Hoje, véspera de mais um feriadão, com um catarinense do Alto Vale do Itajaí se explodindo em Brasília e sendo, por isso, manchete até no noticiário internacional, testei o “Gemini”, a Inteligência Artificial do Google – a referência da administração de Gaspar na área de Educação – para abrir este artigo. Perguntei por que as pessoas se auto enganam. E ela me deu várias pistas.
O autoengano é um mecanismo psicológico complexo que envolve uma série de fatores e motivos. Em essência, é quando uma pessoa cria uma realidade alternativa em sua mente, muitas vezes para se proteger de emoções dolorosas, situações difíceis ou para manter uma autoimagem positiva.
Existem diversas razões para o autoengano, algumas das mais comuns são:
- Proteção emocional: É uma forma de lidar com sentimentos como medo, tristeza, vergonha ou culpa, evitando confrontá-los diretamente.
- Manutenção da autoestima: Ao criar uma versão idealizada de si mesmo, a pessoa pode se sentir mais segura e confiante.
- Justificativa de comportamentos: O autoengano pode ser usado para justificar escolhas e ações que, de outra forma, poderiam gerar culpa ou arrependimento.
- Evitação de conflitos: Ao negar a realidade, a pessoa pode evitar confrontar problemas ou situações que a incomodam.
- Adaptação social: Em alguns casos, o autoengano pode ser uma forma de se adaptar a um ambiente social ou cultural que exige determinadas crenças ou comportamentos.
Quais são os sinais de autoengano?
Reconhecer o autoengano pode ser difícil, pois muitas vezes ele é sutil e inconsciente. No entanto, alguns sinais podem indicar que alguém está se enganando a si mesmo:
- Negação da realidade: A pessoa insiste em acreditar em algo que não é verdade, mesmo diante de evidências contrárias.
- Racionalização excessiva: Justifica seus comportamentos e decisões de forma exagerada, buscando sempre uma explicação lógica.
- Projeção: Atribui seus próprios sentimentos e qualidades negativas a outras pessoas.
- Idealização: Cria uma imagem perfeita de si mesmo ou de outras pessoas, ignorando suas falhas e imperfeições.
- Dificuldade em aceitar críticas: Se sente muito sensível a qualquer tipo de crítica, interpretando-a como um ataque pessoal.
Como lidar com o autoengano?
Lidar com o autoengano requer autoconhecimento e disposição para mudar. Algumas estratégias podem ajudar:
- Conscientização: O primeiro passo é reconhecer que você pode estar se enganando. Observe seus pensamentos e sentimentos, e questione suas crenças.
- Auto-observação: Preste atenção em seus comportamentos e em como eles se relacionam com suas crenças.
- Aceitação: Aceite que você não é perfeito e que todos cometem erros.
- Busca por ajuda: Um terapeuta pode te ajudar a identificar e trabalhar seus padrões de pensamento e comportamento.
É importante lembrar que o autoengano é um processo complexo e que cada pessoa é única. Se você suspeita que está se enganando, procure ajuda profissional.
Talvez também eu esteja me auto enganando e precise de ajuda. Afora, isto é preciso ir ao ponto fora da curva de gente que como agente público e político está exposta, até por que na maioria dos casos, é escolhida por nós pelo voto livre para nos representar e nos liderar.
O prefeito de Gaspar, Kleber Edson Wan Dall, MDB, achou no final de oito anos de mandato uma válvula de escape na Fecam – Federação de Consórcios e de Municípios Catarinenses – para si e o seu braço direito daqui, o qual teve que pedir o boné diante de conversas cabulosas gravadas, Jorge Luiz Prucino Pereira, PSDB. Kleber se tornou uma espécie de governador dos prefeitos catarinenses em fim de mandatos.
Cria, com isso, laços que não fez em oito anos de mandato como prefeito, quatro esperando a vaga de prefeito e outros tantos como vereador e presidente da Câmara. Abre espaços. Faz convescotes e esconde o desastre político que liderou nas últimas eleições, tudo por conta de resultados administrativos pífios sob seu comando.
