Onde foi, todo arrumadinho, na segunda-feira cedo, o prefeito de Gaspar, Kleber Edson Wan Dall, MDB, achando-se a cereja do bolo e que faria mudar a determinação do Supremo Tribunal Federal e do governo petista de Luiz Inácio Lula da Silva, PT, de acabar com a farra da desoneração da folha de pagamento das prefeituras? Brasília.
Como vice-presidente da Federação Catarinense dos Municípios – Fecam -, Kleber foi a para lá defender que os municípios com menos de 156,2 mil habitantes (coeficiente populacional inferior a 0,4%) paguem somente oito por cento de previdência ao invés dos 20% a que estavam até então obrigados pela lei 8.212/91. O governo Federal admitiu, até agora, que este “benefício-jabuti”, de forma escalonada, a municípios com menos de 50 mil habitantes e prometeu para sexta-feira bater o martelo no assunto. Ele aumenta em bilhões rombo na já precarizada previdência social e obriga o tesouro a buscar dinheiro do povo para cobri-lo.
Antes de continuar, o primeiro parêntesis para entende este contexto de incoerências e desarranjos, por que como diz o slogan oficial da cidade, depois do desmoralizado marqueteiro “Avança Gaspar”, “Ser feliz é viver aqui”.
Gaspar é uma cidade que está a mercê das tragédias dos eventos climáticos severos no Vale do Itajaí. Estamos no meio de um deles no Rio Grande do Sul como aviso para que façamos à nossa lição de casa e esqueçamos a “síndrome do céu azul”. Mas, Gaspar em fim de governo, como retrato do que foi a atual administração de quase oito anos, é a cidade, onde a Defesa Civil, hoje é tocada pelo irmão de templo e ex-motorista do próprio prefeito por vários anos. Então…
Antes de retomar, um outro parêntesis é necessário para ligar estes assuntos, os quais parecem desconexos, para se compreender o quanto a administração de Gaspar de Kleber e Marcelo de Souza Brick, PP, bem como o puxadinho dela na Câmara, a Bancada do Amém, estão visceralmente, anos fora da casinha nas prioridades para a cidade e na integração comunitária regional, a qual nos faria avançar mais, é preciso se fazer uma pergunta. Onde estava o presidente da Fecam, o esperto prefeito de Balneário Camboriú, Fabrício Oliveira, PL, no sábado passado?
Fazendo o quê? Dando discurso estadual eloquente ao lado do governador Jorginho Melo, PL, durante a assinatura das ordens de serviço para o desassoreamento dos rios Itajaí do Sul, do Oeste e Açú em Rio do Sul, como parte de uma política de mitigação, prevenção e proteção das pessoas, do patrimônio particular e público aos eventos climáticos severos naquela região e com reflexos no Médio Vale do Itajaí, o tal Vale Europeu, onde está Gaspar.
Por que Fabrício não foi a Brasília onde se projetou como estátua na Câmara durante a transmissão do impeachment da ex-presidente Dilma Vana Rousseff, PT? Pode se alegar vários motivos, entre eles, a que de prefere ver a maré da sua Balneário Camboriú. Mas, estava na cara que ele sabia de que se tratava de uma batalha perdida. Preferiu uma, que se não executada, tira-lhe votos nos seus planos futuros de político para além de Balneário Camboriú, como as enchentes no Vale do Itajaí, um colégio eleitoral de mais de dois milhões de almas. Simples assim!
E lá foi Kleber fazer número e volume na reunião das federações de municípios com os ministros da Fazenda Fernando Haddad e Alexandre Padilha, das Relações Institucionais. Também leu o recado da Fecam no Senado. Mais uma viagem a Brasília.
OS COMEDORES DE IMPOSTOS NÃO QUEREM PAGAR A PARTE DELES
A desoneração da folha de pagamento foi criada emergencialmente em 2011 pela ideia dos “çábios” “do governo de Dilma Vana Rousseff, PT. Era para recuperar a economia e principalmente, empregos dos setores que mais empregam, de quem gera tributos. Era uma forma de salvar a presidente do “impeachment”. Não me estico no mérito da medida. Outras economias já fizeram isso. Era temporário. Tinha um prazo. Também não entro no mérito da extensão desta exceção, que no Brasil, quando criada, vira normalidade por pressões políticas, lobbies e espertezas que vão incorporando gente que se diz merecedora de mesma benesse.
Por isso, os políticos resolveram esticar o tempo por conta da pressão dos empregadores. O governo petista criador de impostos e facilidade de arrecadação, por sua vez, não queria esticar o filho que pariu com Dilma, continuou com Michel Temer, MDB, e Jair Messias Bolsonaro, PL. Ele até por seu ministro da Economia, Paulo Guedes, ensaiou cortar tal barato. Mas, deu meia volta. E a pandemia foi o mote para tudo continuar como dantes do Quartel de Abranches.
