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ABERTAS AS URNAS NO DOMINGO, HAVERÁ MAIS PERDEDORES DO QUE VENCEDORES. NO BRASIL O PT, A ESQUERDA DO ATRASO E LULA. EM SC AS ARMAÇÕES ILIMITADAS DE JORGINHO MELO. EM GASPAR, HAVERÁ APENAS UMA TROCA DE NOME AOS QUE JÁ ESTÃO NO PODER DE PLANTÃO

ATUALIZAÇÃO às 9h46min deste 04 de outubro de 2024, dia de São Francisco de Assis, o exemplo de humildade entre as pessoas, desapego aos bens materiais e respeito aos animais, postei um comentário (na área de comentários deste artigo) específico sobre as pesquisas desta semana na corrida eleitoral de Gaspar.

Este artigo (postado na quinta-feira pela manhã) será curto e genérico. Será de alívio, na verdade. Em Gaspar, segundo as pesquisas que se publicaram e elas não forem desmoralizadas pelas urnas e os votantes, não haverá mudanças. Quem sempre mandou na cidade por mais de 30 anos, trocou de fantasia, e talvez de fantoche – e só dependerá do vencedor provar isto -, para continuar dados as cartas, burlando a legislação e fortalecendo um círculo de poder e riqueza. Aliás, pesquisas eleitorais que usaram como base o senso de 2010, quando já estamos em 2024 e um senso divulgado no ano passado? Hum! E onde apareceu uma classe expressiva de altos salários, quando se sabe que aqui é uma cidade dormitório? Ai, ai, ai.

Quem deveria ir atrás da correção, explicação e punição não foi. Aceitou o prato feito. Então não pode reclamar da possível manipulação do resultado com objetivo de propaganda falsa, como está fazendo.

A curiosidade fica para quem serão os 13 vereadores que formarão a nova Câmara de Gaspar. É neles que estarão o foco de estabilidade e governabilidade de quem vencer. Aos estratégicos, o primeiro ano sempre será de composição. Kleber Edson Wan Dall, MDB, por exemplo, em 2017, arrogantemente com seus “çábios” quis confrontar essa regra e se deu mal. Teve que recuar, ceder e piorar o que já não ia bem. É esperar para ver também como tudo o que está torto se desentortará, e principalmente se esconderá. 

E nesta semana, já começaram os acenos de bandeira branca, recados e tramas de bastidores. Ou seja, Gaspar vai ganhar – dependendo dos encontros – ou perder – devido aos desencontros e vinganças – outra vez.

No plano nacional estará claro um recado de reprovação ao governo da esquerda do atraso, de Luiz Inácio Lula da Silva e do PT, o intervencionista, o que flerta com ditadores, terroristas e sanguinários, o que endivida o que cria, aumenta e facilita a cobrança de impostos, o que estatiza e traz insegurança para investidores locais e internacionais. Se não vier um cavalo de pau na área econômica, o cadafalso de 2026 está pronto e seu mártir caminha para o patíbulo. 

Outro que perdeu o brilho foi Jair Messias Bolsonaro, PL, e o enrosco dele está em São Paulo onde o técnico Tarcísio Gomes de Freitas, Republicanos, por pragmatismo vai ganhando confiança e a liderança desse campo do conservadorismo.

Mas, nada vai se comprar ao que se desenha para Jorginho Melo, PL, em Santa Catarina. Ele ainda não disse a que veio como governador e pode ser enfraquecido para a corrida de 2026. Jorginho foi a alma das armações ilimitadas para este seis de outubro.  Ao contrário de Tarcísio que conquistou “autoridade política” governando, privatizando, enfrentando as guildas estatais, mudando e criando confiança para investimentos, Jorginho abdicou dessa condição e se estabeleceu num coronelismo político, o qual ainda não tinha tido lugar em Santa Catarina, a que é modelo diversificado de desenvolvimento no Brasil. Temos. Cinco grandes portos, todos com acesso comprometidos no presente, ou a curto prazo.

Jorginho – e seus filhos que já moraram em Gaspar, um político parlamentar de longa experiência e é isso o que mais assusta- chegou ao desplante de tomar na última hora – por vingança e medo – o Republicanos e fazer dele um bicho morto para não confrontar os seus erros e armações no PL e por via tortas. Também abafou o Podemos, ao invés de compor torná-lo um aliado do campo conservador. Jorginho mal usou e abusou da franquia PL. As armações de Jorginho fizeram o quase impossível: Bolsonaro se tornar um neutro e um ausente nesta eleições em Santa Catarina, até então, o estado mais bolsonarista. Inacreditável. Muda, Gaspar!

TRAPICHE

Enquanto alguns grupos de negacionistas fazem reuniões e espalham material contra a obrigatoriedade da vacinação de crianças nas escolas do município, incluindo o prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, a Covid 19 matou mais um residente em Gaspar este ano. Isto aconteceu no dia 24 de setembro. Foi um homem de 79 anos e tudo devidamente abafado na imprensa e órgãos oficiais locais. Agora, Gaspar tem 226 mortos por Covid-19.

Esta é a quinta morte este ano em decorrência da Covid-19 em Gaspar. As mortes anteriores a deste setembro, todas mulheres idosas, aconteceram nos dias 23 de agosto, 18 e 22 de junho e nove de março. Para comparar, no ano passado, foram apenas duas mortes devido a Covid-19 e também mulheres: uma no dia nove de janeiro e outra no dia 29 de outubro.

O melhor dessa campanha eleitoral, foi o desespero do prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB. Ele correu atrás do tempo perdido, na arrogância e na errática cara máquina de marketing que o autoengoliu. Nas redes sociais, acuado, o prefeito Kleber depois de ser surpreendido com uma atrasada batida policial no seu entorno, passou a se explicar e culpar uma tal de oposição.

