O pré-candidato a prefeito de Gaspar, Oberdan Barni, pelo Republicanos, partido que em Santa Catarina foi tomado nas últimas semanas pelo PL do ex-governador Carlos Moisés da Silva pelo atual governador Jorginho Melo – num acordo com a Executiva Nacional do Republicanos e dado ao deputado Federal por Rio do Sul, Jorge Goetten, exatamente por estar com sérios problemas de relacionamento com a ala mais radical do bolsonarismo – deputado que aqui tem o pré-candidato a vice-prefeito pelo PL, Rodrigo Boeing Althoff, como cabo eleitoral -, pode ter caído por causa disso numa armadilha.
Desde ontem, com chuva, impróprio para este tipo de coleta de dados, está na praça uma pesquisa do PL para “decidir” quem é o candidato a prefeito em Gaspar: se o do PL com o delegado Paulo Norberto Koerich ou do Republicanos, o empresário Oberdan Barni. Oberdan queria uma pesquisa com um instituto da confiança dele como contraprova a pesquisa do PL. A proposta foi rejeitada. Bingo.
A resistência de Oberdan – que foi sistematicamente sendo isolado, mesmo em outros tempos tendo apoiado diretamente Jorginho Melo, como mostra a foto abaixo – em continuar pré-candidato, coincidentemente, impediu as candidaturas do PL de Gaspar de evoluírem como o planejado. Como registra a foto de abertura, o grupo rotulado como conservador até tentou criar uma candidatura única. Mas, desde o início estava claro que ela teria que ser do PL. Por isso, o primeiro a pular fora desta armação foi o Novo, de Ednei de Souza.
Ao mesmo tempo, os empresários gasparenses que apoiam o atual governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, e Marcelo de Souza Brick, PP, mas agora estão com o PL e não querem esta continuidade para se limparem desta mancha, vingar-se de pleitos que fizeram e não conseguiram por má gestão municipal, também bateram em retirada tática para não serem eles os espantalhos desta malhação.
Por outro lado, os que estão no velório do governo Kleber e apoiam, por obrigação funcional ou partidária, Marcelo para ser a continuação de Kleber ganharam um fôlego com esta manobra do PL da Capital e Blumenau. Até o PT acha que pode ser vantagens nestes supostos 1%, repito, 1% que todos dizem Oberdan possuir na corrida eleitoral. Tantas brigas e manobras desde Brasília só por 1%? Estranho.
O sistema que governa Gaspar nos bastidores por quase 40 anos não quer um intruso entre eles. E Oberdan se tornou este intruso. Então o sistema resolveu investir contra Oberdan. O tal 1% é uma forma de dizer que ele não é bem-vindo à disputa. E se possui só esta miséria na pesquisa de verdade e que não se divulga, mas se inventa para as conversas no particular e nas mensagens fakes dos aplicativos de mensagens, temem o estrado de Oberdan nos palanques e debates contra os candidatos, se houver.
Tanto o PT como o PL já se manifestaram nos bastidores que não querem debater as ideias entre eles publicamente em Gaspar como foi feito em eleições anteriores. Quem agradecerá, se isto acontecer será Kleber, Marcelo e os empresários apoiadores.
ANTES DO ELEITOR, OS DONOS DA POLÍTICA FAZEM O PACOTE PRONTO ANTES DO REGISTRO DAS CHAPAS
Se a decisão de rifar Oberdan já está tomada em Florianópolis – e Blumenau, onde o ex-vereador Egídio Beckhauser de lá e candidato a deputado estadual – é o representante regional e já está coligado na chapa bolsonarista de lá -, qual a razão da encenação da pesquisa? “Eu não vou me render. Eles vão ter que me abater e arcar com as consequências“, insistiu Oberdan ao saber ontem da armação.
Oberdan já tinha consentido em transformar a convenção do dia 27, sábado da semana que vem, em pré-convenção do Republicanos em Gaspar, por uma ordem estranha do diretório estadual de que todas as convenções do partido em Santa Catarina fossem realizadas nas duas últimas datas possíveis do calendário eleitoral, ou seja, dias cinco e seis de agosto. Analistas, avaliam que esta esperteza unilateral é para o enfraquecimento das chapas do Republicanos nos diversos municípios, com a rendição incondicional, facilitação à aderência no papel de coadjuvante nas atas do Republicanos ao PL.
Quem ganha com a saída de Oberdan Barni, Republicanos, da disputa em Gaspar?
Provavelmente o PT que já está fortalecido porque o PL de Gaspar, Blumenau e Florianópolis ainda não sabe até agora o que fazer para virar este jogo. Em Gaspar, a eleição é diferente. Exatamente por essas manobras, criou-se uma “entidade” acima de PT, Lula ou deputada Federal Ana Paula Lima que disputará a corrida em Blumenau, chamada Pedro Celso Zuchi e seus três mandatos. E o PL gastou o seu tempo até agora não exatamente com este adversário, mas com as manobras de enfraquececimento o seu próprio campo ideológico, se é que existe este campo por aqui.
Com isso, o PL e Gaspar, principalmente, perde a possibilidade de experimentar a mudança e o novo. E quem perde de verdade? Perde o governador Jorginho Melo, onde morou por aqui, e seu apadrinhado Bernardo Leonardo Spengler Filho, presidente do PL com raízes no velho MDB. Perde o PL que ficará com a marca de quem cortou a cabeça de Oberdan, sem dó e piedade por pura birra e na busca isolada do poder a qualquer custo. Se pensava ficar mais forte, provavelmente, o PL sairá mais enfraquecido do que está.
E se Oberdan vingar onde o PL que está aí com esta manobra vai descarregar os votos? No Oberdan? Difícil! Mais uma vez o PT e Marcelo ficam na espreita para os agradecimentos se a candidatura de Oberdan não for transversal no ambiente de todeos os partidos. Muda, Gaspar!
TRAPICHE
Como desfunciona I – Este é mais um caminhão entalado na avenida Cidade de Gaspar que liga as avenidas Francisco Mastella e Frei Godofredo – e que teve o quilometro mais caro para fazê-la há três anos: R$12 milhões. Há uma super e perigosa “lombada” criada pelo adensamento do leito desta “avenida”. A obra está na garantia de cinco anos. E ninguém na prefeitura de Gaspar é capaz de acionar a Progresso Ambiental para corrigir este e muitos outros defeitos.
Como desfunciona II – Enquanto não houver um acidente grave e com vítimas fatais neste local do Anel de Contorno de Gaspar, cujos familiares cobrarão indenização da prefeitura de Gaspar e ela pagará com os pesados impostos de todos os gasparenses, nada será feito. Tudo está à vista de todos, só parece não estar para o prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, o vice Marcelo de Souza Brick, PP, e o secretário de Obras e Serviços Urbanos Douglas Francisco Muller, MDB.
Como desfunciona III. Quem explica é o advogado e vereador, ex-líder do MDB, ex-líder do governo Kleber Edson Wan Dall, MDB, ex-secretário de Saúde de Kleber, Francisco Hostins Júnior, PL. Lembram daquela compra das floreiras, suportes e bueiros inteligentes que encalharam nos depósitos da secretaria de Obras e Serviços Urbanos? Pois a prefeitura de Gaspar não tinha implantado ainda nenhum desses equipamentos na cidade e resolveu fazer um aditivo para comprar mais. Incrível. Não é a toa que o governo correu da proposta de se criar uma CPI sobre o assunto.
