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ALGUÉM ACREDITA EM “ESPETACULAR” VIRADA NAS ELEIÇÕES DESTE ANO EM GASPAR? OS QUE ANUNCIAVAM ISTO, FIZERAM POUCO PARA ELA ACONTECER. SE NÃO VIER O ATRASO, ESTÁ SACRAMENTADA CONTINUIDADE DA MEDIOCRIDADE

Você leitor e leitora do blog acredita numa virada espetacular nas eleições deste ano em Gaspar? Eu não!

Por quê? A cidade possui donos. E eles não querem e já fizeram as escolhas deles por nós. Escolhas, não. Criaram até o candidato na marra e os acertos aceitam até quem inicialmente eles rifaram até aqui caminho natural de quatro anos atrás quando escolheram o sucessor de Kleber Edson Wan Dall, MDB, que não pode se reeleger. É o tal dano colateral menor.

Faltou dinheiro oficial para uns e sobrou no oficial e no extraoficial (o que é negado) para outros. Mas, basta olhar no site oficial do Tribunal Superior Eleitoral. Falam em transparência, mas já estão condenando-os, na própria campanha, os que tentam esclarecer as jogadas armadas nos bastidores Mau, sinal. Então, vai piorar.

Por outro lado, é de se admitir que faltaram criatividade, e principalmente, coragem para se criar fatos novos e se estabelecer na credibilidade aos que queriam, aos que estão se apresentando como sendo os protagonistas das supostas mudanças na Gaspar. Afinal, Gaspar possui os mesmos donos dela há quase 30 anos. E isto está claro na falta de estrutura, adesões, marketing, empatia e alianças táticas do que dizem querer mudar este estado de coisas.

Mas, é este quadro, e esta reinvenção que deveria haver, primordialmente. E por quê? Porque é isto que vão encontrar esses supostos arautos da mudança na prefeitura de Gaspar – sucateada – quando e se ganharem. Pelo que fizeram até aqui, vão fazer o menos do mesmo, as vezes com os mesmos e em outros, com quem, sabe-se antecipadamente, não possui este DNA de mudança no modo de ver e gerir em ambientes privados e públicos. Simples assim.

E para arrematar e exemplificar: na história política-eleitoral de Gaspar recente e que se conhece, há apenas um só caso, onde um azarão, desconhecido e sem estrutura venceu os donos da cidade. 

Entretanto, para isso, havia um contraclima nacional e especialmente regional que contaminou e alimentava esta possibilidade de mudanças; o sistema de comunicação que dominava naqueles tempos estava na imprensa livre ou, principalmente, na dirigida; não as redes sociais e aplicativos de mensagens indutores de esclarecimento e falsas informações como é hoje. E mesmo assim, nessa vitória do azarão, os donos da cidade, divididos – e cada um querendo mostrar força e tirar casquinha da situação que deixaram criar para aplicar corretivos neles próprios -, deram uma mãozinha ao vencedor. Depois se arrependeram. E a chance disso repetir agora? Sempre há, mas está próximo a zero. E a dez dias das eleições, isto é muito pouco para aquilo que não se fez em 90, 60, 40 ou 30 dias. Muda, Gaspar, inclusive na forma de tentar mudar.

O DIABO MORA NO CÉU EM GASPAR

Escrito isso, vamos ao detalhamento…

Faltando apenas dez dias para as eleições do domingo da semana que vem em Gaspar, alguns candidatos já começam a acordar do sonho de verão que tiveram. Foi bom enquanto durou. São vários os indicadores desta acomodação. Um deles é o sumiço das pesquisas oficiais. Elas, espertamente, são incomparáveis entre elas.

Elas dão mais dimensões única de serem apenas armas de propaganda públicas do que realmente diagnósticos para orientação de campanha por gente que entende disso. Para piorar, prevalecem, entre os eleitores e eleitoras, recortes fakes de pesquisas que nunca foram feitas. Eles propositada e repetidamente alimentam, no escurinho dos aplicativos de mensagens, animando grupos propagadores. E elas vem com a seguinte mensagem: “tirando” dúvidas dos incautos, analfabetos, ignorantes e desinformados. 

O segundo indicativo, é o consolo de quem se dizia legítimo representante do bolsonarismo por aqui ter sido, sem meias palavras, descredenciado pelo inventor do bolsonarismo. Sinal, aliás, que vinha sendo dado desde o início da campanha. E aí, os bolsonaristas ficaram, eles próprios, conformados e se concentraram na escolha menos danosa às suas convicções obtusas de Deus, Pátria e Família, como se um prefeito, antes de tudo, não fosse o verdadeiro síndico que se quer – estamos precisados – para uma cidade em frangalhos gerencial e sem transparência administrativa alguma.

Não bastou a experiência desastrosa de um travestido beato e leitor de bíblia. Se o caso é de polícia, essa gente esperta que manda nos políticos locais, já entendeu o recado: a resposta não é arrumar de fato a casa, mas é preciso trocar, falsamente, a personagem da peça teatral. 

KLEBER ESTÁ SE EXPLICANDO EM NOME DE MARCELO

O terceiro indicativo, foi a reação incomum e de última hora do atual prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB. Ele está se explicando, quando devia estar sendo reconhecido, como a maioria dos prefeitos que estão se reelegendo ou fazendo seus sucessores. 

Uma derrota em si já seria um duro golpe para quem governou por oito anos, antes foi vereador e até presidente da Câmara, numa aposta ímpar dos mesmos que lhe “abandonaram” parcialmente, neste momento. Sugaram, avalizaram e não concretizaram a principal promessa de então: limpar a prefeitura, a administração e a cidade dos vícios e as velharias. Ficar atrás do vencedor, numa disputa parelha, é uma coisa. Qualquer resultado diferente vai ser uma humilhação. 

Vai que este esforço agressivo, desconetado e desesperado de última hora lhe traga boas notícias a ele e seu apadrinhado.

O quarto indicativo é o silêncio do PT. Ele apostou na divisão dos conservadores -os quais montaram em Gaspar quatro candidaturas. Esta aposta pode não vir no timming e nas circunstâncias imaginadas pelos”luas pretas” petistas.

Para piorar, e muito neste ano, Brasília não colaborou. O presidente – e mito da esquerda do atraso – Luiz Inácio Lula da Silva, PT, complicou ainda mais o que já esta a ruim. Contaminou. Isto sem falar, de que o histórico do petismo em Santa Catarina sempre foi desafiador, mesmo antes da onda conservadora que assola o Sul. Para soma, à falta de renovação e quadros por aqui aos do PT e da esquerda do atraso. Jovens, talvez. Os da fábfrica do IFSc, mas que votam em Blumenau na sua maioria.

Além do que, até domingo dia seis de outubro, a polícia, por questões legais que protegem o pleito em si, não pode mais dar batida por aqui em gabinetes ou casas de políticos para armar mais dúvidas na cidade e criar discursos como se alimentou dias atrás.

O quinto indicativo, como na eleição de 2020, há uma disputa pela lanterna desta corrida. E quem ficar com ela, como aconteceu em 2020, onde estavam, falsamente, dois representantes do Bolsonarismo em chapas diferentes, sumiram do mapa. Primeiro por que eram notórios fakes ideológicos ao PSL e DEM da época. Segundo porque não inspiravam ninguém naquilo que diziam e podiam fazer. Terceiro, sem capacidade de se unir e aglutinar, inventavam a desculpa manjada de serem “puros”. Quarto não conseguiram repassar a confiança nas propostas que verbalizavam. Quinto não tinham estrutura nem para a campanha, muito menos sinalizavam sanar isso, se eleitos. E finalmente, porque eram notórios aventureiros políticos e aqui essa gente precisa de padrinhos bem fortes como se demonstra ao longo dos anos. Ou seja, quem tem padrinho não morre pagão. Muda, Gaspar

TRAPICHE

O ex-presidente Jair Messias Bolsonaro, PL, o mito, esteve em Santa Catarina, promovendo candidatos e candidaturas. Esteve no Vale do Itajaí, como Timbó,  que possui menos da metade do eleitorado de Gaspar. Nenhuma foto com os candidatos daqui, Paulo Norberto Koerich e Rodrigo Boeing Althoff, ambos do PL. Até uma candidata a vereadora, novata no PL, com passagens pelo PP e PT, conseguiu esta foto de apoio. E a foto premiada circula nas redes sociais. Então…

Sintomático. Já escrevi sobre isto. Este mal-estar não é de hoje. É desde quando, de cara amarrada, levados por empresários que montaram a candidatura de Paulo Norberto Koerich e Rodrigo Boeing Althoff, ambos do PL, com o aval do governador Jorginho Melo, PL, para um “encontro”, fotos e vídeos,num convescote particular em Balneário Camboriú. O ex-presidente Jair Messias Bolsonaro, PL, ficou o tempo todo de cara fechada e incomodado. Antes tivessem guardado aquele material. Dizem que Paulo está com isso engasgado até hoje.

