Se você é leitor ou leitora habitual deste espaço, então você já leu esta observação abaixo, MUITAS outras vezes. Vou repeti-la pela NONA vez este ano (a última foi no dia 14 de outubro), ou refrescar à memória dos “esquecidos”, ou, tornar claro para os novos por aqui e que encontram nas entrelinhas “interesses”.
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Este 2024 foi de eleições municipais e que terminaram ontem no Brasil e em Gaspar no dia seis de outubro. Os políticos – e seus amigos – querem que os artigos esclarecedores como o abaixo, mesmo pós eleições, e à véspera de um novo governo, sejam banidos e farão de tudo para isso. O 2024 foi um ano de escolhas e segundo os vencedores, para mudanças. Então este espaço é de vigia e continuará “olhando a maré” para o descontentamento dos políticos de boa lábia e os espertos de sempre que se aboletam no poder – sustentado por nossos pesados impostos – ou à sombra dele.
Alterado e ampliado o texto na seção Trapiche em 29.10.2024, as 9h08min. O governo eleito de Paulo Norberto Koerich e Rodrigo Boeing Althoff, ambos do PL, para administrar Gaspar entre 2025 e 2028, penso, começou bem. Pode-se discordar e até se desconfiar das indicações, mas uma coisa é certa: Paulo deu o primeiro passo – e firme – no processo de transição. Nem tão audacioso, nem tão conservador. Compôs politicamente. Iniciou os acertos, mas nesta primeira leva foi pragmático na busca de resultados num ambiente de crises.
Paulo e Rodrigo saíram da banalidade (e poeirão tão comum na falta de transparência em Gaspar como simbolicamente retrata a foto de abertura deste artigo e que coloca uma das áreas mais organizadas pela iniciativa privada na atração de turismo em Gaspar – A Vila D’Itália, no Alto Gasparinho; a outra, mais estruturada nos acessos é das cascatas no outro lado da Cidade, o Distrito do Belchior – num descaso incompreensível por quase oitos anos do atual governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, Luiz Carlos Spengler Filho e Marcelo de Souza Brick, ambos do PP) da tal equipe de transição – sem efetividade e autoridade. Paulo e Rodrigo foram para o prático dizendo, com todos os riscos que agora estão obrigados a assumirem, quem vai assessorá-los no primeiro escalão em áreas críticas do futuro governo. É para remediar ou tirar a cidade do buraco que está metida, disfarçada por uma continuada propaganda institucional oficial que confronta à dura realidade.
Paulo e Rodrigo botaram a cara ao tapa. E agora saberão onde estão – e como agem – os que dão o tapa e escondem a mão; onde estão os incendiários de sempre; onde se escondem as viúvas inconformadas; como se apresentam as carpideiras profissionais de todos os velórios e os que regularmente vivem às sombras do poder para levar vantagens pessoais, empresariais e institucionais. Saberão os eleitos também, como terão que se recompor e equilibrar nos ruídos – e sempre haverá – das escolhas que fizeram e ainda farão no primeiro escalão e nos inferiores sob o lema da austeridade, tecnicidade e as composições políticas.
O bolsonarismo xucro, aquele que os deixou na mão – até por uma simples foto e um sorriso – por meio do seu mito, não foi comtemplado ainda. Aliás, os resultados do segundo turno só ratificaram que o lulismo na esquerda do atraso e o bolsonarismo -o que encarna uma direita radical -, precisam, se quiserem sobreviver, ir urgente para o divã e se atualizarem no discurso. O Brasil voltou para o centro.
Retomando.
Por outro lado, faltou a Paulo e Rodrigo dizer quem será o secretário de Saúde, pois como já escrevi anteriormente, no dia Primeiro de Janeiro, dia da posse, de festas, poderá não ser de fogos, mas de queixas generalizadas. Haverá filas no Pronto Atendimento do Hospital de Gaspar – hospital que ninguém sabe de quem é e ao mesmo tempo – nesta gestão, mais que na do inventor da marota intervenção municipal Pedro Celso Zuchi, PT, absurdamente se tornou um poço sem fundo de recursos públicos sem o devido retorno e transparência – esta pactuada com o MP que falhou – à sociedade. Ele está “roubando” dinheiro de outras prioridades, inclusive do necessário funcionamento dos postinhos, a primeira entrada dos queixosos de dor e doença, mas também de esperançosos de simples atenção e possível cura.
É que, no dia da posse de Paulo e Rodrigo e nos seguintes, tudo estará fechado devido às férias coletivas do funcionalismo público municipal, as quais, se nada mudar, começam no dia 18 de dezembro.
A MEXIDA NO XADREZ
Agora, sem dúvida, Paulo e Rodrigo mesmo com as figuras pretas, as que dão o segundo movimento no complicado jogo de xadrez do governo que ganhoun pelas urnas em seis de outubro- como mencionei no artigo O ENCONTRO DA TRANSIÇÃO EM GASPAR FOI REVELADOR. NELE OS ELEITOS PERDERAM A OPORTUNIDADE DE SINALIZAREM À SOCIEDADE A QUE VIERAM. SOBREVEIO O ANTIGO. FALTOU AUDÁCIA. O FUTURO PREFEITO DIZ QUE ESTÁ REAVALIANDO ESTE PRIMEIRO PASSO – conseguiram sinalizar que estão dispostos, no mínimo, a empatar o jogo, iniciado pela manjada marquetagem quando no jogo Kleber tomou para si as peças brancas no tabuleiro.
A indicação da educadora e empreendedora bem-sucedida nesta área, ao se recolher depois de ser traída sucessivamente no ambiente político, a ex-vereadora e ex-candidata a prefeita de Gaspar, Andreia Symone Zimmermann Nagel, com passagens pelos extinto DEM, o desmoralizado PSDB, para ser a titular da secretaria de Educação, foi a cortina de fumaça criada pelos eleitos para não atrair a atenção e diminuir os questionamentos sobre os demais indicados: Júlio Augusto Souza Filho, como procurador-geral do município; Ana Karina Schramm Matuchaki Cunha, para a secretaria de Administração e Finanças – a hoje conhecida como Fazenda e Gestão Administrativa; Neusa Pasta Felizetti, para a secretaria de Assistência Social; Pedro Inácio Bornhausen, para a chefia de Gabinete e que já foi de Kleber; bem como Ivan Burgonovo, superintendente do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, estranhamente, antes mesmo do secretário de Planejamento Territorial (foto oficial acima).
O que inclusão de Burgonovo já na primeira lista indicados pode sinalizar? O tamanho do buraco que envolve os ex-apoiadores de Kleber e que, enrolados neste ambiente jurídico frágil da administração de Kleber e Marcelo e o cheiro no cangote do Ministério Público de Santa Catarina, migraram para Paulo e Rodrigo por vingança – contra os erros crassos de Kleber -, e ao mesmo tempo desesperados na busca da tábua de salvação para seus negócios e os exagerados riscos que tomaram no meio ambiente.
GASPAR ESTÁ SOB ADMINISTRAÇÃO DO POEIRÃO
Se os eleitos começaram sinalizar para a sociedade gasparense, entorno, adversários, a cidade, cidadãos, cidadãs e investidores – e bem claramente – o processo pragmático, seguro e não audacioso ou político de mudança que desejam dos operadores e até vagões deste trem chamado de gestão municipal quase descarrilada, por outro lado, o atual prefeito dá sinais claros de ter desistido da cidade antes de terminar de fato o seu mandato.
Kleber vive uma realidade paralela e bem diferente como um produto de marketing, no qual só ele próprio acredita nisso. Ele está encobrindo a derrota, toda ela decorrente das suas falhas.
Tanto que depois de quase oito anos nesta batida errática – que sempre me contestou e por isso me perseguiu – foi reprovado amplamente nas urnas. Que sirva de lição aos que estão substituindo a era Kleber. Uma mensagem e imagem pública precisam antes de tudo de um produto crível – é assim que acontece com um gestor, político, líder em várias áreas, artista e até celebridade. Eles precisam entregar na experimentação os resultados prometidos. Não adianta boa, criativa e massiva propaganda recheada de expectativas para um produto e que, testado, revela-se ser ruim. E esta é a minha conclusão diante de décadas de atuação nesta área.
Retomando pela segunda vez.
Kleber está presidente da Fecam – Federação Catarinense de Municípios. Nada contra. Encontrou, espertamente, um escape para o ostracismo que sabia que experimentaria por aqui e tenta ao mesmo tempo se inserir e ganhar sobrevida no ambiente político estadual onde até então estava ausente e ainda é um ilustre desconhecido. Por isso, vive despachando lá em Florianópolis – na propaganda também – com o seu braço direito daqui, Jorge Luiz Prucino Pereira, PSDB, o que precisou desistir de ser o todo poderoso na prefeitura de Gaspar.
Na semana passada, Kleber fez um bate e volta a Brasília. Foi ao Supremo Tribunal Federal contestar (sic) a decisão monocrática da ministra Carmem Lúcia. Ela proibiu as tais Transferências Especiais do governo do estado aos municípios catarinenses, apelido dado pelo atual governador Jorginho Melo, PL, depois do berreiro dos prefeitos, quando Jorginho quis extinguir as tais “Emendas Pix” criadas pelo ex-governador Carlos Moisés da Silva, Republicanos, ao emergir das cassações que lhes rondaram o mandato e facilitaram a eleição de Jorginho.
Kleber, em nome dele e dos demais prefeitos a quem os representa na Fecam, foi defender à falta de transparência nestas transferências. Este é o principal argumento aceito pela ministra na decisão dela e que atendeu os apelos técnicos do Ministério Público. Depois sou eu que exagero quando escrevo que Kleber se embrulhou exatamente por exacerbadamente abusar da falta de transparência na sua gestão.