O AUTO ENGANO I
Esta semana, de volta a terrinha depois do convescote da semana passada em Blaneário Camboriu, o prefeito Kleber recebeu visitas para mostrar suas obras que não convenceram o seu eleitorado a dar um voto de confiança na continuidade: a tal sala de informática chamada “Laboratório Maker” que só em meados do ano passado fez parte da reforma da Escola Norma Mônica Sabel, na Margem Esquerda, bem como abandonado ginásio vereador Gilberto Sabel, no Poço Grande, que foi transformado e aberto há poucas semanas – repito, tudo só após de oito anos de governo – numa réplica do que se tem na Mônica Sabel e na marquetagem criativa, a qual chamaram de “Fábrica”, e naquilo que já deveria estar na maioria das escolas de Gaspar.
Centralizaram na “Fábrica” para suprir esta demanda. Mas, por enquanto, uma escala logística de deslocamento permanentedos alunos das demais escolas para o aprendizado organizado e regular dos seus alunos naquele espaço, não há. E nem haverá. Estamos em final de ano letivo. Por enquanto, isso é tratado como curiosidade em excursões de alunos por professores abanegados. Vamos ao cerne do comentário. Kleber trouxe esta semana a Gaspar a supervisora de políticas educacionais da Fecam, Marinez Chiquetti Zambom, para conhecer estes dois espaços tidos por ele e a gestão dele, como modelares de sua administração.
AUTO ENGANO II
Por outro lado, há três semanas eu estava sem olhar as sessões da Câmara. E tomei um susto. E para não fugir da área de Educação, para evitar qualquer mal comparação, lá estavam as respostas para esta auto enganação e desastre eleitoral de Kleber, assim como do seu apadrinhado de última hora, o vice-prefeito Marcelo de Souza Brick, PP.
Os próprios vereadores da situação – uns porque já perderam e não vão voltar e outros, porque finalmente se vêem livres da obrigação de se auto enganarem coletivamente e com isso, e só depois de perceberem os votos minguarem por serem da tal Bancada do Amém (MDB, PP, PSD e que engoliram os nanicos sem votos PSDB e PDT), malharam o governo Kleber e Marcelo, pela situação caótica em que estaria a Escola Ferandino Dagnoni, no Gasparinho: sem diretor-adjunto há sete meses, sem professor de matemática há quatro meses, sem professor de inglês há 45 dias, sem professor de religião há 21 dias, sem..
Tudo isso, numa escola com mais de 500 alunos, que vai para 600 no ano que vem – foi projetada para 300 -, e que devido a isso, não tem salas de aulas para acolher com o mínimo, sem contar que sala de reuniões e a de teatro já viraram salas de aulas regulares neste improviso de acomodação por falta de planejamento, investimento e até respeito.
Kleber está mostrando aos visitantes a Norma Mônica Sabel com o seu Laboratório Maker, como se isto fosse a realidade da educação em Gaspar. Mostra a “Fábrica” no ginásio vereador Gilberto Francisco Sabel como outro exemplo de avanço na área da educação, mas nem a escala logística que movimenta diariamente o acesso dos alunos das demais escolas ao equipamento, numa isonomia do conhecimento a quem não tem sequer professores regulares ele omite. Impressionante.
Nas mesmas sessões da Câmara do mês de outubro e novembro, ouço dos vereadores que a Escola Olímpio Moretto, no Gaspar Grande, vai ter implantado no ano que vem a nona série. Já se sabia disso faz anos. Desde que a secretária de Educação era a professora Zilma Mônica Sansão Benevenutti, MDB, no primeiro mandato de Kleber e que ficou vereadora por quatro anos no segundo mandato, e é a presidente do MDB gasparense, mesmo assim, não se reelegeu por larga margem de votos.
Impressionante outra vez, principalmente para quem ao longo desses oito anos, publicou semanalmente várias fotos e textos nas redes sociais de reuniões com o seu secretariado no seu gabinete, exaltando o planejamento e alinhamento da equipe no seu gabinete para resultados pela comunidade, mas esqueceu do básico: a manutenção da cidade e no caso da educação, a adequação das escolas já existentes às ncessidades e realidades não de futuro, mas as mais básicas da tualidade: espaços e profissionais.
AUTO ENGANO III
Numa das sessões da Câmara, o líder de governo – função que ninguém a quer, diga-se a bem da verdade – que não concorreu a eleição, Francisco Solano Anhaia, MDB, inconformado, endureceu para cima dos seus pares da Bancada do Amém por não terem permanecido ajoelhados após as eleições de seis de outubro.