Volto ao terceiro mandato de Lula. Como está em minoria no Congresso Nacional, perdeu a batalha daquilo que queria extinguir. Também não entro no mérito, pois ele é o pior de todos próprio do governo petista: taxar quem produz. E como está em minoria, o governo do PT ao invés de ajustar as suas próprias contas e criar caminhos e segurança jurídica para a atração de investimentos privados, viu os políticos colocarem mais do que o “esticamento” daquilo que tinha prazo para terminar: diminuir as alíquotas da já desbalanceada previdência social de 20% para oito por cento de uma parcela ponderável de municípios brasileiros.
É prácabá! E acabou.
E foi este inexplicável jabuti que acelerou à matreira judicialização do governo petista, a nova boia de salvação que ele arrumou para suas esquisitices: o Supremo Tribunal Federal.
O Congresso, chantageado pela decisão do STF, tratou de salvar parcialmente desoneração para a iniciativa privada. Ela ficou menor. E para não perder os dedos, entregaram-se alguns anéis. A reoneração voltou para quem ficou dentro do pacote da negociação.
E o que sobrou para uma negociação apartada? O jabuti das prefeituras inventados por deputados e senadores. As prefeituras, de um modo em geral, empregam a rodo gente desqualificada, por motivação política, interesses, afinidades. E pior: paga essa gente, vejam só, com os impostos de quem exatamente está perdendo a desoneração e até por causa disso, diz que vai desempregar. É claro que este escracho não pararia de pé. Resta saber em que medida e se mais uma vez, o PT, Lula e a esquerda do atraso vão tirar dos que produzem para dar aos políticos.
E o jovem político Kleber foi a Brasília defender este privilégio, esta indefensável gastança sem limites e controles, da velha política contra os que produzem e fazem sacrifícios para se salvar neste mundaréu de impostos e alta alíquotas, de concorrência acirrada, de riscos cada vez mais altos em seus negócios. Os políticos que defendem esta ideia estão descomprometidos com máquinas públicas enxutas, transparentes, produtivas e com resolutividade para as suas comunidades.
Só este ano, o rombo que os municípios querem dar na arrecadação com estes 8% de desoneração na folha de pagamento é de R$12,8 bilhões. O que significa isso? Mais impostos contra o povo para cobrir este buraco, ou então, endividamento Federal via Tesouro Federal gerando mais inflação, contra os pobres, ironicamente, a maior parcela de eleitores e eleitoras desses políticos que privilegiadamente querem pagar menos impostos.
O que Kleber como vice-presidente da Fecam, e prefeito de um município que sofre com os desastres naturais severos deveria estar fazendo em Brasília?
Lutando para que contingenciamento de 90% das verbas para estas obras de prevenção em Santa Catarina feitos pelo governo Lula 3, os ministros Haddad (Fazenda) e Simone Tebet (Planejamento), MDB, Valdez Goes, PDT (Integração e Desenvolvimento Regional), Jader Barbalho Filho, MDB (Cidades), Alexandre Padilha, PT (Relações Institucionais) entre outros, fosse revisto e de forma urgente. Como mostra o Rio Grande do Sul e aqui se tem experiência disso e há anos, recuperar é mais doloroso e caro. Mas, para quem acha que a Defesa Civil de um município com problemas nesta área é um bom lugar para empregar seu ex-motorista… Muda, Gaspar!
TRAPICHE
“Estamos nos aproximando das eleições municipais e certamente esse evento trágico vai se refletir nas do Rio Grande do Sul. Mas ela deveria se refletir nas eleições municipais do país inteiro. As pessoas deveriam começar a olhar para o seu gestor e ver o que ele fez para prevenir a comunidade em relação a eventos climáticos” (Tales Faria, no UOL).
“Os gestores se movem pelo voto. A prevenção não traz votos, mas ele tem que notar que a tragédia tira votos. Ele está jogando com a sorte eleitoral dele. Se houver uma tragédia no meio do caminho e for visto que ele não teve nenhuma atuação preventiva, o gestor perderá votos” (Tales Faria, no UOL). Ou seja, Jorginho Melo, PL, está avisado. Os candidatos a prefeitos de Gaspar que fingem ser este um problema dos outros, também.
Exagerado. O marqueteiro-prefeito de Kleber Edson Wan Dall, MDB, perdeu mais uma e pelo exagero, quer se recuperar da inércia e do tempo perdido. Depois de ver vários prefeitos catarinenses “adotarem” cidades gaúchas afetadas pelas enchentes como forma de ajudá-las, sob regras e preocupação do TCE-SC, Kleber resolveu adotar não um, mas três municípios.