Como desfunciona IV- O que o governo alegou para comprar mais daquilo que nem tinha disponibilizado na cidade para os cidadãos e cidadãs? Demanda. Ou seja, o que tinha comprado não era suficiente e avaliou isso por supostamente instalado tudo o que já tinha comprado. Nada para em pé nesta estória mal contada. Daí a tentativa frustrada da prefeitura de calar a boca, com punição por suposta falta de decoro parlamentar pelos próprios vereadores fiéis do governo do quem foi atrás disso, o vereador Alexsandro Burnier, PL. E voltou rapidamente atrás da ideia depois que viu que os tiros tinham saído pela culatra.
Como desfunciona V – A prefeitura, segundo vereador Dionísio Luiz Bertoldi, PT, comprou cerca de R$50 mil em plantas para colocar, as pressas, nas floreiras e diminuir o escândalo que tomou conta da cidade. R$50 mil e todas já estão muchas, sem flores ou desaparecidas? Quanto vai custar dos bolsos dos gasparenses, realmente e de verdade, à manutenção desse troço mal planejado e arranjado?
Enquanto a prefeitura de Gaspar ganhava do governo Federal mais uma ambulância, um paciente em tratamento de câncer levado a Blumenau, devido as intercorrências, obrigou a família a interceder junto ao papa para conseguir uma ambulância no período noturno para trazê-lo de volta, depois de recuperado e estabilizado. Há numa guerra surda, por décadas, por plantões de ambulância aque geram horas extras e sem que sejam usadas, quando há alternativa para isso (Anjos da Vida), em casos de emergência.
Treta I – A prefeitura de Gaspar montou uma solenidade no Alto Gasparinho para dizer que vai pavimentar a Rua Itália – uma rota gastronômica e Lazer da italianada de lá. A prefeitura prometeu há oito anos isso. Tomou até empréstimo. E nada. Agora, vários deputados estaduais e federais arrumaram verbas e a prefeitura deu a entender que estava cumprindo a promessa dela.
Treta II – Na solenidade, não foi permitida a fala dos vereadores que conseguiram a verba e os que se dizem ou são representantes da região. O rosário de reclamação começou com Dionísio Luiz Bertoldi, PT, e terminou com uma paulada do mais longevo dos vereadores e presidente da Câmara, José Hilário Melato, PP. Ele culpou diretamente a presidente do MDB por essa intencional exclusão. Ela estava ao lado de Melato na mesa diretora da Câmara quando interferiu no pronunciamento de Dionísio. Zilma, citada, ficou em completo silêncio. Então…
Nova capela mortuária para substituir ao que hoje parece ser mais uma catacumba mal cuidada no cemitério do bairro Santa Terezinha. O anúncio foi feito pelo líder do governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, e Marcelo de Souza Brick, PP, na Câmara, Francisco Solano Anhaia, MDB. Ele culpou o estado em que ficou a atual capela mortuária aos sucessivos administradores que vieram depois do ex-prefeito Luiz Fernando Poli (1977/83 e 1993/96), sem partido, e que a construiu.
Francisco Solano Anhaia, MDB, esqueceu que o atual governo demorou quase oito anos para tomar a iniciativa que ele anunciou. A reforma, por enquanto, ainda está no papel e apenas alimenta discursos para se contrapor às cobranças dos cidadãos e cidadãs gasparenses indignados com aquilo que mais parece uma catacumba mal assombrada.
Mudou. Dionísio Luiz Bertoldi, PT, jurava que era o último mandato de vereador e só voltaria ser testado nas urnas para prefeito. Já está vestido de candidato a vereador novamente. O problema é que a legenda do PT em Gaspar ficou fraca.
Tem funcionário na prefeitura de Gaspar que se licenciou para ser candidato a vereador do bloco que governa o município. Desde então, não passa um dia fora do local de trabalho. E em campanha, usando a estrutura do local de serviço. Muda, Gaspar!
14 comentários em “PL MANDA FAZER PESQUISA EM GASPAR PARA ESCOLHER ENTRE PAULO KOERICH E OBERDAN BARNI, REPUBLICANOS, MAS ELA NÃO TERÁ VALIDADE NENHUMA. A ESCOLHA JÁ ESTAVA FEITA EM FLORIANÓPOLIS PELO PL E JORGINHO MELO ANTES MESMO DA PESQUISA IR À PRAÇA AQUI”
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O MEDO DAS URNAS, por Merval Pereira, no jornal O Globo
Mesmo que Maduro não fosse seu candidato preferido, o presidente Lula estaria agora mais empenhado do que nunca na sua vitória, para não ter que enfrentar o dilema de quem se mete a apoiar ditadores: evitar o “banho de sangue” prometido pelo ditador venezuelano em caso de derrota. Caso ela venha, o que não parece impossível a esta altura, o presidente brasileiro, que se diz um democrata, terá que intervir para que a Venezuela não se torne uma ditadura escancarada.
Não que Lula não apoie ditaduras, como mostra seu comportamento com Cuba, ou Nicarágua. Esses três exemplos, aliás, são de países que fizeram revoluções de esquerda para afastar governos autoritários de direita, presumidamente para defender o povo explorado. No que foram apoiados entusiasticamente em determinado momento histórico. Agora são eles os ditadores de esquerda que exploram o mesmo povo. De heróis passaram a vilões, e colocam governos como o de Lula em uma enrascada: como dizer-se um democrata quando os amigos se tornam ditadores?
Lula, sem ter o que dizer diante da ameaça de Maduro de que sua derrota poderá gerar “um banho de sangue”, saiu-se com essa: “Eles que elejam quem eles quiserem”. Como assim, se os principais líderes oposicionistas da Venezuela estão presos ou impedidos de disputar a eleição presidencial? Mesmo assim, o oposicionista que sobrou, Edmundo Gonzales, tem chances reais de vencer as eleições, e por isso Maduro espalha suas ameaças dias antes do pleito.
O assessor especial de Lula para assuntos internacionais, Celso Amorim, que hoje assume o papel que um dia já foi de Marco Aurelio Garcia quando Amorim era o chanceler brasileiro, tentou amenizar a fala de seu malvado preferido, dizendo que Maduro se expressou mal ao falar em “banho de sangue”, quando queria se referir à luta de classes. Mesmo que tivesse sido um ato falho, revelaria o que Maduro pensa da “luta de classes”, uma associação da guerra como a continuidade da política por outros meios, como já disse Clausewitz.
Fica cada vez mais difícil para o governo brasileiro sustentar que na Venezuela há “democracia até demais”, como já disse Lula. Uma frase como a dita por Maduro elimina qualquer possibilidade de classificá-lo como “um democrata”, ou seu governo como uma “democracia”. O “banho de sangue” prometido, quando as pesquisas eleitorais mostram a oposição com praticamente 60% dos votos, pode vir a ser uma desculpa para adiar as eleições do dia 28, o que escancararia o caráter simplesmente simbólico da ida às urnas, pois o resultado contrário ao governo não seria aceito.