Ora, foi exatamente à falta de oposição que o deixou muito a vontade e agora, segundo as pesquisas que se publicam, pode ser tarde demais para se explicar e sair da rede onde está metido. E ele sabe disso. Seu entorno também. No seu segundo mandato, por exemplo, a maior parte do tempo ele teve onze dos 13 vereadores na Bancada do Amém. Além da proteção dos órgãos de fiscalização e uma imprensa mansa.

O maior perdedor político disso tudo é o prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB. As urnas estão julgado o seu trabalho e escvreverei para tarde sobre isso. Kleber terá que se recriar se quiser continuar na política. O outro perdedor é o poderoso MDB de então e que criou Kleber para ter sobrevida. O ex-presidente do partido, o coordenador de campanhas, o prefeito de fato do primeiro mandato, Carlos Roberto Pereira, um dia vaticinou que queria tornar o MDB de Gaspar um espelho de Blumenau. Lá nem vereadores o partido possui.

A última sessão ordinária da Câmara de Gaspar parecia um velório. Durou 32 minutos. Aprovaram-se nomes de ruas e de um posto de saúde com uma técnica da área e que morreu devido a Covid-19. Mais, uma vez, e foi o único, Ciro André Quintino, MDB, saiu cedo. Francisco Hostins Júnior, PL, repercutiu as suas denúncias feitas na sessão anterior e que tratei no artigo de segunda. O líder do governo, Francisco Solano Anhaia, MDB, quis colar problema no candidato de Hostins. E o mais longevo dos vereadores, em tom de despedida, José Hilário Melato, PP, lembrou a todos que na sessão de terça da semana que vem se saberá quem serão os novos 13 vereadores a partir do ano que vem.

O jovem advogado gasparense e especialista na área do “direito eleitoral”, João Pedro Sansão foi escolhido para ser coordenador regional no Vale do itajaí do Observatório Nacional das Eleições Municipais de 2024. Imediatamente, o PL de Gaspar desqualificou a capacidade dele para esta função, por suposta falta de neutralidade ideológica, como se isto fosse um indicador de fraude.

Perguntar não ofende: por onde andará o braço direito do prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, Jorge Luiz Prucino Pereira, PSDB? Qual a razão dele ficar tão sumido assim em época de acirrada campanha e ele um dos gurus da atual administração? Outro que saiu das rodas foi o ex-secretário de Obras e Serviços Urbanos, ex-secretário de Planejamento Territorial e ex-presidente do Samae, Jean Alexandre dos Santos, ex-MDB, e agora PSD.

É brigar com a inteligência e tratar todos como tolos. Tem candidato que está propondo a guarda armada municipal entre nós. Constitucionalmente, ela é apenas para a proteção patrimonial. E quem a propõe sabe disso muito bem. Duas coisas: qual foi o percentual de crimes contra o patrimônio público que se perpetrou nos últimos oito anos em Gaspar em comparação com outros crimes em que esta guarda armada municipal não pode atuar? Segundo, ao invés de priorizar esta tal guarda armada municipal, por que não fazer o dever de casa e botar para funcionar, minimamente, a sucateada Ditran?

Esse negócio de guarda municipal, logo se transforma em milícia de um partido, de um político no poder de plantão, custa caro e foge daquilo a que está obrigada ou aparada pela Constituição Federal. É só olhar para a armação que começa a se descobrir em Balneário Camboriú, e relatada por Marcelo Lula, no SC em Pauta, em que o esquema do atual prefeito Fabrício de Oliveira, PL, tenta colar no ex-governador, senador e prefeito de lá, Leonel Pavan, PSD e por extensão na sua filha que vai levando a melhor sobre o Fabrício.

A senadora Damares Alves, Republicanos DF, conservadora e evangélica, furou o bloqueio do PL catarinense. Ela gravou um vídeo de apoio a Oberdan Barni, Republicanos, em Gaspar. O maior medo era que Tarcísio Gomes de Freitas, Republicanos, governador de São Paulo fizesse isso. Na eleição de Gaspar, Damares foi a figura de maior expressão do campo conservador nacional a emprestar apoio a um candidato daqui.

Começou antes da hora. Sabe-se que depois de domingo, os serviços públicos, por contingência no ajuste de caixa sofrerão cortes. Mas, desde quarta-feira, já havia queixas no recolhimento do lixo na cidade de Gaspar. Muda, Gaspar!

O caixa de campanha dos candidatos a prefeito de Gaspar sinalizam a razão pela qual estão na dianteira. O limite de gastos é de R$199.234,75. No site oficial da Justiça Eleitoral nesta quinta-feira Paulo Norberto Koerich, PL, tinha arrecadado R$218.511,28, dos quais R$179.311,28 dos nossos impostos via Fundo Eleitoral e partidário. Marcelo de Souza Brick, PP, R$185.600,00, dos quais R$115.000,00 aportados pelo partido. Pedro Celso Zuchi, PT, somava R$130.665,00 em fundos arrecadados, dos quais R$83.525,00 do partido. Ednei de Souza, Novo, R$48.783,15, dos quais R$40.000,00 vieram do Fundo partidário e Oberdan Barni, Republicanos, tinha na sua conta de arrecadação apenas R$30.000,00, todos eles aportados pelo partido. Sintomático.

Gaspar tem 51.156 eleitores aptos a votarem no domingo. Se a histórica abstenção de 20% se repetir, em torno de 41 mil irão as urnas e se as pesquisas que se divulgam estiverem alinhadas com a realidade, o vencedor precisará de 15 mil votos. Um azarão, dez mil votos, contando com uma disputa acirrada entre todos, o que parece não ser este o caso.

Aviso. Os candidatos a partir de sábado não podem mais se manifestar nas redes sociais, sob pena de eleitos, perderem os mandatos.