E pelo vídeo que o prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, fez e colocou nas redes sociais, parece que Gaspar está um “espelho”. E o vice Marcelo de Souza Brick, PP, o pré-candidato para sucede-lo, mais atrasado ainda, entrou na mesma dança. E como mentor de tudo.
Voltando à realidade da aldeia. No fundo, o município de Gaspar é quem precisa ser adotado. E sem enchente. Há um mutirão para simplesmente tirar o capim dos bairros, depois que ele tomou conta por meses e só agora, foi domado no centro da cidade.
Na Câmara, há centenas de indicações acumuladas para serem resolvidas. A maior parte dos próprios vereadores do governo para se fazer a simples manutenção.
Gaspar sucateou e diminuiu os seus próprios equipamentos para terceirizar quase tudo. Então que manchete é esta que fez ontem o jornal Cruzeiro do Vale ontem para a prefeitura? “Gaspar envia comboio de maquinários e caminhões para ajudar cidades atingidas pela enchente no RS”. Vai ficar aqui só a montanha de terceirizados e de empreiteiras?
É certo que os municípios do Rio Grande do Sul precisam – e devem – ser ajudados por nós civis e os entes públicos obrigados a isso e os que se doam parceiramente. Antes, porém, a transparência que aqui não existe, diz que é preciso esclarecimentos à cidade, aos cidadãos e cidadãs dessas escolhas. No press release que a prefeitura de Gaspar fez distribuir isto não está claro. O que está claro foto – abaixo – é a qualidade da frota que vai ficar e acompanhar a equipe por cinco dias nos três municípios gaúchos.
Mais. Qual o critério para adotar estes três municípios? O religioso? O de afinidade partidária? E por que três, e não um município como fez a maioria? Ou seja falta de foco, mais uma vez, a marca da atual administração. Foram mapeadas as maiores carências dos três municípios (Igrejinha – que está na foto acima -, Taquaras e Três Coroas) que vão ser apadrinhados por Gaspar?
Indaial, do tamanho de Gaspar, no mesmo Vale do Itajaí, que não montou “comboio”, por exemplo, descobriu que o seu município afilhado precisava de velas e gelo, exatamente por falta da luz. Não sou contra a escolha ou a ajuda, até porque em 1983 e 1984 como vítima, tive que recomeçar e providencial ganhei ajuda. Mais, quais foram os critérios em algo em que são usados recursos públicos?
No total, o “comboio” gasparense será integrado de quatro caminhões caçamba traçados, uma carreta com prancha, duas retroescavadeiras, um caminhão pipa, hidrojato, um caminhão de água potável, motoristas e operadores, van esportiva, segundo revelou oficialmente a própria prefeitura. O “comboio” parte na quinta-feira de Gaspar.
Vão para os três municípíos do Rio Grande do Sul afilhados de Gaspar além dos motoristas e os operadores de equipamentos, dois psicólogos e duas assistentes sociais, sete servidores da educação (professores de educação especial, psicólogos e assistentes sociais), dez técnicos de enfermagem e enfermeiros, dois voluntários sociais, voluntários da defesa civil (caso necessário), quatro técnicos da defesa civil e todas as ferramentas necessárias.
Perguntar não ofende I. O que a Capital Nacional da Moda Infantil, como Capital Nacional da Moda Infantil fez pelas crianças do Rio Grande do Sul?
Perguntar não ofende II. Se os ônibus da Expresso Presidente têm placas dizendo que estão a serviço da Verde Vale, por que é que não aceitam os vales transportes ou cartões da Verde Vale? Cada coisa. O fraco sofre.
A domicílio. Depois de ser surpreendido pelo vazamento por uma pesquisa interna do Republicanos, o PL de Gaspar, correu atrás do prejuízo e fez a sua. E tratou de deixá-la escrita nos botecos e canchas de bocha como nos velhos tempos do jogo do bicho. Tudo para espantar a zebra. E nela, pelo que se leu, não há mais adversário. O que não se entende é que, sendo este o verdadeiro cenário, por que tanta preocupação. Devia se registrar e se publicar tal pesquisa.
Gaspar Low perception value? Loteamento em implantação no bairro Figueira resolveu ir às vendas. Da propaganda recente em redes sociais, feita por quem se diz corretora especialista, esconde que o empreendimento está em Gaspar, em trânsito amarrado. Qual a situação dele para os futuros compradores? A dez minutos de Blumenau – só se for até a divisa – e a 40 minutos de Itajaí – e aí vai depender do caminho, da hora e do dia.
Agora aqui em Gaspar é assim. Vereador na falta do que melhor legislar, faz uma cópia e cola de algo que é regulado e é só de competência Federal e apresenta como sua autoria e passa na Câmara. E ele próprio admite isto. E a parte técnica da Câmara, fecha o olho para o claro vício inconstitucional. Todos decoradores remunerados pelos pesados impostos do povo: desde o vereador ao técnico.