Já o fato de não ser possível a Maduro organizar uma eleição em que ele não correria chance de perder, como fazem outras ditaduras pelo mundo, já é sinal de sua fraqueza política. Se saberá qual a fortaleza militar quando se aproximarem as eleições, e as pesquisas continuarem a prever uma vitória da oposição longe de um empate técnico.
É certo que o pragmatismo na política externa é incontornável, por isso a chamada maior democracia do mundo, os Estados Unidos, se submetem a uma relação assimétrica com a Arábia Saudita, por exemplo, tendo dado imunidade ao ditador Mohammad bin Salman, acusado pelo assassinato do jornalista Jamal Khashoggi. Mas, pelo menos, os órgãos de inteligência dos Estados Unidos desvendaram o caso e divulgaram relatórios, e nunca nenhum dirigente americano garantiu que a Arábia Saudita era uma democracia. É compreensível que o governo brasileiro, qualquer governo que se guia pelas regras internacionais, precise manter sua liderança na América do Sul, mas para tal não é preciso assumir as vergonhosas ações das ditaduras
GODOY ESMIÚÇA OS SEGREDOS DO PCB, por Elio Gaspari, nos jornais O Globo e Folha de S. Paulo
Está chegando às livrarias “Cachorros”, do repórter Marcelo Godoy. É um grande painel da história do Partido Comunista Brasileiro, com seu chefe, Luís Carlos Prestes, ilustrado por um verdadeiro romance policial: a dupla militância de Severino Theodoro de Mello, o Pacato ou Melinho, morto em maio passado, aos 105 anos. Era um cabo do Exército quando participou do levante comunista de 1935. Cuidou do aparelho onde vivia Prestes, morou na União Soviética e tornou-se um dirigente do PCB; era um contato de agentes soviéticos no Rio. Essa vida começou a mudar no dia 10 de maio de 1966, quando ele caminhava por Copacabana e foi abordado por um agente do Serviço Nacional de Informações, o SNI. (Ele era o quarto dirigente contactado pelo serviço brasileiro, ou americano. A clandestinidade do PCB era uma fantasia.)
Em 1974, o que parecia uma trégua tácita entre a “tigrada” do regime o PCB começou a acabar. Pacato foi capturado na rua, levado para um aparelho clandestino e lá conheceu o capitão Ênio Pimentel, o Doutor Ney. O jogo era claro: virava informante ou morria. Da Casa de Itapevi (SP) saiu o agente Vinícius e começou a segunda militância. (O cabo José Anselmo dos Santos, colocado diante do mesmo dilema, achou que podia enganar o delegado Sérgio Fleury, até que ele lhe mostrou a notícia de que havia morrido, enquadrou-se e viveu até 2022, quando morreu, aos 80 anos.)
Melinho/Vinícius operou sem deixar pistas. Viajou a Moscou. Em 1996, quando um ex-sargento do CIE o identificou, muita gente não acreditou. Até então, recebeu duas mesadas, uma do Centro de Informações da Aeronáutica e outra do Socorro Vermelho, do PCB.
Marcelo Godoy já havia publicado “A Casa da Vovó”, o melhor retrato conhecido do DOI de São Paulo, com seus agentes e execuções. “Cachorros” superou-o. (O livro trata superficialmente de outros infiltrados, em outras organizações, que mesmo tendo prestado serviços, não tiveram a penetração nem a durabilidade de Vinícius.)
Godoy se move com documentos e segurança por arquivos brasileiros, americanos e soviéticos. Num campo minado por demonizações, ele ouviu comunistas, policiais e militares com o rigor de um repórter. Manteve o equilíbrio lidando com rivalidades que separaram tanto os serviços do governo quanto as organizações de esquerda. Salvo o caso da Guerrilha do Araguaia, do qual não trata, Godoy ilumina todos os mistérios dos porões da ditadura e os segredos do Partidão.
Uma de suas melhores fontes foi o ex-sargento da FAB Antônio Pinto, o Doutor Pirilo, ou ainda o pesquisador Carlos Ilich Santos Azambuja, morto em 2018. Durante três anos, conversaram e trocaram mensagens. Ele foi um dos fundadores do Centro de Informações da Aeronáutica e Godoy transmite seu veredito:
“Doutor Pirilo contou que o extermínio da cúpula do partido foi uma política que ‘veio de cima’, não era apenas uma cultura de linha de frente; os agentes do CIE ‘cumpriam ordens’”.
Outros agentes disseram o mesmo.
Severino Theodoro de Mello completou 100 anos em 2017. Saía pouco de seu apartamento em Copacabana. Em junho de 2023, o Exército suspendeu os proventos de capitão reformado que lhe pagava. E Godoy conclui:
“Não deixou uma única palavra sobre eles em suas memórias. Só tratou de seu papel no desmantelamento do PCB ao ser autorizado por Pirilo. Obedeceu ao amigo até o fim. Tinha 105 anos. Sobrevivera a quase todos os que testemunharam a sua história.”
LULA E TRUMP
Se Donald Trump se eleger, Lula ficará com dois espinhos, incluindo o argentino Javier Milei ao sul. Ele poderia ficar com suas incontinências verbais restritas aos corintianos.
Quando ele comentou a fotografia do atentado a Trump, saiu-se com essa:
“Eu sinceramente acho que o Trump vai tentar tirar proveito disso. Aquela foto dele com o braço erguido, aquilo, se fosse encomendado, não sairia melhor. Ele vai explorar isso.”
Imagine-se como ficaria a relação do Brasil com o presidente americano se, em 1963, John Kennedy tivesse se livrado dos dois tiros e o presidente brasileiro João Goulart dissesse uma dessas.
OUÇAM MARCOLA
Lula manda recados aos seus ministros com a ajuda de vários personagens do Palácio.
Alguns exageram e outros não contam tudo. Convém que não se perca uma só palavra do que vem através de Marco Aurélio Santana Ribeiro, o Marcola, de 36 anos. Está ao lado de Lula há sete anos.
A CHAVE DO COFRE
De um ministro:
“Se o governo decidir cortar gastos, ótimo. Mas se o Planalto não quiser empurrar o dólar ou a desconfiança, menos gente falando em gastos inevitáveis já será uma ajuda.”
De um papeleiro:
“O governo fala num corte de custos e ouvem-se corvos dizendo que talvez não sejam suficientes. Que tal insistir na cobrança do que está sendo prometido? É isso, ou dar razão às falas catastróficas de Lula.”
JOE BIDEN
Joe Biden arrisca virar um presidente americano de um só mandato. O grande mistério estará em contar como ele destruiu quatro anos de governo em menos de um mês.
É verdade que a sorte não o ajudou.
BOB DYLAN
Donald Trump diz que tem Deus ao seu lado, e o fato de ter saído vivo do atentado mostra que é pelo menos um homem de muita sorte.
Deveria deixar Deus de fora, até porque, faz tempo, o poeta Bob Dylan cantou:
“Judas Iscariotes tinha Deus ao seu lado.”
BANCO CENTRAL
Quem acompanhou as discussões na área política do governo sobre a possível autonomia do Banco Central está assombrado com a ignorância dos doutores em relação aos detalhes da iniciativa.
Como se trata de um assunto cheio de minúcias técnicas, o que mais se ouve é um bordão:
“Isso a gente resolve depois.”
É engano.
REPÚBLICA DE CURITIBA
Em 2014 alguns çábios poderosos espetaram grampos na cela do contraventor Alberto Youssef.