Exagero? Nesta semana, o deputado Federal mineiro, Nícolas Ferreira, PL, que é dono de uma parcela ponderável de jovens nas redes sociais – e faz estragos por aí -, esteve em Santa Catarina, ciceroneado pela deputada Federal Júlia Zanatta, PL, do Sul de Santa Catarina onde o PL, por notórias barbeiragens impositivas de Jorginho Melo, PL, como faz aqui, patina. Timbó estava no roteiro. Blumenau também. Já, a vizinha e mais acessivel Gaspar do que Timbó…

O delegado de Blumenau que é candidato, Egídio Maciel Ferrari, PL, ex subordinado, e que já foi um delegado referência aqui, convidou o seu ex-chefe, o delegado Paulo Norberto Koerich, PL, para o convescote de lá. Menos mal. Senão, mais uma vez, o candidato daqui passaria batido. Estranho é que os vereadores do PL daqui, presentes lá, estavam bem distantes desta cena e quando se aproximaram dos visitantes como Nícolas Ferreira, preferiram não serem equipe. Paulo está ajudando Egídio. Mas, Egídio não ajudará Paulo?

Um bolsonarista gasparense, tampando o sol com a peneira a todas estas evidências documentadas e supostos cenários – ou falta de coordenação e liderança da campanha multipartidária tocada por várias mãos de interesses, justificou a ausência de Nicolas Ferreira, PL, em Gaspar em agenda pública política: “falta de horários” do visitante ilustre. Ai, ai, ai. Onde Nicolas Ferreira dormiu, segundo este mesmo bolsonarista? Num hotel fazenda daqui de apoiador de Paulo Norberto Koerich e Rodrigo Boeing Althoff, ambos do PL. Se fosse agenda “comprometida” nos espaços, no mesmo hotel haveria espaços para convescotes, mesmo que cenográficos.

A notória terceirização da campanha ao vice, a forma acintosa como os empresários tomaram conta da campanha, fez o candidato Paulo Norberto Koerich, PL, provocado, dizer que ele está no comando, que não vai baixar o nível e que verdadeiramente, ele quer ser prefeito. Saiu da toca. E precisava disso? Foram os gestos que alimentaram esta interpretação. Ninguém mais.

A oposição, no papel dela, e vendo a desorganização e a terceirização, atacou. Sem meias palavras, e frontalmente. Sobre aluguéis -e seus senhorios -, a pintura desgastadas dos prédios Paulo Norberto Koerich nada falou. Sobre a suposta dificuldade de atendimento na delegacia Alegou que em todo lugar tem horário de funcionamento por orientação administrativa. Ele está certo. Mas, na camapanha debate de que esse engessamento, por exemplo, nos postos de saúde, seja mudado.

Finalmente, ouviu-se a voz do delegado e candidato Paulo Norberto Koerich, PL, naquilo que achava que era implicação de que ainda tem voz por aqui, mas não precisa de votos para continuar a se comunicar. Paulo está exposto. E como tal, precisa, com inteligência e argumentos, mas sólidos, esclarecer, combater e propor.

Um deputado encrenca. Um áudio que circula diz que aquela emenda de “um milhão de reais” dita como liberada para o Gaspar Alto, e desmentida na cara dura – pois não havia outra alternativa -, de que nada disso tinha acontecido pelo governo do estado, “só não foi liberada”, segundo o áudio, para que o atual governo de Gaspar – em má conta – “não fizesse mau uso dela”. A verdade é outro. Ela não pode ser liberada por questões legais eleitorais. E a afirmação do áudio beira crime tipificado, quando classifica a atual administração de Gaspar. Esta afirmação, partindo de quem partiu, não cai bem quando o deputado em questão, quer ser um desembargador no Tribunal de Justiça. Seja na afirmação falsa que desmentiu, seja na justificativa que deu a um eleitor para não liberá-la.

O PL de Blumenau está com os dois pés no acelerador. E por que? Quer ganhar no primeiro turno – e pode. Não quer dar sopa para o azar. E se não der para ganhar já no dia seis de outubro? Quer um mamão com açúcar para o segundo turno: a deputada Federal Ana Paula de Lima, PT. Em todos os cenários testados com conservadores, ela perde. Tudo o que o PL de Blumenau não quer é o ex-promotor Odair Tramontin, Novo, no segundo turno. É que aí a chapa esquenta. E mais uma invenbção de Jorginho Melo, PL, pode estar balançando.

Voltando para a aldeia. A verdade é que o ex-presidente Jair Messias Bolsonaro, PL, poderá até mudar o seu comportamento de apatia – até porque ele, tem demonstrado essas constantes mudanças de humores -, mas hoje, ele está bem informado, e principalmente envenenado, pelo passado e presente do que se armou em Gaspar usando o nome dele e o próprio PL, para se construir uma chapa que o represente. 

E Jair Messias Bolsonaro não precisa de ninguém da Abin – aquela agência de inteligência que ele montou para proteger a si, seus filhos e milicianos. Bastará, ou bastou, uma conversa de pé de ouvido com o seu amigo de décadas, o senador Esperidião Amim Helou Filho, PP. Amim está muito contrariado com tudo o que aconteceu no seu PP de Gaspar. As informações e queixas são do presidente do PP, o ex-vice-prefeito de Kleber Edson Wan Dall, MDB, Luiz Carlos Spengler Filho. Aliás, se seu tio, o médico João Leopoldino Spengler, PP, estivesse vive, a história dessa eleição teria sido outra.

A verdade, o PL e o bolsonarismo de Gaspar viraram uma simples franquia de interesses que vai do PP até o MDB – já detalhei em artigos anteriores -, passando até, pasmem, pelo PT, dos mesmos que não querem ficar de fora do poder de plantão onde estão há 30 anos.

Antecipar parte do secretaria de um futuro governo em tempos de eleições é bom? Para alguns cargos chaves, é fundamental. É uma sinalização eleitoral, mas também uma tranca para gente curiosa que sempre quer ir para esses casos impulsionada por forte lobbies. Quando não é bom? Quando o loteamento começa correr frouxo na campanha aos mesmos e amigos do candidato. É o caso de Gaspar. E porque não se deve anunciar todos os secretariados? Porque uma parte, deve estar destinada à composição política, para se ter governabilidade na Cãmara de Vereadores (que ainda é uma caixinha de surpresa). Simples assim.

Bateu o desespero. O prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, está gravando nesta semana uma série de vídeos. É uma reação. É para se explicar as provocações de uma parte da oposição. Antes de prosseguir, é de se perguntar, qual é a oposição que finge ser oposição, se ganhar Kleber e sua turma continuará bem? O primeiro vídeo que ele espalhou nas redes sociais, eu até tratei em KLEBER FOI ÀS EXPLICAÇÕES, COMO PROMETEU DEPOIS DE VIRAR ALVO FÁCIL NO DEBATE DE SÁBADO. ANTES TIVESSE FICADO CALADO. Os demais são os mesmos do mesmo. Frágeis e facilmente desmontáveis.

Na verdade, como salientei no comentário, trata-se de campanha política. Primeiro, o prefeito Kleber Edson Wan Dall, não precisaria estar se explicando agora se tivesse sido transparente durante a sua gestão de quase oito anos. Segundo, se tivesse assumido o papel de líder político e não de ator improvisado do caro marketing mal arrumado da equipe de comunicação que o acompanha por mais de dez anos. Terceiro: esta suposta prestação contas não é verdadeira. Só tem a voz dele, pois as dos que tentam corrigir ou dos críticos está sendo impedida ou deletada pelo controle da equipe. Então o rei continua nu.

Trocando de malas com alças e as sem alças, por isso, difíceis de serem carregadas. Tem candidato na praça dizendo que vai acabar com as lombadas eletrônicas que “alimenta” a “indústria da multa”. São os mesmos que defendem à perigosa e lenta picada que se transformou a ligação entre Gaspar e Brusque, a qual está condenada assim, pois os políticos e empresários, que montaram seus negócios na área de domínio dela, não a querem duplicada para o desenvolvimento regional, mobilidade urbana (Santa Terezinha, Bateia, Barracão e Óleo Grande, cheios de loteamentos e um Plano Diretor omisso neste assunto). 

As lombadas eletrônicas, aferidas, bem sinalizadas, salvam vidas e educam, antes da punição via as multas.  E há político que ganha votos com este tipo de discurso enquanto outros morrem. É só olhar o que aconteceu nesta semana na Ivo Silveira, Frei Godofredo e trevo da Parolli. É só olhar, a montoeira de indicações de vereadores, ouvindo a comunidade, para implantar radares ou lombadas físicas, para diminuir a velocidade dos irresponsáveis motoristas que os políticos em campanha querem defender.