O que Kleber e a Fecam não disseram, é que uma parcela ponderável dos prefeitos catarinenses – muitos dos quais, entre eles Kleber já foram beneficiados com o pagamento menor da previdência no jabuti criado no Congresso em ano de eleições para manter os empregos ao invés de revisá-los- estão com dificuldades para fechar os seus caixas e dessa forma, entregar aos sucessores, os governos dentro das regras da Lei de Responsabilidade Fiscal. E dependem desses repasses salvadores do governo do estado. Está tarde para reverter. E bateu o desespero. Na foto, Kleber está com o governador dando conta do que foi fazer em Brasília.
O PERMANENTE CONTRASTE DA PROPAGANDA E DA REALIDADE
E para encerrar este artigo de hoje e que se espicha no Trapiche.
Não vou contar mais sobre o fim de feira e sem expressão que virou o secretariado de Kleber e Marcelo. Muito menos das inaugurações de obrinhas eleitoreiras – sem qualquer audiência a testemunhá-las – obras estas que foram projetadas para serem entregues antes de seis de outubro – tanto que nas placas, impressionantemente, há nomes de secretários (foto abaixo) que nem mais estão no cargo como o assinalado. Vou reportar sobre as incoerências repetidas e que finalmente levaram à derrota do grupo que está no poder de plantão e que parte dele, estranha e insistentemente, está no entorno do novo governo.
Kleber como presidente da Fecam se vende como um administrador acima da média. Nada mais contraditório e testemunhal do que um vídeo que circulou nas redes sociais e aplicativos de mensagens por estes dias.
Este vídeo caseiro foi líder de audiência e foi parar na sessão da Câmara – mas, prudentemente, não para os que assistiam a sessão pela internet. É sempre assim. O vídeo foi levado pelo vereador Dionísio Luiz Bertoldi, PT. O que ele mostrou, não o vereador, mas o vídeo?
Como os próprios moradores e microempresários da área de lazer e turismo lá do Alto Gasparinho fazem para se livrar do poeirão que toma conta de suas propriedades, negócios e limita à visita de turistas naquilo que eles próprios criaram (investiram e sustentam) sem o amparo público: um micro-trator tipo Tobata, uma carretinha, uma caixa d’água de plástico, mangueiras e um cano furado, exposição ao perigo do trânsito por horas intenso, na falta de uma política pública, gestão e carro pipa municipais para paliativamente “espantar” o poeirão e apoiar os empreendedores pioneiros.
O asfalto foi prometido pelo governo Kleber há sete anos. Foi uma “troca” negociada quando o Executivo teve aprovado vários financiamentos, incluindo o asfaltamento daquela rua na Câmara. Com o tempo tudo foi tragado pela vingança política e escolhas erráticas do governo contra aquela e outras comunidades. Alguma coisa reapareceu na assinatura de ordens de serviço às vésperas das eleições, e até depois delas para encabrestar o futuro governo
Na Fecam Kleber faz estas manchetes: “Fecam promove maior congresso municipalista de SC com 27 horas de assuntos decisivos para gestão municipal“, ou “Fecam divulga 40 Boas Práticas Municipais selecionadas para o COMAC 2024“, ou “Fecam e Uvesc se reúnem com presidente da Casan para debater regionalização do sistema sanitário catarinense“. Entretanto, em Gaspar, para ficar em só uma das manchetes, o projeto de esgoto estava pronto há 12 anos e provavelmente está defasado, diante do tempo que levou para sair do papel o projeto e das novas realidades técnicas e necessidades por aqui. Há uma semana ele foi assinado por Kleber para começar a ser implantado, mas goela abaixo no próximo governo e propaganda como um feito do de Kleber e Marcelo. Muda, Gaspar!
TRAPICHE
O blog deixará de agora em diante de nominar Paulo Norberto Koerich de delegado – ou qualquer outro ligado a funções ocupadas -, ou de “doutor” Paulo – tratamento preferido dos puxa-sacos -, mesmo ele sendo advogado legalmente licenciado.
Ele é, de fato e só, de agora em diante, prefeito eleito de Gaspar, e quando empossado, prefeito, ou delegado licenciado, ou delegado aposentado, se isto acontecer e quando o contexto exigirem. A formação em Direito aparecerá quando estiver ligada à área de domínio do conhecimento substancial dele.
Igualmente, Rodrigo Boeing Althoff. Ele será para o blog vice-prefeito eleito, ou vice-prefeito empossado, ou secretário tal, se assim for nomeado e se trabalha com esta possibilidade. A qualificação de engenheiro civil ou outra da sua farta formação acadêmica, será abolida se o tema não tiver ligado diretamente à sua formação, facilitadora para suas decisões em necessidades contextualizadas.
Aviso: ambos e os escolhidos por eles para assessorá-los, passam de agora em diante serem entes políticos expostos. Foram eles que escolheram esta opção, não eu. E pelos resultados que produzirem para o coletivo e repercussão política, social, econômica na sociedade para a qual serão administradores, também serão expostos e questionados, mesmo pelo silêncio que usarão com arma, tal qual a cabeça de avestruz enterrada na areia.
Todos estão obrigados à transparência. À falta dela e a insistência contra ela, levaram os atuais mandatários a serem rejeitados nas urnas. A conivência da imprensa neste silêncio, foi o corresponsável por parte do desastre contra a cidade e seu futuro. E a acomodação aconteceu exatamente no pior. E não só para os cidadãos e cidadãs. Mas também para os donos do poder de plantão.
A minha voz aqui, por outro lado, foi o contraponto – praticamente o único – e por consequência- líder de audiência e credibilidade. Paguei caro na perseguição e intimidação desses poderosos, mas ao final, estou de alma lavada. Ganhou Gaspar, quando se desnuda responsavelmente os poderosos que se acham donos dos resultados que nem sempre são para o coletivo. Aliás, foi assim que me comportei com Pedro Celso Zuchi, PT, Adilson Luiz Schmitt e Bernardo Leonardo Spengler, estes eleitos pelo MDB. No entorno de Paulo e Rodrigo, estão muitos destes viciados em apontar os desvios dos outros e exigir silêncio sobre os seus.
As primeiras escolhas revelaram um entrelace de interesses do PL, Florianópolis, Blumenau e com o entorno estornado pelo atual prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB. Estão tabelando, ou se vingando, ou dando recados claros de poder ou influência. Por enquanto, no limite. E se não se cuidar, o prefeito eleito vai ser engolido pela má e centralizada comunicação que poderá ter transparência tão opaca quanto a anterior. Nos dias de hoje, com tudo on line e cada um sendo repórter nos seus aplicativos de mensagens, é um rastilho de pólvora do qual, quando tardiamente percebido, não se terá controle. Mesmo falsamente, cria-se uma imagem de difícil conserto.
Paulo Norberto Koerich não pode perder – de modo algum – a autenticidade dele – e também não será aos 60 anos que ele vai mudar uma forma de ver e agir instintivamente, ou deixar de acreditar naquilo que o forjou-, mas, Paulo precisa se “policiar” de agora em diante, pois não é mais policial, nos simbolismos pelos quais se expressa publicamente. Os mesmos que levaram o atual governo se tornar uma contradição ambulante e o enfraqueceu a tal ponto de não conseguir fazer o sucessor. Um dia antes de anunciar os nomes de parte do seu secretariado, o futuro prefeito apareceu, todo contente, nas redes sociais com uma tartaruga nas mãos (foto acima). Simbólico e um prato cheio nos aplicativos de mensagens para os memes dos rancorosos, dos ainda curtindo derrotas e os com falta de votos. Este é o registro.
Tabelas I. O novo procurador geral, Júlio Augusto de Souza Filho, vem de Blumenau e já passou pela Câmara de Vereadores de lá a partir de 2014. Experiência, certamente, não lhe faltará. O que chama a atenção? A brutal diferença de vencimentos. No Portal da Transparência de Blumenau, em setembro, Júlio Augusto recebeu bruto R$42.581,21, incluindo neste montante, R$17.108,21 de uma rubrica chamada de “honorários advocatícios”.
Tabelas II. Em Gaspar, o procurador geral Felipe Juliano Braz, por exemplo recebe bem menos. E eu não posso dar o valor exato, porque o Portal Transparência de Gaspar, uma marca da administração de Kleber Edson Wan Dall, MDB contra a sociedade, até o momento da postagem desta nota, estava com os dados dos vencimentos dos servidores todos em branco e quanto em média um procurador por aqui recebe de sucumbências. Na reforma administrativa que irá para a Câmara deve vir mudança de remuneração do secretariado para ser competitivo regionalmente. Nesta terça-feira, atualizando, o Portal Transparência de Gaspar estava de volta: Felipe recebeu no mesmo mês de setembro R$16.390,64 brutos. Não há registro de sucumbências no holerite de Felipe disponível no Portal, mas aqui também há esta prática.
Tabelas III. Neusa Pasta Felizetti não é uma desconhecida dos gasparenses e nem deveria estar nesta primeira lista, se não fosse os tais acertos partidários e entre vencedores de afinidades, apesar dela esbanjar competência no que faz. Neusa já foi diretora da antiga pasta de Desenvolvimento Social, o que é hoje a secretaria de Assistência Social de Gaspar e nomeada, vejam só, pelo ex-prefeito Adilson Luiz Schmitt, PL (2005/008) e que jura não ter influenciado em nada nesta nomeação.
Tabelas IV. Hoje, Neusa Pasta Felizetti – conhecida ativista da causa animal e um dos motes da campanha eleitoral, está lotada no gabinete do deputado estadual Egídio Maciel Ferrari, PL, que já foi delegado em Gaspar e regional em Blumenau, e acaba de se eleger prefeito em Blumenau com apoio da atual administração. Por outro lado, em Blumenau está empregado na prefeitura, nomeado por Mário Hildebrandt, PL, em cargo em comissão de Diretor de Titulação Imobiliária desde outubro de 2022 na Procuradoria-Geral, Paulo Henrique Scheidt Koerich. Sintomático.