Foram descobertos e denunciados. Em vão.
Passados dez anos, a defesa do cidadão conseguiu o acesso a 210 horas de conversas.
Mais uma cruz para ser carregada pelo doutor Sergio Moro e sua equipe de voluntariosos procuradores.
Só falta que do funeral da Lava-Jato saia mais um herói, o doutor Youssef.
LULA E URSULA
Lula está sem sorte. Num dia, disse que o acordo do Mercosul com a Europa está parado na mesa de Ursula von der Leyen, a presidente da Comissão Europeia.
No dia seguinte a senhora reelegeu-se para um novo mandato de cinco anos.
MADURO E SUA ENCRENCA
Nicolás Maduro subiu o tom de suas ameaças diante dos maus presságios para a eleição venezuelana.
Como foi uma atitude inesperada, porém previsível, a oportunidade é boa para que o governo brasileiro experimentasse um período de silêncio em relação ao amigo.
Silêncio é o que mais tem faltado à diplomacia de Lula 3.0.
Para a administração de Kleber e Marcelo lerem. Mas, isto é herança do PT de Zuchi contra os gasparenses. A culpa está na tal sociedade organizada e nas instituições de defesa dos cidadãos que deviam que não existem, e se existem, estão omissas como o TCE, o MP… Este assunto é recorrente aqui, há décadas.
FORA DA LEI, PREFEITURAS NÃO TÊM TRANSPARÊNCIA, editorial do jornal Folha de S. Paulo
Grande parte das prefeituras brasileiras exibe em seus portais na internet verdadeiras peças de ficção a fim de burlar a legislação que as obriga a prestar contas com transparência aos cidadãos. Tanto no que se refere à administração das taxas e impostos que arrecadam quanto ao detalhamento orçamentário e execução de obras.
O engodo fere frontalmente a Lei de Responsabilidade Fiscal, de 2000, e lei complementar subsequente de 2009 que obrigam as prefeituras, assim como os estados e a União, a disponibilizar documentos e demais informações, em tempo real e de forma minuciosa, sobre a execução orçamentária.
Levantamento recente da ONG Transparência Brasil sobre o tema revelou que, mesmo entre as capitais, três em cada quatro apresentam níveis “regular” ou “ruim” de transparência em aspectos como execução de emendas parlamentares, andamento de obras públicas e valores pagos, entre outros.
Assim, cerca de 21,4 milhões de pessoas —o equivalente à população de Minas Gerais— vivem em capitais com índices inadequados de livre acesso a dados públicos.
A pesquisa mostrou que apenas Vitória, no Espírito Santo, alcançou classificação “ótimo” no ranking, com nota 98,6 (em escala de 0 a 100). Nos últimos anos, o estado capixaba notabilizou-se como exemplo para o país no que se refere ao ajuste das contas públicas e a boas práticas administrativas.
São Paulo, a maior cidade brasileira, obteve 78,9 pontos e ficou em terceiro lugar, antecedida por Recife (79) —ambas com a classificação “bom”. As seis piores (“ruim”) estão no Norte e Nordeste: Natal, Rio Branco, Boa Vista, Belém, Teresina e Macapá.
Outro levantamento abrangente sobre a qualidade dos portais das prefeituras realizado pelo Tribunal de Contas da União (TCU), entre 2021 e 2022, avaliou 2.376 municípios em oito estados.
Nada menos que 66% dessas cidades não possuíam ferramenta adequada. E muitas das que as tinham não proporcionavam o direcionamento para dados ou informações de contratos, tal como a legislação exige, apenas conduziam o usuário do site a notícias da imprensa sobre o município.
Apesar de realizar outros trabalhos para estimular as prefeituras a divulgar informações de forma sistemática, o TCU reconheceu que há muitos desafios a serem enfrentados, à época do extenso levantamento de 2021-2022.
Em ano de eleição municipal, é fundamental que o tema seja abordado com seriedade pelos órgãos de fiscalização como o TCU e os tribunais de contas estaduais e municipais, além das câmaras de vereadores, assim como nos debates entre os candidatos.
O RISCO DE COMPLICAR, por Carlos Alberto Sardenberg, no jornal O Globo
Há pelo menos duas décadas, a reforma tributária está na pauta política e econômica. Pode-se entender isso como perda de tempo, a versão pessimista. Faz sentido. Os temas se repetiram demasiadamente. Parecia impossível chegar a uma decisão, a um projeto abrangente de reforma. Até surgiram alguns, mas não pegaram embalo. Mas há também uma versão mais esperançosa. Foi o tempo necessário para decantar as propostas e chegar a um entendimento sobre as bases da reforma.
Fiquemos com essa última linha, pois o Congresso Nacional acaba de aprovar uma abrangente reforma dos impostos sobre o consumo. Caminhamos, portanto, para uma mudança por acumulação, não por ruptura. Mesmo porque, depois de tudo aprovado, será implantada ao longo de dez anos. Mais ainda: o texto básico é exatamente do que o Brasil precisa. Simplifica o sistema, facilitando a vida das empresas, torna-o mais eficiente e justo.
A carga tributária no Brasil tem ficado em torno dos 33% do PIB. É alta, sim. Muita gente, especialmente do governo, compara com os países da União Europeia, onde os impostos arrecadados representam 41% do PIB. Mas eles são ricos e há muitos anos constroem o regime do bem-estar, que, lá, funciona. O Brasil deve ser comparado a países emergentes, com que compete por investimentos e negócios. Nesses pares, a carga nem chega perto dos 30%.
Nossa reforma não diminuirá os impostos. Todos os governantes sempre alegaram que não podem perder receitas, dados os compromissos estruturais de gastos. Já estará bom se a reforma não aumentar a carga — é o objetivo do texto básico aprovado no Congresso. A ver se não surge uma mão de gato para arranjar mais impostos na votação e aplicação da regulamentação.
O ganho da simplificação é inegável e, ao que parece até aqui, definitivo. Reúne cinco impostos —três federais, um estadual e um municipal — num Imposto de Valor Agregado, não cumulativo, cobrado em duas instâncias. Teremos, com legislação nacional, uma só, a Contribuição sobre Bens e Serviços, cuja arrecadação vai para o governo federal, e o Imposto de Bens e Serviços, para estados e municípios.
Hoje, só para pagar o ICMS, estadual, as empresas lidam com 27 códigos e regras diferentes para os 26 estados e o Distrito Federal. E o ISS, municipal, pago em cada cidade? É possível que, sobre um mesmo negócio, a empresa tenha de pagar cinco vezes, em cinco documentos de arrecadação.
A mudança elimina um enorme obstáculo ao desenvolvimento — o cipoal tributário que consome tempo, dinheiro e energia das empresas aqui instaladas. Traz ganhos de produtividade. Não é pouca coisa. Estudo recente do FMI afirma que uma boa reforma tributária pode aumentar o PIB potencial do Brasil de 0,3 a 0,5 ponto percentual ao ano. Hoje esse potencial está em torno de 2,5%.
Reparem: sem mexer na carga tributária, sem deixar mais recursos nas mãos das empresas, apenas simplificando o sistema, o PIB brasileiro poderia crescer a 3% ao ano. Ainda será menor que a média dos emergentes — em torno de 4% ao ano, segundo o FMI. Mais perto, entretanto, e concorrendo melhor na América Latina.