Uma verdade. Ouço entrevista de um candidato a prefeito de Blumenau questionado pela mídia da esquerda do atraso, alimentada por atraso ideológico, achando que implantar políticas públicas para tirar ou diminuir a população de rua é um ato de agressão a autodeterminação individual da pessoa. Estes mesmos defensores, contraditoriamente, e acertadamente, estão questionando à falta de política pública contra maus tratos nos abrigos e casas e abandono de animais nas ruas. Como se vê, a ideologia da esquerda do atraso, um animal tem mais valor do que um ser humano.

Em Gaspar, quando o PT era governo, por exemplo, gente de todo tipo, por exemplo, vivia acampada por anos afio na porta do prefeito da prefeitura que dá para a Praça Getúlio Vargas. Por isso, ela nem podia ser aberta. É um retrato que eu e muito outros gasparenses testemunharam. Não uma narrativa.

Atuando para uma candidata a vereador pelo PT em Ibicaré, no Vale do Rio do Peixe, a banca do advogado João Pedro Sansão, de Gaspar, reverteu a impugnação de Antoninha Salete Weise. Na primeira, instância, baseando-se num teste feito por um serventuário da Justiça, ela foi considerada analfabeta. João Pedro não só convenceu o relator do caso no Tribunal Regional Eleitoral a não reconhecer o tal teste, feito em à vista de todos, com suposto constrangimento, como a liberou para concorrer em seis de outubro.

Assim é Gaspar, e a vida segue. Passado choque de ver a polícia em casa e desesperado ter ameaçado desistir da corrida eleitoral, o suplente de vereador Norberto dos Santos, o Betinho da Lagoa, MDB, retomou a campanha. Segundo ele, resolveu seguir os conselhos dos amigos: o de levantar a cabeça. Os mesmos que uma semana antes, diziam que não segurariam na mão de ninguém. Assim é a política.

Vereador que queria ser candidato a prefeito em Gaspar e fez de tudo para isso acontecer, agora está pedindo votos para prefeito para o adversário. Não se trata de vingança, mas de esperteza. Olhou e viu onde poderia se dar bem para se reeleger, numa corrida ameaçada.

Números da vergonha. Das 625 bocas de lobos inteligentes, só oito foram instaladas depois de dois anos compradas e jogadas nos depósitos da prefeitura de Gaspar. Dinheiro desperdiçado. Pior, como vem se demonstrando, elas são inteligentes para ficarem entupidas. Primeiro pela concepção errada delas e segundo, porque não há equipe de manutenção para limpá-la naquilo que retém para não entupir ou danificar a rede de coleta pluvial. Muda, Gaspar!

O esquerda do atraso sabe que greves – que já foram armas de caça votos no passado, atualmente elas atrapalham as campanhas eleitorais em curso. E quando elas teimam em surgir, por variadas motivações, são indicadores de que não se tem mais nada a perder. Em Blumenau, montou-se uma, reivindicando discussão salarial. A base é maio. Estamos em outubro. Então…

Não pegou bem aquela foto que o PL fez esta semana na escadaria da Igreja Matriz de São Pedro Apóstolo – e que abriu o principal artigo de hoje – com o governador Jorginho Melo, PL, depois que o “mito” disse que por aqui não apareceria e nem emprestaria mais imagens aos seus. O PL sabe disso. Estão atrás do “pai” da ideia para ser o único culpado. Muita gente batendo cabeça. Outra. Onde será mesmo a terceira ponte de Gaspar? Mais uma vez para atender a interesses imobiliário de terceiros amigos e não exatamente a mobilidade da cidade e da região? Muda, Gaspar!

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14 comentários em “ALGUÉM ACREDITA EM “ESPETACULAR” VIRADA NAS ELEIÇÕES DESTE ANO EM GASPAR? OS QUE ANUNCIAVAM ISTO, FIZERAM POUCO PARA ELA ACONTECER. SE NÃO VIER O ATRASO, ESTÁ SACRAMENTADA CONTINUIDADE DA MEDIOCRIDADE”

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  2. A JOGATINA MOSTROU O SEU ROSTO, por Elio Gaspari, nos jornais Folha de S. Paulo e O Globo

    A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, definiu a questão: “É como se a gente tivesse aberto as portas do inferno, não tínhamos noção do que isso poderia causar.”

    Deveu-se ao Banco Central a revelação de fúria das chamas do inferno. Em agosto, beneficiários do Bolsa Família gastaram R$ 3 bilhões com apostas pelo Pix. Esse ervanário equivale a 20% do custo do programa.

    O presidente do BC, Roberto Campos Neto, relacionou as apostas com um aumento da inadimplência. Segundo o Instituto Locomotiva, 86% dos apostadores têm dívidas e 64% estão com o nome sujo.

    As portas do inferno seriam até maiores. O senador Omar Aziz estimou que, em 12 meses, os beneficiários do Bolsa Família teriam apostado R$ 10,5 bilhões usando o Pix.

    Estima-se que o conjunto dos apostadores perdeu R$ 24 bilhões entre agosto de 2023 e agosto deste ano. No mês de agosto as apostas eletrônicas moveram cerca de R$ 21 bilhões. Neste mesmo mês, a arrecadação de todos os sorteios e loterias da Caixa Econômica ficou em R$ 1,9 bilhão.

    De Nova York, Lula ensinou:

    “O Brasil sempre foi contra cassino, qualquer tipo de jogo de azar. Hoje, através de um celular, o jogo está dentro da casa da família, da sala (…). Estamos percebendo no Brasil o endividamento das pessoas mais pobres tentando ganhar dinheiro, fazendo apostas. É um problema que vamos ter que regular, senão daqui a pouco vamos ter cassino funcionando dentro da cozinha de cada casa.”

    Daí, resulta que a responsabilidade seria dos celulares, ou das cozinhas. Os doutores estão há 21 meses no governo e não tomaram uma só providência. Falaram em “jogo responsável”, mas ganha um fim de semana em Las Vegas quem souber como se limita a responsabilidade na jogatina.

    Nada aconteceu de novo. Era tudo pedra cantada. As apostas explodiram e instalaram-se no andar de baixo.

    Se ninguém reclamar, o Congresso aprovará a legalização de toda a jogatina, e o atual governo fingirá que reclama, desde que o deixem ficar com um pedaço. Tanto é assim que uma parte da base parlamentar de Lula aprovou várias etapas da excursão às portas do inferno.

    A surpresa revelada pelos maganos teria duas explicações. Seria resultado de uma supina ignorância ou é apenas empulhação, pois o real interesse do governo de Lula é arrecadar mais. Coisa de vários bilhões.

    Os números revelados pelo Banco Central mostram apenas a parte que lhe cabe deste latifúndio. Há ainda a conexão do crime organizado.

    Na esfera das celebridades, com as apostas legalizadas, o escândalo da hora associa o cantor Gusttavo Lima, com seu avião e suas camisetas, à lavagem de dinheiro. Suas empresas receberam R$ 49,4 milhões de apostas, e a Polícia Federal investiga quanto desse dinheiro passava por lavanderias. É esse mundo que o governo resolveu tolerar.

    Se a jogatina tramitar no escurinho de Brasília, legaliza-se o jogo em Pindorama. Naquele escurinho, até agosto passado, realizaram-se 251 reuniões no Ministério da Fazenda. Nenhuma com os especialistas do Ministério da Saúde que atendem arruinados pelo vício do jogo. Se o tema for colocado sob a luz do sol, as consequências poderão ser avaliadas.

    Em 2020, quando o ministro Paulo Guedes defendeu a criação de cassinos para afortunados (nada a ver com apostas a partir da cozinha) a única voz discordante veio de sua colega evangélica Damares Alves.

    Quatro anos depois, Gleisi Hoffman descobriu que estava diante das portas do inferno.

    Durante a reunião do ministério de 2020, quando Guedes defendeu a ideia dos cassinos para ricos, Damares exclamou:

    “Pacto com o diabo!”

    MADAME NATASHA

    Natasha vai todos os dias ao ponto de bicho da sua rua para conversar com os rapazes e apostar no elefante. Ela concedeu uma bolsa de estudos coletiva, beneficiando aqueles que usam a palavra “bet” para designar as apostas.

    Usando o english para mascarar uma velha prática, afeta-se algum cosmopolitismo, mas perde-se a riqueza do idioma. O português tem uma palavra linda para designar os apostadores: otários.

    Quase todas as traduções de otário para o english são vulgares. Se o ministro da Fazenda falasse que vai regulamentar as bets para orientar os suckers, o debate ficaria mais inteligente.