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13 comentários em “ABERTAS AS URNAS NO DOMINGO, HAVERÁ MAIS PERDEDORES DO QUE VENCEDORES. NO BRASIL O PT, A ESQUERDA DO ATRASO E LULA. EM SC AS ARMAÇÕES ILIMITADAS DE JORGINHO MELO. EM GASPAR, HAVERÁ APENAS UMA TROCA DE NOME AOS QUE JÁ ESTÃO NO PODER DE PLANTÃO”

  1. Pingback: OS VOTANTES DE GASPAR DERROTARAM ESMAGADORA E SILENCIOSAMENTE KLEBER (E A BANCADA DO AMÉM) NAS URNAS. ESTAVA À VISTA DE TODOS NA CIDADE E NOS TEMAS CENTRAIS DOS COMENTÁRIOS DAQUI, POR ANOS AFIO. ERAM ADVERTÊNCIAS À FALTA DE RESULTADOS, AO DISCURSO VA

  2. TESTEMUNHO CONTRA SI PRÓPRIO

    Em São Paulo, neste domingo, reporta a rádio CBN, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, PT, afirmou que quem votou errado para presidente e governadores na eleição passada, tem agora, a chance de consertar [o erro]

    Não é bem assim. Este conserto só será possível em 2026

    Mas, sem dúvida, e Lula sabe bem disso: abertas as urnas haverão recados. E o principal deles é contra o PT, Lula, Janja, Gleci, Haddad, a esquerda do atraso e um governo dele, inchado, cheio de controvérsias, nunca antes tão ganancioso por impostos da classe média que a rotulou como rica, um gastador irresponsável com o presente e o futuro, cheio de encrencas internacionais, um platô de insegurança econômica e jurídica para investidores, empregador de incompetentes, cheios de dúvidas, além da falta de transparência para coisas comezinhas que ele próprio condenou nos adversários.

  3. AEROLULA ENCRENCOU, por Elio Gaspari, nos jornais O Globo e Folha de S. Paulo

    Na terça-feira soube-se que ao decolar da Cidade do México, o Aerolula encrencou e teve que voar em círculos durante quase cinco horas para queimar combustível, antes de voltar ao ponto de partida. Estavam a bordo o presidente, sua mulher, dois ministros e duas senadoras. No dia seguinte, a repórter Naira Trindade revelou o que aconteceu no ar.

    Na subida, o piso do avião trepidou e passageiros que estavam nos assentos dos fundos perceberam que saía fumaça de uma turbina.

    Lula saiu de sua poltrona para ver o que acontecia. Mandou voltar ao aeroporto e soube que seria necessário consumir o combustível, coisa para várias horas. Ao sacar seu telefone, outra surpresa, não havia conexão. Reclamou: “Até no Sucatinha o telefone funcionava.” Diante de uma espera de horas, sem telefone, restava a possibilidade de ver um filme. A TV também não tinha conexão.

    Depois de dar 50 voltas sobre a Cidade do México, o Aerolula pousou e a comitiva embarcou em um avião reserva da Presidência. Não tinha conexão com a internet. Lula aborreceu-se:

    “Qualquer avião mequetrefe fala (ao telefone), não tenho um satélite nessa po**a. A gente não pode passar por isso”.

    Dias depois, ele revelou ter temido que o avião caísse e esperou por um milagre.

    Comprado em 2004, o Airbus europeu está na metade de seu ciclo de vida. Desde os primeiros meses de seu terceiro mandato, Lula quer um novo avião. A ideia seria comprar uma aeronave com mais autonomia, mais espaço e chuveiro. Coisa de R$ 400 milhões.

    Numa trapaça da sorte, dias antes da encrenca com o Aerolula, o presidente e seu vice assinaram um artigo louvando o programa Nova Indústria Brasil:

    “Produzimos aviões, máquinas agrícolas, vacinas e diversos medicamentos. E hoje estamos atuando ativamente para reverter a chamada ‘desindustrialização precoce’, tratada por alguns como um problema crônico e insolúvel da nossa economia.”

    O Brasil produz aviões há décadas, mas em 2004 o Aerolula foi comprado na Europa.

    Deu-se então um episódio que explica o fenômeno solúvel da desindustrialização. Quando o presidente quis comprar um avião com autonomia para voar pelo mundo, a Embraer informou à comissão que tratava do assunto, que a empresa tinha planos para fabricar “uma aeronave para o transporte de autoridades (…) que, com certeza, cumprirá os requisitos ora em consideração pelo Comando da Aeronáutica.”

    Meses depois, em 2004, quando fechou-se a compra do Airbus, a mesma Embraer informou:

    “A Embraer esclarece (…) que não tem planos para dispor de aeronave desta categoria em horizonte inferior a pelo menos cinco anos”.

    Caso raro de empresa que agradava ao palácio, favorecendo a concorrência.

    Em 2004, a participação da indústria de transformação no PIB brasileiro era de 19%. Vinte anos depois, caiu para 11%.

    VOTO ÚTIL

    O voto útil existe, mas é impossível defini-lo. Mesmo assim, um teste permite identificá-lo.

    Seja qual for o candidato que poderá recebê-lo. O voto útil é a melhor opção para todos os eleitores certos de que, na hora de apertar o botão da urna, darão um voto inútil.

    DOULOS, MARÇAL E DORIA

    No debate da TV Globo, Guilherme Boulos e Pablo Marçal acusaram novamente o prefeito Ricardo Nunes de ter ligações com o ex-governador João Doria.

    Tiros n’água. Doria foi um prefeito pedestre de São Paulo, elegeu-se governador e passou bem pelo mandato. Mais que tudo, ele é um exemplo de quem deixa a política e volta para a iniciativa privada sem azucrinar a vida dos outros.

    Sair bem da política é mais difícil do que entrar. O economista Paulo Guedes, por exemplo, entrou mal e saiu bem.

    BOAS NOTÍCIAS

    O Censo da Educação mostrou que o Brasil está prestes a bater a marca dos 10 milhões de jovens nas universidades. Como os dados são de 2023, é possível que isso já tenha acontecido.

    O mesmo Censo revelou que 51% dos alunos que entraram nas universidades graças às cotas, concluíram os cursos. Entre os não cotistas, esse desempenho ficou em 41%.

    Além da simples estatística, há aí uma lição política, indicativa do grau de demofobia incrustado na vida nacional.