E para encerrar o Trapiche desta quarta-feira, vale a pena repetir uma pergunta que não foi respondida ainda pelos “çábios” no poder de plantão. O que o terreno da Furb, comprado milionariamente por R$14 milhões em 2022 pelo poder público municipal vai contribuir para a melhoria da mobilidade urbana? Esta, ao menos, foi desculpa, travestida de justificativa, usada pela prefeitura de Gaspar para financiar este montante junto à Caixa Econômica Federal. Ao final do financiamento, este imóvel nu, já sucateado e mal conservado, vai custar aos gasparense mais de R$21 milhões? Muda Gaspar!
10 comentários em “AS PRIORIDADES DE KLEBER REVELAM PORQUE O GOVERNO DELE ESTÁ TÃO MAL AVALIADO. E PIOR, AS NOVAS ESCOLHAS DO JOVEM POLÍTICO SÃO VELHAS E CONTRA OS QUE PAGAM PESADOS IMPOSTOS PARA SUSTENTAR OS POLÍTICOS NO PODER”
LULA, GAÚCHOS, PETROBRÁS E BC, por Vinicius Torres Freire, no jornal Folha de S. Paulo
Em uma semana, decisões e preferências do presidente Luiz Inácio Lula da Silva mexeram com a medula da finança do país, com a empresa brasileira mais importante e criaram ruído no mínimo inconveniente no até agora razoável conjunto de ações federais para atenuar a desgraça no Rio Grande do Sul. Em vez de dizer que são “decisões políticas”, como se houvesse decisões ideais dos anjos tecnocráticos, são decisões e preferências que vão do contraproducente ao ruim.
Na semana passada, a direção do Banco Central decidiu por cinco votos a quatro diminuir o ritmo de corte da Selic de 0,5 ponto para 0,25 ponto percentual. Em termos materiais, a diferença é quase esotérica. Os diretores nomeados por Lula preferiam corte maior, mas os lados divergentes tinham argumentos razoáveis para justificar a decisão.
Como previsto, tal juízo não fez diferença na praça do mercado, que passou a cobrar mais para emprestar no atacadão de dinheiro e para manter seus haveres em reais.
O motivo óbvio dessa atitude é o fato de que Lula, o governo quase inteiro e o PT acreditam e alardeiam que Roberto Campos Neto, presidente do BC, conspira para afundar a economia luliana. Por esse raciocínio, assim que os nomeados de Lula forem maioria no BC, a partir de janeiro, o complô mercadista estaria derrotado. Não importa a inflação, a Selic baixaria.
É no que acredita pelo menos a maioria dos donos do dinheiro e de seus administradores e porta-vozes. Ironicamente, acreditam no que governo e petismo pregam. Por prevenção, cobram mais. As condições financeiras pioram. A Selic ainda baixa, mas taxas de juros de prazo maior do que um ano não param de subir.
Até agora, não há motivo para acreditar que os nomeados de Lula para o BC serão paus mandados ou doidivanas. Se, em maioria, no início de 2025 por abril, talharem a Selic sem boas justificativas, estarão mortos. Dólar e juros de longo prazo subirão ainda mais, a economia de Lula descerá ao brejo. O alarde lulista-petista não funciona.
Jean Paul Prates foi demitido da Petrobras com humilhação. A ideia é que sua cabeça, espetada em uma estaca diante da empresa, sirva de alerta para recalcitrantes. Isto é, para quem não acelere investimentos em refinarias, navios nacionais, fertilizantes ou no que mais Lula deseje. Lula 3 pode até querer fazer tudo isso, mas com dinheiro do Orçamento federal, que poderia ser engordado por uma Petrobras eficiente.
Mas Lula quer fazer da empresa (como com Itaipu) um Orçamento paralelo, a seu arbítrio. Ao burlar o objetivo específico de uma intervenção do Estado (a petroleira estatal), cria ineficiências, degrada o financiamento da empresa e a percepção do risco de investir no país. Em tese, normas atuais dificultam a malversação administrativa. Mas já vimos de tudo na Petrobras.
É sensato criar uma coordenação para administrar o apoio federal à reconstrução gaúcha, um ministério provisório. Valer-se de tal autoridade para incentivar candidaturas petistas é criar barulho político inconveniente, além de dar pano para a manga da política de mentiras e de propaganda anti-Estado (e governo) da extrema direita, do bolsonarismo. Mas isso nem é o mais importante.