    LULA NA ONU

    Dias antes de embarcar para Nova York, Lula dizia que pretendia falar com o russo Vladimir Putin e com o ucraniano Volodymyr Zelensky para que acabassem com a guerra que já dura mais de dois anos. Conseguiu um contravapor explícito de Zelensky.

    Lula embarcou com uma comitiva de sete ministros (acompanhados por 22 assessores). O séquito juntou cem pessoas para o adorável outono da cidade.

    No Brasil, ficaram duas guerras: a dos incêndios e a da jogatina.

    EREMILDO, O IDIOTA

    Eremildo é um idiota, encantado com o modelo de gestão revigoradora do capitalismo brasileiro praticada num universo onde estava a gestão da rede varejista Americanas. Ela quebrou em janeiro de 2023, com um rombo de R$ 40 bilhões, o maior da história de Pindorama.

    O cretino aplaude o prêmio conseguido por dois diretores que resolveram colaborar com as investigações. O mimo previu dez anos de salários, planos de saúde e custeio da educação dos filhos. Afinal, a colaboração desses diretores permitirá que se saiba quem e como quebraram a Americanas.

    Até agora, nada.

    Não custa repetir, a investigação da quebra da Americanas é uma joia da literatura de Ahtaga Eitsirhc. Agatha Christie, a grande dama do romance policial, escreveu “O Assassinato do Oriente Expresso”. Nele, Hercule Poirot descobre que todos os passageiros do luxuoso vagão esfaquearam (um de cada vez) o empresário Samuel Ratchett.

    Na ficção da Americanas (escrita por Agatha Christie ao contrário), deu-se um rombo de R$ 40 bilhões e, passados quase dois anos, não foi ninguém.

    Coisas do andar de cima. O rombo da Americanas paga um ano de apostas do pessoal do Bolsa Família pela estimativa do senador Omar Aziz e sobram R$ 3,5 bilhões para custear os planos de saúde dos trabalhadores que perderam seus empregos.

    VAGAS NO SUPREMO

    Em pelo menos dois casos, ministros do Supremo Tribunal Federal deixaram suas cadeiras acreditando que poderiam receber uma embaixada. Num desses casos a saída foi até mesmo antecipada.

    Acreditaram.

    BURACO NEGRO

    O maior buraco negro do universo fica em Brasília. Quando surge um problema, os doutores recorrem a uma retórica com dois movimentos. No primeiro, explicam que os governos anteriores não cuidaram da questão. No segundo, informam que estão cuidando do assunto com a devida seriedade.

    No meio, nada acontece.

    CONFORTO

    Os brasileiros que sofrem com os asteroides que poluem as eleições municipais ganharam um sossego com a desdita do prefeito de Nova York, Eric Adams. Ele foi denunciado por corrupção e deverá acabar na cadeia.

    Mesmo sabendo-se que que ele tinha um pé nas milícias, a cidade que elegeu Edward Koch e Michael Bloomberg, caiu no conto do candidato policial e negro.

  3. AOS AMIGOS, TUDO, por Eliane Cantanhêde, no jornal O Estado de S. Paulo

    Na sexta-feira à noite, no escurinho do cinema, o ministro do STF Dias Toffoli lançou mais uma bomba, em meio à decisão de Alexandre de Moraes sobre a volta do X, eleições na reta final, o debate crescente sobre os riscos das bets e o ataque de Israel à capital do Líbano: a anulação de todos os processos contra Léo Pinheiro, ex-presidente da empreiteira OAS.

    Ex-advogado do PT, Toffoli foi nomeado para o Supremo nos primeiros mandatos do presidente Lula, mas votou contra o partido na época da Lava Jato, impediu Lula de sair da prisão para ir ao velório do irmão e agora se açoita anulando condenações e multas da Lava Jato. Uma reviravolta e tanto, ou um pedido de perdão?

    Já Léo Pinheiro, capturado pela Lava Jato, foi o empreiteiro mais próximo de Lula, a quem visitava no sítio de Atibaia para bater altos papos e tomar uns drinks. Resistiu o quanto pôde a fazer delação premiada, mas cedeu depois de Marcelo Odebrecht abrir a fila e o bico. Sua delação, só aceita quando ele incriminou Lula, foi decisiva para a condenação e prisão do ex e atual presidente, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, no caso do triplex do Guarujá – onde, aliás, ele não morava, nunca tinha morado e nunca iria morar.

    É assim que a Lava Jato, comemorada como a maior operação contra a corrupção do Brasil, quiçá do mundo, continua sendo bombardeada até o último tijolo. O então juiz Sérgio Moro e os procuradores viraram vilões, inclusive com a perda de mandato de Deltan Dallagnol na Câmara. E todos os políticos e empreiteiros foram soltos e a fase de anular delações e acordos de leniência avança rapidamente. Com a correspondente anulação de multas.

    Léo Pinheiro, por exemplo, foi condenado a 30 anos, ficou três anos e quatro meses preso e pede, além da invalidação das penas, também da multa de R$ 45 milhões da OAS, mais uma vez seguindo a trilha da antiga Odebrecht. É como se a corrupção não tivesse existido, as delações fossem mentirosas, os acordos de leniência e as provas, fakes, as multas, indevidas. Uma volta no tempo, apagando tudo.

    Se as grandes empreiteiras e seus donos foram ao fundo do poço e voltam à tona, a J&F e os irmãos Wesley e Joesley Batista jamais saíram do topo, de seus aviões e iates, e continuam multiplicando seu patrimônio, estimado em R$ 20 bilhões – cada um. Pode ser coincidência, mas, enquanto os empreiteiros denunciaram PT e Lula na Lava Jato, os irmãos do frigorífico desviaram o foco para o então presidente Temer e o ex-candidato do PSDB à Presidência Aécio Neves. Como estarão os negócios de Wesley e Joesley no Lula 3?

  4. A EMBRAER E A RETENÇÃO DE TALENTOS, editorial do jornal O Estado de S. Paulo

    Os quatro anos que transcorreram desde a abertura da arbitragem entre Embraer e Boeing – com decisão final da Corte Arbitral de Nova York favorável à fabricante brasileira – serviram para demonstrar de forma empírica duas questões: 1) empresas brasileiras que investem pesado em inovação tecnológica atingem nível de excelência para competir em pé de igualdade no mercado global; 2) está cada vez mais difícil reter profissionais gabaritados, em particular na área tecnológica, compelidos a buscar no exterior oportunidades que não encontram no País.

    Depois de a Boeing desistir do negócio de US$ 5,2 bilhões – anunciado em 2018 e desfeito em 2020 – que criaria uma parceria desigual, na qual a norte-americana teria 80% e a Embraer, 20%, não tardaram a surgir notícias de cooptação de funcionários altamente qualificados da Embraer pela Boeing. A ponto de uma ação civil pública movida por duas associações da indústria aeronáutica (Abimde e Aiab), com apoio da Embraer, acusar a Boeing de ameaça à soberania nacional ao atrair profissionais com informações sobre projetos, muitas vezes com segredos industriais. A iniciativa foi relatada em reportagem, no ano passado, pelo site econômico InfoMoney.

    Em entrevista recente ao Brazil Journal, o presidente da Embraer, Francisco Gomes Neto, confirmou que a empresa perdeu, em curto período, mais de 100 engenheiros para a Boeing, o que reconheceu como “muito ruim”. Relatou que há empresas que contratam engenheiros pagando em dólar e euro para trabalhar de casa, no Brasil. “Isso acontece. E com a Boeing aconteceu mais”, afirmou o executivo.

    O caso Boeing-Embraer é um recorte específico de um problema maior, mas que serve para ilustrar tanto a questão da competitividade quanto a da formação e retenção de mão de obra. Exceção que confirma uma regra que parece preservar um pacto de mediocridade para a indústria nacional, a Embraer é o exemplo de um bom desenho de política industrial, baseado em capital humano e investimento científico. A empresa opera em simbiose perfeita com o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), referência em engenharia, o que já é um diferencial. Hoje, o apoio do governo se resume a financiamentos do BNDES, uma forma justa de contribuir para o desenvolvimento.

    Não dá para imaginar o que seria da Embraer se uma política de conteúdo local a obrigasse a comprar equipamentos prioritariamente no Brasil, como o governo Lula da Silva impõe ao setor de petróleo. A escala alcançada pela empresa propiciou a formação de uma indústria de fornecedores a seu redor, mas a fabricante de aviões compra máquinas de toda a parte do mundo e só alcançou o nível atual porque foi exposta à competição internacional.

    Depois do malfadado negócio anunciado em 2018, a Boeing entrou em séria crise financeira e de credibilidade devido a falhas técnicas em seus aviões. Já a Embraer recebeu este ano upgrade do banco norte-americano Morgan Stanley, que a elegeu como favorita no setor aeroespacial mundial, quebrando o duopólio de Boeing e Airbus.