Eis por que é preciso ficar de olho na regulamentação da reforma em andamento. O texto básico, já aprovado, é bastante bom. Mas os detalhes podem colocar muita coisa a perder. Neste momento, o Congresso debate a legislação secundária que regulamenta a aplicação do novo sistema.
Onde está o risco? Na criação de tantas exceções que deixem o sistema complicado. No geral, ficará assim: há uma alíquota base, talvez de 26,5%, mas alguns setores pagarão menos; outros, mais. Se forem alguns, tudo bem. Se forem muitos, para cima ou para baixo, o regime fica bem mais complicado.
Seria impossível ficar tão complicado quanto o atual sistema, mas se perderia boa parte da virtude da simplificação. E, pois, de PIB real.
Estou de alma lavada, mais uma vez. Para o governador Jorginho Melo, PL, ler e agir. Está na cara de todos. Quer vender a Santa Catarina turística na Europa se não faz a lição de casa mínima aqui, a balneabilidade dos balneários, se não se desfaz de uma ineficiente e descapitalizada empresa de saneamento, mas empregadora de políticos. O estadista Tarcísio gomes de Freitas, Republicanos, peitou a sua própria máquina, os sindicatos, os estatistas de sempre da esquerda do atraso e acaba de privatizar a Sabesp que de longe era muito mais eficiente operacional e tecnicamente do que a Casan
POLUIÇÃO NAS PRAIAS REFLETE A PENÚRIA DO SANEAMENTO BÁSICO NO BRASIL, editorial do jornal O Globo
Quase quatro anos depois da aprovação do Marco do Saneamento Básico, os avanços ainda são insuficientes para atingir as metas definidas para universalizar o acesso a água e esgoto no Brasil. De 2019 a 2022, a proporção do esgoto tratado no país passou de 49% para 52%, segundo o Sistema Nacional de Informações de Saneamento do Ministério das Cidades. É um índice ainda vergonhoso diante do objetivo de tratar 90% até 2033. Ao todo, 90 milhões de brasileiros não têm acesso a coleta de esgoto, e 32 milhões a água potável.
Uma das consequências nefastas da evolução lenta na coleta e no tratamento de esgoto é o estado lastimável das praias brasileiras. Um levantamento do GLOBO com base nos últimos dados disponíveis para dez estados — Pará, Maranhão, Ceará, Pernambuco, Bahia, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Santa Catarina — constatou que 36% dos 1.035 pontos analisados na costa estão impróprios para banho.
O levantamento mostra que mesmo em áreas turísticas, em que se supõe haver a preocupação em manter o mar despoluído para atrair mais visitantes, o saneamento não é prioritário. Fica evidente a falta de visão de governadores e prefeitos que não acompanham o crescimento urbano com a necessária expansão da infraestrutura. Se o país universalizasse coleta e tratamento de esgoto até 2040, poderia atrair mais R$ 80 bilhões apenas com o turismo, revela estudo do Instituto Trata Brasil.
Pernambuco, estado em pior situação no levantamento, com 63% das praias poluídas, permitiu, nos anos 1970 e 1980, a ocupação desordenada do Litoral Norte do estado, sem a expansão da estrutura de saneamento. O risco é o próprio turismo se retrair se nada for feito para resolver o problema. Em Santa Catarina, já existem regiões em colapso devido ao crescimento da população sem a ampliação da estrutura de saneamento básico, segundo o oceanógrafo Marcus Polette, da Universidade do Vale do Itajaí. Balneário Camboriú, Itapema, Porto Belo e Navegantes também recebem a pressão do fluxo de turistas.
Com o Marco do Saneamento, abriu-se um espaço mais amplo à atuação de empresas privadas. De acordo com o Plano de Saneamento Básico, é necessário um investimento mínimo de R$ 231 anuais por habitante para universalizar coleta e tratamento de esgoto. Em 2022, a média foi de apenas R$ 111. Há estados em situação calamitosa, como o Acre, com investimento de R$ 3 por habitante. É verdade que a melhora no saneamento exige tempo, mesmo assim a principal razão para o Marco ainda não ter surtido efeitos na velocidade desejada é a falta de investimento. Cabe aos gestores públicos criar condições para atrair capital privado ao setor. As estatais de água e esgoto já provaram que, sozinhas, não resolverão o problema.
“TAXADD” E AS MENTIRAS SOBRE IMPOSTOS, por Vinicius Torres Freire, no jornal Folha de S. Paulo
Em junho, explodiu uma revolta contra outra tentativa de Fernando Haddad de aumentar impostos, ainda que não mexesse em alíquotas —foi a história do PIS/Cofins. Desde então, se tornou mais intensa a campanha contra “Taxadd”, na qual há mentiras ou distorções sobre os números mais elementares.
Para começar, por triste ignorância, má-fé ou as duas coisas, compara-se a carga tributária bruta do GOVERNO GERAL de vários anos. “Governo geral” quer dizer governo central (federal), governos estaduais e governos municipais.
Seja lá o que se queira dizer sobre a carga de Lula 3 ou do presidente X, o governo federal não é responsável direto pela tributação estadual ou municipal.
Pela estimativa da Secretaria do Tesouro Nacional, a carga tributária bruta foi o equivalente a 32,44% do PIB em 2023. A carga federal foi de 21,99% do PIB. A estadual, de 8,12% do PIB. A municipal, 2,32%. Desde 2010, a carga tributária flutua em torno de 32,3%. O último grande aumento ocorreu nos anos FHC (1995-2002), aliás por feia necessidade.
Note-se ainda que o governo federal não fica com tudo o que arrecada. Por obrigação legal, repassa parte da receita a estados e municípios (em média uns 18% da arrecadação total, na última década), fora as transferências voluntárias.
A carga tributária geral CAIU de 2022 para 2023 (embora a dos municípios tenha aumentado ligeiramente). Carga tributária é apenas uma fração: quanto dinheiro obteve-se com receitas tributárias como proporção do produto da economia (PIB) em um ano. Não tem a ver necessariamente com nível de alíquotas ou criação de impostos.
Em geral, sem aumento de alíquotas ou criação de impostos, a receita tende a crescer um pouco mais do que o PIB em anos em que a economia está acima do potencial, menos quando está abaixo. No longo prazo, receita e PIB crescem no mesmo ritmo.
A receita pode crescer mais porque um setor econômico mais pagador de impostos cresceu mais. Ou, como no caso do Brasil recente, os preços do petróleo foram maiores. A arrecadação de um governo também pode estar sujeita a normas e alíquotas de tributos definidas em administração anterior. O governo não tem controle preciso sobre o tamanho da carga, mesmo se bem livre para aumentar impostos.
Sim, Haddad diz desde 2023 que pretende aumentar a receita do governo federal —a conta do valor da receita é ligeiramente diferente do cálculo da carga tributária, por motivo que não vem ao caso para esta discussão. Por falar nisso, o cálculo oficial da carga é feito pela Receita Federal (ainda não há dados para 2023). A tendência das várias contas é a mesma.
Sem aumento de receita, contenção de despesa e reorganização geral do Orçamento não haverá equilíbrio nas contas públicas.
A receita líquida do governo federal foi de 17,5% do PIB em 2023. A de 2022, 18,4% de 2022; a de 2019, de 18,2%. Receita líquida: arrecadação federal menos transferências obrigatórias para estados e municípios.