O socorro ao Rio Grande do Sul é uma oportunidade para a criação de um embrião de autoridade climática. Ou, pelo menos, de criar instituição de prevenções e reconstruções orientadas por planejamento ambiental, condição para que sejam liberados dinheiros para trabalhos de adaptação econômica, geográfica, tecnológica de regiões destruídas ou sujeitas às destruições da mudança climática.
É uma oportunidade de fazer política grande, transformadora, duradoura. Ajuda a poupar vida, bens; é bom para o país, para o governo. Cadê?
O MAESTRO DA ORQUESTRA, por Willian Waack, no jornal O Estado de S. Paulo
Lula não quer saber de experimentar. Suas decisões são baseadas sempre nas velhas convicções – ou cacoetes, como se preferir –, o que vale tanto para uma Petrobras como para o enfrentamento da catástrofe que destruiu boa parte do Rio Grande do Sul.
A resposta ao que é uma inédita crise múltipla dentro de uma grande crise exigiria um notável esforço político para criar algum tipo de instância central de coordenação e controle. A maior dificuldade está no pacto federativo e a autoridade por ele conferida ao governador do Estado, que não manda em todas as instâncias (federais, por exemplo) das quais precisa.
O que Lula “criou” para lidar com o desastre no Sul foi um ministro extraordinário sem poderes plenipotenciários, que é declarado rival das forças políticas no comando do Estado e candidato a substituí-las nas próximas eleições para governador. Mas é uma oportunidade relevante para que Lula assuma seu lugar favorito, o de salvador da Pátria.
“Precisamos funcionar como uma orquestra”, disse Lula em relação aos Poderes e sua atuação na crise. Como se sabe, não há orquestra que funcione sem um maestro. No caso da resposta à tragédia, quem vai empunhar a batuta? E, também tão importante, de quem é a partitura?
No caso da Petrobras, compõe o pano de fundo para a troca do presidente da estatal o velho ranço sindicalista tão essencial na formação de Lula.
Sua principal característica é a aliança nacional desenvolvimentista com empresários interessados em pouca competição e muitos incentivos estatais que perdura há décadas. Além dos grupos políticos que transformam pedaços da máquina pública em ferramentas na defesa de seus interesses.
Passa longe do radar de Lula a ideia de que a natureza de desafios enfrentados pela Petrobras e pelo Rio Grande do Sul está ligada também a amplos fatores externos, entre os quais a transição energética (leia-se também fenômenos climáticos extremos) ocupa o centro das estratégias das grandes economias. Não é tentando fabricar navios que o País ficará mais forte.
Os resultados do que se tentou com o nacional-desenvolvimentismo indicam um grande fracasso. Assim como uma série de especialistas não se cansa de dizer que boa parte do sofrimento trazido pela tragédia climática tem a ver com a proverbial falta de capacidade de planejamento e políticas públicas, nos vários níveis.
Lula declarou que vai trilhar mais uma vez o único caminho que conhece. Contará com as forças de sempre, em notável descompasso com as transformações domésticas e internacionais. Mas a voz interior, a única que Lula ouve, garante que agora vai dar certo.
PROGRAMA ECONÔMICO DE LULA É O ATRASO, editorial do jornal Folha de S. Paulo
Luiz Inácio Lula da Silva (PT), para a surpresa de ninguém, demitiu Jean Paul Prates da chefia da Petrobras porque o defenestrado não cumpriu, com a velocidade e a fidelidade canina exigidas pelo mandatário, a missão de submeter a estatal aos comandos do bestiário ideológico petista.
Para o chefe de Estado, não bastou Prates já ter descarrilhado a política de preços da Petrobras, reestabelecendo defasagens significativas em relação aos praticados internacionalmente. Era necessário afundar o pé no acelerador de projetos ruinosos, considerados estratégicos pelo mandachuva petista.
Lula faz campanha pela retomada vertiginosa de obras no Rio de Janeiro e em Pernambuco, empreendimentos que entraram para os anais da indústria petrolífera mundial pelos desembolsos estratosféricos, irrecuperáveis, e pela corrupção desabrida.
O presidente também faz carga pela entrada da estatal em projetos bilionários nas áreas de fertilizantes e de construção de navios no Brasil. Encampa, assim, a plataforma de repetir tudo o que deu errado nos seus dois mandatos anteriores e na desastrosa passagem da correligionária Dilma Rousseff pelo Palácio do Planalto.
As consequências negativas do intervencionismo que assoma das catacumbas serão duradouras. A deterioração manifesta-se no banho de sangue nas ações da estatal nesta quarta-feira (15), mas não apenas nesse indicador arisco.
Torrar recursos em novas aventuras de retorno improvável vai reduzir a lucratividade da empresa, deprimindo os repasses de dividendos ao Tesouro Nacional, seu principal acionista, que não deveria perder oportunidades de reduzir o seu rombo fiscal.