    Nos últimos anos do século passado, quando se discutia a lei das cotas, muita gente boa, inclusive professores, era contra a ideia, por motivos supostamente pedagógicos.

    As cotas comprometeriam a qualidade dos currículos, pois os cotistas não seriam capazes de acompanhar as aulas. Além disso, muitos deles acabariam deixando os cursos.

    Era apenas a velha demofobia. Todos os argumentos contra as cotas revelaram-se errados.

    Na segunda metade do século XIX, argumentava-se que os escravizados não estavam preparados para a Lei do Ventre Livre, nem para a alforria dos sexagenários, muito menos para a abolição.

    ISRAEL X IRÃ

    Não custa lembrar que, na hipótese de uma guerra entre o Irã e Israel, Benjamin Netanyahu e os militares que o cercam têm um arsenal de bombas atômicas.

    David Ben-Gurion (1886-1973), o primeiro presidente de Israel, começou a recrutar cientistas em abril de 1948, antes mesmo da criação do Estado judeu.

    AUTORIDADE CLIMÁTICA

    A criação da Autoridade Climática, uma promessa de campanha de Lula, ressuscitada há um mês, subiu no telhado e ficará para 2025.

    Confirma-se um ensinamento de Chagas Freitas. Senhor da política do Rio de Janeiro durante a ditadura e governador do Estado de 1979 a 1983:

    Você pode demolir a Avenida Rio Branco, mas se para isso tiver que extinguir um cargo em comissão, a tarefa será impossível.

    CID MOREIRA

    Foi-se Cid Moreira. Para lembrá-lo, basta reproduzir uma “Apreciação Semanal”, do Serviço Nacional de Informações de outubro de 1975, que tratava da morte do jornalista Vladimir Herzog:

    “1) Noticiários da TV Globo

    A atitude formal assumida pelos apresentadores de televisão, quando da leitura de Notas Oficiais, durante os telejornais, coloca o espectador, não raras vezes, confuso ou pelo menos esvazia o conteúdo e o alcance pretendidos com o esclarecimento oficial.

    Tal fato pôde ser observado no contraste entre a ‘ênfase’ dada pelo apresentador Cid Moreira, da TV Globo (Jornal Nacional), quando da censura à novela ‘Roque Santeiro’ e a ‘formalidade’ da réplica, no dia seguinte, além, naturalmente, das explicações pouco convincentes.

    (…)

    A Nota referente ao ‘affaire’ Herzog, lida no ‘Jornal Nacional’, de 29 de outubro de 1975, por aquele mesmo apresentador, além de merecer restrições quanto à leitura, provocou, nos telespectadores, indagações e dúvidas, pela falta de expressão do intérprete, que não citou o nome do suicida.

    (…)

    Tais atitudes evidenciam a deliberada intenção de ‘esvaziar’ os pronunciamentos oficiais, quer pela falta de expressão dos apresentadores, quer pela inadequada exploração de imagens dos focalizados, durante uma entrevista ou em reportagens.

    (…)

    Assim, admite-se que, a persistir tais atitudes, possivelmente, o grande público seja atingido com ideias e conclusões divorciadas da realidade.”

  4. ELEIÇÕES VÃO REORGANIZAR DIREITA E ESQUERDA, por Bruno Boghossian, no jornal Folha de S. Paulo

    As eleições devem empurrar a direita e a esquerda para um ciclo de reorganização. Mais que um teste de força de líderes nacionais, a disputa marcada pela fratura do bolsonarismo e pelos resultados modestos esperados pelo PT torna inevitável uma revisão de métodos, plataformas e alianças nos dois blocos, ainda que em graus diferentes.

    A esquerda entrou na campanha com uma dose razoável de realismo. Estabeleceu como meta uma recuperação pouco pretensiosa após o mau desempenho em duas eleições municipais e fez concessões importantes a partidos aliados. Isso não evitou dissabores e sinais de resistência em parte do eleitorado.

    A influência duradoura do antipetismo e o distanciamento de eleitores das periferias apareceu em centros urbanos considerados estratégicos. Nenhum dos dois fatores é novidade, mas a falta de remédios foi relatada com alguma preocupação em diversas regiões ao longo da campanha.

    Tentativas de reeditar apelos ao antibolsonarismo também apresentaram efeitos limitados, ao menos no primeiro turno, tanto pela lógica localista como pela mudança de patamar da ameaça representada por um ex-presidente fora do poder e inelegível.

    A reavaliação que estará na mesa da esquerda será trivial perto da ruptura na direita. Seja qual for o placar, a campanha deste ano representa mais um sismo neste campo político depois da desorganização provocada pela ascensão de Jair Bolsonaro.

    A contestação interna à liderança do ex-presidente se deu na esfera local, em cidades como Goiânia e Campo Grande, e principalmente com o pano de fundo das pretensões nacionais de Pablo Marçal. O influenciador não desafiou apenas a escolha eleitoral ou a hesitação de Bolsonaro em São Paulo. Ele transformou essa divisão numa questão existencial para a direita.

    O caminho mais provável é o reagrupamento do grupo sob a esperada bandeira da unidade, com o objetivo de enfrentar a esquerda. Pode ser uma trégua temporária ou uma aliança estratégica. Qualquer cenário deixará o domínio da direita muito mais próximo da agressividade de Marçal e Bolsonaro do que de personagens vendidos como moderados.

  5. PESQUISA ELEITORAL

    Estará em curso entre as 8h e 17h uma nova e ampla pesquisa eleitoral neste domingo em Gaspar. Ela não é exclusiva de nenhum veículo de comunicação, partido ou patrocinadores de políticos. Minutos depois já se saberá os resultados que todos divulgarão. E mesmo assim haverão controvérsias. Dirão que o povo não soube se expressar. Ou na verdade, é quem queria vencer não tinha crédito, estrutura e no fundo, não soube se comunicar e convencer para si a maior parcela dos votantes?