Tabela V – Ana Karina Schramm Matuchaki Cunha indicada pelo prefeito eleito Paulo Norberto Koerich, PL, para ser a sua futura secretária de Administração e Finanças, também não é desconhecida dos gasparenses. Ela tem currículo e vida própria. Era o braço direito do ex-prefeito de fato de Gaspar Carlos Roberto Pereira, ex-presidente do MDB, inventor do candidato e das campanhas de Kleber Edson Wan Dall, na secretaria de Fazenda e Gestão Administrativa, até ela fazer um comentário que desagradou os familiares do prefeito, quando se soube do hackeamento dos lançamentos dos IPTUs de Gaspar. Carlos Roberto opera nos bastidores depois que teve que bater em retirada com a entrada em cena no segundo mandato de Kleber do novo prefeito de fato de Gaspar, o deputado Federal por Blumenau e irmão de tempo, Ismael dos Santos, PSD.
Tabela VI – Despedida aqui por exatamente agir como profissional, foi para a prefeitura de Blumenau e agora está em cargo semelhante ao que vai ocupar aqui lá em Indaial, governada por André Moser, PL – uma cidade espelho em tamanho e complexidade, mas, certamente, não na desestruturação administrativa. Há semelhanças até na questão hospitalar onde o Beatriz Ramos passou por recuperação. Aqui, Karina já foi presidente da Comissão da marota Intervenção do Hospital, criada pelo ex-prefeito Pedro Celso Zuchi, PT que abriu espaços para todos os tipos de dúvidas e improdutividade contra a cidade.
Tabela VII – O mais novo e que terá a primeira experiência administrativa e de confiança em Gaspar é o PM da reserva, mestre em ciências jurídicas e focado em meio ambiente, Ivan Burgonovo. É professor na Furb e para cursos de formação da PMSC na sua área de conhecimento acadêmica. A sua escolha tão antecipada e antes mesmo do anúncio do secretário de Planejamento é um indicador do tamanho do desafio diante de tantos equívocos e interesses em jogo, incluindo a parcela investidores, empreiteiros e loteadores que apoiou o atual governo e se viu fragilizada e presa pelo emaranhado de erros, se isto não foi proposital.
Tabela VIII – A princípio a indicação de Ivan Burgonovo é a única para o segundo escalão do governo de Paulo Norberto Koerich e Rodrigo Boeing Althoff. A não ser, e isto não foi confirmado, que haverá na reforma administrativa que deverá passar pela Câmara, uma secretaria de Meio Ambiente diante de tanta complexidade em que a cidade está metida, daquilo que precisa ser consertado ou os novos tempos exigem.
Tabela IX – Pode ser um sinal do final dos tempos até aqui onde se cria dificuldades para se apresentar facilidades, jeitinhos e milagres. E elas não vieram. E quando concedidas, foram barradas nos órgãos de fiscalização. Até aparelhamento da Superintendência se tentou descaradamente e ninguém teve o menor desconfiômetro em perseguir, implacavelmente, o único fiscal concursado que não se dobrou aos erros.
Tabela X. Este emaranhado problemático chega ao futuro chefe de gabinete e coordenador da campanha de Paulo Norberto Koerich, Pedro Inácio Bornhausen. Ele aglutina parte ponderável do PP que tinha candidato, Marcelo de Souza Brick. Neste contexto desse emaranhado, passa até pela esposa de Pedro, Noêmia Bohn, ex-ativista ambientalista, hoje uma consultora especialista aos que estão em apuros. Pedro já foi por dois anos chefe de gabinete de Kleber e pulou da barca ao vê-la da porta do gabinete erros que preferiu não contestá-los. Preferiu o silêncio, ao invés de arrumar a casa na disputa interna de poder e gestão externa de interesses para além da lei em vigor. Gaspar perdeu-se então em anos no atraso naquilo que não quis corrigir ou se adaptar para dar legalidade ao avanço empreendedor.
Tabela XI – Como se vê e expressei no texto principal sobre este assunto, o movimento da largada foi bom. Furou bolhas. Mandou recados. Sinalizou mudanças moderadas. Criou expetativas, mas também, como exponho no Trapiche, levará à explicações. Pior do que já está, certamente não ficará. Paulo e Rodrigo possuem exemplos para não cair em armadilhas que se mostraram improdutivas e desgastantes aos gestores de plantão. Será preciso errar muito diante do que já se errou até aqui no atual governo que se vai e desaprovado nas urnas. Pressão e questionamentos haverá sempre, ainda mais em ambiente político e de múltiplos interesses em jogo, mas principalmente, vaidade e jogos de poder. Neste momento, gerir esta pressão é o mais importante. O anúncio da semana passada, como ressaltei anteriormente, faz este papel. E produz reações que precisam ser medidas e contidas. É o jogo
Tabela XII – O que não pode é o que aconteceu na semana passada. O vereador eleito pelo MDB e reinvestido de secretário de Planejamento Territorial, Carlos Bornhausen, de mãos dadas com os eleitos em visita aos empreiteiros patrocinadores da campanha de ambos. Tudo está sendo documentado e ao mesmo tempo, servindo para munições maliciosas, mesmo que nada tenha de errado nessas relações. Se é para mudar, elas começam pelas atitudes e a transparência, como traduzem os votos das urnas aos vencedores e perdedores. Avisos precisam ser entendidos e respeitados. E desde logo.
Esta foto ao lado está inteira incluindo a própria legenda do prefeito na publicação que fez nos seus canais de redes sociais. Risível. Deboche. É da semana passada. Kleber Edson Wan Dall, MDB, recebeu a presidente do amplo derrotado MDB, a sua ex-secretária de Educação que derrubou o Ideb entre nós antes da pandemia, a vereadora que não conseguiu se reeleger, Zilma Mônica Sansão Benevenutti. Para que? Para discutir projetos para a cidade, segundo ele próprio legendou a foto. Só se for de ser a nova oposição. Mas, até para isso será preciso competência.
Tempo perdido. A legenda certa deveria ser: “Kleber e Zilma assumem no gabinete a culpa pela derrota humilhante nas urnas e prometem rever tudo o que levou a este resultado“. Primeiro precisa saber se Kleber Edson Wan Dall, MDB, vai continuar no MDB. E como o povo tem memória curta, o mais recomendado era sumir por longo período e voltar com tudo só em meados de 2026 diante do sucesso e insucesso da gestão de Paulo e Rodrigo, bem como o novo cenário de forças políticas que nasceu com as eleições deste outubro no Brasil
Antes de encerrar, não poderia deixar de fazer duas observações da falta de planejamento e contingência, apesar da palavra “planejamento” ser a especialidade repetida de Kleber Edson Wan Dall, MDB, quando se olha as suas publicações nas redes sociais. Os dois cemitérios públicos só se livraram do mato apenas neste final de semana, mesmo se pagando uma alta taxa para manutenção. Impressionante!
E para complicar, achando que todos não têm o que fazer durante a semana, por azar, a captação de água falhou na cidade e as torneiras ficaram cheias, mas de ar. Quem foi ao cemitério limpar- e se usa água para ao menos molar os panos – os túmulos para o este final de semana de Finados, teve que rezar apelando para a alma dos mortos para que a cidade mude. Diante do transtorno, a administração do cemitério e secretaria de Obras não disponibilizou qualquer alternativa aos que foram lá ao trabalho.
Meu bordão por mais de oito anos foi Acorda, Gaspar! E isso demorou tanto que estamos atordoados e ainda sonolentos. Agora será, Muda, Gaspar! Por que? Diante da velocidade que o mundo vem mudando e a paradeira que se teve por aqui, não há mais tempo a perder.
Finalmente quem perdeu em outubro: a esquerda do atraso, Lula, PT, a direita xucra e o bolsonarismo que captou os radicais de direita. Perderam, vergonhosamente, porque assim se expuseram, os artistas, acadêmicos, intelectuais, jornalistas e influenciadores que acham que o mundo certo ou ideal – e não plural que tanto defendem quando estão na oposição – está na esquerda brasileira. Ela, parece ser a antiga Albânia, a atual Cuba e Coréia do Norte ou a nossa vizinha Venezuela, além de outros teocráticos e autocráticos que rejeitam a democracia como ela é. A esquerda brasileira envelheceu e não sabe, ainda, que o mundo mudou – e muito. A minoria, como todas as minorias, perdeu. O pêndulo que esteve na esquerda, foi para a direita, parou no centro, desta vez. ele que se cuide na sua insaciável fome de colocar a mão sem transparência nos nossos pesados impostos para provocar a ida do pêndulo para um dos extremos. Wake up, Brazil!
23 comentários em “PAULO DÁ AS PRIMEIRAS CARTAS E COM ELAS, DESTAMPA A CHALEIRA, OBSERVA AS CARPIDEIRAS, VIÚVAS E O ENTORNO MANDANTE CONHECIDO DE ANOS NA CIDADE. ASSIM, TAMBÉM, INFORMA COMO SERÁ A CARA DO FUTURO GOVERNO PARA A DURA E CRÍTICA RECONSTRUÇÃO. NO OUTRO LADO, O VIAJANTE KLEBER ABANDONA A CIDADE E SE TORNA UM “GOVERNADOR” EM DEFESA DOS MUNICÍPIOS CATARINENSES”
AVISO
Aos que passaram cobrando-me o artigo de hoje. Será amanhã. Sem falta.
LULA E MADURO NUMA RELAÇÃO ABUSIVA, por Malu Gaspar, no jornal O Globo
Os manuais de psicologia definem um relacionamento tóxico como aquele em que um dos lados ofende constantemente o outro com agressões, humilhações e por vezes violência física. Em geral, o ofensor pede perdão e promete mudar de comportamento, mas depois o ciclo recomeça, diante de uma vítima incapaz de reagir. Relações bilaterais não são namoro, e movimentos diplomáticos deveriam ser guiados por estratégia e racionalidade. Mas tudo na novela entre Brasil e Venezuela lembra a história de uma relação abusiva.
No último capítulo, nesta quarta-feira, Nicolás Maduro chamou seu embaixador para consultas, passo que pode ser seguido pelo rompimento de relações, e o presidente da Assembleia Nacional da Venezuela enviou para a aprovação dos parlamentares uma moção declarando persona non grata o assessor especial do presidente Lula, Celso Amorim.