A invectiva na Petrobras —a repetir, em novo contexto, o intervencionismo tosco de Jair Bolsonaro (PL), que empilhou quatro presidentes na estatal— insere-se num conjunto de atitudes nefastas da administração petista na condução da política econômica.
Lula não faz questão de esconder que mandou às favas a preocupação com o equilíbrio orçamentário e ninguém se surpreenderá, infelizmente, se indicar um cupincha para presidir o Banco Central com a ordem de baixar juros na marra.
A bagunça e a incerteza que o mandonismo voluntarista produzem no ambiente e nas instituições econômicas vão dificultar o crescimento sustentado da renda e do emprego. O fiasco dos investimentos na produção de bens e serviços responde a esses estímulos irresponsáveis do chefe do governo.
O programa econômico de Lula e do PT é o atraso, e seu vulto empobrecedor vai-se tornando cada vez mais nítido conforme progride o mandato presidencial.
AMBIDESTRO, por Luciano Huck, no jornal O Globo
O psicólogo Adam Grant, uma das vozes contemporâneas mais influentes, aponta a importância de nos mantermos mentalmente flexíveis para lidar com uma realidade cada vez mais complexa. Para ele, o melhor jeito de enfrentar catástrofes climáticas, pandemias, recessões e ataques à democracia é abandonar o quentinho das nossas convicções e a racionalidade binária. Ter coragem para escolher o desconforto. É o mesmo conselho que Toni Morrison, primeira negra a ganhar o Nobel de Literatura, costumava dar aos amigos: olhem menos para o espelho, mais para a janela.
Há anos procuro atuar dessa forma na TV e na minha vida. Peço licença às pessoas, presto atenção, aprendo um bocado e partilho com quem puder. Não me importa que chamem de “isentão” quem não se abraça a nenhum dos polos. Importa, para mim, lembrar que, ao se fechar numa caixinha, “de direita” ou “de esquerda”, a pessoa corre risco de se fechar também para boas ideias que venham da outra. Claro, não é problema se identificar com um lado. Só defendo que na vida, como no futebol, dá para chutar com os dois pés.
Não adianta ser um político que grita aos quatro cantos ser representante da ordem e de Deus, mas não respeita a vida, as pessoas nem a própria democracia. Não adianta ser um político que diz olhar pelos mais pobres, mas não se atualiza sobre questões globais nem olha para novas tecnologias, perpetuando uma visão retrógrada do Estado.
Poderia escrever parágrafos sobre Fernando Henrique Cardoso. Talvez o maior líder ambidestro da nossa jovem democracia, ele ampliou garantias dos direitos individuais, universalizou o ensino básico, derrotou a inflação, lançou programas de renda, privatizou serviços públicos ineficientes e abriu o Brasil para o mundo. Um capitalista social, um liberal progressista, um social-democrata, tanto faz a definição. Tenho perfeita consciência, no entanto, de que basta citar FH para parte da sociedade interditar o debate e pegar em armas. (Minha intuição, e torcida, é que o tempo fará justiça.) Por isso, especialmente para as tropas dos dois polos, quero trazer à luz assuntos do noticiário e apontar como o debate ganharia com uma abordagem substantiva e desafiadora ao pensamento polarizado.
Você sabia que a conta de luz do brasileiro talvez seja a mais injusta do mundo, que o pobre paga pelo watt três vezes mais que as empresas? Quem cobra mudanças ouve que é vital preservar a “segurança jurídica” dos contratos. Enquanto isso, a população fica à mercê de serviços precários, mesmo nos centros urbanos. Foi um alento, na virada do ano, quando Lula e governadores discursaram contra as assimetrias. Mas o que se vê desde então? Discussão de mais subsídios e penduricalhos na conta, tudo o que interessa aos lobbies do statu quo. Não é o caso de promover nova abertura, sem, claro, comprometer a segurança do sistema? Um avanço na privatização, para dar aos mais pobres a liberdade de escolha que hoje só os mais ricos desfrutam? Economias modernas, inclusive social-democratas, pegaram essa trilha. Aqui no Brasil há exemplos que deram certo, caso do setor da telefonia.
Outro tema que merece enfrentamento ambidestro é o desemprego. Faz todo o sentido investir dinheiro público desonerando o empregador que der carteira assinada para quem hoje não tem oportunidades. Poderíamos priorizar jovens de 18 a 25 anos que cursaram o ensino público. E/ou mulheres com filhos, notadamente mães solo, as mais alijadas do mercado. Já há projetos de lei madurinhos para fazer isso virar realidade. Basta alguém do círculo palaciano sair da caixinha e jogar com as duas pernas.