Lula 3 aumentou impostos, com anuência do Congresso. Sobre fundos de investimentos de ricos. Diminuiu isenções tributárias de empresas. Etc. Não foi o bastante para que a arrecadação federal aumentasse, como proporção do PIB, o que depende, como se disse, do ritmo de atividade econômica e de cada setor, de preços relevantes, do andamento do mercado formal e informal de trabalho, de mudanças de comportamento de contribuintes etc.
Se Lula 3 têm um bom plano de impostos ou de gastos é motivo para debate. Mas essa campanha é politicagem baixa, muita vez de quem quer passar a conta dos impostos para outrem, mais pobre e sem poder.
É o que se vê também na reforma dos impostos sobre consumo e o que vai se ver em qualquer reforma tributária deste nosso sistema injusto e ineficiente.
LULA NÃO PODE MAIS FUGIR AO IMPERATIVO FISCAL, editorial do jornal O Globo
O Brasil vive uma crise fiscal aguda e, se as medidas necessárias não forem tomadas a tempo, terá de enfrentar um cenário duplamente catastrófico: estagnação no crescimento e alta na inflação. A tarefa inescapável para fugir desse prognóstico é ajustar as contas públicas. Enquanto o governo gastar mais do que arrecada, não haverá conserto. Levando em conta o pagamento de juros da dívida, o buraco supera 6% do PIB. Sem os juros, está ao redor de 1%. Mantida a situação atual, a dívida como proporção do PIB crescerá em todos os anos do atual governo, mesmo que a economia registre expansão anual entre 2% e 2,5%. É real o risco de Luiz Inácio Lula da Silva terminar seu terceiro mandato presidencial com a dívida bruta em 82% do PIB, 10 pontos percentuais acima do patamar de 2022.
Essa é a realidade puramente aritmética, que ele resiste a aceitar. Desde o ano passado, Lula adota um discurso ambíguo em relação às metas estipuladas pelo próprio governo. Ora faz questão de ressaltar seu compromisso com a responsabilidade fiscal, ora põe em dúvida a urgência de cumprir os objetivos. Em entrevista à TV Record nesta semana, voltou à carga: “É apenas uma questão de visão. Você não é obrigado a estabelecer uma meta e cumpri-la se você tiver coisas mais importantes para fazer”. Noutro trecho, aliviou e disse que fará “o que for necessário para cumprir o arcabouço fiscal”.
Como no filme “Feitiço do tempo”, em que os personagens vivem as mesmas situações repetidamente, as declarações de Lula mais uma vez lançaram a Bolsa de Valores para baixo e o dólar para o alto. Foi a preocupação com a desvalorização do real que o motivou a determinar no início do mês o cumprimento “a todo custo” das metas previstas para 2024, 2025 e 2026. Com a intenção de resgatar alguma credibilidade, o governo anunciou o o plano de congelar R$ 15 bilhões no Orçamento deste ano e de enviar ao Congresso corte de R$ 26 bilhões no de 2025.
Nesta quinta-feira, Lula se reuniu com ministros no Palácio do Planalto para discutir os detalhes de um pente-fino nos programas sociais. A iniciativa é positiva, por mostrar que o governo entendeu os limites da estratégia de tentar apenas aumentar a arrecadação. Mas é insuficiente. Em artigo publicado no GLOBO, o ex-secretário do Tesouro Nacional Mansueto Almeida explicou por que reduções tímidas nas despesas não resolverão o problema. “O ajuste fiscal necessário para colocarmos as dívidas bruta e líquida numa trajetória de queda é de pelo menos 3 pontos do PIB (R$ 350 bilhões) — e precisa ser feito ao longo dos anos”, escreveu Mansueto.
O comprometimento de Lula com a responsabilidade fiscal será testado pela resposta a duas questões. A primeira é desvincular despesas de receitas. Os gastos com saúde e educação crescem seguindo a arrecadação. Por óbvio, a solução não é congelar as verbas de duas áreas vitais, mas adotar um novo método para corrigi-las. A segunda questão é desvincular benefícios previdenciários do salário mínimo, cujo reajuste pode superar a inflação. Ambos os mecanismos de correção inviabilizam qualquer ajuste fiscal. Nas palavras certeiras de Mansueto: “Nos demais países, é normal haver despesas que crescem automaticamente com o aumento da receita? Não. É normal que benefícios sociais tenham o mesmo valor que o piso da Previdência? Não. Teremos de rever essas regras”.
DESEQUILÍBRIO DE PODERES, por Merval Pereira, no jornal O Globo
A democracia, não apenas no Brasil, está passando por momentos tormentosos que prenunciam um futuro inquietante. Em consequência, os Poderes da República ganham tons políticos que não se coadunam com o equilíbrio teoricamente imaginado por seus criadores. À medida que os Poderes se envolvem com ações políticas que sempre foram consideradas imorais, até ilegais, elas se transformam em normais, e fica-se com a sensação de que trabalham em comum acordo — um acordo político muito semelhante àquele proposto pelo hoje lobista Romero Jucá, que prenunciou um pacto “com o Supremo, com tudo” para “estancar essa sangria”, referindo-se à Operação Lava-Jato.
Alguns fatos preocupantes mostram que estamos vivendo não mais numa República, ou quase isso, no limite de um governo disfuncional em que, dependendo do momento, um dos três Poderes se impõe e é acobertado pelos outros dois, o que pode ser indicativo de um regime autoritário à vista.
Está acontecendo a mesma coisa nos Estados Unidos, agravada pelo triste hábito de resolver as pendências políticas à bala. Lá, um juiz achou normal que o ex-presidente Trump levasse para casa documentos secretos do governo e anunciou sua decisão às vésperas da convenção que o indicará como o candidato republicano à Presidência. Também lá a Suprema Corte deu recentemente uma interpretação mais flexível a uma lei anticorrupção, admitindo que funcionários públicos podem receber presentes ou dar assessoria a empresas.
Aqui, Bolsonaro acha normal ligar para o chefe da Receita Federal para falar sobre um filho que é investigado. O presidente da ocasião pode escolher o secretário da Receita Federal, mas não tem o poder de interferir nas investigações, especialmente para defender um filho. Isso acontece com realezas das antigas, em que a família do rei é intocável, e não é o que a República pede.
Nas realezas modernas, a intocabilidade já está bastante limitada pela ação dos paparazzi, da imprensa livre e da sociedade, cada vez mais atenta aos abusos. A vontade de normalizar qualquer deslize vai longe, na visão de direita ou esquerda. O presidente Lula acha que pode interferir na Petrobras, que pode indicar políticos aliados para órgãos estatais. Não é o que uma verdadeira democracia pede de seus dirigentes. A tendência de achar que o presidente pode qualquer coisa é anacrônica, fora do que exige uma democracia moderna.
O mesmo acontece com o Supremo Tribunal Federal (STF), que exorbita de suas funções, achando que tem poderes para dirigir as investigações do ponto de vista da maioria eventual naquele momento — sempre uma maioria relativa, dependente da tendência do presidente que nomeia os ministros, entre progressistas, conservadores, de direita ou de esquerda.