O chilique diplomático foi uma reação ao veto brasileiro à entrada da Venezuela no grupo de parceiros do Brics, bloco econômico de que também são protagonistas Rússia, China, Índia e África do Sul.
Maduro apareceu de surpresa na reunião da semana passada que aprovaria os novos parceiros em Kazan, na Rússia, para tentar forçar sua entrada, mas voltou para casa humilhado. Numa entrevista no evento, o próprio Vladimir Putin disse que era “impossível” incluir a Venezuela sem consenso, em referência à posição do Brasil. Dias depois, Maduro acusou o governo Lula de agressão.
Quem acompanha a relação de Lula e Maduro tem o direito de se perguntar como foi que ela se deteriorou tão rapidamente. Desde a transição, Lula se propôs a fazer diferente de Bolsonaro, que retirou da Venezuela o embaixador e outros sete diplomatas por não reconhecer o governo Maduro.
O diagnóstico era que as hostilidades agravaram o isolamento da Venezuela e tornaram o país palco de “guerra fria” opondo Estados Unidos a Rússia e China — uma situação que só seria revertida com diálogo.
Desde então, o que não faltou foi conversa e afago. Lula defendeu Maduro de todos os modos possíveis. Disse que a Venezuela era uma democracia porque faz muitas eleições, afirmou que o conceito de democracia era relativo e ainda exortou a oposição a Maduro a não “ficar chorando” por seus candidatos terem sido sistematicamente bloqueados pelo regime.
Em maio de 2023, recebeu Maduro com tapete vermelho em Brasília e sugeriu a inclusão da Venezuela no Brics. Em outubro, diante da desconfiança generalizada sobre a confiabilidade das eleições que se avizinhavam, enviou Amorim a Barbados para negociar um acordo entre oposição e governo por eleições limpas.
O acordo foi descumprido sem a menor cerimônia. Mesmo assim, há exatos três meses, enquanto opositores eram presos e o país mergulhava no “banho de sangue” que Maduro prometera caso não ganhasse as eleições, Lula passou pano:
“Estou convencido de que é um processo normal, tranquilo, o que precisa é as pessoas que não concordam terem o direito de provar que não concordam, e o governo tem o direito de provar que está certo”, declarou o presidente.
Corta para a última terça-feira, quando Amorim disse na Câmara dos Deputados que houve “quebra de confiança” em Maduro, pois ele prometera entregar as atas de votação da eleição presidencial e nunca entregou. Ainda assim, recusou-se a classificar a Venezuela como ditadura, porque, embora o governo Lula “hoje em dia” seja crítico ao regime, não é um “esporte rentável ficar classificando os países”.
Não é novidade para ninguém que Maduro não está a fim de conversar, e sim de mandar. Embaixadores dizem nos bastidores que Lula, que pelo jeito se enganou a respeito de seu poder e influência, está irritado com o ex-companheiro. Mas certamente não foram o ego ferido ou a preocupação com a democracia as únicas razões para a guinada sobre a Venezuela em plena semana de eleições municipais.
O problema é que, agora, Lula e Amorim terão muita dificuldade para se desvencilhar da armadilha diplomática que eles mesmos criaram ao bancar Maduro perante o mundo e o eleitorado brasileiro. E já está contratado novo constrangimento para o final de 2025, a meses da eleição presidencial de 2026, quando o Brasil sediará a próxima reunião do Brics, e Maduro deverá tentar entrar no grupo novamente.
Enquanto isso, diplomatas e políticos ligados ao governo tentam ver no fato de Maduro até agora não ter atacado Lula diretamente um sinal de que ainda existe brecha para acordo. É bem assim que funcionam os relacionamentos tóxicos.
TARCÍSIO SÓ ERRA NUMA DIREÇÃO, por Elio Gaspari, nos jornais O Globo e Folha de S. Pauo
Pelo andar da carruagem, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, será candidato à Presidência em 2026. Sua vitória eleitoral e muitos aspectos de sua gestão qualificam-no para isso. Ele produziu uma imagem austera, próxima do unicórnio de político técnico. Como se sabe, unicórnio não existe.
Tarcísio de Freitas é um exemplo dos poucos momentos virtuosos na passagem de Jair Bolsonaro pela Presidência da República. Ele o escolheu para o Ministério da Infraestrutura sem conhecê-lo. No Planalto, foi Bolsonaro quem o convenceu a disputar o governo de São Paulo.
Tarcísio seria um bolsonarista moderado. Como ensina a repórter Flávia Oliveira, “bolsonarista moderado é como cabeça de bacalhau, não existe”. Na tarde de domingo, tendo ao lado o prefeito Ricardo Nunes, Tarcísio disse o seguinte:
— Houve interceptação de conversas e de orientações que eram emanadas de presídios por parte de uma facção criminosa, orientando determinadas pessoas em determinadas áreas a votar em determinados candidatos.
Questionado por uma jornalista sobre quem seria o candidato para quem houve a orientação a votar, Tarcísio respondeu:
— Boulos.
As urnas estavam abertas, e as interceptações eram de setembro, anteriores ao primeiro turno, imprestáveis como prova de que Boulos tinha o apoio do Primeiro Comando da Capital. O governador de São Paulo acabava de viver seu momento Pablo Marçal. Horas depois, com as urnas fechadas e Nunes reeleito com mais de 1 milhão de votos de diferença, o governador admitiu que cometeu um erro ao acusar Boulos.
Em março passado, quando a PM de São Paulo barbarizava na Baixada Santista, com dezenas de mortos, e era denunciada à Comissão de Direito Humanos das Nações Unidas, ele disse:
— Pode ir na ONU, na Liga da Justiça, no raio que o parta, que eu não tô nem aí.
Um mês depois, desculpou-se:
— Naquela fala, perdi a paciência, perdi a cabeça.
Seria um bacalhau em busca de uma cabeça, mas Tarcísio só erra numa direção, como o do mercado.
Indo ao erro de domingo, Tarcísio deveria medir o tamanho de sua leviandade no exemplo de um político que sabia jogar sujo. Lyndon Johnson (1908-1973) gostava de contar uma de suas piadas favoritas:
— O candidato a xerife é amigo do dono do jornal e lhe pede que publique que seu rival foi visto tendo relações com um porco. O amigo diz que o outro desmentirá a acusação.
— É o que eu quero — arremata o amigo.
Em outubro de 1968, o mesmo Johnson era presidente dos Estados Unidos, tinha uma guerra no Vietnã e estava pronto para anunciar o início de negociações para buscar a paz. Haveria uma eleição presidencial no dia 5 de novembro, e ele tinha candidato. Seu adversário, Richard Nixon, soube da iniciativa. (A informação veio do professor Henry Kissinger, que tinha um pé em cada candidatura.)
Johnson soube que Nixon torpedearia a iniciativa de paz, pedindo ao Vietnã do Sul que se recusasse a negociar. Grampeou os interessados e interceptou comunicações diplomáticas.
Tinha todas as provas de que o candidato conspirou para travar o acordo, mas ficou calado, e Nixon elegeu-se. Por quê? Pelo estrago que uma denúncia daquele tamanho provocaria no país.
Diferentemente dos episódios de Pablo Marçal e de Tarcísio de Freitas, a denúncia de Johnson seria verdadeira.
A VOZ ROUCA DE BOLSONARO, por Willian Waack, no jornal O Estado de S. Paulo
O grande teste imediato para averiguar o peso político de Jair Bolsonaro e seu papel na direita é saber se consegue mobilizar no Legislativo forças suficientes para compensar o que enfrentará no Judiciário. Simplificando, é anistia versus denúncia. As articulações no Legislativo estão criando um tipo de geringonça política na qual Bolsonaro “comanda” um agrupamento nutrido. Porém, é apenas um entre pelo menos outros três.
A leitura dos fatos feita pelos operadores desse “Centrão radical” (na expressão do cientista político Carlos Pereira) – um amálgama que se acomoda em qualquer lado – é a de que Bolsonaro tem peso significativo, porém se afastando da condição de fator dominante nesse setor do espectro político. Em outras palavras, dado o fato de que Bolsonaro depende do Legislativo para se livrar da cadeia e voltar a disputar eleições, as raposas felpudas na Câmara entendem que o capitão lhes deve mais e não o contrário (não existe gratidão em política). O Senado talvez venha a ser mais sorridente para Bolsonaro e o que ele significa, mas só em 2026.
É possível que o Judiciário só trate da aguardada denúncia contra o ex-presidente próximo do carnaval, ou seja, com as Casas Legislativas sob nova direção. Essa dilatação do prazo (inicialmente, falava-se em fim de novembro) para encerramento dos inquéritos e formulação de denúncia por parte da Procuradoria-Geral da República não altera o que se tem como dado seguro: uma peça de acusação robusta.
Dados o número de inquéritos, a quantidade de investigados e a linha do tempo (que provavelmente abrangerá os dois últimos anos da Presidência de Bolsonaro), a denúncia promete ser longa e sua principal linha de ataque, a “preparação para golpe de Estado”. É algo difícil de ser provado na Justiça, ao contrário do julgamento político e moral, e depende da composição meticulosa de fatos e indícios capazes de “contar uma história” de maneira convincente.
Não que a Segunda Turma do STF, que receberá a denúncia, precise de muito convencimento. É óbvio que a tarefa da defesa de Bolsonaro será a de “desmontar” o todo a partir de partes, mas não se sabe em detalhes o que caiu nas mãos da Polícia Federal e da Abin durante os inquéritos. As Forças Armadas permanecerão caladas.
O ambiente político depois das eleições municipais sugere ser ilusório o surgimento de uma atmosfera de alta pressão no Legislativo capaz de moderar a aguardada dura resposta “institucional” do MPF e do Judiciário aos anos de Bolsonaro – “institucional” entendido aqui como julgamento político no sentido amplo dessa expressão. Resta talvez a voz rouca das ruas, que anda meio apagada.