  6. Deus na porta do inferno

    POR QUE COUBE A ALEXANDRE DE MORAES INTIMAR MARÇAL PRETAR DEPOIMENTO? por Carolina Brígido, no portal Uol

    Embora não integre mais o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), coube ao ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), intimar o ex-coach Pablo Marçal a prestar depoimento em 24 horas. O candidato precisará explicar a postagem de um prontuário médico falso dizendo que o concorrente na disputa à prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos, teve um surto psicótico grave decorrente do uso de cocaína.

    O caso foi parar nas mãos de Moraes por conta das investigações sobre o X, que são de relatoria do ministro. Moraes determinou a suspensão do funcionamento da rede social em 30 de agosto porque a plataforma tinha se recusado a retirar do ar perfis que disseminavam discurso de ódio e informações falsas. Também porque o X não tinha apresentado um representante o oficial no Brasil.

    Em setembro, a rede burlou a ordem e funcionou por dois dias. Moraes aplicou multa diária por descumprimento da ordem e determinou à Polícia Federal o monitoramento de “casos extremados de uso do X” que ensejariam a aplicação de novas multa.

    Neste sábado (5), a Polícia Federal encaminhou ao STF petição informando que Marçal usou o X em 2 de outubro para postar conteúdo de campanha. Além disso, neste sábado o perfil teria repostado um vídeo publicado originalmente no Instagram com a notícia falsa sobre Boulos.

    Ou seja: o caso foi parar na mesa de Moraes não pelo suposto crime eleitoral, mas pelo conteúdo falso difundido em uma rede social com atividade suspensa no Brasil. Apesar disso, o ministro apontou indício de abuso do poder econômico e uso indevido dos meios de comunicação, com grave afronta à normalidade do pleito eleitoral.

    Moraes cita que a conduta pode acarretar cassação do registro do candidato. Em tese, esse crime é julgado em uma AIJE (Ação de Investigação Judicial Eleitoral), que correria na Justiça Eleitoral. Procurados pela coluna, ministros do TSE não se pronunciaram sobre a decisão de Moraes, ou sobre a conduta de Marçal.

  7. QUESTÃO DE CONFIANÇA. OU DE DESCONFIANÇA, por Carlos Alberto Sardenberg, no jornal O Globo

    Não é propriamente uma questão de fé. Há muitos números envolvidos neste caso. Mas é, certamente, uma questão de confiança. A seguinte: você acha que o governo executará as regras do arcabouço fiscal e alcançará as metas de equilíbrio das contas públicas? Para complicar, não é um caso de sim ou não. Qualquer resposta vem com uma adversativa, para o sim, e um complemento, para o não.

    O debate esquentou nesta semana quando a agência de classificação de risco Moody’s, uma das três mais importantes, elevou a nota de crédito do Brasil. E surpreendeu a maioria dos economistas brasileiros.

    Nota de crédito mede a capacidade de um país pagar sua dívida pública. Não zerar, é claro, pois nenhum governo consegue fazer isso. Mas é preciso ter capacidade de honrar a dívida regularmente, o que significa pagar em dia as prestações e os juros.

    Vai daí que o principal critério é a relação dívida pública/PIB — ou, mal resumindo, a relação entre os débitos e a produção nacional de bens e serviços (a geração de riqueza). No final de 2023, a dívida pública brasileira equivalia a 73% do PIB, nível elevado para países emergentes. Mas todo mundo acha que essa dívida crescerá nos próximos anos.

    O próprio ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse em entrevista à CBN, também nesta semana, que espera uma acomodação da dívida em 80% do PIB ao fim do governo Lula. Outra agência de classificação de risco, a Fitch, que dá ao Brasil nota pior que a Moody’s, entende que essa dívida crescerá todos os anos até 2028. Então, como a Moody’s pode ter elevado a nota brasileira?

    Dois motivos principais, segundo a explicação da própria agência. Primeiro, o Brasil cresce mais do que se esperava. E, se o PIB é maior, isso reduz a relação dívida/PIB. Segundo, um certo voto de confiança para a equipe econômica, no sentido de que ela será capaz de levar todo o governo a cumprir as regras do arcabouço. O próprio Haddad, ao comemorar a nota melhor, disse algo mais ou menos assim, com licença poética: estão vendo como é importante o equilíbrio entre receitas e despesas?

    Estava falando para a ala política do governo —incluindo Lula — que considera o gasto público base de toda a prosperidade. Portanto, tanto a Moody’s quanto Haddad respondem “sim” à nossa pergunta inicial, mas com uma ressalva: desde que o governo cumpra as metas prometidas.

    Os que respondem “não” complementam: é muito difícil, se não impossível, que as metas sejam cumpridas. Uma dessas metas diz que a despesa de um ano só pode crescer 2,5%, reais, em relação ao período anterior. Ocorre que as despesas obrigatórias (aposentadorias, salários, programas sociais, piso de educação e saúde) crescem mais que esses 2,5% — e representam 90% do total. Assim, a despesa obrigatória consumirá cada vez mais o Orçamento, sobrando menos para investimentos e custeio. Inviabiliza o governo.

    Outra meta se refere ao déficit público deste ano. A previsão inicial era zero. Agora mudou para 0,25% do PIB, ou cerca de R$ 28 bilhões. E, além disso, várias despesas não entram na contabilidade para fins de avaliação da meta. As regras admitem essa flexibilidade.

    Ok, mas no final a despesa cresce mais que as receitas. E como o governo cobre a diferença? Tomando dinheiro emprestado, o que eleva a dívida. E, em tese, piora o risco fiscal — torna mais cara a rolagem da dívida. E tem mais. A turma do “não” considera muito difícil que o governo obtenha as receitas que prevê. Como é mais difícil ainda o corte efetivo de despesas num governo que se apoia no aumento de gastos, resulta que as metas não serão cumpridas.

    Ainda nesta semana, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, considerou exagerada a desconfiança do mercado em relação às contas públicas. Mas acrescentou que o governo poderia recuperar confiança se aplicasse um choque fiscal. Não explicou de que se tratava, mas está na cara: um bom e crível programa de corte de gastos.

