Pesquisar
Close this search box.

KLEBER MONTA ESPETÁCULO PARA SE ESTADUALIZAR COMO EXEMPLAR ADMINISTRADOR E SER CANDIDATO A DEPUTADO ESTADUAL EM 2026. MAS, EM GASPAR ONDE NÃO CONSEGUIU FAZER SUCESSOR, AS DÚVIDAS SOBRE SUA GESTÃO SÓ AUMENTAM. AGORA ATÉ A RECOLHA DO LIXO – ENTRE OUTROS SERVIÇOS – SE TORNAM PROBLEMAS

No fechar dos dois mandatos, o prefeito de Gaspar, Kleber Edson Wan Dall, MDB, é o presidente da Fecam – Federação Catarinense de Municípios, de Consórcios e Associações de Municípios. Aqui, a sua administração marqueteira e com incomum comunicação personalíssima, entope os canais pessoais e institucionais das redes sociais nesse tempo todo. Ela o vende como um consagrado planejador, estrategista e administrador municipal. Entretanto, esta mesma cara e velha – marquetagem e que também ao final não deu certo em Itajaí onde é origem dela -, não foi suficiente para fazer o seu sucessor nas eleições de seis de outubro. Ao contrário. Foi um fiasco político-eleitoral.

O vice-prefeito Marcelo de Souza Brick que no PSD em 2016 fez 9.210 votos (ou 25,91% dos válidos) foi atraído e anulado como concorrente viável na segunda campanha vencedora de Kleber em 2020 para prefeito por seus apoiadores – hoje a maior parte deles está com o vencedor Paulo Norberto Koerich e Rodrigo Boeing Althoff, ambos do PL -, passou vergonha e tomou um castigo depois de brincar com a sorte e enfrentar as urnas que já lhes tinham sido madrastas em três outras oportunidades.

Para lembrar e fundamentar esta afirmação, Kleber em 2016 venceu o embate contra Marcelo com 13.290 votos, ou seja, 37,39% dos votos válidos. Na estica. E para lembrar e fundamentar, Marcelo, de verdade, venceu uma única eleição na vida dele: a de vereador. Acontecem em 2012, onde foi o mais votado com 1.439 votos, ou 4,29 dos válidos. Naquele pleito, o então vereador Kleber enfrentou a reeleição de Pedro Celso Zuchi, PT, no terceiro mandato. Kleber chegou em segundo com 15.298 votos, ou 45,29% dos válidos. Feitas as comparações, bem menos quando venceu quatro anos mais tarde.

Essa gente se perde nas contas e com ajuda da falta de memória dos gasparenses, imprensa, manipulação dos fatos pelos políticos e se estabelece na esperteza, aquela que quando é demais, come o próprio dono

FECHANDO A PORTEIRA AOS CONCORRENTES GASPARENSES E ENSAIANDO A CANDIDATURA QUE NEGOU

Retomando pela primeira vez

E qual a razão do castigo a um político que enxerga oportunismo na primeira esquina?

É que Marcelo desistiu de ser um nome solo viável a prefeito em 2020 – depois de sobreviver por anos em gabinetes de políticos – para se unir a Kleber e com isso evitar a dúvida que se tinha naquele ano com Kleber para se reeleger. Kleber já tinha dado sinais deser melhor marqueteiro do que prefeito de fato.

Depois de instalado no poder em 2021, Marcelo, quieto, aceitou ficar isolado na gestão de Kleber. Para piorar, zanzou entre o seu original PSD, passou escondido pelo PL, se candidatou a deputado estadual – vaga que seria de Kleber, chegou até a ser “lançado”, mas não largou o osso da cadeira de prefeito – pelo Patriotas (14.444 votos sendo que 10.007 em Gaspar e o partido nem fez legenda para colocar um só deputado na Assembleia Legislativa), até estacionar, convenientemente, no PP, onde não possui, inclusive depois da eleição deste ano, qualquer identidade. 

Humilhante, mesmo foi, depois de tudo isso, ter voltado aos “braços de Kleber” aceito ser o candidato de uma administração sob questionamentos. As urnas não perdoaram nem Kleber e muito menos marcelo.

Nas redes sociais, os menos avisados e diante ativa marquetagem, pelas postagens e encontros sorridentes, possuem à nítida impressão de que Kleber foi o vencedor das eleições de seis de outubro deste ano. E que folgadamente, fez o seu sucessor.  Na verdade, Kleber está em campanha de reserva de vaga a deputado estadual e que deixou passar em 2022, por orientação da liderança da sua igreja neopentecostal e do novo prefeito de fato de Gaspar, o deputado Federal, por Blumenau, Ismael dos Santos, PSD.

E para completar a pantomima, Kleber passou a ser o “governador dos prefeitos”. Tudo com a ajuda do seu braço direito e irmão de templo, o que fazia tudo acontecer em Gaspar – e ocorreram coisas que até Deus, o louvado, duvida -, o ex poderoso secretário da Fazenda e Gestão Administrativa, ex-presidente da Comissão Interventora do Hospital de Gaspar – o buraco sem fundo de recursos públicos sem a devida contrapartida para a sociedade – , ex-secretário de Planejamento Territorial – e que pediu para sair depois que áudios com conversas cabulosas tomaram conta da cidade -, Jorge Luiz Prucino Pereira, PSDB. Um desses áudios, foi pinçado criteriosamente e ensejou até uma CPI, quase secreta na Câmara, escolha precisa, extamente para se enterrar o assunto como se sabia quando a tal CPI foi “criada” pela própria Bancada do Amém e tocada pelo mais longevo dos vereadores, José Hilário Melato, PP.

UM PALANQUE ESTADUAL PARA PROMOÇÃO E COM ELE ESCONDER O FRACASSO ORIGINAL EM GASPAR

Retomando pela segunda vez.

Nesta semana, em Balneário Camboriú, a Fecam tomou conta com um convescote chamado de Comac. É o terceiro na vida da Fecam. O press release da Fecam diz que “cerca de 200 pessoas, entre prefeitos, prefeitas, novos gestores e equipes das prefeituras municipais, participaram do “Fórum de Governança Municipal: Desafios dos Novos Gestores”. Noves fora, Santa Catarina tem 295 prefeitos. Desses, 92 se reelegeram e 203 são novos, supondo que não vão sozinhos – ainda mais numa cidada atração -, somando-se as autoridades e convidados, naturalmente, o sucesso, por baixo, ficaria em torno de 500 pessoas. Mas, este não é o tema central deste comentário.

A questão para reflexão e concluir o artigo é: Kleber – agora, e só agora, pois por quase oito anos esteve bem longe dela – vende a Fecam como a solução para tudo?

Claro que não. Sem discurso na cidade onde foi derrotado nas urnas, está longe, se recompondo e fazendo campanha para se manter no cenário como político tanto para futuro emprego como para uma campanha em 2026.

Kleber não é o melhor exemplo para ser garoto propaganda da Fecam. E por quê. Não fez a lição de casa em Gaspar. E não podendo mais controlar a imprensa daqui, a qual diante da ameaça de perder as verbinhas oficiais, passou oito anos fingindo que não enxergava as mazelas da cidade, nesta semana já botou as asinhas de fora e fez manchetes que desmoralizam o presidente da Fecam, no exemplo que vende aos outros: “lixo acumula e Samae de Gaspar avalia instaurar processo administrativo contra empresa que não fez a coleta no feriado”.

Teve muito mais. Virá mais até 31 de dezembro. É que pelo jeito o feriado na Gaspar do prefeito Kleber já começou no dia sete de outubro e irá até o dia 31 de dezembro. Kleber agora se dedica de corpo e alma a Fecam e a estadualização do seu nome para candidato a deputado, fechar as porteiras a outros que assim se ensaiam, inclusive a Marcelo que trouxe para si há quatro anos e ajudou a enterrá-lo. Muda, Gaspar!