Na sessão seguinte, talvez para não passar pelo mesmo vexame – e cansativa repetição e desta vez sozinho -, o líder de governo Anhaia pediu para sair cedo e o governo de Kleber e Marcelo não foi defendido por ninguém.
Uma sessão antes, Anhaia qualificou de irresponsáveis os vereadores da “base do governo” que alimentam este tipo queixa em ambiente públicos como a tribuna da Câmara. É transmitida – com todos os defeitos técnicos – e esta gravado. Anhaia é outro que se auto engana.
Talvez, ele tenha razão quando os acusa de irresponsáveis. Tendo fidelidade a um governo sem rumo e liderança, foram, os vereadores da base, irresponsáveis com a sociedade, a tal ponto que alguns estão pagando com a falta de votos para continuar na Câmara. Outros, já sabiam disso e nem foram à reeleição e até mesmo à campanha. E houve que trocasse de banda, depois de anos ferrenha defesa do atual governo. O verdadeiro problema de Kleber e Marcelo, e já escrevi outras vezes sobre isto, no fundo, foi a Bancada do Amém e falta de verdadeira oposição. Ela é necessária para se coçar. Houve acomandação e falsa marquetagem e que já está instalada no futuro governo.
AUTO ENGANO IV
Agora, tardiamente, o derrotado vice-prefeito, Marcelo de Souza Brick, ainda no PP, diz que a vida de realizações dele na política se inspira no ex-presidente da República (1956/61), o mineiro Jucelino Kubitsckek de Oliveira (1902/76), aquele que mudou a capital brasileira do Rio de Janeiro para Brasília e a fez fisicamente e nos trâmites burocráticos em cinco anos. Isto é sério ou deboche?
Marcelo é outro que se auto engana neste mundo político e administrativo. A prova? As urnas e o que ele, Kleber e a Bancada do Amém registraram sem critérios nas redes sociais e na imprensa amiga por anos afio. Criaram joias raras para exibirem. No fundo, deixaram abandonada a mina que lhes produziria a riqueza quase inesgotável para serem reconhecidos como joalheiros virtuosos na política e na administração pública gasparense e quiçá, serem reconhecidos regionalmente ou até estadualmente. Será que vai mudar? Pelas fotos, convescotes, hábitos e entorno que é praticamente o mesmo, será preciso muita aposta. Muda, Gaspar!
TRAPICHE
Este chilique do fim da jornada 6 x 1, lembra muito o movimento que veio do nada e tomou o Brasil pela passagem gratuita no transporte coletivo urbano lá em junho de 2013. Lembram disso? Algo precisa mudar, mas não há espaço para a jornada de quatro dias de trabalho para três de folga, com 36 horas de trabçalho por semana que é o que está na proposta da deputada do Psol de São Paulo, Érika Hilton. A passagem gratuita não foi adiante exatamente porque não há como bancar se isso não for para o bolso de todos nós mais uma vez via mais impostos e inflação.
A jornada de quatro dias trabalhados e três de folga, num ambiente competitivo até é possível, se a sociedade estiver disposta a pagar o aumento dos serviços de todos os tipos, ainda mais num ambiente de baixo desemprego e alimentar a inflação quie já é alta e prejudica sempre os mais pobres. Agora 6 x 1 é algo que precisa ser repensado, preservando as 44 ou 40 horas semanais. O 6 x 1 pode ser a razão de tanta gente empreender – e fazer o seu horário – ou estar na informalidade para não se sujeitar as regras de trabalhar obrigatoriamente seis dias por semana com um de folga, que na maior parte dos casos, não cai no domingo ou na coincidência da folga de marido, mulher, ou companheiros.
Esta foto publicada na coluna do Upiara Boschi diz muito de como o governador Jorginho Melo, PL, faz politicagem, corre o altíssimo risco de ser o pior governador que Santa Catarina já teve e não governa. Corre um sério risco de não apresentar quase nada de discurso para a reeleição. A foto mostra a comemoração do governador com o Republicanos que ele tomou para ele na última hora para enfraquecê-los onde o PL tinha candidato – como em Gaspar -, com o deputado Federal de Rio do Sul, Jorge Gotten de Lima que ele tirou do PL e colocou na presidência do Republicanos catarinense.