  8. TAXAÇÃO DAS MULTINACIONAIS INSPIRA CUIDADOS, editorial do jornal O Globo

    O governo federal acaba de impor a tributação mínima de 15% sobre o lucro de multinacionais que operam no Brasil, cumprindo acordo negociado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e assinado por 140 países. Trata-se de um passo na direção de um ordenamento tributário comum para evitar distorções na taxação dessas empresas, obrigando-as a recolher impostos nos países onde geram empregos e produzem, e não apenas onde mantêm suas sedes. A medida tem o mérito de adequar o Brasil a normas internacionais, mas também embute riscos. O principal é o governo tentar aproveitar para elevar a carga tributária sobre empresas globais, com o objetivo de financiar o aumento de despesas que ameaça o equilíbrio fiscal.

    Prevista para entrar em vigor no ano que vem, a taxação, instituída por Medida Provisória (MP), valerá para empresas com faturamento anual superior a € 750 milhões. O imposto para corporações no Brasil é de 34% do lucro, mas a alíquota efetiva pode ficar abaixo de 15%, a depender de incentivos fiscais e do planejamento tributário de cada contribuinte. A Receita informou que, em 2022, 957 das 8.704 empresas que estariam no escopo da MP pagaram menos de 15%. Estas teriam de pagar a diferença, de modo que a alíquota ficasse exatamente em 15%.

    No afã de cumprir as metas fiscais e sem apetite para cortar gastos, o governo enxergou na nova taxa mais uma oportunidade para aumentar a arrecadação. Caso a regra tributária estivesse em vigor em 2021, quando foi aprovada por ministros da Economia dos países do G7, o Fisco teria arrecadado cerca de € 900 milhões, equivalentes a R$ 5,7 bilhões ao câmbio da época, segundo o Observatório de Tributação da União Europeia (UE). Agora, a expectativa da Receita é arrecadar entre R$ 8 bilhões e R$ 10 bilhões por ano. Seria bom que essas receitas não servissem de pretexto para criar novas despesas. A credibilidade do novo arcabouço fiscal exige do governo um programa consistente de controle de gastos, e não a criação de novos impostos.

    Outra dificuldade com que o governo terá de lidar é a degradação de expectativas. Com impostos mais altos, o país poderá afugentar investimentos estrangeiros. De acordo com a OCDE, no ano passado os investimentos diretos no Brasil somaram US$ 64 bilhões, superados apenas pelos US$ 341 bilhões nos Estados Unidos. Junto aos superávits comerciais sustentados por exportações do agronegócio e de matérias-primas minerais, tais investimentos têm contribuído para o país manter o colchão de US$ 300 bilhões em reservas internacionais, retaguarda que impede grandes oscilações cambiais em momentos de crise, equilibrando as pressões inflacionárias.

    Se houver queda no total investido por empresas estrangeiras do Brasil, isso aumentaria a carga de responsabilidade dos exportadores para manter esse colchão. E num momento em que produtores brasileiros já enfrentam dificuldades em seus dois maiores mercados — a China, que atravessa uma fase de ajuste com crescimento menor, e a União Europeia, onde se aguçam as pressões protecionistas, sobretudo no setor agrícola. Qualquer mudança nas expectativas afetará o cenário externo para o Brasil. Os números auspiciosos da arrecadação não devem levar ao açodamento. A taxação das multinacionais é um passo correto, mas inspira cuidados para ter sucesso.

  9. FALTAM DOIS DIAS PARA AS ELEIÇÕES EM GASPAR. QUE VENHAM LOGO OS RESULTADOS. DUAS PESQUISAS, POR DOIS INSTITUTOS DIFERENTES, PUBLICADAS COM DOIS DIAS DE DIFERENÇA, MOSTRAM DOIS DISCURSOS MANJADOS

    Na quarta-feira, o jornal Metas publicou uma pesquisa em que dava como favas contadas a vitória do delegado Paulo Norberto Koerich, PL. Ele tinha 41,99% dos votos na estimulada contra 23,44% de Pedro Celso Zuchi, PT, ex-prefeito por três mandatos e 18,89% de Marcelo de Souza Brick, PP, atual vice prefeito e continuidade do legado do atual prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB. Oberdan Barni, Republicanos, e Ednei de Souza, do Novo, eram candidatos figurativos na pesquisa.

    O que mais chamou a atenção – e circulou com frequência nos aplicativos de mensagens – foi a estampa dos patrocinadores do jornal abaixo da pesquisa.

    Nesta sexta-feira, já ajustado ao que publicou com mesmo instituto três semanas atrás e a que publicou antes mesmo da corrida eleitoral por outro instituto, o jornal Cruzeiro do Vale, confirmou que o delegado Paulo está na frente com 36,2%, mas seguido por Marcelo com 29,7%, e Zuchi na terceira posição com 19,1%. Nesta pesquisa, Oberdan e Ednei continuam como figurantes do pleito gasparense.

    Qual o primeiro discurso manjado? O de colocar um bem na frente para o voto útil e o PT em segundo, para consolidar este voto útil alimentando o medo entre os conservadores de quem está na cola do primeiro. Em Blumenau, por exemplo, a luta do delegado Egídio Maciel Ferrari, PL, é o de vencer no primeiro turno. E se não ganhar como pretende, ter como adversário preferencial no segundo turno, o PT de Ana Paula Lima para o mamão com açúcar. Se vier o promotor Odair Tramontin, Novo, Egídio sabe que terá trabalho, pois lidará com algo que lhe assemelha.

    Qual o segundo discurso manjado, e este mais inteligente, o que lava as mãos e arruma desculpas para todos os gostos quando abertas as urnas no domingo? O do empate técnico. Todas as duas pesquisas dão como margem de erro 4%. Na do Metas, a eleição de Paulo Norberto Koerich, esta margem de erro e com 95% de acerto, dá a eleição dele como favas contadas. É quase impossível se ter uma reversão em tão curto espaço de tempo, ainda mais, se todas as pesquisas publicadas até agora dão esta tendência. Por esta pesquisa, se Paulo não for eleito, estaria estabelecido um erro coletivo de coleta, de metodologia e de processamento. Inexplicável.