TRAPICHE

A futura administração de Paulo Norberto Koerich e Rodrigo Boeing Althoff, ambos do PL, está indignada com a repercussão que tomou na cidade nesta semana a indicação feita por ela na sexta-feira da semana passada para ser titular da secretaria da Saúde do governo, o enfermeiro, servidor efetivo, Arnaldo Gonçalvez Munhoz Júnior, hoje superintendente em cargo de confiança de Kleber Edson Wan Dall, MDB e Marcelo de Souza Brick, PP, e que é responsável pelo funcionamento dos postinhos de saúde na cidade.

Se o futuro prefeito, vice, e seus luas pretas – quase todos do entorno do atual governo e que resolveram pular da barca quando os furos não se aguentavam com os enchimentos das estopas -, estão emputecidos com a repercussão daquilo que deram causa e estão bancando, inclusive entre os próprios apoiadores que se decepecionaram, não deveriam ter feito esta escolha. Agora, estão obrigados a explicações a correligionários, à cidade e principalmente, apoio ao indicado e assim provar que estavam certos.

O que está deixando nervosa parte dos que mandam na cidade e apostaram todas as fichas nos eleitos? A indicação ao que é hoje o futuro secretário de Planejamento Territorial. Servidores garantem nos bastidores que se trabalha a quatro mãos para limpar esta área até a posse dos eleitos. O que emperra? A legislação, os vícios – em alguns casos insanáveis – e o exíguo tempo que se tem até o início das férias coletivas dos funcionários públicos municipais.

Os eleitos têm mandado recados de que vão trabalhar para chancelar o que foi aprovado no atual governo. Mas, a princípio, não pretendem ficar expostos com o saneamento de casos “cabeludos” antigos. E se houver questionamentos nos ambientes de investigação ou jurisdição, dirão que é coisa antiga e que não tiveram nada a ver.

Para isso, os futuros gestores de Gaspar bolaram uma saída: o Consórcio Intermunicipal do Médio Vale do Itajaí – o CIMVI – e que o prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, rejeitou, preferindo os seus comissionados em área que é obrigatória ser preenchida por efetivos, e que assim, há dois anos o Ministério Público mandou fazer concurso e preencher os cargos nas áreas técnicas de Planejamento e Meio Ambiente. Os comissionados faziam o que os chefes políticos mandavam a favor de quem tinha trânsito livre na prefeitura. Os efetivos, estão seguindo as leis federais, estaduais e municipais. Este é o impasse que aflige quem recebeu promessas dos políticos e os técnicos concursados estão barrando, porque, simplesmente, não querem prevaricar.

Restam saber três coisas. A primeira é se isso vai dar certo. Segundo, se o CIMVI, aceitando a entrada de Gaspar, vai fazer diferente do que diz a legislação ou vai conduzir com “mais facilidade” os Termos de Ajuste de Conduta perante o Ministério Público – tem crime federal tipificado também – e a própria prefeitura de Gaspar. E terceiro, é saber como ficará a estrutura de Meio Ambiente própria preenchida com efetivos concursados na prefeitura de Gaspar?

O vereador Ciro André Quintino, MDB, retomou a sua romaria semanal a Florianópolis, mais especialmente, ao gabinete do secretário de Infraestrutura e Mobilidade, o deputado por Ibirama, Jerry Comper, MDB. Desta vez, o vereador reeleito e que é campeão em diárias, inovou: levou pães com bolinhos de carne ao secretário para a foto inovativa chamar a atenção nas suas redes sociais.

No pedido de diária de Ciro André Quintino, MDB, na Câmara, consta um lanche de R$80,00 e um almoço de R$220,00 para essta viagem.

Fechada as urnas e sem dinheiro nos cofres, o governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, e Marcelo de Souza Brick, PP, imediatamente anunciou o término do programa Bolsa Atleta.  Quem ficou na mão foi o skeitista, Murilo Vargas, que como campeão catarinense na modalidade Street, está classificado para a etapa de Maceió, no Rio Grande do Norte.

O Murilo Vargas e a família abriram uma vaquinha virtual. Esta experiência, Kleber não contou no encontro da Fecam, em Balneário Camboriú.

A imprensa dominada nas principais redações brasileiras pela esquerda do atraso, está de luto, desde a madrugada de quarta-feira quando já se sabia da vitória do Republicano Donald Trump, para o segundo mandato como presidente dos Estados Unidos. Este é o ponto que mostra o quanto estávamos reféns de uma bolha entre os poderosos de sempre. Ela foi furada pelas redes sociais, para o bem e, infelizmente, para o mal.

Mas, o que impressiona é eu ler nos que conseguem interagir comigo nos meus endereços eletrônicos pessoais, a comemorando desta eleição de lá como se fosse bom para Gaspar e o Brasil. Isto só o tempo dirá. Houve um, que eu considerava minimamente informado, dizendo-me com absoluta segurança de que agora Donald Trump vai enquadrar o STF. Meu Deus!

Finalmente, segundo se informa oficialmente, uma comitiva do Conselho Municipal de Turismo, com investidores e gestores da Villa D’Itália, Asas do Vale, parques aquáticos, piscicultores, cervejarias, Acig e Ampe rumaram para gramado e Canela no Rio Grande do Sul para uma feira de negócios turísticos, e em associação com a Foz do Itajaí. Gaspar pertence ao Vale Europeu.

Sinceramente? Depois de oito anos e em modo de esquecimento do setor, esta comitiva de poucos não precisava mais da prefeitura de Gaspar para ir a este convescote.

O empresário Oberdan Barni, Republicanos (551, ou 1,49% dos votos válidos), garantiu que não ficará no partido. “É uma filial [o Republicanos em Santa Catarina] do PL e esta filial fez de tudo para me boicotar em Gaspar. Serei oposição. Espera só esse pessoal tomar posse para ver o tamanho do erro”, alertou. “Vou apenas focar na minha empresa diante da ausência para a campanha e retomar a minha vida depois da morte da minha mulher [Lorena]”.

Oberdan Barni diz que não ficará fora da política. E já encaminha conversas para filiação a outro partido. “Escreve aí: vou estar com o meu nome nas urnas em 2026. E é logo aí”. É anotar e esperar. Antes disso, virão águas barrentas e cheias de tranqueiras de enchente debaixo dessa ponte. A primeira coisa que Oberdan terá que fazer é furar a sua própria bolha.

O que se revelou esta semana? Que o CDI Alexandre Nelson Bornhausen recém inaugurado na Margem Esquerda, em Gaspar, como modelo, foi na verdade, um projeto cedido pelo prefeito de Rio do Sul, José Eduardo Thome, PSD. Ele veio aqui conhecer a obra pronta e receber uma placa, das mãos de Marcelo de Souza Brick, PP. Coisa entre políticos. Hum!

Neste CDI, apesar de tão novo e símbolo de moderno, uma criança de três saiu dele sem que ninguém a visse. Em ponto em comum. Tanto José Eduardo Thomé, PSD, quanto Kleber Edson Wan Dall, MDB, conseguiram fazer seus sucessores em seis de outubro.

Em Blumenau, esta semana, os vereadores eleitos já anunciaram a mesa diretora da Câmara do ano que vem, depois de composições, acordos e cabala de votos nos bastidores Enquanto isso em Gaspar…

Deu zebra. Informei aqui que dois servidores em cargo de confiança no alto escalão da secretaria de Educação da prefeitura de Gaspar se habilitaram a concorrer na eleição como diretores de escolas municipais. Foram impugnados. Imediatamente, ambos entraram na Justiça para continuarem no pleito.

