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O POLÍTICO CIRO É O ANTICANDIDATO DELE MESMO

Gaspar é linda em contradições. No artigo DEPOIS DAS FÉRIAS, PREFEITURA DE GASPAR VOLTA A “TRABALHAR” E COM NOVA ZOMBARIA MARQUETEIRA desta segunda-feira, mostrei outra vez, aqui, que o gasparense que deu a emancipação dela há 90 anos de Blumenau é um ilustre desconhecido – ou renegado – por estes anos todos na sua própria Gaspar. Ulala!

É proposital. É história repetida. Enquanto outras, que nem histórias são, ou se assemelham a estórias, teimam em ser marcantes entre nós como parte do legado da cidade. Impressionante. E olha que temos aqui até um arquivo histórico e na Câmara os vereadores até fingem fechar questão para homenagear gasparenses… Discursos. Assim são os políticos. E a maior parte já está em campanha. Apostando nos esquecimentos. Inclusive desde a mais simples como a que sobra capim, a falta bandeira inteira no mastro da praça até o buraco negro (opa) do Hospital, as CPIs…

Lá em Blumenau, para relembrar, o “emancipador” de Gaspar – e outros grandes municípios de hoje no Médio e Alto Vale do Itajaí, registre-se à bem da história, também, -, quase foi escorraçado pela decisão contra Blumenau que governava como interventor. Justo à elite que perdia parte de seu território e status. Compreensível.

O que não é compreensível é o que se passa por aqui por anos. É como esconder de todos nós, Dom Pedro I como fator histórico da nossa Independência. Mas, Jacob Alexandre Schmitt (1882-1950), foi mais que um gasparense e interventor em Blumenau. Foi também um homem de visão quando descobriu, também para seus negócios (Hotel Miramar), a que viria ser hoje Balneário de Camboriú. Sabia que a sua Gaspar de origem e a quem deu diploma de município emancipado para os políticos viverem felizes, mote da campanha oficial e tema do artigo de segunda-feira, sob a acusação de traidor em Blumenau, como paga, maltratá-lo-ia com o esquecimento. Esquecimento lá – compreensível – já o daqui é revelador.

O que também não é compreensível também, é que com tantos defeitos na administração pública e contra não só a memória, mas à realidade dos que vivem hoje, a maioria dos candidatos a prefeito não consegue e pior, aliás, ressalte-se antes de prosseguir, muitos nem podem colocar os dedos nas nossas feridas, para dizer simplesmente que elas devem e como vão curá-las para todos serem mais felizes.

Retomo o ponto que dá o título ao artigo de hoje e que se insere no parágrafo acima.

Gaspar é linda em contradições e continua ainda mais exposta neste quesito por seus políticos jovens. Eles a isolam da metrópole que ainda lhes ensina e pode se beneficiar dela, como por exemplo, a integração do transporte coletivo para atender o Instituto Federal no bairro Bela Vista. Ingratidão.

O vereador Ciro André Quintino, está no MDB, mas não foi exatamente um “Manda Brasa” envolvido, ou dirigente dele. 

Por outro lado, é de se registrar também que o MDB de Gaspar nunca o abraçou e o deixou sentar na janela quando o partido ainda era um ônibus, e nem nesta Kombi que se tornou hoje o MDB gasparense. Se fosse vivo o histórico, o presidente de honra e ex-prefeito (1973/77) Osvaldo Schneider, o Paca (1944/2022) explicaria, como me explicou um dia.

Ciro, cria na política do ex-prefeito Adilson Luiz Schmitt, ex-genro de Paca, apesar desse parentesco ter sido um problema para o político Adilson- que também criou Kleber Edson Wan Dall, Marcelo de Souza Brick, PP, Santiago Martin Navia, MDB… Eles como candidatos a vereadores disputaram espaços na mesma balaia. 

E é por conta desses voos solos do salva-se quem puder, que Ciro, hoje, não pode cobrar lealdade do MDB de Gaspar e nem de Kleber. Só dos deputados Carlos Chiodini e Jerry Comper, este último, coincidentemente, também uma herança de Adilson, via o deputado e ex-presidente da Assembleia, Aldo Schneider, MDB, de Ibirama.

