embrulhada pela sua Polícia Federal e o ministro Alexandre de Moraes, do STF. E os radicais amarelinhos pressionaram. Paulo cedeu. E marcou território do desagravo. 

“Eu respeito a opinião de cada um. E hoje resolvi manifestar a minha. Como cidadão tenho direito de me expressar. Não atento contra o estado democrático de direito e muito menos contra a legislação vigente pela minha manifestação”, justificou Paulo Norberto Koerich, PL. E ele está certo. É um risco, mas está certo. É um risco, porque o STF nem sempre pensa assim quando se trata de conservadorismo, direita e bolsonarismo. E para piorar, Paulo não publicou algo semelhante em campanha em favor do “mito”. Então…

Paulo Norberto Koerich, PL, ao contrário do que sugere, já é um ente político exposto, apesar de não diplomado e empossado. Ele acha que naquilo que que se invade e se explora – e com exageros até – na imprensa e redes sociais nestes dias contra a direira, conservadorismo, militares e Jair Messias Bolsonaro, PL, especialmente, não há condenação, julgado e nada está ainda irrecorrível. Também está certo. E a julgar pelo que aconteceu com as condenações da Lava Jato, o que é espantoso e manchetes hoje, poderá ser um erro processual grave e fundamental no futuro, para anular tudo e descondenar que já foi provado culpado. Vai depender dos poderosos no plantão judiciário e no mundo do faz sde conta.

Há dias aqui, republiquei uma explicação constrangida a repórteres da televisão ABC Americana, quando o Democrata prefeito de Nova Iorque, o preto Eric Adms, se justifica sobre a derrota do partido dele para os Republicanos. As pessoas, segundo ele, não querem saber de ideologia, mas de soluções para o seu dia a dia, como estabilidade econômica, jurídica, emprego, renda, segurança, transporte, escolas e os serviços mínimos do estado para com a sociedade. E que Donald Trump teria falado melhor sobre estes temas ou teria criado melhores esperanças para a maioria dos americanos.

Paulo Norberto Koerich, PL, foi eleito no dia seis de outubro e ainda não conseguiu completar a lista do primeiro escalão que é pouco mais de uma dúzia de nomes. Donald Trump, Republicano, em algo muito mais complexo, pressionado e vigiado, eleito no dia cinco de novembro, acabou no sábado de indicar todo o seu primeiro escalão de mais de duas dúzias de nomes. E não é para a transição. É para serem titulares e um até já caiu. 

Há descompassos e Paulo Norberto Koerich, bem como Rodrigo Boeing Althoff, ambos PL, parecem não notar que foram eleitos para mudar ao que está aí marqueteado e não realizado. Outra. A campanha já terminou. Se Paulo não tomou posse formal, informalmente já deveria estar com a lição decorada para o dia primeiro de janeiro, pois a cidade não vai parar. Paulo, no post que fez está falando sobre algo que não vai resolver o problema cotidiano das pessoas em Gaspar. Não se trata ser de direita, centro ou esquerda, muito menos ser petista, lulista ou bolsonarista. Trata-se da vida da cidade dele e dos que vivem nela onde a interferência dele pode melhorar ou piorar o que está aí. Paulo está se distraindo.

Quando Paulo Norberto Koerich, PL, resolve atender o discurso dos radicais, que ele nunca foi, ao mesmo tempo que fecha a janela para o atual prefeito na cara de pau aproveitar a oportunidade, dá mais gás para Kleber Edson Wan Dall, MDB, barbarizar e criar embaraços nos últimos dias do atual governo contra o futuro do governo de Paulo, como as assinaturas de ordens de serviços de obras que Kleber não fez durante oito anos e já arma o discurso neste momento de que quem está em dívida com a sociedade é Paulo. A festa da Selma já acabou. E só dançou velhinhos e velhinhas que pegaram as absurdas penas de 17 anos. Os graúdos estão se escapando e sendo incensados por gente como o Paulo que durante a campanha ficou na mão.

O advogado gasparense João Pedro Sansão foi um dos observadores internacionais oficiais nas eleições ocorridas no Uruguai neste domingo. O eleito foi o esquerdista Yamandú Orsi, pupilo do ex-presidente Pepe Mujica. A eleição dele foi a derrota para o atual presidente, de centro direita, Luis Lacalle Pou.

Depois de se distanciar e achando que autonomamente Gaspar tinha mais a ganhar, o prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, a poucos dias de deixar o mandato de oito anos, volta a se aproximar do CIMVI (Consórcio Intermunicipal de Munícipios do Vale do Itajaí), apreoximação que o prefeito eleito Paulo Norberto Koerich, PL, já tinha sinalizado antes e depois da eleição dele. O CIMVI pode ser o caminho para várias soluções na área de planejamento territorial e meio ambiente, incluindo, as licenças que estão travadas.

Enquanto o governador Jorginho Melo, PL, a dois anos da tentativa de reeleição não tem uma marca ou legado para a campanha, vai construindo três problemas simultaneamente para uma tempestade perfeita: degastou-se com a politicagem para as eleições municipais de outubro, está se enrolando em contratos sem as devidas licitações e o prefeito de Chapecó, João Rodrigues, PSD, articulado e comunicador nato, já avisou que vai bater chapa com ele.