O tamanho da corda para se enforcar. Jorginho Melo, PL, não se pode negar que o ex-gerente do falido BESC – trabalhou até aqui em Gaspar – é um político experiente (vereador, deputado estadual, presidente da Assembleia – onde fazia os governadores se ajoelharem – deputado Federal e Senador). Mesmo assim, Jorginho – por seus filhos, diga-se, é um articulador muito ruim. Namora o MDB, mas não tem lugar para acomodar os gulosos nas composições que faz. Enquanto isso, o PSD vai se armando como seu maior rival nas próximas eleições. E este é o real temor de Jorginho.

Nesta corda de enforcado ainda está o principal: o que Jorginho de fato vai entregar aos catarinenses na sua gestão. Muito discurso, muita fala desarticulada dele, muita promessa, muitos projetos, mas de concreto, nada a curto prazo. Já se passaram dois anos e foram gastos para as eleições deste ano. O ano de 2026 é logo aí. E o que está ficando como prometido e concretamente não entregue até agora é o desenvolvimento, segurança, defesa civil, segurança na sanidade animal, infraestrutura, mobilidade, saneamento e balneabilidade.

Quanto mais se anunciam nomes para a gestão de Egídio Maciel Ferrari, PL, em Blumenau, mais se entende, as nomeações para o futuro governo de Gaspar.

Cabo eleitoral pé frio. Alexsandro Burnier, PL, colocou o deputado Ivan Naatz, PL no circuito para bancar a sua candidatura a presidência da Câmara de Gaspar e até a de deputado estadual. Naatz tentou embaralhar a corrida para a prefeitura de Blumenau, deu Egídio Maciel Ferrari, PL. Filiou no PL e tentou criar Marcelo de Souza Brick, com o argumento de que sairia de cara com quase 10 mil votos. Não chegou a sete mil…

Marcelo de Souza Brick, que ao final ficou no PP, com toda a máquina e apoio de Kleber Edson Wan Dall, MDB, teve apenas 6.884 votos, ou seja, em terceiro, com 18,56% votos úteis. Só para lembrar, Ivan Naatz, PL, que já foi parceiro de PV do atual vice, Rodrigo Boeing Althoff, PL, mesmo com Ivan e o PL boicotacando Rodrigo numa eleição relâmpago em 2020, ele conseguiu 22,21% dos votos válidos daquela eleição,chegando atrás de Kleber, o vencedor.

Depois que ase livrou de Ivan Naatz, PL, Rodrigo Boeing Althoff, PL, acertou o rumo.

Um advogado experiente neste ambiente de Direito Público me passou Lei Complementar 663, de sete de dezembro de 2007, sancionada pelo ex-prefeito de Blumenau João Paulo Kleinubing (2005/12), União Brasil. Vale a pena lê-la.

Ela reestrutura a Fundação Hospitalar de Blumenau e dá outras providências. Nela está claro que o Hospital de Gaspar pode até ser administrado pelo Hospital Santo Antônio, de Blumenau, mas o caminho é bem espinhoso. A Lei não dá chance ao azar para o Hospital Santo Antônio voltar ao passado tenebroso e sem transparência pela vontade dos políticos no poder de plantão. Muda, Gaspar!

Compartilhe esse post:

Facebook
Twitter
WhatsApp
Telegram
LinkedIn
Email

12 comentários em “KLEBER MONTA ESPETÁCULO PARA SE ESTADUALIZAR COMO EXEMPLAR ADMINISTRADOR E SER CANDIDATO A DEPUTADO ESTADUAL EM 2026. MAS, EM GASPAR ONDE NÃO CONSEGUIU FAZER SUCESSOR, AS DÚVIDAS SOBRE SUA GESTÃO SÓ AUMENTAM. AGORA ATÉ A RECOLHA DO LIXO – ENTRE OUTROS SERVIÇOS – SE TORNAM PROBLEMAS”

  1. BIDEN VEM PARA A REUNIÃO DO G-20, por Elio Gaspari, nos jornais O Globo e Folha de S. Paulo

    O presidente americano Joe Biden virá ao Brasil para a reunião do G-20 e anunciou que esticará a viagem passando por Manaus, numa visita simbólica à Amazônia. Grande ideia para um presidente que nada terá a fazer até janeiro, quando passará o cargo a Donald Trump.

    Em quatro anos, Biden não conseguiu avançar um só projeto original nas suas relações com o Brasil, muito menos com a Amazônia. No ocaso, virá ao Rio e passará por Manaus, com direito a fotografias na floresta e na companhia de lideranças indígenas.

    Será o segundo presidente americano a se sentir atraído pela Amazônia depois de perder uma eleição. Derrotado em 1912, quando tentou retornar à Casa Branca, Theodore Roosevelt decidiu explorar a floresta e quase morreu durante a expedição. À diferença de Biden, Roosevelt tinha gosto pela natureza e por aventuras.

    Como vice-presidente de Barack Obama, Biden esteve no Brasil há dez anos, com uma agenda vazia, típica do cargo que ocupava.

    O grande momento de sua passagem por Brasília foi a entrega de 43 documentos do governo americano relativos ao período da ditadura. Deles, 25 eram do domínio público. Os demais documentavam muito mais as lorotas dos porões que a embaixada transmitia do que as relações de Washington com os generais da ocasião.

    A PGR VAI EM CIMA DE BOLSONARO

    Nas próximas semanas, o procurador-geral Paulo Gonet deverá enviar ao Supremo Tribunal Federal (STF) a denúncia contra o ex-presidente Jair Bolsonaro pela sua atividade nas armações antidemocráticas que acabaram desembocando no 8 de janeiro.

    Bolsonaro foi indiciado pela Polícia Federal em dois outros inquéritos. Um trata das joias sauditas e o outro, da emissão de atestados falsos de vacinas contra a Covid.

    A PGR concluiu seu trabalho há tempo, mas Gonet não queria enviar os documentos ao STF durante o processo eleitoral. Quem acompanha o caso informa: “Vem chumbo grosso.”

    A denúncia da PGR tornará mais pedregoso o caminho de Bolsonaro para se livrar da inelegibilidade.

    BOLSONARO COM TRUMP

    O ex-presidente Jair Bolsonaro pretende pedir a liberação de seu passaporte para ir à posse de Donald Trump. Ele poderá receber inúmeros convites para celebrações do dia, mas convite para um dos cercadinhos da cerimônia em si, ele não deverá receber.

    Na sua primeira posse, Trump não convidou estrangeiros. Para os americanos, a posse de um presidente é uma coisa doméstica.

    Em Brasília, 37 deputados da oposição ao governo informaram que viajarão a Washington para a posse de Trump. Na realidade, irão aos Estados Unidos e, com sorte, passarão uns dias em Nova York.

    TRUMP NO SOCORRO A BOLSONARO

    Quem acredita na possibilidade de um socorro de Donald Trump a Bolsonaro para reverter sua inelegibilidade, finge que não conhece o poder do Departamento de Estado.

    Mesmo quando a Casa Branca ajudava a ditadura brasileira no que podia, os americanos não se metiam em encrencas desse tipo.

    Trump já deu e voltará a dar sinais de simpatia pelo ex-capitão. Mais, ele não pode.

    COISA NUNCA VISTA

    A vitória de Donald Trump foi coisa nunca vista. Eleitoralmente, os republicanos fizeram barba, cabelo e bigode. Além disso, Trump voltará à Casa Branca com um mandato popular só comparável ao de Ronald Reagan em 1981. Reagan chacoalhou os Estados Unidos e o mundo.

    Desde 1952, todos os outros republicanos eleitos tinham pés fincados na tradição. Dwight Eisenhower havia comandado as tropas aliadas na Segunda Guerra. Richard Nixon tinha o pé descalço na pobreza da infância e o outro, calçado, na plutocracia. Os dois Bush, pai e filho, vinham da elite.

    O BODE SUMIU

    Numa decisão unânime, Copom elevou a taxa de juros para 11,25% e, felizmente, Lula ficou calado.