    As investidas hostis sobre os profissionais da fabricante de aviões é um caso isolado, mas o fenômeno de fuga de cérebros aumentou sobremaneira no País, em especial depois do desmonte da Ciência e Tecnologia na gestão Bolsonaro, e parece ainda longe de ser estancado. Levantamento recente da Fapesp entrevistou 1.200 pesquisadores que emigraram para 42 países para identificar as causas. As principais são, pela ordem: oferta de trabalho ou pós-doutorado no exterior; melhores condições de financiamento para pesquisa; melhor acesso à infraestrutura de pesquisa; e remuneração e qualidade de vida melhores. A maioria deixou o País depois de 2019.

    É questão complexa que demanda reação de empresas e, principalmente, do governo. Uma política industrial que incentive a competição é um caminho apontado por especialistas para o Estado estimular investimentos em inovação nas empresas. Mas o que se tem visto, inclusive com a recém-lançada Nova Indústria Brasil, é a insistência no ineficaz espírito protecionista de sempre.

  5. TEREMOS A NOSSA LAS VEGAS, por Carlos Andreazza, no jornal O Estado de S. Paulo

    O Congresso aprovou o projeto de legalização das apostas esportivas cantado pela promessa inflada dos dinheiros fáceis, sob a sempre ardilosa miragem do olho grande, tocado pelo lobby vendedor de uma Las Vegas para cada Estado e de receitas bilionárias para os tesouros.

    A Fazenda também se encantou, a regulamentação do bicho concebida todinha tendo as possibilidades de arrecadação como norte. Haddad e seus raspadores de tacho de olhos crescidos para aquelas projeções tremendas – os bilhões que viriam compor para lhe fechar a farsa da meta fiscal.

    A gula subestimou a complexidade do mundo real. Que se impõe. E de repente todos preocupados com as consequências dos estímulos ao consumo de apostas sobre a vida das gentes.

    O Congresso aprovou o troço empilhando votações simbólicas, apressadamente. Governo e Parlamento ignoraram o impacto do vício sobre a saúde da população e no endividamento das famílias. E agora vem o ministro falar em controle de CPF e “sistema de alerta sobre pessoas que revelarem dependência do jogo” – conceito decerto a ser formulado sob o uso extremado do Direito Xandônico.

    Liberaram uma oferta agressiva – e então correm para tipificar potenciais dependentes e lhes tutelar os gastos.

    Sonhando com os bilhões em impostos que bicheiros, milicianos e traficantes pagarão em suas porções empreendedoras do entretenimento, o Estado brasileiro já garantiu, na prática, a abertura de janela para a corrida de lavação das granas sujas – conforme ilustra a multiplicação dessas bets entre nós. Proliferação cuja conta não fecha; não para fins de um negócio lucrativo.

    O negócio é outro. Mas talvez tenhamos a nossa Las Vegas – quem sabe várias.

    Nessas horas, ante o chamado inapelável do futuro em que nossa vocação turística se expressará, nunca se reflete sobre quem seriam os proprietários dessas Las Vegas – a serem erguidas em solo que não é deserto, tendo o jogo uma história de sangue neste país.

    A legalização do jogo acabará com o jogo ilegal? Ou prestará serviços à ilegalidade?

    O Congresso aprovou o projeto de legalização das apostas esportivas embutindo no texto o contrabando dos cassinos virtuais – porque é a legalização completa do jogo o que se pretende afinal. Aprovada essa lei como se inexistisse o mundo real e o jogo – porque é de jogo que se trata – não tivesse dono no Brasil.

    Tem. E, na prática, o Congresso aprovou a legalização de terreno sobre o qual o crime organizado se expandirá. Aprovou a ampliação da superfície sobre a qual o crime organizado se lavará. Esse mercado tem senhores. Assim continuará, por dentro e por fora. Mas teremos a nossa Las Vegas.

  6. NÃO É PARA AMADORES, por Carlos Alberto Sardenberg, no jornal O Globo

    No original, a frase de Tom Jobim era a seguinte:

    — O Brasil não é para principiantes.

    Com o tempo, “principiantes” foi substituído por “amadores” e ficou até melhor. Pelo menos, mais popular. E verdadeira?

    Digamos que faz sentido em muitos momentos e muitos lugares deste imenso Brasil. Considere a sentença: os pedidos de seguro-desemprego estão em alta porque o mercado de trabalho está muito aquecido.

    Pode ler de novo. É isso mesmo que você entendeu: quanto mais a economia gera vagas de trabalho, mais crescem os pedidos de seguro-desemprego a que têm direito os empregados demitidos sem justa causa.

    Nos Estados Unidos, é diferente. Os pedidos de seguro-desemprego formam um importante indicador, seguido semanalmente e interpretado conforme uma lógica que parece indiscutível: se caem os pedidos, só pode ser porque mais gente conseguiu trabalho e, pois, a economia está aquecida. O inverso também é verdadeiro.

    Comparando com o que acontece por aqui, pode-se dizer que os Estados Unidos são um legítimo país de amadores, guiado pela lógica simples do senso comum.

    Quero ver entender a lógica do mercado de trabalho brasileiro. Comecemos pelos números: no período de 12 meses encerrado em julho deste ano, os pedidos de seguro-desemprego chegaram a 7,35 milhões — 370 mil a mais que no período até julho do ano passado. Em julho de 2023, o desemprego era de 7,9%. No trimestre móvel encerrado em agosto, ficou em 6,6%, simplesmente o mais baixo para o período na série histórica, iniciada em 2012. E são 102,5 milhões os brasileiros com trabalho.

    Por esses números, seguindo a regra simples, a economia está aquecida. Pelos pedidos de seguro-desemprego, seguindo a regra americana, o país estaria em recessão — e obviamente não está.

    Convoquemos os profissionais — no caso, os economistas.

    Primeiro, há muita rotatividade no mercado de trabalho. Muitas admissões e demissões ao mesmo tempo. Mas por que isso ocorreria? Há boas pistas. Em evento da CBN, na última quinta-feira, o professor Renan Pieri, da FGV, comentou que frequentemente é mais fácil para um trabalhador obter aumento de salário mudando de emprego do que permanecendo na mesma empresa. Isso acontece com os empregados de menor remuneração.

    Faz sentido: a maior parte dos solicitantes de seguro-desemprego recebia no último emprego até 1,5 salário mínimo. É o que mostra um estudo da LCA Consultores, citado em reportagem do Valor Econômico, de 10 de setembro último. Para esses trabalhadores, é significativo um ganho de R$ 250 na troca de emprego.

    O seguro só é pago para os demitidos sem justa causa, de modo que um dos lados do contrato, a empresa ou o trabalhador, precisa forçar a saída. A empresa pode preferir demitir um empregado de baixo custo a treiná-lo. E faria isso sabendo que encontra substituto no mercado.

    Do lado do trabalhador, é mais complicado. Ele precisa forçar uma demissão para receber o seguro. Ou então empregado e empresa fazem os conhecidos acordos de demissão. Claro que o trabalhador faz isso sabendo também que o mercado está aquecido, de modo que ele provavelmente encontrará outra ocupação.

    Trata-se de análises e hipóteses de economistas profissionais, e não, digamos, de jornalistas amadores. Ironias à parte, há aí um baita problema para as contas públicas, já que o governo paga o seguro. Nos cinco primeiros meses deste ano, os gastos com esse seguro-desemprego chegaram a R$ 18,4 bilhões, 18% a mais que as despesas no mesmo período de 2023. No acumulado deste ano, esses gastos deverão passar dos R$ 45 bilhões, segundo o mesmo estudo da LCA.

    É dinheiro, dá quase 0,5% do PIB. Por isso mesmo, há estudos no governo para mudar o sistema de modo a colocá-lo mais próximo da lógica americana. A ideia é estimular a permanência no emprego e tornar mais rigorosa a concessão do auxílio. Não é fácil. Trata-se de mexer em áreas politicamente sensíveis.

    E, nesta semana, um estudo do Banco Central mostrou outra dessas situações que não são para amadores. Pessoas que recebem o Bolsa Família gastaram em agosto nada menos que R$ 3 bilhões em bets.

    Pode isso? Pois é, não poderia, mas acontece.

  7. COMITIVA DE LULA NA ONU EXPÕE EXAGERO EM VIAGENS INTERNACIONAIS, editorial de O Globo

    Para demonstrar que o Brasil voltava com força à cena global depois do isolamento no governo Jair Bolsonaro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva começou a viajar pelo mundo ainda antes da posse. Depois, como presidente, adotou uma agenda internacional frenética. Nos primeiros oito meses de governo, visitou 19 países nas Américas, Europa, Ásia e África. Em cada viagem, Lula costuma seguir acompanhado de um séquito de ministros, diplomatas, assessores, seguranças e todo tipo de agregado. As viagens internacionais da administração pública federal, fundações e autarquias em 2023, primeiro ano do mandato de Lula, chegaram a 22.494 e custaram R$ 296,6 milhões aos cofres públicos. Na comparação com o último ano de Bolsonaro, tais números cresceram, respectivamente, 38% e 28%.