Não é possível que os mesmos ministros votem de maneiras distintas sobre o mesmo caso. É preciso um mínimo de coerência para que o cidadão se sinta garantido pela mais alta instância da Justiça brasileira. Um exemplo inquietante é o caso do ministro Alexandre de Moraes, que, a partir do belo serviço prestado na presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em defesa da democracia, convenceu-se de que é intocável — e não apenas ele.
Uma desavença num aeroporto no exterior com uma família de brasileiros transformou-se em caso de segurança nacional. O encarregado da investigação, que considerou o caso de menor gravidade e o arquivou, foi substituído por outro, que viu na discussão em solo estrangeiro um caso sério, a ponto de o procurador-geral da República ter denunciado por calúnia e injúria os membros da família, com base em “expressões corporais”, pois o vídeo não tem áudio.
Não é aceitável, numa democracia, que se ataque fisicamente uma autoridade, mas também é impensável que uma investigação que já fora encerrada mude de direção sem que tenha surgido fato novo. O Congresso, que teoricamente representa o povo brasileiro, tem interesses próprios para tratar com urgência, como a anistia aos partidos que desrespeitaram a legislação que eles mesmos aprovaram. Assim la nave va, desgovernada.
PROBLEMA DE POLÍTICA, por Willian Waack, no jornal O Estado de S. Paulo
Incapacidade política por parte do governo Lula está ajudando a aumentar a decepção de vastos setores da economia com dois grandes temas de forte impacto: desoneração das folhas de pagamento e regulamentação da reforma tributária.
No caso da desoneração comprou-se uma briga com o Congresso na suposição de que o respaldo político e jurídico do STF compensaria a falta de votos do Planalto. O resultado é uma formidável confusão que produziu um limbo contábil para empresas. Nem se fala do mérito da questão, que ficou esquecido.
Técnicos da Receita e do Senado disputam qual o tamanho do buraco que terá de ser coberto por conta de desonerações, mas a questão está no âmbito da política. O Congresso tem uma formidável capacidade de encurralar o Executivo quando se sente encurralado – e é o que acontece no momento.
Não há qualquer chance hoje de aumento de alíquota de impostos para compensar desonerações, tal como sugerido pela Fazenda (leia-se Receita). Não “há clima”, como se diz no Legislativo, para ajudar um governo pouco empenhado em cortar gastos. Despesas criadas pelos parlamentares são parte do problema, mas o governo não sabe pressioná-los.
A questão da regulamentação da reforma tributária é ainda mais complexa do ponto de vista da política. Ela expõe situação que se agrava ao longo de sucessivos governos: a incapacidade do sistema político de equilibrar demandas regionais ou setoriais tendo como horizonte final o conjunto do País.
É bastante óbvio que benefícios de um lado teriam de ser compensados por sacrifícios de outro. Mas o Congresso, onde os puxadinhos dos puxadinhos são erguidos, não tem condições de ser “condutor” nem “árbitro” numa questão dessa magnitude.
Circunstâncias atuais tornaram a situação mais precária. Os mais variados grupos representando setores da economia, categorias profissionais e regiões do País operam com desenvoltura no Legislativo, em ambiente de permissividade. Tributaristas se queixam de demandas pouco republicanas em negociações sobre inclusão ou exclusão de impostos, por exemplo.
A regulamentação da reforma, com seus regimes específicos, exceções e impostos seletivos, ameaça o próprio espírito da reforma e a promessa pouco crível de que não haverá aumento da carga. O “teto” de uma alíquota geral nos 26,5% é ridicularizado por especialistas.
Talvez os operadores políticos do governo, começando por Lula, não tenham percebido o quanto esse ambiente de que “tudo parece que só se complica” impacta na capacidade de dialogar com setores produtivos. Preferem falar de problemas de comunicação. Mas é problema de política, mesmo.
SEM CORTAR AS EXCEÇÕES, BRASIL TERÁ ALÍQUOTA INSUPORTÁVEL, editorial de O Globo
O brasileiro sente diariamente o peso de uma das maiores cargas de impostos do mundo. É com isso em mente que os senadores têm de encarar a regulamentação da reforma tributária. A principal meta deve ser reduzir ao mínimo as exceções à alíquota-padrão total dos impostos sobre serviços e consumo, definindo mecanismos para garantir que ela não passe de 26,5%, patamar estipulado em votação na Câmara.
Os deputados estabeleceram o teto de forma genérica, sem especificar gatilhos para sua manutenção. No formato atual, o texto não garante que o limite será respeitado, abrindo a possibilidade de alíquota-padrão ainda maior — entre os países da OCDE, a média é 19,2%, e o único país com alíquota superior é a Hungria, com 27%. Ao GLOBO, o secretário de Reforma Tributária, Bernard Appy, afirmou que o governo enviará ao Senado sugestões de ajustes para manter os 26,5%.
A Emenda Constitucional da reforma tributária estabeleceu uma avaliação quinquenal dos setores agraciados com alíquotas reduzidas a partir de 2034. Pelo projeto aprovado na Câmara, a revisão foi antecipada para 2031. Além disso, os deputados estipularam o teto de 26,5%. Se em sete anos a projeção for superior, o governo precisaria apresentar um projeto para extinguir parte dos benefícios fiscais.
Como a aprovação desse projeto não é garantida, o Executivo estuda sugerir ao Senado que estabeleça desde já mecanismos para ajuste. Entre as possibilidades, estão a retirada de itens da cesta básica, de setores em regimes especiais ou a diminuição linear das isenções. “Com isso, você teria segurança de que a trava funcionará”, disse Appy. A medida teria a vantagem de deixar o Executivo calibrar as mudanças, evitando o desgaste de negociações que poderiam bloquear a agenda do Congresso.
Na opinião de advogados, porém, empresas que eventualmente perderem benesses podem contestar na Justiça a decisão. A Emenda Constitucional estabeleceu uma avaliação de custo-benefício para os setores agraciados com alíquotas reduzidas, sem menção à trava. Essa é outra questão que governo e Senado terão de examinar. Independentemente da alternativa escolhida para evitar a judicialização, os senadores precisam reduzir drasticamente as benesses distribuídas pela Câmara, do contrário a alíquota brasileira não terá paralelo no mundo.
O governo não tem estimativa fechada de quanto será, mas calcula que apenas a decisão de incluir carne na cesta básica com isenção acarreta aumento de 0,53 ponto percentual. Outras medidas tiveram efeito contrário, como incluir empresas de aposta no Imposto Seletivo, mais alto para coibir produtos e serviços nocivos. O certo é que, ao diminuir a lista de exceções, os senadores reduzirão o percentual que recairá sobre a maioria. Cada vez que um setor obtém alíquota reduzida, aquela paga pelos demais aumenta.
O Senado terá de ser firme e ágil. É preciso aprovar a regulamentação antes do final do ano. Appy lembra que há inúmeras questões técnicas envolvidas nas transformações: “Tem de editar o regulamento, tem de montar todo o sistema tecnológico de cobrança do imposto, e isso depende de lei complementar. A reforma precisa entrar em fase de teste em 2026”. O Brasil não tem tempo a perder para acabar com o atual manicômio tributário, motivo de atraso e vergonha.