    Roberto Campos Neto faz falta ao palanque petista.

    A lavada republicana nos Estados Unidos deveu-se a muitos fatores, e um deles foi a carestia. Em 1981 ela ajudou Reagan a derrotar Jimmy Carter.

    Lula aprendeu a conviver com juros altos.

    HADDAD SOB FOGO AMIGO

    O fogo amigo abateu o ânimo do ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Seu pior momento ocorreu durante o bate-boca com Luiz Marinho, o ministro do Trabalho que se insurgiu contra a tunga da multa de 40% sobre o FGTS, paga pelos patrões quando demitem um empregado sem justa causa.

    O episódio pode servir de lição para a turma da ekipekonômika. Perdeu validade um truque que vinha dos tempos do tucanato. Com ele, plantavam-se notícias para preparar o terreno, simulando que propostas eram decisões.

    Seguiram o velho manual e deram com os burros n’água.

    Quando a ekipekonômika falava da tunga sobre a multa do FGTS, associava-a a medidas de combate aos supersalários de hierarcas.

    Haddad disse que “não adianta você anunciar uma coisa que não tem aderência.” Maneira educada de dizer que não adianta anunciar o que não vai acontecer. O problema é que faltava aderência à promessa do déficit zero.

    SECRETARIA-GERAL DA ONU

    Até a semana passada, soprava um vento para que, no ano que vem, a Organização das Nações Unidas pusesse na sua secretaria-geral uma mulher, possivelmente latino-americana e provavelmente ligada à defesa do meio ambiente.

    Com a eleição de Trump, esse vento pode continuar a soprar, sem muita ênfase na defesa do meio ambiente.

    MILEI COM TRUMP

    Depois de ter decapitado o serviço diplomático argentino, o presidente Javier Milei dará um salto triplo, indo a Mar-a-Lago antes mesmo da posse de Trump.

    Desse encontro, caso ele aconteça, não sairá coisa boa.

    Faz tempo, quando foram pedir a Tancredo Neves que votasse no general Castello Branco, com o argumento que era um militar de muitas leituras, ele respondeu:

    “Leu os livros errados”.

    Às vésperas da eleição americana, Lula declarou sua simpatia por Kamala Harris, uma pequena impropriedade. Em seguida, ensinou:

    É o fascismo e o nazismo voltando a funcionar com outra cara.

    Uma grande impropriedade, por insultuosa. Fascismo e nazismo foram coisas parecidas, mas diferentes. A lavada republicana teve uma origem popular que, no início, faltava a Mussolini, Hitler e ao espanhol Francisco Franco.

    Lula ouviu as pessoas erradas.

    ESCALADA DA PM DE SP

    Primeiro, o menino Ryan da Silva Andrade, foi morto no que a PM diz ter sido um confronto com bandidos, em Santos.

    No lance seguinte, PMs da Força Tática da corporação foram para o cemitério onde o garoto estava sendo velado. Chegaram fardados para combates e portando armas. Até aí, de certa forma vivia-se um protocolo de coação.

    No lance seguinte, não deram atenção à autoridade do ouvidor das polícias de São Paulo, que contestou uma de suas abordagens.

    O governador Tarcísio de Freitas, quando oficial do Exército, serviu na tropa que foi para o Haiti nos anos 1990. Ele sabe como essa história pode terminar.

  2. TRUMP 2, SEGUNDO UM PRÊMIO NOBEL, por Vinicius Torres Freire, no jornal Folha de S. Paulo

    O que esperar da economia americana sob Donald Trump? Daron Acemoglu, um dos premiados com o Nobel de Economia deste ano, deu sua opinião em uma espécie de autoentrevista no X/Twitter, neste sábado (9).

    Não haverá boas notícias para os trabalhadores. As ideias trumpistas sobre inteligência artificial vão prejudicar cidadãos, consumidores (que serão manipulados, como nas redes sociais) e setores da economia, por falta de regulamentação adequada.

    A desregulamentação, na linha do que pensam grandes investidores e capitalistas de risco mais imprudentes do Vale do Silício, vai incentivar a automação. “Não vai se concretizar o potencial [da IA] como tecnologia de informação que pode ajudar os trabalhadores” (Acemoglu costuma defender intervenção governamental que induza o uso de tecnologia “pró-trabalho”).

    Trump deve colocar gente incapaz para regulamentar assuntos como educação, saúde, negócios online, tecnologia e serviços para o consumidor. Vai assim prejudicar uma economia que depende de regulação de alto nível, não de curas milagrosas (“snake oil”), a fim de manter seu padrão de inovação.

    Trump terá a sorte de ver os bons efeitos da política econômica de Joe Biden, sem o ônus que pesou sobre o democrata (contribuiu para a inflação). Quais políticas? Incentivos e dinheiros do governo para pesquisa e produção de chips, transição energética e infraestrutura (obras que vão impulsionar a indústria). Tais iniciativas também vão melhorar salários na base da pirâmide.

    Impostos de importação (“tarifas”) maiores sobre produtos chineses não vão trazer empregos de volta. É improvável que Trump tribute bens de países aliados (o que de resto prejudicaria o crescimento, pois afeta cadeias de fornecimento para empresas americanas).

    Em boa parte graças ao Fed, a inflação diminuiu. Os benefícios da política de Biden e da ação do banco central americano serão faturados por Trump. Mas tarifas elevam preços a curto prazo; a intervenção prometida por Trump no Fed pode realimentar a inflação.

    Cortes de impostos vão ajudar grandes companhias e a Bolsa. Mesmo que isso eleve investimentos, grande parte deles irá para o setor de tecnologia e automação, os quais, desregulados, serão daninhos. Trump pode favorecer suas empresas prediletas, como as de energia e petróleo.

    Trump é ameaça às instituições. Não quer dizer que a democracia vá acabar em quatro anos (embora tal cenário não possa ser descartado). Quer dizer que vai enfraquecer normas democráticas, aumentar a incerteza e a arbitrariedade das políticas públicas, aprofundar a polarização e solapar ainda mais a confiança em instituições, incluindo o Departamento de Justiça, que Trump quer transformar em meio de perseguição política.

    Nada disso vai causar colapso econômico imediato. Mas, a médio prazo (uns dez anos), instituições fracas, incerteza elevada e baixa confiança em tribunais, contratos e partes vão cobrar seu preço em termos de investimento e eficiência, ainda mais em uma economia baseada em tecnologia complexa e avançada.

    Sem mais inovação e produtividade, salários não aumentam. Se não se investe em mais tecnologia pró-trabalhador, renda e empregos estarão ameaçados. Se instituições importam, o programa de Trump terá um custo para a economia americana. O problema é que tais efeitos vão demorar para aparecer.

  3. Alô Gaspar e negacionistas…

    AO REITEIRAR A VACINAÇÃO OBRIGATÓRIA CONTRA A COVID, SUPREMO PRESERVA SAÚDE, editorial do jornal O Globo

    Por unanimidade, o Supremo Tribunal Federal (STF) derrubou uma lei de Uberlândia (MG) que acabava com a obrigatoriedade da vacina contra a Covid-19 para crianças e grupos vulneráveis e proibia a aplicação de sanções a quem não se vacinasse. O caso traz mais uma oportunidade para reafirmar princípios básicos sobre o respeito às liberdades individuais e a proteção à saúde pública.

    Ao longo da pandemia, grupos negacionistas reivindicavam o direito a recusar a vacinação com base em dois argumentos falhos. Primeiro: afirmar que as vacinas não eram seguras. Segundo: dizer que a liberdade individual assegurada na Constituição garante a cada um autonomia sobre o próprio corpo, portanto para decidir se quer tomar vacina ou vacinar os próprios filhos.