    A comitiva levada a Nova York para a 79ª Assembleia Geral da ONU ilustra o exagero em que se transformaram as viagens ao exterior neste governo. Entre autoridades e assessores, incluindo a primeira-dama Janja Lula da Silva, mais de cem pessoas foram aos Estados Unidos acompanhar o discurso de Lula na abertura da assembleia. Não é preciso examinar com lupa a lista de viajantes para identificar o desperdício de dinheiro público em momento de grave crise fiscal.

    Presente na comitiva, a ministra de Gestão e Inovação em Serviços Públicos, Esther Dweck, já aterrissara neste ano em Nova York. Sonia Guajajara, ministra dos Povos Indígenas e outra integrante da comitiva, visitou 12 países desde a posse. Esteve nos aeroportos de Amsterdã, Londres, Roma, Paris, Dubai, Vancouver, Caracas e Cartagena, entre outros. De Brasília para Manaus, só viajou cinco vezes. Wellington Dias, ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, também acompanhou Lula a Nova York. Em 21 meses à frente da pasta, foram 12 viagens ao exterior.

    É perfeitamente possível que a maioria dos ministros consiga apresentar boas justificativas para participar de eventos no estrangeiro. Mas, nestes tempos de trabalho remoto e videoconferências, deveriam refletir mais antes de sair do país. Nem toda viagem é planejada com a devida antecedência. Compradas em cima da hora, as passagens são mais caras. As diárias de assessores elevam os gastos às alturas. Eles podem não ser tão altos levando em conta o tamanho do Orçamento, mas as autoridades precisam demonstrar mais parcimônia e dar exemplo de austeridade. A maneira mais eficaz de melhorar a imagem do Brasil e de alavancar projetos e investimentos externos é trabalhar dentro das fronteiras do país para que mais resultados positivos apareçam e atraiam o interesse internacional. O ímpeto de projetar o país no exterior e estreitar relações com estrangeiros merece um freio de arrumação.

  8. SEM BRILHAR NA ONU, LULA TEM VOLTA TENSA, por Vera Magalhães, no jornal O Globo

    O saldo da ida de Lula a Nova York para a tradicional abertura da Assembleia Geral da ONU ficou bem aquém da volta triunfal do ano passado. E, na volta, a lista de pepinos para o presidente encarar aumentou e ganhou enorme complexidade.

    Do cenário eleitoral bastante desafiador para PT e esquerda à crise ainda não resolvida dos incêndios e queimadas que devastam o Brasil, passando pela demora em detectar a epidemia de endividamento em apostas esportivas que arrasta para a inadimplência os beneficiários do Bolsa Família e os jovens que deveriam ir para a universidade, o presidente se vê diante de crises capazes de mudar os rumos dos dois últimos anos de seu terceiro mandato.

    Começando pela política, o quadro das disputas no primeiro turno está longe de configurar um referendo aprovatório do governo. Diante das dificuldades enfrentadas pelo partido de Lula em capitais e grandes cidades, seus aliados aderem a uma espécie de contabilidade criativa e reeditam até a frente ampla para apontar um placar favorável aos candidatos de um amplo “time do Lula”.

    Nesse cômputo, até a vantagem de João Campos (PSB) no Recife e de Eduardo Paes (PSD) no Rio é lida como sinal de força do presidente contra o bolsonarismo, quando uma análise mais acurada da realidade dessas campanhas mostra que os dois prefeitos concentram seu discurso primordialmente em questões municipais, procurando se afastar da polarização.

    Em São Paulo, Guilherme Boulos (PSOL) se ressente de, na reta final, não ter contado com a presença mais constante de Lula no palanque. Mas trata-se, de longe, da disputa em que o presidente mais se envolveu, e, nesse caso sim, vitória ou derrota será creditada em grande parte a ele. Daí por que o desfecho absolutamente incerto a pouco mais de uma semana do pleito seja um fator adicional de tensão.

    Nada indica que Lula poderá ficar longe de Brasília em tempo integral no finalzinho do primeiro turno e nas semanas antes do segundo. Isso porque os problemas na gestão se avolumam e não têm solução fácil.

    A questão dos incêndios — que eclipsou a fala de Lula na ONU e o fez carregar nas tintas das cobranças à geopolítica internacional para tirar o foco do tema incômodo — comprometerá fortemente a economia e os dados ambientais de 2024.

    As medidas até aqui anunciadas, além de insuficientes, foram tardias e, em grande parte, adotadas por cobrança do Supremo Tribunal Federal, o que enfraquece politicamente um governo eleito com discurso fortemente ancorado no reconhecimento da crise climática e na promessa de ser implacável em seu enfrentamento.

    As decisões de política energética e aquelas concernentes à exploração de petróleo de agora em diante tendem a escancarar ainda mais as divisões internas, enquanto a dificuldade de prosseguir com investigações sobre o caráter criminoso das queimadas tende a diluir o impacto dessa justificativa para o cenário de terra literalmente arrasada que se vê no país todo.

    Por fim, a crise das bets pegou o governo de calças curtas, e nada do que foi ventilado até aqui para enfrentá-la, como na fala claramente de improviso de Fernando Haddad propondo um confuso controle de vícios em apostas pelo CPF, não faz sequer cócegas num problema de gravíssimas proporções.

    Todos os alertas sobre os riscos de regulamentar as apostas esportivas se mostraram conservadores diante dos dados que apenas começam a ser divulgados por entidades como Banco Central e Confederação Nacional do Comércio.

    Se todos se chocaram diante da tentativa do governo Bolsonaro de permitir crédito consignado em benefícios sociais, que lembraria uma agiotagem estatal, que dizer de uma realidade em que esse benefício é todo canalizado para apostas e deixa de suprir as necessidades das famílias? Um rombo na principal vitrine de vida de Lula, que todos parecem tratar com uma falta de urgência alarmante.

  9. A GASPAR QUE VAI MUDAR? NÃO DO JEITO COMO ESTÁ

    Um candidato a prefeito, acha chato we cansativo fazer campanha, terceiriza aos seus padrinhos e ao vice. Quando a água bate na bunda – por sua própria ausência e posicionamento -, ele aparece para fazer vídeos e se salvar nas aparências de que sempre foi um “trabalhador.

    Quem quer ser prefeito, antes de mais nada, precisa querer e não esperar que pelos votos arrumados por esquemas de gente que quer mandar – ou vai manda no seu governo, como se viu até aqui em outros.

    O vice, por sua vez, o escalado para fingir que a campanha está nas ruas, passou quatro anos, curtindo a tranquilidade do sítio e fingiu que a cidade ia bem. Agora, ele próprio de que ela vai mal. Mas, se ele diz isso, até porque só agora está percorrendo o bairro obrigado pela campanha de pedir votos e fazer reuniões com a elite, é parte deste mal é sua própria culpa pela omissão reiterada.

    O que vai mudar? Nada. Muda Gaspar

  10. O UMBIGO DE LULA, editorial do jornal O Estado de S. Paulo

    Quando olha para seu umbigo, o presidente Lula da Silva imagina ver o mundo. A passagem do demiurgo pela Assembleia Geral da ONU foi um retrato penoso de sua decadência e da desmoralização para a qual ela está arrastando a política externa brasileira. No plano ideológico, tudo é reduzido a uma grande conspiração dos “ricos” contra os “pobres”. No plano pragmático, tudo se passa como se os conflitos globais pudessem ser solucionados em conversas de botequim.

    É preciso dizer que, naquilo que tem de genuíno, o sonho de Lula, ainda que limitado por seu enquadramento progressista, seria pertinente e até, em certa medida, factível. Basicamente, é a ideia do Brasil protagonizando alguma liderança numa coalizão do chamado “Sul Global” para obter concessões dos países desenvolvidos.

    Do ponto de vista estrutural, o Brasil é uma potência pacífica na região latino-americana, um grande exportador de alimentos, guardião de minerais e biomas críticos, e ainda conta com um quadro diplomático competente. Do ponto de vista conjuntural, Lula tem (ou ao menos teve) carisma, e sua vitória sobre Jair Bolsonaro foi vista com bons olhos pelas lideranças democráticas, a começar pelo americano Joe Biden. A conjunção do G-20, em 2024, e da COP-30, em 2025, ofereceria condições para o Brasil se projetar, erguer pontes e promover negociações.

    Mas para que isso funcionasse o presidente precisaria combinar de maneira crível credenciais democráticas, capacidade de articulação e humildade. Movida, porém, pela megalomania de Lula, inspirada pela ideologia perniciosa de Celso Amorim, a diplomacia presidencial se choca com a realidade da maneira mais grotesca, e dos destroços de um sonho resta apenas uma massa incôngrua de delírios.