    O empate técnico está expresso na pesquisa do jornal Cruzeiro do Vale e há dois dias das eleições e dois dias depois da publicação da pesquisa do jornal Metas. Ora, se Paulo tem 36,2%, pela margem de erro ele pode ter apenas 32,2% também (ou 40,2%). E Marcelo pela mesma margem de erro do instituto, pode estar – ou chegar – a 33,7% (ou 25,7%).

    Estas dúvidas alimentarão os discursos, debates, artimanhas, manipulação e inclusive, a ignorância, até às 17h de domingo, quando encerrarão as votações. Minutos depois, os números da pesquisa real. Então, até lá. Muda, Gaspar!

  10. 2026 SERÁ DIFERENTE, por Willian Waack, no jornal O Estado de S. Paulo

    O primeiro turno da eleição municipal paulistana traz um problema para Lula e Bolsonaro, os donos das duas grandes bolhas. Eles parecem menos influentes do que se supunha.

    O cenário mais provável de um segundo turno continua sendo o da polarização “normal” da política brasileira (é considerada pequena a probabilidade de que o candidato da esquerda não chegue lá). Ainda assim, permanecerá a sensação de desgaste das duas figuras.

    O de Lula é mais evidente até mesmo na sua disposição física de encarar campanhas domésticas, diante de um mundo lá fora a ser salvo por ele. A questão central para o petista, porém, é o notável enfado que causam suas ideias antigas e seu apego a um passado que existiu sobretudo na sua própria cabeça.

    O desgaste de Bolsonaro é produzido não só pela perspectiva de longas batalhas jurídicas morro acima sem chances de se tornar elegível (talvez escape da cadeia). Ele deixou de ser “novidade” na vitrine das surpresas políticas e sua notória dificuldade de se concentrar em eixos claros de atuação política diminuiu consideravelmente sua capacidade de ungir candidatos.

    É bastante óbvio que políticos disputando eleições têm de se referir de uma forma ou outra aos donos das grandes bolhas. Mas é muito mais pelo “constrangimento” que tanto Lula quanto Bolsonaro ainda têm capacidade de criar.

    Reza a doutrina que “toda política é local”, o que parece ter menos validade quando é imenso o número de eleitores e são muito complexos os fatores econômicos e sociais, que refletem e influenciam condições “nacionais”. Nesse sentido, a eleição municipal paulistana é preocupante para Lula e Bolsonaro.

    Ela sugere algum grau de dissolução da calcificação das bolhas descritas por analistas e acadêmicos, e calçadas em convincente material empírico. O mais explícito foi o racha na bolha da “direita”, onde ficou claro que Bolsonaro não foi capaz de consagrar um sucessor inconteste. Mas também na esquerda, com o candidato em São Paulo se esforçando para atingir um eleitorado além do tradicional reduto petista, no que Lula tem se mostrado incapaz.

    Há padrões “novos” incorporados na luta política que nem Lula ou Bolsonaro estão sendo capazes de “conduzir”. Em parte são valores como empreendedorismo ou religião que as estratégias de esquerda têm dificuldades de entender e atingir.

    Em parte são uma busca por direção, no campo de centro-direita, que não se enxerga no bolsonarismo. É difícil prever como esses padrões impactarão as eleições de 2026, mas o que acontece em São Paulo indica que serão diferentes do que se pensava ainda no ano passado.

  11. PROCURANDO LULA, por Malu Gaspar, no jornal O Globo

    Nesta reta final das eleições municipais, com disputas indefinidas e emboladas em capitais cruciais como São Paulo, Belo Horizonte e Fortaleza, não foram poucos os candidatos de partidos de esquerda que batalharam por um vídeo, fala de apoio ou pela presença de Lula num evento de campanha. O presidente da República, porém, frustrou quase todo mundo.

    Nas últimas duas semanas, emendou uma viagem internacional atrás da outra e passou mais tempo entre Estados Unidos e México do que no Brasil. Também não deu nenhuma declaração sobre as eleições e foi obrigado a cancelar a live que faria com Guilherme Boulos (PSOL) na noite de ontem por causa da emergência com o avião que o trazia do México.

    O resultado é que a única participação de Lula neste sprint final da campanha antes do primeiro turno será um ato com Boulos na Avenida Paulista, no sábado.

    Enquanto isso, Jair Bolsonaro tem viajado pelo país num roteiro frenético que chega a contemplar três cidades num único dia, subindo em palanques, gravando vídeos e fazendo lives. Claro que a rotina de Lula tem muito menos espaço que a do antecessor para esse tipo de evento, uma vez que o primeiro tem de governar e o outro não tem outra missão no momento além de pedir voto.

    Mas foi o próprio presidente da República quem alimentou a expectativa de que essa fosse uma eleição plebiscitária, ao colocá-la sob a perspectiva de uma batalha ideológica entre os “negacionistas” e o campo democrático comprometido com “melhorar a vida do povo”.

    Em nome desse objetivo, Lula forçou o PT a abrir mão de sua conhecida predileção por candidaturas próprias em locais onde aliados de outros partidos tinham mais chances de ganhar as eleições, como São Paulo, Rio de Janeiro, Recife e Salvador.

    Em junho e julho, atendeu aos pedidos de sua base e visitou oito capitais, além de várias cidades estratégicas, fazendo inaugurações, dando entrevistas a rádios locais e animando atos de governo para os quais convocou os candidatos que apoiava. Em agosto, ainda fez sessões de fotos para santinhos e gravou vídeos de apoio.

    Quando a disputa começou a esquentar, porém, Lula deixou a campanha de lado e se concentrou no governo. Oficialmente, ninguém dirá que foi essa a razão do recuo, mas ele coincidiu com o momento em que a força da direita nas principais capitais foi ficando mais evidente.

    Segundo um levantamento da Folha de S.Paulo, os candidatos de Bolsonaro estão na liderança das pesquisas em 23 das 103 cidades brasileiras com mais de 200 mil eleitores, enquanto os de Lula estão na frente em 16.