    O primeiro argumento é simplesmente uma mentira. Dezenas de estudos científicos, publicados pelas melhores revistas médicas do mundo, avaliaram os riscos e comprovaram que as vacinas compradas pelo Ministério da Saúde são não apenas seguras, mas eficazes, como demonstram milhões de doses aplicadas até hoje, permitindo que o Brasil retomasse a normalidade após o caos da pandemia. Não há motivo para temê-las, a não ser quando se dá crédito a informações descabidas sobre raríssimos efeitos adversos, que circulam nas redes sociais.

    O segundo argumento é mais sofisticado, mas não passa de uma falácia. “Estamos discutindo a tese esdrúxula e absurda de que uma pessoa tem o direito fundamental de transmitir doença às demais”, afirmou em seu voto o ministro Flávio Dino. Não há nenhuma justificativa ética para um indivíduo não se vacinar contra uma doença contagiosa. A liberdade individual, como tão bem descreveu Dino, se encerra no exato momento em que se choca com o direito coletivo à saúde.

    Como Dino, todos os demais ministros seguiram o voto do presidente, Luís Roberto Barroso. Ele ressaltou que o STF já referendara a vacinação obrigatória nos termos da lei (para os grupos indicados no calendário do Ministério da Saúde), impedindo apenas a imunização forçada, por meio de medidas invasivas, aflitivas ou coercivas. Para Barroso, a lei de Uberlândia — aprovada em 2022 e suspensa desde o ano passado por liminar — ignorava os parâmetros estabelecidos pelo STF, além de contrariar o consenso médico-científico sobre a importância da vacina para reduzir risco de contágio. “Ao argumento de proteger a liberdade daqueles que decidem não se vacinar, na prática a lei coloca em risco a proteção da saúde coletiva”, disse.

    Somente neste ano, a Covid-19 matou mais de 5.400 brasileiros. Desde 2020, centenas de milhares perderam a vida para a doença (o número oficial, 714 mil, é conservador diante do impacto da pandemia). O controle da doença exige vacinação maciça. Do contrário, o vírus continua causando estrago. O que se deveria discutir é como aumentar os índices ainda insuficientes de vacinação, e não como dificultá-la ainda mais.

  4. um governo desastrosamente previsível no atraso e na responsabilidade em si e fiscal. 2026 está chegando, também previsivelmente. E todos do PT e da esquerda do atraso sabem disso. Talvez já tenha desistido de concorrer e por isso estão fazendo a festa cara contra nós e o nosso futuro, e só nós pagando a conta. De tão previsível desfecho, o que foi escrito na sexta antes do fechamento das reuniões, sem qualquer bola de cristal, o articulista antecipou

    A ÚLTIMA ÚLTIMA REUNIÃO, por Carlos Andreazza, no jornal O Estado de S. Paulo

    Terá havido nesta sexta-feira a última última reunião para ultimar o pacote de corte de gastos do governo Lula. Não sei se houve. Ou melhor: reunião houve. Não sei se conclusiva. Improvavelmente conclusiva. Talvez tenha havido até mais de uma última reunião, da qual – a única certeza – algum ministro saiu declarando que na pasta dele ninguém mexeria.

    Processo clássico de desidratação do pacotão misterioso, conforme estimulado pelo presidente. Mantido blindado – sangrando – um conjunto de medidas contra o qual, ao deixar o Planalto, seus colaboradores imediatamente disparam.

    Marinho, Lupi, Dias: cada um a seu modo se antecipando para expor Haddad e promover Lula. Que – destacam – continuaria sendo Lula. E, sendo Lula, jamais desvincularia as despesas previdenciárias da forma de aumento do salário mínimo. Não estarão errados.

    Errado tampouco estando aquele que descrer da possibilidade de Lula, sendo Lula, executar o que Haddad e Tebet prometeram: corte de gastos estruturais. Foram eles que prometeram. Para animar o arcabouço natimorto muito louco fiscal, projetaram até montante – algo entre R$ 30 bilhões e R$ 50 bilhões. E então se puseram a correr, no improviso, para ter o que apresentar. Foram eles os especuladores originais.

    As mensagens-respostas à especulação que difundiram estão todas postas. Posta a falta de credibilidade. Já não basta prometer. Nem anunciar qualquer coisa. Já não bastará fazer volume somente. O corte – se quiserem bom humor – precisa derivar de alguma reforma de estrutura. Não terão sobrado muitas opções dessa natureza. E natureza é natureza.

    Este é o governo pente-fino. E Lula é Lula. Marinho, Lupi e Dias são Lula. Rui Costa é Lula. Haddad e Tebet são Lula também. Lula cozinha. Assim exerce o poder. E natureza é natureza.

    Com o que as urnas trouxeram em 2024, aqui e lá fora, será mais fácil imaginar corte de gastos a valer – desvincular o crescimento dos pisos de saúde e educação do movimento da arrecadação, por exemplo – ou remanejamentos-puxadinhos para abrir espaço fiscal e tentar empurrar a bagaça até 26? (Se será possível enrolar, aí é outra história.)

    Foi uma semana de reuniões. Semana de boicotes e interdições. Isso no mundo real. No da fantasia, tivemos o ministro da Fazenda falando em “consenso em torno de um princípio” e anunciando seguidos dias seguintes.

    Amanhã que ainda não chegou. Segundo o Haddad de quarta-feira, “faltariam coisas realmente muito singelas para decidir” na quinta. Foise a quinta. Autorizado o cronista a concluir que, não tendo sido tão simples a vida na sexta, o governo pente-fino não terá ainda conseguido reunir piolhos graúdos capazes de somar bilhões.

  5. CONGRESSO SÓ MAQUIA FARRA DAS EMENDAS, editorial do jornal Folha de S. Paulo

    Em agosto, o Supremo Tribunal Federal suspendeu por bons motivos o pagamento de um certo tipo de emendas incluídas por parlamentares no Orçamento da União.

    Com as ditas emendas Pix, deputados e senadores poderiam destinar recursos da União para governos locais sem a necessidade de especificar o projeto em questão, entre outras facilidades de ocultação do dinheiro público. Tais transferências, na prática, são apropriação arbitrária de verba pública a fim de irrigar regiões de interesse político.

    Tal escândalo de procedimento, por vezes também manchado de suspeitas de corrupção, foi atenuado por um projeto aprovado na terça-feira (5) pela Câmara dos Deputados, às pressas, a fim de satisfazer exigências do STF.

    O Senado prevê votar a mudança já na próxima semana. Os parlamentares querem resolver suas transações opacas também com pouco escrutínio público.

    O projeto prevê que as Pix, a exemplo das demais emendas, agora deverão ter objeto e valor especificados; serão fiscalizadas pelo Tribunal de Contas da União; a prefeitura ou o estado agraciado precisará reportar em que conta está a verba, além de informar ao Legislativo local o que será feito dela e em qual prazo.

    Entretanto, caso não o façam ou cumpram o requisito apenas de modo vago e formal, não há punição determinada.

    Entre outros ajustes, há critérios apenas genéricos para a destinação do valor de emendas para linhas de projetos prioritários ou “estruturantes”.

    No mais, o projeto não dá conta dos problemas de base do processo orçamentário. Pouco se altera o cenário atual no que diz respeito à fatia da despesa federal abocanhada pelos parlamentares.

    Nos últimos anos, o Congresso decidiu que o pagamento de emendas individuais e de bancada seria obrigatório e que seu valor mínimo seria vinculado a uma parcela da receita do governo. A partir de 2026, tais despesas crescerão no mesmo ritmo estipulado na regra fiscal —70% do aumento da receita, com teto de 2,5%, acima da inflação.

    Estarão sujeitas a contingenciamento, mas não a bloqueio definitivo, omissão grave. O valor das emendas de comissão será reajustado pela inflação.

    O valor pago em gastos definidos por deputados e senadores equivale a algo entre um quarto e um terço dos investimentos federais. O projeto na prática congela esse estado aberrante de coisas —sem rever a lassidão com que esses recursos são tratados.