Do mesmo modo, em vez de bombardear a ideia do governo paulista de adotar soluções de inteligência artificial nas salas de aula — algo inevitável, já adotado nas melhores escolas particulares —, por que não discutir como isso liberaria tempo e energia para aspectos hoje negligenciados na rede pública? Sabemos da importância para as crianças do desenvolvimento de competências socioemocionais. A grade curricular precisa capacitar nossos jovens para lidar com um futuro cada vez mais disruptivo, e os professores precisam ter condições de se dedicar a isso.
Para não ficar apenas em senões, vale mencionar a reforma tributária. Se protegido dos grupos de pressão e não desfigurado na regulação, o pacote de mudanças nos impostos comprovará como é preciosa a busca de consensos que transcendam a governos e tribos partidárias. Que nesse caso se deve à iniciativa, à determinação e ao espírito cívico do economista Bernard Appy, um… ambidestro!
Quero um país mais rico, mais aberto, mais moderno e mais produtivo. Quero também um país mais justo, solidário, inclusivo e afetivo. Em caixinhas garanto que não vou me trancar. Até porque uma das minhas poucas certezas é que nós, que não nos deixamos encaixotar, somos muitos
LULA RODA UM FILME ANTIGO E RUIM NA PETROBRÁS, por Josias de Souza, no portal UOL
Lula trocou Jean Paul Prates por Magda Chambriard no comando da Petrobras porque quer reativar antigos projetos. Isso inclui a retomada da refinaria pernambucana de Abreu e Lima e do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro. Inclui também a construção de navios e plataformas em estaleiros nacionais.
Todas essas iniciativas exalam um aroma forte de naftalina. Lula roda um filme concebido no seu primeiro mandato. Ganhou impulso no segundo reinado petista. Deu em corrupção e prejuízo. Sob Dilma Rousseff, a crise na Petrobras forneceu a nitroglicerina que compôs a explosão do impeachment.
Na aparência, Jean Paul Prates caiu em desgraça por defender a distribuição de metade dos R$ 43,9 bilhões de dividendos extras da Petrobras. Lula dizia que a estatal deve servir ao povo, não aos dinossauros do mercado.
Fernando Haddad mostrou a Lula que os interesses do povo seriam mais bem atendidos se a fatia do bolo de petrodividendos pertencente à União chegasse rapidamente aos cofres do Tesouro. Os dividendos foram, afinal, distribuídos.
Restou a percepção de Lula de que Jean Paul rebarbava as prioridades do Planalto. Lula definiu 2024 como tempo de semeadura do seu terceiro mandato. Na Petrobras, o presidente age como se desejasse colher bons frutos de uma horta amaldiçoada. Trata erva daninha como se fosse uma planta de virtudes incompreendidas.
ELEITOR CANSADO, editorial do jornal O Estado de S. Paulo
Além da desaprovação ao presidente Lula da Silva, a última pesquisa Genial/Quaest mostrou um dado eloquente sobre as eleições municipais deste ano: 37% dos entrevistados gostariam de votar num nome considerado independente em relação tanto a Lula quanto ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Em outras palavras, praticamente 4 entre 10 brasileiros querem se ver livres da dominância dos dois principais líderes populares do Brasil, sinal evidente de cansaço dessa parcela da população com a polarização e a radicalização que dividem o País entre o lulopetismo e o bolsonarismo.
Não há dúvida de que os dois polos seguem como as maiores forças políticas e eleitorais – em grande medida fruto da política de exacerbação do medo e da rejeição mútua. Foi isso, afinal, que decidiu a eleição em favor do petista em 2022, por uma margem muito estreita: metade tinha medo da volta do PT, e a outra metade não queria manter Bolsonaro no poder. O resultado é um desalento para um país que se vê, em sua maioria, condenado a escolher entre duas opções ruins. Também é inquestionável que a divisão ultrapassou as fronteiras partidárias para se converter num enfrentamento ininterrupto na vida em sociedade, em que dois grupos com preferências e visões de mundo diferentes se tornaram intolerantes entre si.
O problema, sublinhe-se, não é a limitação de termos apenas duas forças eleitoralmente competitivas, e sim a qualidade dessas forças e, sobretudo, a incapacidade de seus grupos (e de seus líderes) de atuar pela pacificação nacional. A polarização é um jogo que só favorece seus atores principais: é de interesse de ambos que o outro ocupe espaço simbólico na cabeça do eleitor, pois afinal costumam trabalhar com a lógica de ter um inimigo para chamar de seu. Como disse o ex-presidente Michel Temer ao Estadão, mais do que a polarização, é a radicalização que opera hoje os conflitos de ideias, e não à toa nem Lula nem a oposição liderada por Bolsonaro trabalharam pela desejável pacificação.