MAIS UMA DECISÃO QUE MINA A CREDEBILIDADE DO STF, editorial do jornal Folha de S.Paulo
O despacho do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, que anulou os processos do âmbito da Lava Jato contra o ex-ministro petista José Dirceu é mais uma decisão da corte que contribui para erodir sua credibilidade e alimentar a polarização política.
O problema está menos no mérito. Se o STF entendeu que o ex-juiz Sergio Moro e os procuradores entraram em conluio com o objetivo político de perseguir Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o raciocínio, ao menos em tese, também poderia valer para Dirceu.
O que não parece razoável é que o magistrado tenha tomado uma decisão de alta octanagem política como essa monocraticamente. Gilmar, afinal, tornou-se um notório desafeto de Moro. Uma decisão coletiva afastaria suspeitas de motivações pessoais ou ideológicas contra o ex-juiz.
Ademais, a força de uma corte superior vem da colegialidade. O que mais mina sua credibilidade é a percepção de que seja só uma superposição de 11 magistrados singulares perseguindo seus próprios objetivos. É essa, contudo, a imagem que o STF vem projetando para a sociedade brasileira.
Se há uma matéria com a qual o Supremo lidou especialmente mal, é a Lava Jato. No início, quando a operação gozava de forte apoio popular, a corte chancelou todos os atos que vinham de Curitiba, incluindo alguns que já pareciam abusivos.
Com as mudanças no cenário político, o STF pendeu acriticamente para o outro lado. O ministro Dias Toffoli, em sua coleção particular de medidas monocráticas, vem anulando tudo que seja oriundo da operação —inclusive confissões assinadas por empresários assistidos por alguns dos melhores advogados do país.
Trata-se de tentativa de reescrever a história. Não há dúvida de que Moro e procuradores, em diversas ocasiões, extrapolaram limites do devido processo legal. Tal conduta, porém, é motivo para rever casos específicos, não para anulações no atacado que Toffoli vem promovendo, nas quais se insere a decisão de Gilmar.
O fato inescapável é que os casos de corrupção na Petrobras foram realíssimos, como provam as enormes somas de dinheiro devolvidas aos cofres públicos.
O STF deveria ter cuidado para preservar o esforço de combate à corrupção, mas faz o contrário. O acúmulo de decisões desconjuntadas só reforça a polarização e estimula distorções jurídicas.
As nulidades que beneficiaram Dirceu, por exemplo, podem ser usadas por bolsonaristas como argumento falacioso para forçar uma revisão da inelegibilidade ou uma anistia ao ex-presidente.
HÁ BOAS NOTÍCIAS NOS RESULTADOS DAS ELEIÇÕES, por Zeina Latif, no jornal O Globo
A melhor notícia das eleições municipais é o sinal de redução da polarização (entre extremos), tema já discutido aqui. Somados, os partidos de centro — PSD, MDB, PP, União Brasil, Republicanos e Podemos — conquistaram 19 capitais e 3.365 municípios.
Não que os partidos de centro sejam garantia de gestão eficiente e probidade administrativa. Trata-se, na verdade, de ter um ambiente mais propício ao diálogo, ingrediente fundamental para o avanço de reformas.
Mesmo nos municípios, há importantes agendas estruturantes a serem abraçadas, como nas políticas de uso e ocupação do solo, na agenda ambiental, na educação infantil e nos marcos regulatórios para o empreendedorismo. A missão de prefeitos vai muito além da zeladoria.
Lula e Bolsonaro ficaram em segundo plano nas campanhas.
Lula, que defende a necessidade de renovação do PT desde a gestão Dilma, evitou maior exposição. Para alguns analistas, pesam também as lições do grande empenho na eleição da ex-presidente.
O PT conquistou apenas uma capital, e com margem muito estreita — Fortaleza, com grande empenho do ministro e ex-governador do Ceará, Camilo Santana —, e 252 municípios.
Já Bolsonaro, bastante atuante, produziu mais ruído do que casos de sucesso, ainda que o seu partido, o PL, tenha elegido prefeitos em 4 capitais e 517 municípios.
O ex-presidente rivalizou com antigos aliados que buscam posicionamento mais moderado. Em São Paulo, ensaiou apoio a Pablo Marçal, em contraposição ao governador Tarcísio, que apoiou Ricardo Nunes. Em Goiânia, confrontou o governador Caiado, cujo candidato, Sandro Mabel, saiu vitorioso.
Em Curitiba, em oposição ao governador Ratinho Jr, chegou a apoiar a candidata antissistema, Cristina Graeml, em vez do vencedor Eduardo Pimentel, cujo vice era do seu partido.
Merecem comentários o baixo teto de candidatos antissistema e o desconforto de eleitores com as estridências e incoerências dos candidatos, como visto em São Paulo. Acrescente-se as dificuldades enfrentadas por Guilherme Boulos para convencer os paulistanos de sua moderação após um histórico extremista.
Os entrantes ou mesmo outsiders da política tradicional contribuem para chacoalhar o status quo, o que é positivo. Mas há limites. Os eleitores demonstram rejeitar excessos, inclusive os do passado, guardados na memória. Os sinais de amadurecimento dos eleitores são recados para as novas gerações de políticos.
Quanto à elevada abstenção (29,3%), ela pode decorrer de fatores variados, não se resumindo ao desânimo de eleitores. Em Fortaleza, com as pesquisas de intenção devoto indicando um placar bem apertado, justamente entre PT e PL, a abstenção foi baixa (15,8%). Já em Porto Alegre, com maior folga do líder, ela até aumentou (34,8%).
Não se descarta uma mudança de costumes após a pandemia, quando a abstenção saltou bastante. Vale citar que ela costuma ser mais alta no Sul e no Sudeste, regiões mais ricas, onde o custo de perda de lazer por conta do voto pode ser considerado elevado pelos indivíduos.
Mais preocupante foi a baixa renovação política, com índice de reeleição recorde (cerca de 80%). A explicação pode estar no maior uso da máquina pública. Com caixa reforçado pelo aumento das transferências federais nos últimos anos, houve aceleração de investimentos.
Além disso, houve crescimento dos fundos eleitorais e das emendas parlamentares, particularmente importantes em municípios menores, o que precisa ser atenuado.
Bons prefeitos podem e devem ser reeleitos, mas em condições mais equilibradas de concorrência. Cabe maior atenção das instituições democráticas, como o TSE, a essas distorções.
Ainda que sejam lógicas diferentes, a vitória do centro poderá influenciar o pleito em 2026. Há boas chances de haver candidatos competitivos de perfil moderado, demandando um reposicionamento do PT.
Isso sem contar que a fórmula do partido de estimular a economia para ganhar as eleições tem perdido eficácia. Especialistas apontam que as classes médias, cada vez mais, atribuem o seu sucesso profissional ao esforço próprio, e não às políticas governamentais. Já a inflação mais alta é motivo de insatisfação com o governo.
O crescimento de partidos de centro poderá influenciar a dinâmica no Congresso, inclusive na eleição na Câmara. Uma oportunidade para uma eventual agenda reformista de Lula.
NÃO É A SUPOSTA DIREITA OU O CENTRÃO QUE SÃO MELHORES, MAS A ESQUERDA DO ATRASO QUE GOVERNA O BRASIL QUE É CAQUÉTICA, TEIMOSA E SURDA, OU ANALFABETA, por Herculano Domício
Desde domingo à noite, quando saíram os resultados finais do segundo turno, já li, até esta manhã, 28 artigos, de gente bem conhecida na mídia nacional, em cujos títulos de reportagens, noticiário e principalmente em artigos opininativos, cujos títulos estão textualmente de que a esquerda, ou o PT, ou Lula, ou o governo precisam “ouvir”, “escutar” ou “observar” e “mudar” em função dos resultados das urnas se quiser continuar a ter chances em 2026. E apenas seis, em relação ao Bolsonaro, especificamente, mas por ser doido, infiel e desleal como demonstrou bem nestas eleições e a começar por Gaspar.
Nem um e nem outro se mexeram. Acham que o tempo se encarregará de mudar estas necessidades reveladas nas urnas. A insistência da mídia nacional, é porque ela possui uma tendência majoritária à esquerda nas redações. É uma torcida íntima, digamos assim, vinda da formação acadêmica. Então a direita xucra de Bolsonaro também precisa mudar, pois os tempos são outros. Mas, para os articulistas da mídia e os que precisam apurar informações com isenção, quanto mais à direita – classificada na totalidade criminosamente de extrema direita – se enterrar, vai, ao memo tempo, facilitar a vida da errática esquerda, que dessa forma não precisará mudar como deveria para continuar viva. É assim que pensa Lula, Gleisi, Janja, Dirceu, Amorim…
E como se viu até hoje pela manhã, nada mudou em ambos os campos ideológicos ou pragmáticos que buscam continuar no poder ou reconquistá-lo. E nós continuaremos a pagar a pesada conta da corrupção, do atraso e da teimosia que não nos deixa chegar sequer nos anos 20 do século 21. Pior, tudo isso feito com as nossas escolhas livres e democráticas. Os nossos representantes são lixos depois de eleitos. Descartam-nos tão rápido quanto o sufrágio eletrônico. E na maioria dos casos, antes mesmo da posse. E não nos representam mais.
a esquerda voltou apenas para livrar a cara deles dos processos e prisões…JBS, Lula, Dirceu, Cabral e cia. já estão todos se livrando das milionárias multas e sanções a eles atribuídas…não estão nem aí para 2026…outra questão é se vingar de quem os acusou (Moro, Dalagnol etc..) e ainda vão chegar lá, principalmente com o STF tomado por gente do mesmo caráter…
Bolsonaro já sabe que é passado…já sabe onde errou, já sabe dos devaneios que teve e tbm sabe que não volta mais…uma pq está inelegível, outra que perdeu a força e a eleição de agora mostrou isso…sabe tbm que terá novos e bons “sucessores” da direita como Zema, Tarcísio…contrário do Lula que não tem substituto…por isso a esquerda está pior no cenário político…enquanto isso, a bandidagem toma conta do país com violência, controle de territórios e, pior, colocando muitos dos seus dentro da política pra se tornar cada vez mais forte…pobre brasil…pobre brasileiro de bem…
Impressionante. E nós pagando esta cara conta.