    Faltam normas de estabelecimento de prioridades sociais e econômicas ou de justificação técnica da destinação de verba. Parlamentares podem decidir o emprego de grandes somas sem ter de explicar resultados.

    Fatiam o Orçamento, dificultam investimentos de interesse nacional e ficam isentos de responsabilização. Recebem, assim, mais uma espécie de fundo eleitoral ou partidário para alimentar suas bases e carreiras políticas.

  6. LULA, A DIREITA E O GASTO DA ESQUERDA, por Vinicius Torres Freire, no jornal Folha de S. Paulo

    A primeira vez que este jornalista ouviu de uma autoridade de governo uma ideia prática de criar um teto de gastos foi em fins de 2015. A autoridade era Nelson Barbosa, ministro da Fazenda de Dilma Rousseff, recém-nomeado. O nome da coisa era esse mesmo, “teto”. Barbosa ora é diretor do BNDES.

    Fiz as perguntas óbvias de qualquer incrédulo. O programa petista não era aquele, a ação dos governos petistas de 2007 a 2014 não fora aquela (e Barbosa havia sido importante no governo). A esquerda pedira nas ruas a cabeça de Joaquim Levy (o “mãos de tesoura”, ministro que antecedeu Barbosa); dizia que era preciso enfrentar a direita com mais gastos.

    A campanha de deposição de Dilma estava à toda, assim como a sabotagem legislativa tocada pelo PSDB liderado por Aécio Neves, com o apoio do MDB e cia.

    Era óbvio que a limitação da despesa total apenas funcionaria se houvesse também contenção do gasto com Previdência e do impacto dos aumentos do mínimo nos benefícios do INSS.

    Barbosa disse que iria propor reforma previdenciária, que haveria “gatilhos” de contenção de gastos em geral caso a despesa avançasse além da conta, inclusive com a suspensão do reajuste do mínimo ou com a criação de regra de reajustes reais menores. Dizia ainda que era preciso rever desonerações (reduções de impostos para setores).

    Faz quase nove anos.

    Não era o teto de Michel Temer, que Barbosa criticaria, por constitucionalizar o limite por 20 anos, entre outros problemas. Mas era um teto.

    A ideia foi ao Congresso em março de 2016 e lá morreu. Dilma 2 era então quase pó. A reforma previdenciária nem respirou, por oposição petista. O PT fritou Barbosa, por ação e omissão, pois era contra o teto. O ministro saiu em maio de 2016. Era o meio da Grande Recessão. O governo Temer apresentou seu teto logo depois.

    Novembro de 2024. Faz quase dois anos, Fernando Haddad tenta conter o ritmo de aumento de despesas (não é corte), sem o que o teto móvel de Lula 3, o arcabouço fiscal, desabará. A nova ofensiva do ministro da Fazenda vai sendo desidratada, nas internas. E externas.

    A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, diz que a vitória de Trump é um alerta para o “campo da democracia”, que deve se preparar para o “enfrentamento”, “dar respostas concretas às necessidades e expectativas do povo, que não cabem na agenda neoliberal que o mercado quer impor ao governo e ao país”. Um manifesto recente de intelectuais e companheiros de viagem à esquerda do PT vai na mesma linha: mais gasto.

    Donos do dinheiro grosso em geral cobram mais caro para emprestar ao governo (as taxas de juros no atacado subiram loucamente), pois acreditam que o arcabouço vai para o vinagre até 2027. Em parte, não querem deixar seus ativos em reais –o dólar se desvaloriza loucamente também por isso. É inflação estocada; carestia é facada no prestígio político. A inflação anual de alimentos já corre a 7%, por outros motivos. Pode ir além, com dólar e, talvez, com superaquecimento da economia. Ou cairá com juros amargos.

    Um plano fiscal amplo exige redução de desonerações e aumentos diretos de impostos, sobre ricos em especial. Mas também contenção no INSS, desvinculações (de saúde e educação) etc. Lula 3 não o fez no início de mandato; ficou difícil de aumentar mais imposto depois da crise de janeiro a maio.

    Agora, está entre a cruz e a caldeirinha.

  7. TRUMP, DÓLAR E JUROS TORNAM MAIS URGENTE AJUSTE NO BRASIL, editorial do jornal Folha de S. Paulo

    O retorno de Donald Trump ao comando da maior potência do planeta está associado à alta das cotações globais do dólar, por sólidas razões.

    Da plataforma do conservador populista consta o acirramento de medidas destinadas a proteger setores da economia americana da concorrência chinesa, o que decerto também afetará outros países. A consequência é o encarecimento de produtos para o consumidor dos EUA.

    Trump, ademais, é defensor de restrições draconianas à imigração, com o velho e enganoso argumento da proteção dos empregos de seus compatriotas. Com isso tende a reduzir a oferta de mão de obra, elevando seus custos. Por fim, o republicano promete subsídios e cortes de impostos capazes de agravar o já galopante déficit das contas do governo.

    A reação lógica a toda essa combinação inflacionária são juros mais altos por mais tempo —o que torna as aplicações em dólar mais atrativas e aumenta a procura pela moeda americana.

    Não surpreende, pois, que a incerteza quanto aos rumos dos EUA tenha encabeçado, no Brasil, o comunicado do Banco Central acerca do aumento de sua taxa básica, a Selic, que passou de 10,75% para 11,25% anuais.

    “O ambiente externo permanece desafiador, em função, principalmente, da conjuntura econômica incerta nos Estados Unidos, o que suscita maiores dúvidas sobre os ritmos da desaceleração, da desinflação e, consequentemente, sobre a postura do Fed [o banco central americano]”, diz o texto publicado na quarta (6), horas depois da confirmação da vitória eleitoral de Trump.

    Aqui, a desvalorização do real ante o dólar tem motivos adicionais, ligados à perda de credibilidade da política de ajuste orçamentário do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Menos confiança na solvência da dívida pública leva investidores a preferir a segurança da divisa dos EUA.

    Déficit fiscal prolongado, sem controle à vista, e encarecimento dos produtos importados pressionam a inflação e forçam o BC a subir, de modo mais acelerado agora, juros já cavalares —o que, por sua vez, cria mais despesas financeiras e agrava a deterioração das contas do Tesouro Nacional.

    Só existe uma maneira virtuosa de romper esse círculo vicioso, como já compreenderam os auxiliares de Lula na Fazenda e no Planejamento. O governo precisa sustar o aumento contínuo e insustentável de seus gastos, de modo a indicar que o Orçamento federal vá ser reequilibrado num futuro próximo. O que já deveria ser óbvio há muito tempo se tornou agora mais urgente.

    As condições políticas para tanto decerto se estreitaram, ainda mais depois da derrota da esquerda nas eleições municipais de outubro. As oportunidades de início de mandato, infelizmente, foram desperdiçadas. Não resta mais espaço para promessas vagas e manobras protelatórias, entretanto —quanto mais tardar o inevitável ajuste das finanças governamentais, mais duro ele terá de ser.

  8. A CONFIANÇA QUE ENGANA: QUANDO A APARÊNCIA DE SABER NOS LEVA AO ENGANO, por Aurelio Marcos de Souza, advogado, ex-procurador geral do município de Gaspar (2005/08), graduado em gestão Pública pela Udesc.

    Durante meu tempo trabalhando em uma multinacional, tive o privilégio de conhecer muitas pessoas incríveis. Uma daquelas pessoas, que vou chamar de “Morales”, era um grande cara de Criciúma, torcedor fervoroso do Tigre e do Vasco, e um excelente profissional da eletrônica. Ele sabia muito sobre sua área, mas havia algo mais: uma confiança imensa em tudo o que conversava. Ele tinha uma habilidade rara de convencer os outros, fosse falando sobre eletrônica, futebol ou qualquer outro tema.