    Em questões em que o Brasil tem escassa capacidade de influência, como a governança global ou a geopolítica na Europa ou no Oriente Médio, Lula foi grandiloquente, mas oscilou entre quimeras irrealistas e o mais bruto cinismo. Onde o Brasil poderia dar exemplos de responsabilidade e liderança, como no meio ambiente ou na geopolítica latino-americana, foi omisso – e também cínico.

    Que espetáculo deprimente foi ver jovens lideranças como os presidentes da Ucrânia ou do Chile passando descomposturas em Lula. Ao sugerir que, se Volodmir Zelenski fosse “esperto”, aceitaria a proposta de paz de Brasil e China, Lula se prestou a garoto de recados de um “chefe mafioso” (como disse na ONU o chanceler britânico, David Lammy, sobre Vladimir Putin). Zelenski eviscerou o plano sino-brasileiro como aquilo que é – uma proposta de capitulação da Ucrânia –, questionou o “verdadeiro interesse” do Brasil e insinuou que o de Lula é uma ambição narcisista de ser premiado com um Nobel da Paz. Bingo.

    Em uma cúpula “pela democracia” e “contra o extremismo” promovida pelo Brasil, esvaziada e só com lideranças de esquerda, o chileno Gabriel Boric desmoralizou sem meias palavras a pusilanimidade de Lula em relação à Venezuela e outras ditaduras.

    As lideranças democráticas talvez até tenham visto com condescendência as platitudes de Lula sobre a “reforma da ONU” e suas promessas de liderá-la, mas se frustraram com sua evasão sobre a questão mais premente na América Latina, o recrudescimento da ditadura de Maduro, e com o vácuo de ofertas do Brasil em relação ao meio ambiente que não literalmente “apagar incêndios”. E certamente estão desconfiadas de seu alinhamento com China e Rússia.

    Eis a dura verdade: para China, Rússia, Irã e outras autocracias, Lula não passa de um “idiota útil”; para o Ocidente, ele é, na melhor das hipóteses, um fanfarrão inútil, e, na pior, um ressentido cínico. Não há pontes firmes a construir nem negociações sérias a encampar com tão leviana e irrelevante figura. Talvez a mais eloquente imagem do tour de Lula por Nova York tenha sido o momento em que a organização de uma cúpula ironicamente chamada “do Futuro” se viu obrigada a cortar o seu microfone por estouro de tempo, e o envelhecido líder progressista foi deixado gesticulando aos quatro ventos, falando sozinho, aos ouvidos de ninguém.

  11. ANÁLISE CRÍTICA DO SISTEMA ELEITORAL BRASILEIRO: A LIMITAÇÃO DA ALFABETIZAÇÃO COMO CRITÉRIO DE ELEGINILIDADE, por Aurélio Marcos de Souza, advogado, procurador geral do município de Gaspar (2005/009), graduado em Gestão Pública pela Udesc. Originalmente, publicado no Facebook, do autor

    Prezados leitores,

    É com grande satisfação que compartilho esta análise crítica que aborda uma questão fundamental do nosso sistema eleitoral: a exigência de alfabetização como condição de elegibilidade para candidatos. Este tema é de extrema relevância, pois toca em aspectos essenciais da representação política e da qualidade democrática do nosso país.

    O sistema eleitoral brasileiro, ao requerer apenas a capacidade de ler e escrever como critério de elegibilidade, levanta questões profundas sobre a verdadeira capacidade de representação da população. Essa exigência é limitada, pois ignora a complexidade do letramento, que vai além da simples habilidade de decifrar letras e palavras. O letramento envolve a compreensão crítica de textos, a capacidade de argumentar e interpretar informações—habilidades essenciais para a função pública em uma democracia moderna.

    Ao equiparar a habilidade de leitura e escrita à elegibilidade, o sistema ignora diversas nuances que caracterizam o cidadão preparado para participar da vida pública. Um candidato pode saber ler e escrever, mas isso não significa que tenha a formação necessária para compreender as demandas da sociedade, discutir políticas públicas ou entender a legislação vigente. Por exemplo, um candidato com um currículo respeitável e conhecimento aprofundado em sua área de atuação pode ser superado por alguém que, embora alfabetizado, não possui habilidades críticas ou experiência prática em gestão pública.

    Além disso, essa exigência atual pode favorecer candidatos que, mesmo sem um entendimento sólido das realidades sociais e econômicas, conseguem articular-se bem, utilizando retóricas persuasivas para conquistar votos. Isso resulta em um cenário onde a superficialidade das informações prevalece sobre a profundidade das análises, perpetuando práticas políticas que não atendem verdadeiramente às necessidades da população.

    Um exemplo claro dessa problemática é a presença de candidatos que fazem uso de empréstimos de somas, ou seja, que se apresentam como bem-sucedidos em suas campanhas, mas que dependem de financiamentos externos, muitas vezes vinculados a interesses corporativos. Esses candidatos podem ser alfabetizados, mas sua dependência de recursos externos pode comprometer sua autonomia política e a integridade das decisões que tomarão em favor da coletividade. Em contrapartida, um candidato com um sólido entendimento das questões sociais e econômicas, que pode não ter acesso aos mesmos recursos financeiros, pode ser preterido, não por falta de capacidade, mas por não atender ao critério superficial de alfabetização.

    Diante disso, é imperativo repensar os critérios de elegibilidade no Brasil. A valorização do letramento, que engloba a capacidade de pensar criticamente, comunicar-se efetivamente e compreender o contexto em que se atua, é fundamental para garantir que os candidatos estejam verdadeiramente preparados para representar a população. Somente assim poderemos avançar em direção a um sistema político mais inclusivo e representativo, capaz de responder de forma efetiva aos desafios contemporâneos.

    Em suma, ao focar apenas na habilidade de ler e escrever, o sistema eleitoral brasileiro corre o risco de eleger representantes que podem ser tecnicamente aptos, mas que carecem da profundidade necessária para promover mudanças significativas. É hora de adotarmos critérios que realmente reflitam a complexidade da sociedade e as demandas do cargo público.

    Espero que esta análise provoque um debate enriquecedor e que, juntos, possamos buscar caminhos para aprimorar nosso sistema eleitoral.

  12. A DROGA DAS BETS E IMPOSTOS, por Vinicius Torres Freire, no jornal Folha de S. Paulo

    Os brasileiros gastam R$ 25,4 bilhões por ano em apostas nas loterias estatais, administradas pela Caixa Econômica Federal: Mega, Lotofácil, Loteria Federal etc. É o que dizem os balanços da CEF dos últimos 12 meses.

    Apenas no mês de agosto, os brasileiros apostaram R$ 21,1 bilhões nas bets, segundo estimativa preliminar do Banco Central, divulgada nesta terça-feira (24), estudo solicitado pelo senador Omar Aziz (PSD-AM).

    Do total do dinheiro apostado nas loterias federais, da CEF, 46,6% ficou com o governo nos últimos 12 meses, cerca de R$ 12 bilhões. De um modo ou outro, é imposto: parte é Imposto de Renda da Pessoa Física, parte é “destinação social”. Isto é, dinheiro que vai para o governo, direcionado para INSS, fundos nacionais de segurança, esportes e um resto para cultura, saúde e educação. Os apostadores premiados levaram 33,9% do total arrecadado em apostas.

    No caso das bets, os chutes mais ponderados no mercado dizem que o governo federal poderia arrecadar R$ 10 bilhões em impostos, por ano. Hum.

    Segundo a estimativa do Banco Central, cerca 85% do valor apostado volta para os apostadores; 15% fica com as empresas, com as bets (embora este último percentual possa estar subestimado, diz o BC). Nessas contas, porém, não estão incluídos impostos.

    Seja como venham a ser cobrados os impostos, o governo vai ficar com uma fatia menor do dinheiro bet, em porcentual, do que fica com o da loteria estatal. Seria mesmo muito difícil tributar tanto quanto no caso das loterias estatais —o negócio ficaria inviável. No entanto, criou-se desgraça social e econômica, a epidemia de jogatina, que terá uma carga tributária inferior à da loteria estatal, que é de algum modo concorrente do jogo nas bets.

    A desgraça socioeconômica do jogo foi documentada nos Estados Unidos, por exemplo, onde é recente a aposta esportiva legal (seis anos): mais dívida em cheque especial, inadimplência, redução de poupança e falências familiares, em especial entre pobres.

    O governo deixou essa ruína chegar; o Congresso é na maioria negocista. Perdemos, claro.