BRASIL É UM TÉDIO DESESPERADOR, por Vinícius Torres Freire, no jornal Folha de S. Paulo
Quando se assunta com gente do governo o que seria o plano de contenção de gastos Haddad-Tebet, o que mais se ouve é desconversa, desconhecimento ou desprezo. Quando vazam medidas “em estudo”, parte do governo sabota as ideias, até em público.
Deve ser por isso que Fernando Haddad procura despistar todo o mundo a respeito do que seria seu plano, como o fez nesta terça (29): não haveria data para divulgar o pacote ou tamanho dele. Talvez seja melhor não contar nada, discutir o assunto só com o presidente da República e, assim, evitar sabotagens nas internas. Afinal, governo e PT brigam em público até por picuinhas municipais.
O dólar foi a R$ 5,76. A moeda americana subira mais um degrau alto da escada de problema antes mesmo de Haddad dar a tal entrevista do “nada definido”. Não houve rolo maior no mundo; nem nos países pares mais afetados se deu atenção ao rolinho cambial. De manhã, porta-vozes pouco relevantes de “o mercado” diziam que a perspectiva do “pacote” Haddad-Tebet acalmava a praça. No final da tarde, o dólar saltara por causa do “fiscal”. Tudo chute.
De mais certo é que, com a dívida pública malparada, qualquer coisinha provoca baixa ainda maior do real, moeda que mais se desvalorizou, de longe, desde abril, entre as três dúzias mais relevantes do mundo. Estocamos pressão inflacionária.
Com sorte, o preço do petróleo se comporta; choveu, o que pode aliviar a inflação de comida e eletricidade. Notem, no entanto, a submediocridade dessa conversa nacional. O Brasil é um tédio desesperador, desculpem o oximoro.
Mais uma revolução tecnológica passa pela nossa janela (IA). Os carros chineses balançam a indústria do mundo rico ocidental e também por aqui, no Extremo Ocidente (ou Ocidente Médio?). Os Estados Unidos tomam medidas novas na guerra geoeconômica (como explorar mais lítio ou barrar mais intercâmbios financeiros e tecnológicos com a China). Todo o mundo faz política industrial, a gente faz favor setorial. Etc.
Plano ambiental e tecnológico, degradação amazônica, o crime organizado tomando o Estado, tiroteio nas ruas, reforma do SUS, nada disso se torna drama nacional consequente, afora em momentos breves de pico do noticiário.
Nem mesmo uma eleição nacional resulta em discussão melhor. Lula 3 adia o pacote fiscal para pensar também em como ganhar a eleição de 2026? Ganhar a eleição de presidente, digo, pois a do resto, governadores inclusive, vai para o vinagre tinto do direitão que toma conta do país.
Vai se fechando cada vez mais o círculo de ferro da feudalização da política: barões do Congresso mandam dinheiro para os feudos, elegem mais prefeitos, que ajudam a eleger mais deputados, já com orçamentos gordos a facilitar a reeleição e favorecidos pela direitização geral do povo e pela esquerda desmiolada. O Orçamento vira pó.
O que quer o direitão vitorioso, afora o óbvio? Não sai uma ideia dali —até Michel Temer tinha programa. Os direitões não se articulam com setor social mais prestante e pensante ou com grupos de tecnocratas ou estudiosos nem para fingir que se ocupam de dar rumo a essa nossa mixórdia. No máximo, os que se ocupam da política-politiqueira tratam de “bastidores”, fofocas e ninharias sobre o que vai fazer um desses tipos do direitão para levar mais poder e dinheiro.
A VEZ DE DIRCEU NO FESTIM DA IMPUNIDADE, editorial do jornal O Estado de S. Paulo
Os “editores de um país inteiro”, como disse o ministro Dias Toffoli a propósito do Supremo Tribunal Federal (STF), não descansam em seu propósito de reescrever a história do Brasil. Na segunda-feira, o ministro Gilmar Mendes anulou todas as condenações do veteraníssimo petista José Dirceu no âmbito da Operação Lava Jato. Segundo ele, os efeitos da decisão que considerou o então juiz Sérgio Moro suspeito em processos que envolvem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se estendem a Dirceu.
Dirceu, talvez a face mais notória da era de corrupção lulopetista que começou no mensalão e terminou no petrolão, estrelou os dois escândalos. No mensalão, pegou 10 anos de prisão; no petrolão, foi condenado a 23 anos de prisão, em condenações confirmadas por duas instâncias, que reconheceram as robustas provas documentais dos crimes. Tudo isso foi desconsiderado pela canetada revisionista de Gilmar Mendes.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) se manifestou contra o pedido de extensão das decisões que beneficiaram o presidente Lula: “Decerto que não se repete decisão para casos que não sejam iguais. Quando os pedidos são diferentes, não cabe repetir ou estender a decisão anterior”, diz o parecer da PGR. “As partes e os fundamentos fáticos são visivelmente distintos quando se contrasta a petição que deu origem ao Habeas Corpus n. 164.493 (que beneficiou Lula) com o pedido de extensão em exame”. Para usar a linguagem popular, cada caso é um caso. Como enfatizou a PGR, o próprio STF já decidira sobre a impossibilidade de extensão de benefício em habeas corpus distintos.
Mas nada disso importa. Os ministros responsáveis por casos relativos à Lava Jato firmaram a tese, baseada em provas obtidas por meios ilegais, de que tudo o que diz respeito à Operação, inclusive as evidências materiais dos crimes, está irremediavelmente contaminado. Nas palavras superlativas de Toffoli, tudo não passou de “uma armação fruto de um projeto de poder”, “o verdadeiro ovo da serpente dos ataques à democracia e às instituições”.
Esse “tudo” não é pouca coisa. As confissões, delações e provas, os ativos bilionários recuperados em contas no exterior, as investigações conduzidas por promotores estrangeiros sem qualquer relação com a política nacional, todas as evidências reconhecidas em todas as instâncias judiciais do maior esquema de corrupção de quem se notícia no Brasil, tudo isso não seria mais que um delírio coletivo vivido pela população brasileira, orquestrado por Moro e a força-tarefa da Lava Jato.
O STF, que por anos validou a Operação, agora se empenha em fazer terra arrasada de seus resultados. Uma a uma são anuladas provas de acordos de leniência, multas e condenações. Até criminosos confessos são inocentados sob o argumento estapafúrdio de que teriam sofrido coação – “tortura psicológica” no “pau de arara do século 21″, segundo Toffoli. Quando o ministro André Mendonça, colega de Toffoli e Mendes, perguntou a 12 empresas com acordos de leniência se tinham sido vítimas de coação, nenhuma bancou a tese. Para piorar, as consequências desse suposto constrangimento ilegal são seletivas: os ônus dos acordos de leniência são sustados, mas os bônus – entre eles o de não sofrer persecução penal – são mantidos. A tese do “conluio” contra “guerreiros do povo brasileiro” como Dirceu e seus amigos empreiteiros é tão abstrata que atinge até processos que nada têm a ver com 13.ª Vara Federal de Curitiba, como os acordos de leniência firmados entre a J&F e o Ministério Público Federal.
Não se corrige um erro como outro. A pretexto de reparar os excessos punitivistas da Lava Jato, a orgia garantista do STF está promovendo a impunidade e desmoralizando a Corte. O silêncio de meses do colegiado sobre essas decisões monocráticas só agrava a situação.
Certa vez, num dos muitos convescotes promovidos por lobistas mundo afora, uma mulher perguntou a Gilmar Mendes se “o crime no Brasil compensa”. Visivelmente constrangido, o ministro respondeu: “Não sei”. A resposta que está sendo exarada pela Corte agora é bem mais assertiva.
O QUE É VENCER AS ELEIÇÕES, por Hélio Schwartsman, no jornal Folha de S. Paulo
Para lideranças político-partidárias como Lula, Jair Bolsonaro e Gilberto Kassab, o que significa vencer as eleições municipais? Basta empilhar corridas em que teve êxito ou é necessário emplacar candidatos que de fato as representem?
Eu diria que as duas coisas importam, apresentam diferentes graus de dificuldade e atendem a objetivos diversos.
Pelo critério do acúmulo de vitórias, o PSD de Kassab é o campeão. O partido fez 891 prefeituras. O PL de Bolsonaro ficou com 517 (5º lugar), e o PT, 252 (9º lugar).
Não dá para brigar com os números, mas tampouco dá para deixar de reparar que as lideranças jogaram jogos diferentes. Kassab não tem pretensões ideológicas. Atraiu para sua sigla, via transferências, tantos prefeitos quantos pôde. Fez uma razia sobre os despojos do PSDB.
Em novembro de 2023, o PSD contava com 968 prefeituras, como mostrou reportagem do Poder360. Ou seja, o partido “venceu” mesmo tendo perdido prefeituras em relação ao que tinha antes do pleito.
Isso serve aos objetivos de Kassab. Partidos que vão bem em municipais tendem a ir bem no pleito para a Câmara federal dois anos depois. E ir bem na Câmara significa ter acesso a mais verbas dos fundos partidário e eleitoral e a mais poder, num contexto em que o Legislativo abocanha nacos maiores do Orçamento.
Lula e Bolsonaro se preocuparam menos com a Câmara e mais com a próxima disputa presidencial. Tentaram vencer em praças simbolicamente relevantes e com candidatos ideologicamente próximos. Não se saíram bem nessa tarefa. Lula ainda teve a prudência de sumir das campanhas para não se envolver tão diretamente nas derrotas. Já Bolsonaro atravessou várias ruas para escorregar na proverbial casca de banana do outro lado.