    Uma história que nunca vou esquecer aconteceu certa vez, perto de uma Copa do Mundo. Eu e outros colegas estávamos conversando sobre futebol, e ele, com aquele tom de especialista, disse: “Querem ver como entendo de Copa do Mundo? Vou listar o nome de todos os jogadores da seleção da Croácia (ou da Rússia, se preferirem) da Copa de 1968!” Todos ficaram em silêncio, esperando, e ele começou a recitar uma série de nomes que soavam autênticos, como se ele realmente soubesse de cor a lista dos jogadores.

    Comentários de todas as pessoas. Era impossível imaginar que alguém pudesse ter esse nível de conhecimento sobre as Copas passadas, especialmente sobre um torneio de 1968, que, na nossa mente, parecia mais uma informação oficial. Eu fiquei maravilhado, como todos os outros. Ele parecia ter domínio total sobre o assunto, e até fizemos comentários sobre como ele era detalhado e bem informado.

    Mas, minutos depois, ele retornou até nós com um sorriso maroto e revelou: “Primeiro, não houve Copa do Mundo em 1968. E segundo, eu inventei todos aqueles nomes, só os criei combinando sons que lembravam a língua da região, para dar um toque de realismo.” Foi um choque. Fiquei atônito. A confiança com que ele falou, o jeito como parecia tão certo de tudo, nos enganou completamente.

    Essa história me fez refletir sobre o poder da confiança e como ela pode nos cegar. Aquelas palavras, ditas com tanta verdade, nos iludiram. Muitas vezes, na vida, aceitamos algo como verdade só porque uma pessoa que falou tinha uma postura de quem sabe tudo sobre o assunto? Quantas vezes a confiança de alguém nos impede de questionar o que está sendo exposto?

    A história de Morales me faz pensar também sobre o quanto a nossa sociedade é fácil de enganar quando se trata de autoridade. Vivemos em um mundo onde títulos, diplomas e aparências podem fazer com que qualquer um seja visto como um especialista, mesmo quando o conhecimento real é limitado ou inexistente. A confiança e a forma como alguém se apresenta podem se tornar mais importantes do que a veracidade das informações. No entanto, isso não significa que devamos desacreditar de tudo, mas sim que precisamos desenvolver uma habilidade crítica para distinguir o verdadeiro do falso.

    Hoje em dia, quando vejo ouço algo que parece um exagerado ou muito bem feito, lembro da lição que aprendi um pouco com Morales. O discurso confiante, por mais convincente que seja, não é o suficiente para garantir que aquilo seja verdade. O conhecimento real não precisa ser adornado por palavras pomposas ou pelo tom de autoridade; ele se sustenta por fatos, por consistência, por um embasamento que resiste ao teste do tempo.

    E mais, essa experiência me fez perceber que o verdadeiro aprendizado exige humildade, a disposição de questionar e de não simplesmente aceitar o que está aqui sem pensar. O verdadeiro especialista, aquele que realmente domina um assunto, não tem medo de ser desafiado, de mostrar as suas falhas ou até de admitir que não sabe algo. Ele busca a verdade, não a aparência de sabedoria.

    A história de Morales também me ensinou que devemos estar sempre atentos à maneira como as informações nos são demonstrações. O que parece seguro e certo pode ser apenas uma ilusão. A confiança de alguém não deve ser confundida com a veracidade do que está aqui. A aparência de saber, muitas vezes, mascara a falta de profundidade, e é nossa responsabilidade questionar, investigar e, acima de tudo, não sermos rápidos em aceitar o que nos é oferecido.

    Essa reflexão não se aplica apenas ao futebol, mas a tudo ao nosso redor, em todas as áreas da vida. Precisamos parar para pensar antes de dar crédito a alguém simplesmente por causa de sua postura ou de sua confiança. A busca pela verdade exige paciência, exigindo que olharmos além da superfície. No fim das contas, é o questionamento constante, o olhar crítico e a humildade de aprender que nos conduzem ao verdadeiro conhecimento.

    1. Em Gaspar, na política, no poder de plantão e até mesmo, naqueles que foram eleitos, tem gente com esta habilidade e do outro lado, gente entorpecida com a fantasia contada.

  9. “BRACE FOR IMPACT”, por Willian Waack, no jornal O Estado de S. Paulo

    Uma das imagens mais poderosas que orientaram os estrategistas republicanos nas três últimas eleições foi a do Voo 93, título de um famoso (para a direita americana) artigo publicado em 2016. Voo 93 se refere ao episódio, durante os ataques terroristas do 11 de Setembro, no qual os passageiros de um dos voos sequestrados se rebelam contra os terroristas e tentam invadir a cabine.

    Os republicanos tinham de tomar o cockpit do avião Estados Unidos ou morrer, pregava a doutrina eleitoral. Pois eles acabam de conseguir. Tomaram o Legislativo, o Executivo e a Suprema Corte que já era conservadora antes das últimas eleições. Mas assumiram o voo no meio de uma era das incertezas.

    A primeira delas é doméstica e tem raízes culturais, daí a gravidade da crise política americana. Trata-se da perda do consenso sobre o que é ser americano, reflexo de visões irreconciliáveis sobre o que de fato constitui o país. É esse fenômeno abrangente que explica em boa parte a desconfiança em relação a instituições, sistema eleitoral, mídia, políticos, “Washington” e, especialmente, elites tecnocráticas, liberais e ideológicas dissociadas do “homem comum”.

    A segunda incerteza vem de fora e na sua expressão mais simples é o desafio apresentado pela China. Não há diferenças entre republicanos e democratas sobre o fato de a China ser considerada inimiga nem quanto às ferramentas para “sufocá-la”. Mas não existe estratégia “comum”.

    O voto popular e o colégio eleitoral têm como vencedor a figura de um “homem forte” que construiu seu sucesso pregando o desrespeito à regra e ao que se poderia chamar de convencional. Em seu primeiro mandato, porém, Donald Trump exibiu comportamento errático, mudanças abruptas de julgamento e opiniões, estilo no mínimo caótico de administração do próprio pessoal e profunda desconfiança quanto ao próprio aparato de Estado montado para servi-lo (como os serviços secretos, por exemplo).

    Pode-se discutir ad infinitum quanto Trump é responsável ou apenas sintoma do que os acadêmicos passaram a chamar de “políticas do ressentimento cultural”. O fato é que ele soube melhor do que qualquer outro personagem político expressar a raiva frente às elites privilegiadas (às quais sempre pertenceu, aliás), ao tal “campo progressista” e seu apego às ideias identitárias, à mídia, ao circuito da educação superior e até mesmo indústria do entretenimento e, claro, ao governo federal.

    Daí a realizar as promessas empenhadas, dentro e fora dos EUA, é também grande incerteza. E já que se trata de tomar o cockpit, paira sobre tudo isso a frase do capitão Sully, quando pousou seu Airbus no Rio Hudson: “Brace for impact”

  10. A ONDA TRUMP E O BRASIL, por Malu Gaspar, no jornal O Globo

    Na manhã seguinte à vitória de Donald Trump, Brasília amanheceu tensa, mas as reações no governo Lula seguiram uma espécie de protocolo. O primeiro a falar em nome do governo foi o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, batendo na tecla de que, entre o que é dito em campanha e o que se faz no governo, pode haver um largo espaço.

    — Após os primeiros resultados, já é um discurso mais moderado que o da campanha — tentou aliviar Haddad.

    O assessor especial de Lula para assuntos internacionais, Celso Amorim, foi na mesma toada, evocando a boa relação que Lula mantinha com George W. Bush em seu primeiro mandato e dizendo que o Brasil fará o “possível para ter uma conversa pragmática”. Nas redes sociais, Lula, que na semana passada afirmou torcer por Kamala Harris por ser “muito mais seguro para fortalecer a democracia”, cumprimentou Trump e pediu diálogo.