    Bolsonaristas estão na frente em capitais que elegeram Lula em 2022, como Porto Alegre, Aracaju, Salvador ou Fortaleza. Em São Paulo, as pesquisas mostram que Boulos só conseguiu até agora atrair metade dos eleitores do presidente, que ganhou naquele mesmo ano na cidade com 53,5% dos votos. E isso mesmo fazendo uma campanha rica, para a qual o PT contribuiu com R$ 30 milhões.

    A esta altura, já está mais ou menos evidente que a direita sairá forte das urnas — e que, apesar das brigas internas e da ameaça representada por Pablo Marçal, o bolsonarismo segue potente. Não se pode dizer o mesmo sobre o lulismo. Isso deveria funcionar como um sinal de alerta para o PT e para o presidente da República.

    A História mostra que os resultados das eleições municipais nem sempre revelam o que acontecerá nas presidenciais dois anos depois. Em 2020, o PT perdeu quase cem prefeituras e não conquistou o comando de nenhuma capital pela primeira vez desde a redemocratização, mas ganhou a Presidência em 2022.

    Ainda assim, é sintomático dos desafios de Lula que seus aliados com mais chance de vencer neste ano não sejam petistas e que muitos sejam mais de centro do que propriamente de esquerda.

    Ainda que aos trancos e barrancos e a reboque da inelegibilidade de Bolsonaro, a direita tem experimentado o surgimento de novas lideranças, como Tarcísio de Freitas (Republicanos), Michelle Bolsonaro (PL) e até Pablo Marçal.

    Em contraste, a esquerda patina, em parte acomodada pela expectativa de uma candidatura de Lula à reeleição em 2026. Num ambiente político tão polarizado como o de hoje, o afastamento do presidente da campanha eleitoral pode fazer a diferença em cidades importantes. E não será suficiente para poupá-lo do ônus de uma eventual derrota da esquerda.

  12. CAMELÔS DO ORÇAMENTO, editorial do jornal O Estado de S. Paulo

    A Polícia Federal (PF) tem se desdobrado em inquéritos que apuram a malversação de recursos públicos por meio de emendas parlamentares obscuras. Soube-se agora que até um agiota estaria associado a um deputado federal, João Maranhãozinho (PL-MA), no comércio, pasme o leitor, de indicações de emendas ao Orçamento da União.

    Em que pese a faina do Supremo Tribunal Federal (STF) para fazer valer a Constituição e acabar com essa indecência, o orçamento secreto, hoje, segue tão vivo como sempre esteve desde que foi engendrado por um punhado de lideranças do Congresso e o então presidente Jair Bolsonaro. E, desde que este jornal revelou esse espantoso esquema, em maio de 2021, sabia-se que a desvirtuação das emendas parlamentares se prestava a três finalidades, basicamente.

    A primeira é o enriquecimento ilícito, puro e simples, de parlamentares, prefeitos e cupinchas Brasil afora por meio da apropriação criminosa de recursos do Orçamento da União que, em tese, deveriam ser destinados aos municípios para financiar políticas públicas aptas a melhorar a vida das populações locais.

    A segunda finalidade é transformar emendas parlamentares em uma espécie de fundo eleitoral paralelo, como forma de manter no poder indivíduos ou grupos políticos abastecidos com mais recursos públicos para obras e ações marqueteiras do que seus adversários diretos. Ou seja, um ataque à democracia representativa.

    Por último, o orçamento secreto tem servido nesses últimos anos para “empoderar” o Congresso, como se diz, em negociações, não necessariamente republicanas, com a Presidência da República – seja quem for o chefe de Estado e de governo. Como verdadeiros achacadores, congressistas indignos do mandato usam sua prerrogativa de emendar o Orçamento da União – a priori, legítima em um regime presidencialista multipartidário como o nosso – para impor seus interesses particulares na formulação da agenda nacional, no melhor cenário, e ocupar cargos da administração federal com propósitos inconfessáveis, no pior. E tudo isso em troca da formação de uma suposta base de apoio ao governo federal no Congresso.

    A novidade, por assim dizer, é o comércio de indicações de emendas. Mas nada mudou na essência. O que tem mudado são os mecanismos técnicos por meio dos quais o Congresso tem mantido o seu poder de determinar o destino de um quinhão cada vez mais robusto do Orçamento da União sem transparência alguma e sem nenhuma coordenação entre políticas públicas federais, estaduais e municipais genuinamente transformadoras.

    Para estarrecimento de praticamente ninguém, como outrora o esquema dos “Anões do Orçamento” fez o Brasil parar, o orçamento secreto permanece como o óleo que mantém as engrenagens do Congresso funcionando, a ponto de haver parlamentares que tratam abertamente o esquema como se fosse um “direito adquirido”. E, agora, do Maranhão vem essa notícia de que a indicação de emendas se tornou objeto de compra e venda.

    O governo federal, por meio da Secretaria de Relações Institucionais, diz desconhecer qualquer ilegalidade na disposição das emendas. Um tom muito diferente do adotado por Lula da Silva durante a campanha eleitoral de 2022, quando o petista prometeu acabar com “a fonte do maior esquema de corrupção da história deste país”.

    No STF, por sua vez, o ministro Flávio Dino, que assumiu a relatoria das ações que tratam do orçamento secreto após a aposentadoria da ministra Rosa Weber, marcou mais uma audiência de “conciliação” entre o governo e o Congresso para o próximo dia 10. Dino está certíssimo quando diz que é “absolutamente incompatível” com a Constituição o fato de a decisão da Corte de 2022, que julgou inconstitucional o orçamento secreto, como era óbvio, ainda não ter sido “adequadamente executada”, vale dizer, no sentido de dar transparência às emendas. Mas o ministro erra ao esperar que um dia assim será enquanto persistir nessa busca por “conciliação”.

    Ora, não há o que conciliar. As emendas devem ser transparentes. E até que a sociedade tenha essa garantia, devem seguir suspensas.

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