Sem perder a pose e a autoridade. Kleber Edson Wan Dall, MDB, está recebendo empresários para viabilizar soluções futuras. E tudo com registro público de entidades de classe que patrocinam estes encontros.

A cidade de São Paulo, há três anos, os serviços funeários e os cemitérios foram privatizados por concessões. Aumentaram-se os preços dos enterros e das taxas de manutenção dos cemitérios. Os partidos políticos foram à Justiça. E o caso subiu para o Supremo Tribunal Federal. E o ministro Flávio Dino, acaba, liminarmente, de determinar que os preços voltem ao que era antes da privatização. Pode ser um exagero. Não entro no mérito.

Por que? Transporto este assunto para cá. Ele mostra como os gasparenses não possuem representatividade nas questões comunitárias que hles afeta e impostas por canetadas de políticos. Aqui não se privatizou nada neste ambiente que lida com os mortos, mas as taxas foram aumentadas várias vezes da noite para o dia por Kleber Edson Wan Dall, MDB, sem que qualquer melhoria fosse feita.

Depois da revolta, todos os vivos estão bem quietinhos, mesmo que não haja uma capela mortuária decente para as despedidas dos mortos no principal cemitério municipal. Muda, Gaspar!

O prefeito dos prefeitos como presidente da Fecam  – Federação de Consórcios e de Municípios Catarinenses – Kleber Edson Wan Dall, MDB, postou foto dele nas redes sociais “sendo entrevistado” pela CBN sobre como melhorar as defesas civis daqui e de outros municípios. A daqui está sucateada e nas mãos do seu motorista, irmão de templo, sem qualquer conhecimento técnico na área. Se todos seguirem este exemplo… Muda, Gaspar!

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2 comentários em “UM SÍMBOLO DE AVANÇO E PROGRESSO DO QUE FORAM OS OITO ANOS DO GOVERNO KLEBER: O DESMONTE FORÇADO DO PRÉDIO DA LOJA HAVAN, EM GASPAR”

  1. É TAREFA URGENTE DO CONGRESSO LIMITAR OS SUPERSALARIOS, editorial do jornal O Globo

    A parcela de juízes e procuradores que receberam vencimentos superiores ao teto constitucional em pelo menos um mês do ano aumentou de 83% em 2018 para 92% neste ano, de acordo com o Anuário de Gestão de Pessoas no Serviço Público 2024. Os dados do levantamento mostram que o avanço da elite do funcionalismo sobre o dinheiro público, em vez de diminuir, tem crescido. Por isso exige resposta imediata do Congresso. É preciso fazer valer o limite constitucional de R$ 44.008,52, salário dos ministros do Supremo. Supersalários já seriam injustos se sobrasse dinheiro no Orçamento. Com o Brasil enfrentando grave crise fiscal, são um disparate.

    Os beneficiados por regalias que inflam sua remuneração são uma minoria: 0,06% do funcionalismo, em especial juízes, procuradores e militares. Mas custam caro. Magistrados da ativa e aposentados receberam R$ 32,8 bilhões de reais acima do teto de 2019 a 2023, entre indenizações e direitos eventuais. Olhar para fora do país dá a dimensão da incongruência. Os gastos anuais com tribunais de Justiça representam 1,6% do PIB brasileiro, ante média de 0,5% para os países emergentes e de 0,3% para as economias avançadas. Como o custo principal da atividade jurídica está no pessoal, não é difícil descobrir a causa do desperdício.

    A Constituição prevê que fiquem fora do teto os gastos classificados como “verbas indenizatórias”. Mas não define nem delimita essa categoria. É algo que já deveria ter sido feito por lei, mas até hoje não foi. Com o vácuo, abriu-se a brecha para todo tipo de decisão com o intuito implícito de burlar o espírito da Carta. Proliferam auxílios variados: paletó, moradia, alimentação, até pré-escola. Quando contestados, costumam ser chancelados pela própria Justiça, em claro exemplo de corporativismo da magistratura interessada em manter as próprias benesses.

    Em 2016, foi criada no Senado a Comissão Especial do Extrateto, com o objetivo de trazer contribuições para resolver o problema. Apresentado em 2021, o Projeto de Lei 2.721, o PL dos Supersalários, se tornou uma resposta insatisfatória. Foi desidratado na Câmara a ponto de incluir 32 exceções que permitiriam a manutenção da maioria dos absurdos usados para inflar a remuneração: conversão em dinheiro de férias não gozadas de juízes e procuradores, adicionais noturnos de funcionários do Congresso, verbas de representação de diplomatas, isenções e compensações de militares.

    O texto permanece à deriva no Congresso. Os parlamentares deveriam dar a devida atenção ao tema. O ideal seria uma Proposta de Emenda à Constituição que colocasse tanto verbas indenizatórias como remuneratórias sob o teto. Se não houver consenso, o texto do PL deveria ser modificado para acabar com as exceções, limitar drasticamente o total das verbas indenizatórias e instaurar controles que evitem burla.