    Nos bastidores, porém, todo mundo sabe que haverá estragos para Lula, tanto na dimensão política como na econômica. Primeiro, porque a agenda de Trump — aumentar tarifas de importação para dificultar a entrada de produtos estrangeiros, cortar impostos e reduzir a entrada de imigrantes ilegais, aumentando o custo da mão de obra — tende a provocar inflação e retardar a queda dos juros por lá. É uma agenda péssima para o Brasil, que tem pela frente um espinhoso ajuste fiscal para implementar. A tarefa se torna ainda mais complicada quando não se sabe ao certo a extensão do que vem por aí.

    No discurso da vitória, Trump fez questão de dizer que as “promessas feitas serão cumpridas”, e o histórico mostra que não convém subestimar sua disposição. Ao longo da campanha, ele deixou bem claro que tiraria de seu caminho todo e qualquer obstáculo, em especial a burocracia que o impediu de fazer estripulias mais drásticas no primeiro mandato. Sua enorme votação, a conquista do controle da Câmara e do Senado pelos republicanos e a maioria que já tem na Suprema Corte tornaram Trump um presidente superpoderoso. Não há por que supor que ele aliviará logo agora que pode pegar pesado.

    Na política brasileira, isso significa injetar um aditivo no estado de ânimo da direita, especialmente no cercadinho de Jair Bolsonaro. No primeiro mandato de Trump, a relação entre os dois foi bem assimétrica. Bolsonaro bancava o fã, e Trump um ídolo distraído — quem não lembra o dia em que ele disse que amava o americano e recebeu de volta um “legal te ver de novo”?

    De lá para cá, as derrotas e processos judiciais aproximaram o bolsonarismo do trumpismo. Elon Musk, o dono do X, entrou de sola no cenário político e comprou briga com o Supremo Tribunal Federal, em especial com Alexandre de Moraes, que mandou suprimir postagens de personagens de direita da rede social. Noutra frente, parlamentares republicanos apresentaram ao Congresso um projeto de lei para barrar a cooperação financeira e jurídica com instituições brasileiras e o financiamento a entidades de combate à desinformação que venham a assessorar a Justiça Eleitoral brasileira, além de um pedido para que o Departamento de Estado cancele o visto americano de Moraes. O senador que capitaneou essas iniciativas, Rick Scott, se reelegeu com larga vantagem e tem boas chances de ser líder da maioria.

    Na noite da vitória, estavam todos confraternizando com Eduardo Bolsonaro no jantar que Trump ofereceu a poucos convidados durante a apuração, em seu resort na Flórida. Há poucos meses, enquanto a campanha nos Estados Unidos ainda pegava tração, Eduardo usou um colega de Supremo para fazer chegar a Moraes um recado: Trump prometera que, se fosse eleito, perseguiria o ministro com o poder que tivesse. Embora tenha jeito de bravata, a ameaça demonstra quanto o clima entre a direita e as instituições no Brasil pode piorar.

    Bolsonaro acredita que a vitória de Trump abrirá uma porta para reverter a inelegibilidade e lhe dar fôlego para retomar o espaço que começava a perder na direita depois das derrotas na eleição municipal. Tudo isso depende de variáveis que nem o poderoso Trump será capaz de controlar, mas não dá para negar que seu próximo mandato alterará o rumo da geopolítica mundial.

    O que Lula fará a respeito, talvez nem ele saiba. Bolsonaro e seus aliados, estes estão prontos para surfar essa onda até 2026, provocando ainda mais instabilidade num cenário que já não é de calmaria.

  11. MUITO BARULHO POR NADA, editorial do jornal O Estado de S. Paulo

    Para quem tinha esperança de que o pagamento de emendas parlamentares seguiria critérios mais transparentes e rastreáveis depois da suspensão dos repasses pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino, a Câmara dos Deputados deu uma contundente resposta nesta semana.

    O texto garantiu R$ 50,5 bilhões aos deputados e senadores em 2025, praticamente o mesmo valor deste ano, sem atender às condições impostas pelo ministro para liberar os recursos bloqueados. Era um resultado previsível, como este jornal prenunciava em agosto, após a divulgação dos termos do pacto mediado pelo Judiciário para dar fim à crise entre Executivo e Legislativo (ver o editorial A montanha pariu um rato, publicado em 22/8/2024).

    A proposta foi elaborada pelo deputado Rubens Pereira Júnior (PT-MA), aliado do ministro Flávio Dino, e um dos vice-líderes do governo, e acabou por ser relatada por Elmar Nascimento (União-BA).

    Elmar estava magoado com seu “melhor amigo”, ninguém menos que o atual presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), após o alagoano ter declarado apoio a Hugo Motta (Republicanos-PB) na disputa pela sucessão da Casa. Lira, então, deu a Elmar a relatoria do projeto, e bastou um dia para que essa bela amizade fosse reconstruída sobre novas bases.

    As emendas individuais e de bancada, de execução obrigatória, continuarão a crescer ano a ano. A diferença é que, a partir de 2026, seguirão o arcabouço fiscal, que garante um aumento real, ou seja, acima da inflação, de 2,5%.

    Quanto às emendas Pix, um tipo de emenda individual e, portanto, impositiva, os autores deverão indicar o objeto e o valor das indicações, dando preferência a obras inacabadas de Estados e municípios, mas não será exigido cronograma de execução nem assinatura de convênio para o envio dos recursos.

    Ainda em relação às emendas de bancada estadual, a exigência de que sejam restritas a projetos e ações estruturantes foi flexibilizada e a lista, ampliada. Os parlamentares poderão dividir os recursos individualmente e também poderão destinar verba para outros Estados.

    Herdeiras das emendas de relator, que deram base ao “orçamento secreto”, esquema revelado pelo Estadão, as emendas de comissão partirão do patamar de R$ 11,5 bilhões, serão corrigidas pela inflação – privilégio garantido somente às despesas obrigatórias – e só poderão ser bloqueadas na mesma proporção dos demais gastos discricionários.

    Além disso, não será preciso identificar os nomes dos padrinhos das emendas de comissão, uma afronta não só à decisão mais recente de Flávio Dino, como à do plenário do STF em 2022, quando foi reconhecida a inconstitucionalidade do “orçamento secreto”. Caberá aos líderes, e não aos colegiados, determinar o destino do dinheiro.

    O texto recebeu 330 votos favoráveis e 74 contrários. Ele ainda será submetido ao Senado, mas por lá tampouco enfrentará problemas. O Congresso tem pressa para liberar os R$ 17,5 bilhões bloqueados pela decisão de Dino e, de acordo com o presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), a proposta deve ser analisada já na próxima semana.

    Se aprovada, a medida deve referendar as mudanças iniciadas pelo Congresso há quase dez anos. Foi em março de 2015, logo após a reeleição da então presidente Dilma Rousseff, que a primeira de uma série de emendas constitucionais que alteraram a execução das emendas parlamentares foi aprovada, em uma sessão da Câmara liderada por aquele que se tornaria o algoz da petista, Eduardo Cunha (MDB-RJ), líder do mesmo grupo político de Arthur Lira e de Hugo Motta.

    O impacto desse movimento no processo eleitoral não pode ser desprezado. Enquanto essas indicações abocanhavam um espaço crescente do Orçamento Geral da União, deputados e senadores consolidavam suas bases eleitorais. Na disputa deste ano, a proporção de prefeitos reeleitos foi de 80%, a maior dos últimos 20 anos, e, nas 112 cidades mais contempladas com emendas, o sucesso foi ainda maior e alcançou impressionantes 93,7%.

    Com o projeto aprovado nesta semana, tudo muda para continuar como está, exatamente como a cúpula do Legislativo desejava.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Não é permitido essa ação.