O governador Jorginho Melo, PL, diante dessas operações espertas (que a imprensa daqui escondeu, mas a de fora esclareceu junto com a blog do Marcelo Lula daqui), está produzindo vulnerabilidade para si, não só a partir da oposição que ainda é fraca, mas do fogo amigo. Jorginho – e seus filhos, seus amigos do entorno de Joaçaba – está sendo vasculhado em contratos e por azar, agora, Jorge Goetten de Lima, Republicanos, foi parar para hoje nas páginas dos jornais, por ser amigo e correligionário de um maluco que se explodiu ontem em Brasília. O doido, é assim que considero até o momento, mas convencido posso mudar, era frequentador de seu gabinete.
Em Santa Catarina, o deputado Jorge Goetten de Lima, Republicamos, cujo cabo eleitoral em Gaspar é o vice-prefeito, Rodrigo Boeing Althoff, PL, anunciou a destituição de todos os diretórios do Republicanos em Santa Catarina. Aqui ele é ainda tocado por Oberdan Barni, o traído e excluído. É claro que Oberdam vai ser rifado e sairá com discurso de vítima. Aliás, ele já foi, há muito. Já escrevi isso várias vezes. As conversas de Oberdan com Goetten sempre muito foram difíceis por conta de que Goetten queria a desistência unilateral e humilhante de Oberdan. Oberdan insistiu e chegou em último, bem enfraquecido.
Com a formação do novo diretório do Republicamos em Gaspar, deverá haver uma divisão, ou acomodação de forças internas na coligação do governo de Paulo Norberto Koerich. Há uma tendência de migração do PRD para o Republicanos. A ideia é fortalecer e equilibrar PL, União Brasil e Republicanos. Pode vir uma nova Bancada do Amém por aí. Como se vê, pouca coisa nova. Quase tudo perigosamente, repetido.
Então já montaram uma empresa de marketing em Gaspar com gente e as bençãos do futuro governo de Paulo Norberto Koerich e Rodrigo Boeing Althoff, ambos do PL? Ai, ai, ai.
Então quer dizer que fazem uma reunião e recomendam os novos do entorno do futuro poder de plantão não se fale com a imprensa? Ou não entenderam a razão pela qual Kleber Edson Wan Dall, MDB, Marcelo de Souza Brick, PP, perderam, não aprenderam nada com as lições e estão no caminho certo para outro desastre. Aliás, estão cercadas das mesmas pessoas com os mesmos conceitos . Então nada é novo. Muda, Gaspar!
5 comentários em “O PREFEITO KLEBER E O AUTO ENGANO. DEPOIS DE GOVERNAR QUASE OITO ANOS A CIDADE E SER REJEITADO NAS URNAS POR EXPRESSIVA MAIORIA DE VOTOS NÃO FEZ SUCESSOR, MAS CONTINUA MOSTRANDO JÓIAS RARAS DA MINA ABANDONADA”
A bem da verdade?
O que falta pra Nação brasileira deslanchar é o POVO descobrir a FORÇA que tem e botar os políticos na LINHA. 👀😠
Concordo em gênero, gau e número, como diz a frase popular. Mas, não precisamos ir longe da nossa aldeia. Passada a eleição, o que parece estar na mesma linha, unicamente, são apenas os políticos que diziam estar em linhas diferentes para apenas cabalare votos. E eles não fazem segredo desse alinhamento pós eleições. Registram e espalham na internet para que não haja nenhuma dúvida entre os burros de carga de que são os mais dos mesmos.
O GOVERNO LULA CORRE ATRÁS DOS FATOS, por Willian Waack, no jornal O Estado de S. Paulo
A tramitação da PEC que prevê o fim da escala 6 x 1 é apenas o mais recente exemplo de como o governo Lula 3 corre atrás dos fatos, dentro e fora do País. No caso da redução da jornada de trabalho é patente a tentação no Planalto de surfar o impacto nas redes sociais com a promessa de fácil ganho eleitoral mais adiante. Mas corre atrás do fato muito sério da estagnação da produtividade no Brasil em relação às economias mais avançadas. Coisa chata de tratar que dá pouca visualização nas redes.