    A remuneração do funcionalismo brasileiro é repleta de distorções: salários distintos para atividades similares, falta de conexão entre o salário e a função, descolamento do desempenho e uma barafunda de carreiras que ninguém é capaz de entender. Tudo isso colabora para tornar a gestão de recursos humanos confusa e a produtividade baixa. De todas as distorções, a mais imoral são os supersalários. Em tempos de debate sobre medidas contra o desperdício nos gastos, é urgente impor o teto aos salários do setor público. O Congresso não pode se esquivar.

  2. UM JUIZ QUE MARCA E COBRA PÊNALTI, editorial do jornal O Estado de S. Paulo

    Para o bem do Brasil, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), deveria declarar-se impedido de relatar o inquérito que apura a elaboração de um plano golpista após as eleições de 2022. Poderia ir além e tornar-se apenas o primeiro de outros movimentos igualmente benéficos para o bom funcionamento do STF e a legitimidade de suas decisões, como declarar-se impedido também de julgar o caso quando este chegar ao plenário da Corte. No inquérito, a Polícia Federal (PF) indiciou o ex-presidente Jair Bolsonaro, o general da reserva Braga Netto, ex-ministro da Defesa e candidato a vice-presidente, e outras 35 pessoas.

    Embora seja improvável que Moraes ignore tal clamor, seria um gesto de grandeza, com abdicação republicana de sua reconhecida afeição pelo protagonismo político, policial e judicial. Ao fazê-lo, o ministro evitaria deixar brechas desnecessárias que venham, no futuro, permitir a anulação de processos, como ocorreu na malfadada Operação Lava Jato, ou mesmo que se volte a falar na delirante ideia de anistia que sistematicamente ronda o Congresso.

    O Inquérito 4.874 adquiriu contornos ainda mais graves depois que a Operação Contragolpe, da PF, revelou um audacioso plano para matar o presidente Lula da Silva, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o próprio ministro Moraes. As tramas destrinchadas pela PF, caso sejam comprovadas, indicam que pode ter havido uma tentativa de golpe de Estado urdida por civis e militares inconformados com a democracia. A extensão do furor delitivo, o número de envolvidos, o grau de participação de Bolsonaro e que tipo de punição merece tamanha afronta à democracia e à vontade popular serão objeto de análise dos ministros do STF, sob a liderança do relator. Não há o que questionar até aí. O duvidoso é o quanto a relatoria de Moraes pode tisnar o que precisa ser inquestionável.

    Já tem longa vida o incômodo com a mixórdia de poderes adquiridos por Moraes, hoje um onipotente e onisciente condutor de inquéritos sigilosos e onipresentes. Tudo começou em 2019, com o inquérito das fake news, aberto de ofício pelo ministro Dias Toffoli, então presidente do STF. No ano seguinte, por sorteio, chegou ao gabinete de Moraes o inquérito dos atos antidemocráticos, que se desdobrou, em 2021, para a investigação sobre milícias digitais. Em 2022, as investigações passaram a abarcar também atos como o bloqueio de rodovias e os pedidos de intervenção militar em acampamentos golpistas. No ano passado, Moraes e sua equipe ganharam nova responsabilidade: as investigações e ações penais dos atos do 8 de Janeiro.

    Desde então, inquéritos que deveriam prever prazo para acabar, ser transparentes e ter objeto determinado foram prorrogados livremente, assim como também se avançou em cautelares distorcidas, combate à ganância das Big Techs, investigação da falsificação do cartão de vacinas de Bolsonaro e outros tentáculos. Sob a chancela dos seus pares, Moraes se autoatribuiu o papel de livrar a democracia do extremismo e do discurso de ódio, motivando-se a censuras, bloqueios de contas, multas exorbitantes e prisões preventivas cuja legalidade não pôde ser verificada, porque correm sob sigilo. Em muitos casos, nem um “Auto de Fé”, o ritual de penitência dos tempos sombrios da Inquisição, pôde ser ofertado a hereges alvos de suas penalidades. Naturalizou-se ainda sua multiplicidade de papéis, entre as funções de delegado, promotor e juiz – além de vítima. É essa condição que se deseja evitar com um eventual impedimento de Moraes como relator do inquérito. Não deveria ser o único gesto, mas será um bom começo.

    Que não reste dúvida sobre o entendimento deste jornal: o Brasil, ao que parece, quase foi alvo de uma intentona golpista, cujo extremo pode ter sido a montagem de um plano destinado a matar autoridades, Bolsonaro foi, no mínimo, o estimulador-geral do espírito golpista daquele tempo, e seus artífices e executores precisam ser julgados por seus crimes. Nada disso, porém, reduz o dano dos excessos produzidos pelo ministro Moraes nem oblitera a sua condição de alvo, vítima ou objeto da mesma causa que estará relatando, acusando e julgando. Não há virtuose de tal ordem na defesa recente da democracia que justifique tantos poderes.

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