Gaspar é linda em contradições e em ano eleitoral isso aflora mais lindamente, como se as pessoas não tivessem memória, cérebro e estilingues guardados nas algibeiras.

Ciro está vereador por três mandatos em Gaspar. Em 2012 (649 votos foi o último da lista de um partido então poderoso e com rumo), em 2016 (1425 vice campeão de votos) e 2020 (995 votos, terceiro entre as quatro vagas; um sinal mais que vermelho para ele; mais uma vez ele teimou em não refletir sobre este sinal). 

O populismo que o ascendeu, também vem lhe corroendo. Ciro é um amigão. É invasivo. Um festeiro. Um descomprometido. Está em tudo e não está em nada. Está, de verdade, hoje, marcado pelo jogo que leva a coligação MDB, PP, PSD, PDT e PSDB ao cadafalso. Foi ele quem escolheu as cartas do jogo.

E estes sinais estão claros nos números, inclusive nas pesquisas (esquece as armadas enquetes). Ciro não decola na vontade dele de ser prefeito, nos números. E se tudo isso fosse pouco, a encomenda do velório veio com a “benção” do prefeito Kleber que o declarou o candidato do MDB para sucede-lo. Nada poderia ser mais tóxico para Ciro neste momento. Pareceu a encomenda da morte.

Se há controle da mídia formal, não há, nos aplicativos de mensagens e até das redes sociais onde Ciro infesta elas a todo momento, usando a estrutura do gabinete, com proezas, visitas, encantamentos, cumprimentos de pessoas e homenagens a cântaros, isto sem falar na distribuição de cachaça premiada como pudesse ele embriagar a todos, sem que os agraciados percebam à realidade do qual ele é cumplice: a cidade desmantelada e a Câmara, onde ele está, acobertando tudo, via a presidência dela e ajoelhado, religiosamente, à Bancada do Amém, com onze dos 13 vereadores (MDB, PP, PSD, PDT e PSDB).

Gaspar é linda inclusive em reações, tardias, mas cirúrgicas. Ciro, resolveu mudar o tom totalmente descomprometido da sua comunicação para quem quer ser mais do que um vereador perdendo eleitores. Do populismo tresloucado até aqui, saiu neste 2024 decisivo para dar lições de suposto estadista como a que estampo à abertura deste artigo. “O Legislativo não é Polícia. Temos a obrigação de zelar pelo destino do dinheiro da população“. Há outras da série. Fico com a primeira.

Ufa! Parabéns! Leu este blog? Ficou assustado com as pesquisas qualitativas? Descobriu a pólvora que o explode? Ou simplesmente está ouvindo melhor os seus próprios eleitores na razão que estão lhe faltando, ou até abandonando? 

O novo Ciro simplesmente não combina com o velho Ciro. Faltam gestos. Sobram atitudes registradas até em atas. E não vou me estender para a conclusão do artigo de hoje e demonstrar que Ciro errou no passado e teima em errar no presente em tentar provar à cidade, cidadãos e cidadãs que todos estão errados.

O amigão Ciro não se preparou para ser prefeito e como vereador deixou a coisa correr frouxa. Simples, assim. A cidade não se engana. Ciro é campeão de diárias e o inchamento, diminuição da carga horárias de 40 para 30 horas, da Câmara passou quase todo por ele.

Então, não cai bem agora dizer que “temos a obrigação de zelar pelo destino do dinheiro da população“. No mínimo, há uma incoerência nisso tudo e lhe falta autoridade para produzir tal frase de efeito inventada por sua assessoria, que neste caso, que para ser mais sua inimiga pois deixa isso à exploração da contradição.

E para completar. Quem era mesmo o presidente da Câmara, quando foi enterrada a CPI da Drenagem da Rua Frei Solano, no Gasparinho, serviço feito pela secretaria de Obras e Serviços Urbanos, de Jean Alexandre dos Santos, MDB – agora presidente do Samae – e o então presidente do Samae, o mais longevo dos vereadores José Hilário Melato, PP, que estava licenciado do mandato da Câmara? 