Em Curitiba, ele abandonou o candidato que se sagraria vitorioso no segundo turno para abraçar a perdedora. Em Goiânia, brigou com um governador aliado (Ronaldo Caiado) apenas para assistir in loco à derrota de seu pupilo. Em São Paulo, suas hesitações mostraram impotência (brochabilidade, em bom bolsonarês) diante do fenômeno Pablo Marçal
Os bolsonaristas de Gaspar deviam ler e vestir a sandália da humildade. O tempo deles, passou. E pela arrogância, radicalismo e deslealdade. Paulo Norberto Koerich se elegeu sendo esnobado e humilhado por Jair Messias Bolsonaro, PL. Porque se dependesse dele, estaria em maus lençóis.
UNIDOS NO INFORTÚNIO, por Dora Kramer, no jornal Folha de S. Paulo
Eleição municipal atípica, a que termina agora dá um sinal claro para a próxima, daqui a dois anos, coisa que normalmente não ocorria: duas das mais relevantes lideranças políticas no plano nacional não obtiveram vitórias significativas. Ou, por outra, tiveram derrotas eloquentes.
Isso não antecipa necessariamente o cenário de 2026, mas evidencia que o presidente Luiz Inácio da Silva (PT) e o antecessor Jair Bolsonaro (PL) não comandam o espetáculo da política na dimensão em que ambos acreditaram ou talvez ainda acreditem.
No cômputo geral dos resultados nas capitais, a aparência foi de prevalência de Bolsonaro, cujo partido elegeu quatro prefeitos contra apenas um do PT de Lula. No detalhe, porém, vê-se que ambos perderam, e muito em função de erros de cálculo sustentados em excesso de confiança nos respectivos tacos.
Lula já tivera uma ideia ruim quando impôs Dilma Rousseff em 2010 apostando numa volta fácil em 2014. Agora teve três más ideias: chamar a polarização à cena, confiar na transferência de votos e considerar a aliança com Marta Suplicy receita de sucesso.
O presidente gabaritou no equívoco: o eleitorado preferiu julgar gestões e Guilherme Boulos (PSOL) manteve o patamar de votos de 2020, quando não tinha dinheiro nem presidente na retaguarda. Além disso, houve o retraimento de Marta, que por impossibilidade de falar mal de Ricardo Nunes (MDB), de quem foi secretária de Relações Internacionais, não foi a debates de vices e recusou-se a dar entrevistas.
Bolsonaro perdeu para o próprio ego ao se confrontar com governadores e parlamentares de seu campo, comprovando-se mais uma vez desleal. Nesse quesito, também perdeu para Lula, que soube detectar o cheiro de queimado a tempo de se distanciar de embates com partidos aliados em Brasília.
O presidente levou em conta o dia de amanhã, mas seu antecessor preferiu combater ao sol e à chuva sem cacife robusto o suficiente para ganhar. Contratou desafetos na forma de potenciais adversários futuros.
Juntos no estrelato em 2022, Lula e Bolsonaro terminam 2024 unidos no infortúnio.
Se isto acontece, às escâncaras em tribunais superiores, onde quase todas as decisões são colegiadas, imagina-se o que acontece nas comarcas, onde há pressão política e principalmente interesses econômicos poderosos dos donos de cidades, com acesso facilitado a gabinetes de juízes, mesmo que por intermédio de advogados, que no trabalho profissional, vendem -e cobram – esse relacionamento e acesso privilegiado. E nesses grotões, não há mecanismos e instituições de controles ou denúncias.
É GRAVE A SUSPEITA SOBRE VENDA DE SENTENÇAS NO TJ-MS, editorial do jornal O Estado de S. Paulo
A fotografia divulgada pela Polícia Federal impressiona: maços volumosos de notas de R$ 50, R$ 100, R$ 200 e US$ 100 se distribuem sobre uma mesa de vidro, perfazendo cerca de R$ 3 milhões apreendidos na última quinta-feira (24).
Impressiona ainda mais que o dinheiro estivesse na residência de Júlio Cardoso, desembargador aposentado do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul e um dos alvos da Operação Ultima Ratio, deflagrada pela PF.
O órgão suspeita que exista um esquema de venda de decisões no TJ-MS. Além de Cardoso, participariam pelo menos outros cinco desembargadores, todos da ativa: Vladimir Abreu da Silva, Marcos José de Brito Rodrigues, Sideni Soncini Pimentel, Alexandre Aguiar Bastos e Sérgio Fernandes Martins, presidente do tribunal.
Eles foram afastados de seus cargos por 180 dias, não podem frequentar as dependências da corte, estão proibidos de se comunicar entre si e devem usar tornozeleira eletrônica.
Convém lembrar que todas são medidas cautelares, tomadas no curso do processo; não implicam culpa de quem quer seja, mas demonstram que, para os investigadores, há elementos suficientes para justificar a adoção de providências dessa natureza.
Por meio da quebra do sigilo de comunicações, por exemplo, a PF entendeu que os desembargadores agora afastados promoviam as negociações ilícitas com a intermediação de seus próprios filhos —na maioria, advogados que utilizariam seus escritórios para burlar a fiscalização.
Não seria a primeira vez que isso acontece. Basta lembrar que, por fatos muito semelhantes, o TJ da Bahia está há cerca de cinco anos sob a lupa do Superior Tribunal de Justiça (STJ), do Conselho Nacional de Justiça e da PF.
A peculiaridade do caso sul-mato-grossense é a suspeita ainda mais grave de que a corrupção tenha subido os degraus até o STJ —razão pela qual se determinou a transferência do inquérito para o Supremo Tribunal Federal.
O ministro Luís Roberto Barroso, presidente da corte, afirmou que, se forem confirmadas as hipóteses da PF, não haverá tolerância ou condescendência.
É o mínimo, mas não basta. O Judiciário, de olho na própria legitimidade, deveria ser o primeiro a propor mudanças institucionais capazes de inibir o comportamento ilegal de seus membros.
Um bom começo seria tornar mais rigorosa a lei disciplinar que, hoje, estabelece como pena máxima para magistrados a aposentadoria compulsória com manutenção dos proventos. Trata-se de condescendência vergonhosa.
O retrato da atual administração municipal é o letreiro de Gaspar, próximo ao Ginásio João dos Santos, quase por inteiro caído. O coração estava escorado com um pedaço de pau, este quebrou, o coração está todo torto no chão e o letreiro preste a ter o mesmo destino. É um “belo” retrato da cidade.
Uma cidade com o coração partido pelos seus políticos
Huummm. . .emcontrando lapsos!
Adorei a legenda da foto do “emcontro” entre o prefeito e o governador do Estado.
Procurei e “emcontrei”. . .
Bom dia.
E durma com um barulho desses…
Kleber organizando evento pra discutir o combate a CORRUPÇÃO e como otimizar os recursos públicos, deveria dar CADEIA pelo código 171.
Esqueci 👀
O congresso nacional LEGISLA em causa própria 💸💸💸💸💸💸💸💸💸💸
O vice-prefeito Marcelo Brick “ressurgiu” nas redes após o humilhante terceiro lugar dia 06/10, apareceu trabalhando? Claro que não. Apareceu cozinhando, não batatas pois essas já foram assadas dia 06, e sim um entrevero. Pelo visto a fome estava grande.
Essa gente jovem política desafia um escrito de milênios: o sabático
Para quem não sabe o que é sabático, são férias, mas sérias.
A definição de sabático, mesmo não recorrendo ao conhecimento mínimo que deveriam ter, ao Google como eu faço agora por preguiça, ou a Inteligência Artificial que nos dá aula sobre isto, é um termo originário do hebraico, é, em tradução literal, “libertação”. Dessa maneira, o período sabático refere-se a um momento da vida relativo ao descanso, em que a pessoa se distancia do ritmo e das obrigações do cotidiano para viver outras experiências.
Mais profundamente, é se distanciar da mesmice que o levou a derrota – no caso do candidato Marcelo apadrinhado por Kleber numa roleta enferrujada – e se preparar para o novo embate. Mas, não prefere se expor como o mesmo que não reflete, não se renova e aposta na burrice dos eleitores e eleitoras. Vai que um dia… Lembro, Marcelo só venceu uma eleição de todas que participou até aqui. Então avisado está que errou, está errando ou mal acompanhado.
É A VEZ DE MUDANÇAS NA ECONOMIA, por Celso Ming, no jornal O Estado de S. Paulo
Mesmo antes dos resultados do segundo turno das eleições, já se sabe que alguma mudança importante precisa ocorrer na política econômica.
Ainda que disfarçadas de desenvolvimentistas, as velhas propostas populistas do governo do PT já não conseguem alavancar apoio político.
O presidente Lula ainda tenta manter no ar a narrativa de que a perda de apoio político se deve unicamente à comunicação ineficaz por parte de seus ministros e dos políticos petistas e aliados, que não conseguem dar a devida ênfase aos bons resultados da atual política, como o crescimento da atividade econômica e a redução do desemprego.
Mas o problema não é apenas de comunicação, embora ela também possa contribuir. O estrago político produzido pelo rombo fiscal, que se traduz em quebra da confiança e em redução do investimento, já é maior do que o efeito na população produzido pelos pacotes de bondade distribuídos pelo governo.
Os ministros Fernando Haddad, da Fazenda, e Simone Tebet, do Planejamento, vêm avisando de que está em elaboração um conjunto de decisões que, desta vez, não mais tratarão de aumentar a arrecadação, mas cuidarão de cortes decisivos nas despesas orçamentárias. Falta saber se terá proporções relevantes de maneira a equilibrar as contas públicas. Até agora, quaisquer iniciativas nesse sentido foram torpedeadas pelo presidente Lula. Se essas decisões não vierem, aumentará a erosão da confiança, a cotação do dólar saltará, a inflação e os juros irão atrás e a turbulência fará estragos.
A questão de fundo é de mudança de mentalidade. Não se trata apenas de remover de dentro do governo eventuais resquícios da desastrada Nova Matriz Econômica, elaborada pelo então ministro Guido Mantega, e que a presidente Dilma colocou em prática. Há ainda quem pregue redução dos juros na marra e o despejo de despesas públicas supostamente destinadas a puxar pelo crescimento econômico e pela criação de empregos.