    Pela lei de 2023, as empresas das bets ficam com o que sobra de pagamento de prêmios aos apostadores e o IRPF. Desse saldo, 12% são “repasse social” (para o governo); 88% ficam com as empresas. Nessa sobra de 88%, em tese poderiam incidir IR da Pessoa Jurídica (nominalmente 25%) e CSLL (9%). Difícil de saber se haverá PIS/Cofins e sobre qual base de cálculo.

    O IR para a pessoa física será de 15%, alíquota que vai incidir apenas sobre a diferença entre ganhos e perdas do apostador, em um ano —isso se essa diferença for maior do que R$ 2.259.

    A lei diz que parte da arrecadação das bets será destinada ao pagamento do IR sobre prêmios. Mas como as empresas vão saber se o apostador teve mais ganho do que perda e teve ganho em valor tributável? Quem recolhe o imposto?

    De qualquer modo, a receita de IR jamais será 15% do valor que as bets pagarão aos apostadores, é fácil perceber (haverá muita gente no prejuízo ou com ganhos na faixa de isenção). Mesmo na hipótese absurda de que o pagamento de impostos das bets fosse igual ao do seu faturamento, renderiam em impostos 15% do total arrecadado com apostas (pela estimativa do BC). Juntando com o IR, a alíquota de fato deve ser menor do que a incidente sobre a loteria estatal

  13. A ditadura do PT tem um sobrenome chamado democracia

    SINAIS DE ALERTA, por Malu Gaspar, no jornal O Globo

    A fumaça das queimadas que já duram semanas, sem previsão de alívio à vista, não encobre apenas boa parte do território nacional. Ofuscados pelo fumacê que desafia o governo, sinais de alerta vêm do Tribunal de Contas da União (TCU) e da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), todos apontando para o Ministério de Minas e Energia.

    Na pauta do TCU está um relatório sigiloso de 114 páginas que esmiúça a forma como o governo Lula já começou atropelando as recomendações dos órgãos internos e até do conselho de administração da Petrobras para nomear como conselheiros dois secretários do ministro Alexandre Silveira.

    De acordo com esses colegiados e com os técnicos do TCU, havia um problema grave na indicação do secretário de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, Pietro Mendes, e do então secretário executivo, Efrain Cruz.

    Como integrantes do ministério, eles têm a missão de criar leis e decretos e de executar políticas que afetam diretamente os negócios da Petrobras e podem até prejudicá-los. Como conselheiros, têm a obrigação de zelar pelo interesse da companhia — que é controlada pela União, mas tem milhares de acionistas privados, não raros com objetivos diferentes do governo.

    Para evitar esse tipo de conflito, em março de 2023 o conselho decidiu que o estatuto da empresa e a Lei das Estatais vedavam a participação deles no cargo. Na época, valia a liminar do então ministro do Supremo Ricardo Lewandowski que suspendeu a quarentena para dirigentes de partidos ou detentores de cargos eletivos, mas os comitês da Petrobras e os técnicos do TCU concluíram que a situação dos “silveirinhas” não era coberta pela medida — que, aliás, já foi derrubada pelo próprio STF.

    O governo, porém, usou sua maioria na assembleia para impor os dois e ainda nomeou um terceiro secretário de Silveira — Vitor Saback, de Geologia, Mineração e Transformação Mineral. Nenhum deles renunciou aos cargos na Esplanada. Mendes virou presidente do conselho, e Saback continua lá. Só Cruz deixou o ministério e a Petrobras, depois de uma disputa até hoje mal explicada com Silveira.

    O problema dos conflitos de interesse não é novo. Virou tema de lei depois do trauma do petrolão e do prejuízo de R$ 100 bilhões causado pelo subsídio no preço dos combustíveis que a Petrobras foi obrigada a bancar nos anos Dilma Rousseff.

    Neste governo, o intervencionismo na área energética voltou a ser adotado como método. No final de agosto, quase dois meses depois de ter colocado na praça uma Medida Provisória que possibilitou a compra das termelétricas da Eletrobras na Região Norte pela Âmbar, dos irmãos Joesley e Wesley Batista, Silveira ameaçou intervir na Aneel.

    O principal motivo é justamente a demora da agência em editar normas que permitam à empresa dos Batistas assumir também a principal cliente das usinas, a Amazonas Energia — um mico bilionário que só se torna viável com muito subsídio.

    O órgão regulador resiste a autorizar a subvenção de R$ 15,8 bilhões que a Âmbar pede — e que seria paga na conta de luz pelos consumidores. Para a Aneel, o limite seria de R$ 8 bilhões. Na segunda-feira, uma decisão da Justiça Federal no Amazonas deu 48 horas para a agência autorizar a transferência do controle da Amazonas Energia à Âmbar, mas ela deve recorrer.

    O impasse dificulta a vida dos Batistas, isso é certo. Mas, se o ministro acredita que a Aneel é inepta ou está capturada por algum interesse escuso, é preciso deixar isso bem claro e negociar uma saída republicana. Intervir não só seria algo inédito e impróprio, como levantaria dúvidas legítimas sobre a razão de tanta urgência.

    Outro ramo em que o ministro tem pressa é a ampliação da oferta do gás do pré-sal no mercado. Silveira sempre defendeu reduzir a quantidade de gás reinjetado nos poços de petróleo e liberar o insumo para gasodutos. Hoje as petroleiras decidem quanto é reinjetado em cada área, a partir de cálculos complexos de custo e produtividade.

    Como não conseguiu convencê-las a mudar esses índices, Silveira editou um decreto autorizando a Agência Nacional de Petróleo (ANP) a fazer isso na base da canetada.

    O secretário responsável pelo decreto — o mesmo Pietro Mendes que preside o conselho da Petrobras — afirma que tudo será negociado e que a lucratividade dos campos será respeitada. Pode ser, mas melhor seria que ele não precisasse explicar a qual senhor servirá nesse imbróglio — ao governo ou à Petrobras.

    Quem acha que é tudo a mesma coisa ou que tanto faz não aprendeu nada com os erros do passado

  14. APOSTAS SEM CONTROLE AVANÇAM OS MAIS VULNERÁVEIS, editorial do jornal Folha de S. Paulo

    Análise do Banco Central mostra que beneficiários do Bolsa Família gastaram R$ 3 bilhões em bets pelo Pix em agosto, o que representa 20% do total repassado pelo programa federal naquele mês. No total, os brasileiros transferiram R$ 21,1 bilhões desse modo a apostas online no período.

    O montante real é provavelmente maior, pois o BC não considerou pagamentos realizados com cartões de crédito e débito.

    O dado é assustador, dado que os beneficiários do Bolsa Família provêm dos estratos mais pobres do país, e os valores direcionados às bets podem agravar ainda mais a vulnerabilidade social dessa população.

    Quando se tira da ilegalidade um produto que gera externalidades negativas, a primeira preocupação dos reguladores deve ser a de evitar explosão do consumo. Isso vale para apostas, drogas e outros comportamentos de risco.

    Foi justamente o que os reguladores brasileiros não fizeram. O efeito mais notável da legalização foi a invasão dos meios de comunicação por publicidade de bets —e de um tipo particularmente perverso, insinuando que o serviço é um caminho certo para a ascensão econômica.

    Na realidade, contudo, ocorre o contrário. Bancas de apostas só conseguem pagar prêmios e auferir lucros porque a esmagadora maioria dos jogadores perde.

    Não se trata, por óbvio, de voltar ao statu quo anterior. O fracasso da guerra às drogas mostra que o proibicionismo é uma política pública fracassada. No entanto é possível —e imprescindível— endurecer a regulação.

    A providência mais urgente é restringir severamente a publicidade, ação prevista pela Constituição e aplicada há décadas em relação ao tabaco e ao álcool.

    A exemplo dos alertas em maços de cigarro, também é possível obrigar as bets a exibir em seus sites e aplicativos uma página introdutória que explique aos apostadores que suas chances reais de ganhar dinheiro ali são ínfimas.

    Isso, é claro, sem prejuízo de outras medidas adotadas em diversos países que se mostraram capazes de reduzir o fardo do jogo, tanto em seus aspectos sanitários quanto econômicos.

    Não menos importante é a questão dos impostos. As bets são hoje tributadas em só 12% —e os jogadores ainda pagam 15% sobre o valor dos prêmios. É pouco, dadas as consequências negativas da atividade. Seria o caso de rever para cima essas alíquotas.

    Há situações em que impostos muito altos empurram o negócio para o mercado ilegal, mas esse não parece ser o caso do jogo.

    A operação depende de transferências monetárias eletrônicas sobre as quais o BC tem grande controle —não se pode fazer Pix para o exterior e poucos têm acesso a cartões de crédito internacionais ou bitcoins.

    A melhor política, de fato, não é a proibição das bets. Mas o poder público precisa aperfeiçoar a regulação para modular as externalidades, em prol principalmente da população mais vulnerável.

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