Há dois outros fatos de enorme relevância arrastando o governo para uma óbvia situação perigosa. O primeiro é a constatação de que despesas continuam subindo acima das receitas. Fato que decisões do atual governo agravaram e aprofundaram a armadilha fiscal. As energias políticas se concentram na luta pelas migalhas de despesas discricionárias no Orçamento.
O espaço de manobra vai sendo consumido em “puxadinhos” na tentativa – até aqui frustrada – de compensar via cortes de gastos pontuais a desconfiança dos agentes econômicos na capacidade do governo de equilibrar as contas. O que inclui comprar uma briga séria com os comandantes militares, que acreditavam que estava “combinado” que não se mexeria no sistema de previdência deles.
O segundo fato relevante foi perversamente revelado nessa minicrise para apontar quem é o mais malvado causador de déficits dos sistemas de previdência.
Ficou mais uma vez exposta a necessidade de dolorosa reforma da Previdência, cuja situação piorou com a política lulista de valorização do salário mínimo e o fechamento (exaustivamente apontado) da janela demográfica.
Observando esse grande quadro não é difícil perceber a complexidade da relação entre esses vários elementos: baixa produtividade, sistema de pensões e aposentadorias insustentáveis, demografia piorando e intratável disputa política pela alocação de recursos via orçamento público. Tudo muito sério, mas causa pouca espuma em redes sociais.
Para completar veio agora o tsunami do resultado da eleição presidencial americana, obrigando o governo brasileiro a correr atrás dos acontecimentos (no que não está sozinho, aliás).
A vitória de Trump promete tornar mais desafiador o cenário para economias emergentes em geral e a do Brasil em especial: juros altos, dólar caro, inflação e acirramento de protecionismo e guerras comerciais.
Do lado político, Trump esvaziou dois palcos com os quais o governo Lula 3 contava em termos de projeção internacional: o do G-20 e o da COP-30. Tornou a geopolítica ainda menos previsível, e mais delicada para o Brasil a busca de equilíbrio entre China e Estados Unidos. Haja fôlego para se correr tanto assim.
TOFOLLI PREMIA A CORRUPÇÃO E PUNE O ERÁRIO, editorial do jornal Folha de S. Paulo
Reportagem da Folha mostrou que decisões do ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, a respeito de casos da Operação Lava Jato derrubaram ações em que o Ministério Público cobrava mais de R$ 17 bilhões de envolvidos.
Ainda que nem todo esse montante viesse a se materializar em decisões da Justiça, a escala de grandeza impressiona. Trata-se de um prêmio à corrupção que impõe mais perdas a um poder público já largamente deficitário.
Toda a sociedade arcará com esse prejuízo na forma de dívida pública sobre a qual incidem juros escorchantes e em alta.
Aos danos materiais para o erário somam-se os danos reputacionais para o Supremo, cujo valor é intangível. Se existe um assunto fundamental com o qual a corte não soube lidar, é a Lava Jato.
Não se trata de negar a complexidade da situação. Depois que determinou a incompetência do foro de Curitiba para julgar Luiz Inácio Lula da Silva (PT), bem como a suspeição do ex-juiz Sergio Moro, o STF previsivelmente recebeu centenas de pleitos de defensores para reavaliar a situação de réus e investigados.
No mais significativo desses casos, Toffoli decidiu monocraticamente tornar imprestáveis todas as provas derivadas da colaboração premiada da empreiteira Odebrecht. Foi a partir dessa decisão deletéria que o próprio magistrado determinou boa parte das anulações e arquivamentos que vão erodindo os bilhões de reais pretendidos.
Os executivos da Odebrecht que decidiram cooperar com a Justiça, cumpre recordar, confessaram seus crimes. Mais do que isso, apresentaram provas materiais dos malfeitos.
Para contornar essa dificuldade, o ministro recorreu a uma interpretação exuberante. Comparou a situação dos executivos à de torturados, que não teriam agido de livre e espontânea vontade, como exige a legislação de colaborações premiadas.
Acredite quem quiser nessa tese. Os empresários que confessaram eram assistidos por alguns dos melhores advogados do país, que não costumam fechar os olhos para situações de tortura.