E também não se trata de impor uma política temporária de responsabilidade fiscal, como a adotada pelo então ministro Antonio Palocci nos dois primeiros anos do primeiro mandato do presidente Lula. Trata-se de tocar a economia baseada no equilíbrio das contas públicas, sem renúncia a uma sólida política social.
Essa mudança de mentalidade não precisa acontecer em meio a um vazio programático. O Brasil é um dos poucos países do mundo com amplas condições de definirem e colocarem em prática uma estratégia de desenvolvimento baseada na transição energética, que visa à substituição da energia fóssil por energia limpa, capaz de envolver todas as áreas da economia e de resgatar a indústria que continua definhando.
Se um recado importante foi dado agora pelas urnas foi o de que a exploração de antagonismos, do nós contra eles, já não serve nem para garantir apoio político nem para pavimentar uma boa administração econômica.
URNAS TROUXERAM MÁS NOTÍCIAS A LULA E BOLSONARO, editorial do jornal O Globo
Depois da abertura das urnas do segundo turno neste domingo, ficou claro que a eleição municipal trouxe más notícias ao presidente Luiz Inácio da Silva e ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Tanto um quanto outro se revelaram pouco eficazes como padrinhos de candidatos — enquanto partidos de centro e centro-direita conquistaram avanços notáveis, em desafio à polarização ideológica.
O PSD é o partido que comandará o maior número de prefeituras: 887, seguido de MDB (854), PP (747) e União Brasil (584). O PL de Bolsonaro, que planejava fazer das eleições municipais um trampolim para consolidar sua força nacional, ficou em quinto, com 517. E o PT, de Lula, ficou em nono com 252, atrás até do PSDB (274).
MDB e PSD administrarão cinco capitais cada um, entre elas as mais importantes: São Paulo (Ricardo Nunes, MDB, reeleito), Rio de Janeiro (Eduardo Paes, PSD, reeleito no primeiro turno) e Belo Horizonte (Fuad Noman, PSD, reeleito agora). Somando as prefeituras de União (quatro), Podemos (duas), PP (duas), Avante e Republicanos (uma cada), partidos de centro ou centro-direita ganharam em 20 capitais.
A esquerda venceu em duas: Recife (João Campos, PSB, reeleito no primeiro turno) e Fortaleza, onde o PT conquistou sua única capital no segundo turno, por diferença inferior a 11 mil votos (perdeu em Cuiabá, Porto Alegre e Natal). O PL de Bolsonaro, que colhera alguns louros em 6 de outubro, desta vez amargou derrotas em Belo Horizonte e Goiânia e venceu só em Cuiabá e Aracaju, somando quatro capitais. Bolsonaro ainda perdeu em Curitiba, onde apoiou a candidata do PMB.
Na eleição mais importante, em São Paulo, a reeleição de Nunes deve mais ao apoio do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) que ao de Bolsonaro. Com a vitória, Tarcísio se fortalece como pré-candidato na corrida presidencial de 2026. Para Lula, a eleição paulistana trouxe a derrota mais sofrida: Guilherme Boulos (PSOL) perdeu por quase 19 pontos percentuais (59,4% a 40,6%), proporção idêntica à de 2020, quando também foi derrotado por Bruno Covas.
Depois de ser desafiado por Pablo Marçal no primeiro turno, Nunes contou com as obras de sua administração — principalmente na periferia — e com a alta rejeição a Boulos para vencer. O fiasco petista se revelou também em Porto Alegre, onde o atual prefeito, Sebastião Melo (MDB), venceu sem susto a petista Maria do Rosário, apesar do desgaste provocado pelas enchentes no início do ano. Das capitais, Lula venceu apenas em Fortaleza, onde fez uma espécie de gol de honra. Bolsonaro, em Cuiabá e Aracaju. Nenhum dos dois se revelou grande cabo eleitoral.
Estabelecida a nova correlação de forças nas prefeituras, com o avanço de partidos de direita e centro-direita e o enfraquecimento da esquerda, é hora de o Brasil deixar para trás o clima bélico que dominou as campanhas e se unir em torno das agendas prioritárias para o país: a conclusão da reforma tributária, o controle de gastos, o combate ao crime organizado, melhorias na saúde e na educação. Há recados claros saídos das urnas. Um deles, reforçado pelo alto índice de reeleição dos prefeitos, é que, independentemente de posições ideológicas, os cidadãos querem respostas mais concretas a seus problemas cotidianos e menos promessas vazias. O governo federal deveria ouvi-los.
GASPAR: UM CEMITÉRIO EM DESCASO E O CLAMOR POR DIGNIDADE, por Aurélio Marcos de Souza, advogado, ex-procurador geral em Gaspar (2005/08) e graduado em Gestão Pública pela Udesc
Neste domingo, dia 27 de outubro de 2024, véspera do Dia de Finados, estive no cemitério localizado no bairro Santa Terezinha e não pude deixar de observar uma série de problemas que revelam a negligência da administração pública em manter este espaço, que deve ser digno e respeitoso para os visitantes que vêm prestar homenagens a seus entes queridos.
No dia anterior, 26 de outubro, realizei uma limpeza ao redor dos túmulos. Eu mesmo participei desse esforço, eliminando a vegetação do túmulo de Maria Cândida Hoeschl, conhecida como Dona Mimi. No entanto, ainda havia partes do cemitério cobertas de mato. Isso demonstra que, apesar dos esforços, a manutenção não foi suficiente e que a administração falhou em garantir que o local estivesse em condições adequadas para receber as pessoas, especialmente em um período tão significativo.
Hoje, pela manhã, observei a presença de um servidor do Samae, que estava realizando a roçagem do mato. No entanto, ele saiu do local por volta das 10 horas. Ao deixar o cemitério, um popular me abordou, informando que não havia água disponível para a limpeza dos túmulos. Ele mencionou que iria até uma casa vizinha ao cemitério pedir água, o que é um verdadeiro descaso por parte da administração pública. Em um dia como hoje, em que muitos cidadãos se dirigem ao cemitério para prestar suas homenagens, a administração poderia e deveria ter disponibilizado um caminhão-pipa ou caixas d’água, garantindo que todos pudessem realizar a limpeza de maneira adequada e respeitosa.
A falta de água é ainda mais alarmante quando se considera que, neste momento que antecede o Dia de Finados, muitos visitantes desejam honrar a memória de seus entes queridos da melhor forma possível. A administração não apenas falhou em fornecer recursos básicos, mas também desconsiderou as necessidades dos cidadãos que fazem uso deste espaço. Essa situação se agrava com a ausência de banheiros adequados no interior do cemitério, obrigando os visitantes, em sua maioria idosos, a se deslocarem até a casa mortuária para atender suas necessidades fisiológicas. Essa condição é inaceitável e demonstra uma falta de consideração pela dignidade dos que vêm prestar suas homenagens.
A instalação de banheiros químicos, uma prática comum em eventos promovidos pela prefeitura, deveria ser uma solução imediata e pontual, especialmente em períodos em que tantas pessoas se reúnem para recordar seus entes queridos. O Dia de Finados é um momento em que as famílias se reúnem para lembrar aqueles que partiram, e a administração deve assegurar que essas pessoas tenham condições dignas para fazer isso.
É importante ressaltar que a Lei Municipal nº 3613, de 13 de novembro de 2014, que regulamenta a instalação, funcionamento, administração e fiscalização dos cemitérios e crematórios no município de Gaspar, estabelece diretrizes claras para a conservação e manutenção desses espaços. No entanto, a administração não tem cumprido com suas obrigações, refletindo um descaso que é inaceitável para um município que arrecada impostos e taxas dos cidadãos.
Além disso, a administração pública também tem se mostrado irresponsável em outras áreas, como na manutenção das vias públicas. Com a recente eleição, onde seu candidato não foi reeleito, a administração não tomou as medidas necessárias para tapar os buracos e garantir a segurança dos cidadãos nas ruas da cidade. Se não consegue atender aos anseios dos vivos, como pode esperar cuidar de um espaço tão sagrado quanto o cemitério? Essa indiferença e ineficácia nos serviços prestados revelam uma falta de respeito não apenas pelos que partiram, mas também pelos que continuam a viver nesta cidade.
A responsabilidade da administração pública é assegurar que os cemitérios como dos demias lugares públicos sejam espaços respeitosos e bem cuidados, que atendam às necessidades dos visitantes de maneira adequada. A falta de ação em disponibilizar água e banheiros adequados não apenas prejudica a experiência dos visitantes, mas também demonstra um desrespeito pela memória daqueles que se foram. Os cidadãos de Gaspar merecem um atendimento à altura de suas contribuições e a administração deve ser responsabilizada por sua falha em assegurar que todos tenham a dignidade e o respeito necessários neste momento de luto e reflexão.
Portanto, é crucial que a administração de Gaspar reavalie suas prioridades e implemente medidas efetivas para melhorar a infraestrutura do cemitério, incluindo a instalação de banheiros químicos, a disponibilização de água para a limpeza dos túmulos e a manutenção regular dos espaços. O cemitério deve ser um local de paz e respeito, e cabe à administração pública garantir que esse espaço atenda às expectativas e necessidades dos cidadãos, especialmente em datas tão significativas como o Dia de Finados.
Com a mudança de governo prevista para iniciar em 1º de janeiro de 2025, temos a esperança de que a nova administração leve em consideração as necessidades da comunidade e implemente as promessas de campanha que foram feitas, assegurando que todos os cidadãos possam prestar suas homenagens de forma digna e respeitosa. A população espera ansiosamente que as reivindicações por um cemitério bem cuidado e por serviços públicos adequados sejam atendidas, porque é essencial que as lembranças dos que se foram sejam tratadas com a dignidade que merecem.
Como afirmou o filósofo Martin Heidegger: “A morte é um dos nossos mais profundos e mais secretos mistérios”. Que possamos honrar a memória daqueles que partiram, respeitando suas histórias e legados com a dignidade que merecem.