A ABIN VIROU UMA PIADA, por Elio Gaspari, nos jornais O Globo e Folha de S. Paulo
Daqui a algumas semanas completam-se 70 anos do atentado em que a guarda pessoal do presidente Getúlio Vargas urdiu o assassinato do jornalista Carlos Lacerda. Mataram um major que lhe dava proteção e abriram uma crise que terminou na manhã do dia 24 de agosto, com o suicídio do presidente.
Em poucas horas, a polícia associou a guarda ao crime. Os pistoleiros haviam contratado um táxi do ponto próximo ao Palácio do Catete, e o motorista apresentou-se. Desde então, os personagens palacianos acham que podem tudo e metem-se em trapalhadas de comédia.
Na última, em agosto de 2020, o então diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem, gravou uma reunião de que participavam o presidente Jair Bolsonaro e o general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional. Tratava-se de articular uma defesa para o senador Flávio Bolsonaro, acusado de avançar sobre os vencimentos de seus assessores.
Passaram quatro anos da reunião, o caso da “Abin paralela” rendeu algumas cadeias, mas as investigações para apurar as rachadinhas continuam na estaca zero. Isso no consumo jurídico, pois a turma que paga impostos sabe muito bem o que vem a ser uma rachadinha e quem delas se beneficia.
Com a redemocratização, a Abin sucedeu ao Serviço Nacional de Informações. Ambos foram criados para atender à necessidade do governo de informar-se, e ambos tornaram-se usinas pretorianas de futricas e atividades impróprias.
A reunião de agosto de 2020 é um exemplo disso. Nenhum exercício da imaginação pode explicar por que aqueles personagens se reuniram, senão para tentar blindar o filho do presidente. Até aí, tudo bem, mas gravaram. Aceitando a explicação do doutor Ramagem, o grampo destinava-se a pegar um personagem que não apareceu. Contem outra, senhores. A gravação dura mais de uma hora.
No grampo da reunião de 2020, ao saber que o advogado Frederick Wassef pagara despesas médicas de seu chevalier servant Fabrício Queiroz, Bolsonaro pergunta:
— Qual é o problema?
Wassef é um advogado e, no círculo familiar de Bolsonaro, chegou a ser chamado de “anjo”. O chevalier Queiroz escondia-se em casa ao ser preso, em junho de 2020.
Na seleta clientela de Wassef esteve, entre 2015 e 2020, a empresa JBS, dos irmãos Joesley e Wesley Batista. Seus serviços valeram R$ 9 milhões. Em 2017, cultivando o procurador-geral Rodrigo Janot, Joesley gravou uma conversa que teve com o então presidente Michel Temer. Os irmãos Batista voltaram à vitrine, não só pelo acesso que têm a Lula, mas também porque entraram no negócio esquisito de energia na Amazônia, com o beneplácito do Ministério de Minas e Energia. Há algo de compulsivo nessa dupla. Em 2010, Joesley reclamava:
— Por que pegam tanto no pé dessa empresa? Será que eu joguei pedra na cruz?
Em tese, todos os governos precisam de um sistema de informações. Na vida real, o Brasil não conseguiu manter o seu, na ditadura ou na democracia. Mesmo em episódios ostensivos, como no movimento dos caminhoneiros de 2018 ou no vandalismo do 8 de Janeiro. As informações estavam lá, mas os jogos de poder dos palácios não souberam processá-las.
Isso só mostra a má índole das pessoas que compõe o PL de Gaspar do Estado de Santa Catarina. Gente suja, mesquinha, sem caráter, que só pensam em si mesmo, onde novo povo e nossa gente nunca estiveram incluídos e se o PL vir a vencer a corrida política em nossa Gaspar nosso povo ficará abandonado novamente. Estas pessoas que formam o PL e suas coligações, estas pessoas que estão por trás dessa sujeira em nenhum momento estão pensando em nosso povo, só pensam em sim, só pensam em seus benefícios próprios. Gente baixa, sem moral não representam em hipótese alguma nosso povo que anseia por uma cidade digna para se viver. Que Deus abra os olhos de nosso povo diante de tanta sujeira.
O POVO NÃO COMPRA DÓLAR, MAS COME DÓLAR, por Vinicius Torres Freire, no jornal Folha de S. Paulo
Daqui até o fim de agosto haverá oportunidades de superar o tumulto que contribuiu para encarecer o dólar e elevar ainda mais as taxas de juros.
A taxa de juros e o preço do dólar no Brasil dependem, em parte, do nível da taxa de juros nos EUA, o que por sua vez depende parte de expectativas de inflação. No opiniômetro financeiro, acredita-se agora que a inflação irá aos poucos dos 3% ao ano de maio para a meta de 2%.
A taxa básica de juros americana não deve ser talhada já na reunião de 31 de julho. Mas, no fim deste mês, o Fed pode dar sinais de que o arrocho vai diminuir. As taxas de mercado cairiam.
Seria um alívio por aqui, caso não houver mais bobagem doméstica. Juros e dólar voltaram a aumentar em março, então quase apenas por causa da mudança de ventos nos EUA.
Lembrete: o dólar ficou pela casa de R$ 4,95 no primeiro terço daquele mês. A taxa de juros de um ano baixara a 9,75% ao ano (está em 10,88%, depois de bater em 11,4% no início de julho, maior ainda que a Selic).
O dólar está acima de R$ 5,20 desde 3 de junho (média móvel de cinco dias); acima de R$ 5,40 desde 19 de junho. Um mês de estrago não é lá grande coisa. Se terminar o ano ainda em R$ 5,22, como ora chuta “o mercado”, não vai ser bom.
“O povo mais pobre, o povo mais humilde, quando tem um pouquinho de dinheiro, ele não compra dólar, ele compra comida”, disse Luiz Inácio Lula da Silva a empresários nesta terça-feira. Não compra dólar, mas come dólar na forma de preço de alimentos, influenciados por cotações internacionais. Dólar mais caro também tende a prejudicar investimentos (a importação de máquinas etc.).
Aparentemente, Fernando Haddad conteve o incêndio de junho e convenceu o governo a aceitar contenção de despesas. A ver o que vai dar.
Banqueiros têm dado apoio ao ministro, em declarações públicas e privadas cada vez mais frequentes. Empresários maiores e até vários dos que vociferavam contra impostos baixaram o tom. Um BC mais comedido na falação pode ajudar. Há tentativas de acalmar o ambiente.
O ambiente, porém, não está calmo. No início de março, nas projeções de economistas compiladas pelo BC, a Selic iria a 9% no final do ano (agora, ficaria em 10,5%). O dólar estaria em R$ 4,93. Se o leitor não acredita na estimativa, pense que tais valores são uma espécie de preço que os donos do dinheiro estão inclinados a cobrar. Na prática, é o que interessa.
Como está evidente, essas projeções viram como birutas, a depender do vento da finança lá fora, aqui dentro, do crédito do governo e até de estimativas de crescimento. No entanto, é mais fácil quebrar um vaso do que colar seus pedaços. O vaso fiscal, já avariado, quebrou de novo entre maio e julho.
Lula disse também que a economia pode crescer 2,5% neste ano. Pode. Não é grande coisa, dada a feia necessidade no Brasil, mas é quase o dobro do ritmo mais alto que se viu no país entre 2013 e 2020, antes da epidemia.
Para crescer mais, de modo duradouro, o país tem de resolver muito problema. Mas, no curto prazo, 2,5% ajuda bem. Não fazer bobagem também ajuda.