De qualquer modo, se Toffoli está tão convicto de que suas decisões monocráticas apenas traduzem decisões coletivas anteriores da corte, deveria ter levado esse e outros casos de maior repercussão para o plenário ou pelo menos para a turma. Como não o fez, acaba atraindo para si mesmo especulações e suspeitas.
Tampouco ajuda o magistrado —que chegou ao posto graças a suas ligações com Lula e o PT— o fato de sua mulher advogar para um dos grupos empresariais beneficiados por suas decisões. Há juízes que se declaram impedidos quando vivem esse tipo de conflito de interesses.
Já passa da hora de os 11 ministros do Supremo se darem conta de que, principalmente nos processos de maior octanagem política ou econômica, decisões monocráticas são um mal a evitar, não um veio a explorar.
DESPERDÍCIO E MÁ GESTÃO EXPLICAM A FALTA DE VACINAS, editorial do jornal O Globo,
Em quase dois anos de governo, o Ministério da Saúde não resolveu os problemas de logística que prejudicam o abastecimento de vacinas e levam ao desperdício. Responsável pela compra e distribuição das doses aos estados, a pasta tem argumentado que não há escassez generalizada e que tem comprado novos lotes. Mas a todo momento vêm à tona casos de estoques zerados, em especial nas vacinas contra Covid-19. O cidadão que vai aos postos em busca de vacina é quem acaba punido.
Reportagem do GLOBO feita por meio da Lei de Acesso à Informação revela que o governo Luiz Inácio Lula da Silva deixou vencer 58,7 milhões de vacinas desde 2023, a maior parte delas — 45,7 milhões — contra Covid-19. O total jogado fora apenas nos dois primeiros anos do governo Lula supera todo o desperdício na gestão Jair Bolsonaro, que já descartara inacreditáveis 48,2 milhões de doses.
A perda ocorre devido a compras próximas ao vencimento e à baixa procura, que acarreta encalhe. O governo alega que, em 2023, já recebeu milhões de doses próximas do vencimento e que foi obrigado a descartá-las. Independentemente do motivo, a inépcia causou prejuízo de R$ 1,75 bilhão apenas no governo Lula, valor escandaloso num país em crise fiscal aguda.
Enquanto se joga vacina no lixo, a escassez nos postos tem sido rotina. Faltam vacinas em 11 estados e no Distrito Federal, entre elas a contra Covid–19, segundo levantamento do portal Metrópoles. Não se pode dizer que seja um problema ocasional. Em setembro, um levantamento da Confederação Nacional dos Municípios (CNM) identificou que 65% das cidades brasileiras relatavam falta de vacinas, em alguns casos por mais de 90 dias. Na época, o ministério alegou que alguns lotes próximos do vencimento precisaram ser substituídos, atrasando a entrega.
Os problemas não se resumem à inépcia na gestão dos estoques e ao desperdício. Há decisões incompreensíveis. Recentemente, o Ministério da Saúde recusou um lote de 3 milhões de doses contra a Covid-19 atualizadas para a variante JN.1. Elas seriam entregues pela farmacêutica Moderna até dezembro em substituição às antigas. Mas o governo optou por receber a vacina para a cepa XBB — desatualizada a ponto de nem ser mais produzida. A pasta alegou que a nova ainda não tem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Ora, o problema poderia ser resolvido com a própria Anvisa, como já ocorreu ao longo da pandemia. Aplicar vacina desatualizada não é uma alternativa aceitável.
O Ministério da Saúde precisa regularizar os estoques, corrigir problemas na distribuição e calibrar as compras de acordo com a demanda. O Brasil acaba de recuperar o certificado de país livre do sarampo, como resultado dos esforços de vacinação. Assim como nos casos do sarampo ou da Covid-19, a vacinação é a arma mais eficaz — quando não a única — para combater diversas doenças.
A imunização já enfrenta obstáculos de toda sorte para assegurar o patamar de cobertura necessário para deter a circulação de vírus e outros patógenos: desinformação, dificuldade de acesso ou a noção equivocada de que, por estar controlada, uma doença não representa mais risco. O mínimo a exigir do governo é que haja vacina nos postos. Nada mais frustrante do que chegar lá e não encontrá-la. Pior: porque a validade expirou e teve de ser jogada fora.