Não raro pesquisas mostram que boa parte dos eleitores que se identificam como lulopetista e bolsonarista é infensa a opiniões das quais discorda, só se informa por meios com os quais concorda e tem enorme dificuldade de conviver com o diferente. O resultado é a carência da pluralidade de ideias e o empobrecimento do debate. Mas, para 37% dos brasileiros, as eleições deste ano serão uma notável oportunidade para reduzir o peso dessa cisão e suas consequências. Segundo a Genial/Quaest, a influência de Lula pesa mais: 33% votariam num candidato alinhado a ele, enquanto 22% prefeririam alguém indicado por Bolsonaro. Como cabo eleitoral, Lula leva a melhor no Nordeste; Bolsonaro, no Sul; ambos se igualam no Sudeste. É sintomático, porém, que a maioria declare querer, na sua prefeitura, alguém independente dos dois.
Há uma massa cansada da guerra nas redes sociais e nos espaços de convivência, e com a radicalização que interdita o debate e impede a busca de consenso que deve reger qualquer ambiente democrático. O tamanho do universo de quem não quer nem Lula nem Bolsonaro é hoje o reconhecimento dos danos produzidos até aqui pela continuidade do atraso que os dois polos representam.
DUPLO ABRAÇO
O município gaúcho de Igreginha atingido pelas cheias, mencionado no artigo acima, como sendo um dos três adotados por Gaspar, também já tinha sido adotado pelo também catarinense Porto União, como anunciou a prefeitura de lá nas redes oficiais e privadas. Então…
BOA NOTÍCIA? NEM TANTO, por Eliane Cantanhêde, no jornal O Estado de S. Paulo
Pesquisas de opinião são retratos do momento e cada um olha como bem entende, mas a última rodada da Genial/Quaest é clara: não chega a ser péssima, mas boa também não é para o presidente Lula. O copo está meio cheio e meio vazio, mas parece mais vazio do que cheio para Lula, que tem o governo e a caneta, os recursos e a visibilidade inerentes ao cargo.
São trunfos, mas faca de dois gumes, tudo depende de como a população vê o governo, de como o presidente e seus ministros usam a caneta e os recursos e se a visibilidade reverte a favor ou contra. Não adianta só aparecer, é preciso aparecer bem. Aliás, como Lula agora, na reação rápida e efetiva à tragédia do Rio Grande do Sul, que atrai as atenções e a solidariedade do Brasil inteiro e até do exterior. São viagens, reuniões, montanhas de recursos.
A pior notícia para Lula na Quaest – que entrou em campo em 2 de maio, segundo dia das enchentes gaúchas, quando Lula já embarcava para o Estado – é que 55% dos ouvidos são contra a chance de um quarto mandato para ele em 2026 e só 42%, a favor. Esses 55% vão além do núcleo duro da oposição, que não vota no PT de jeito nenhum. Logo, aponta um certo cansaço com Lula, ou com “os mesmos de sempre”, entre os indecisos.
A boa notícia para ele é que 47% votariam na reeleição em 2026, num porcentual melhor do que o de todos os potenciais adversários incluídos na pesquisa. Mas, se 47% votariam, 49%, não. Será tão boa assim? É como um hipotético embate entre Lula e o governador Tarcísio de Freitas (SP), um dos candidatos a candidato de Jair
Bolsonaro. Parece boa notícia para Lula, mas será?
Se a eleição fosse hoje, Lula teria 46% ante 40%, com duas desvantagens: Tarcísio tem 30% de rejeição, razoavelmente baixa, e 39% de desconhecimento, bastante alto. Logo, ele tem muito horizonte, muito a crescer, desde que use o tempo a favor da sua aprovação, driblando um risco muito comum para os políticos, especialmente os que ocupam cargo executivo: quanto mais conhecido, mais rejeitado.
Se Lula está longe de soltar fogos com a pesquisa, o outro lado menos ainda: se 39% votariam em Bolsonaro (declarado inelegível pelo TSE), sua rejeição vai a 54%, assim como a de Michelle Bolsonaro é de 50%, igual à de Fernando Haddad, ex-candidato em 2018 e uma das cartas na manga para o caso de Lula não disputar o quarto mandato.
Moral da história: a dois anos e meio da eleição, uma eternidade na política, a polarização está cristalizada, os nomes são óbvios, estão embolados e não há alternativas. O Brasil sempre foi um país do centro, mas cadê o centro? Morreu sem choro nem vela?
Bom dia.
Tem gente que fica furiosa quando digo que Fernandinho beira mar só está preso pq não entrou pra política.
Se olhar bem de pertinho, veremos que não existe direita, esquerda ou centro na política brasileira. O que temos são facções rivais querendo o comando do nosso dinheiro nos municípios, estados e federação.
No alvo. E não está em Brasília, São Paulo, Rio ou até Florianópólis.