Quem mesmo era no ano passado, novamente, presidente da Câmara, quando inventaram uma CPI para esconder os áudios com conversas cabulosas do ex-faz tudo de Kleber, o irmão de templo, secretário de Fazenda e Gestão Administrativa, temporariamente secretário de Planejamento Territorial, e ex-presidente da Comissão interventora do Hospital de Gaspar e ainda presidente do PSDB daqui, Jorge Luiz Prucino Pereira? Ciro. E o presidente da CPI? Melato! E o relator? Roberto Procópio de Souza, PDT, então ferrenho opositor de Kleber.

Pois é. Ciro tem razão: “o Legislativo não é polícia“, mas, pelos políticos que o cercam, Ciro, como autoridade de um poder, fez de tudo para a polícia não chegar perto das dúvidas. E a cidade inteira sabe disso. E agora? A legítima vontade de Ciro em ser um candidato viável a prefeito está contaminada exatamente por essas incoerências que ele próprio permitiu. E quanto mais ele se explicar, vai se complicar. É uma onda. E Ciro não tem ainda o poder de quebrá-la ou barrá-la. Simples assim!

O eleitor e eleitora de hoje está mais exigente? Pode ser. A maioria dos meus leitores e leitoras pela quantidade de acesso, ao menos sabem do que se esconde. Ninguém le. Mas, todos comentam.

E o político Ciro fez uma aposta. Não olhou o cenário macro. Não pescou o cansaço do eleitor e eleitora com que está aí há mais de sete anos com Kleber, Luiz Carlos Spengler Filho, Marcelo e a Bancada do Amém (MDB, PP, PSD, PDT e PSDB). Ciro deu chances para o questionamento, e até aqui, o enfraquecimento contínuo da própria imagem como político e administrador. Quer mais uma e a fato ao lado feita sob testemunhos? Onde estava guardada nas férias da prefeitura de Gaspar a Kombi que era pare ser o seu escritório móvel? No lugar errado, por mais justificativas que dê agora: o pátio da Policlínica. Não devia estar no comitê, em casa, na garagem de um apoiador, um amigo? Como observa um leitor deste espaço: a falta de oposição, polícia, Tribunal de Contas e Ministério Público também é um problema para o próprio governo que faz o que quer e quando se dá conta está envolvido por uma rede de pecados e contradições junto ao seu próprio eleitorado. Acorda, Gaspar!

TRAPICHE

Segunda-feira, dia 15, a primeira imagem de trabalho do prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, no gabinete de trabalho depois das férias: uma cuia de chimarrão à espera da fila dos descansados secretários. Eles, na foto oficial, só apareceram ontem. Kleber deveria estar na rua coordenando o corte do capim. 

Em outra foto do gabinete ele, ou assessoria desligada, escreveu que a “rotina tá on”, ou seja, em inglês para não ser entendido: já estaria tudo ligado e funcionando. Como se viu mais tarde, os postinhos de Saúde, onde está o povo doente, precisado, só funcionaria a partir das 13h. E muitos deles, em longas filas, debaixo de sol escaldante. Ou seja, nada mudou.  O antigo “on” prevaleceu. Incrível!

Estas taxas – que já aumentaram – dos cemitérios Santa Teresinha e Barracão – de Gaspar ainda vão sepultar a atual gestão de Kleber Edson Wan Dall, MDB, e Marcelo de Souza Brick, PP. Brincaram não exatamente com gente morta, mas com os vivos, exatamente pela falta de respeito e diálogo, com a emoção das pessoas e num ambiente de dignidade religiosa.

É impressionante como este assunto não sai das redes sociais. E os vereadores da Bancada do Amém (MDB, PP, PSD, PDT e PSDB) são sócios disso tudo e fingem que foram vítimas do Executivo. Deram corda, e supondo que a queixa deles seja verdadeira – e não é – eles não a encurtaram quando viram a pressão dos seus eleitores e eleitoras. 

E tiveram uma segunda oportunidade para desenlaçar este nó. A primeira oportunidade foi quando a matéria que permitia a mudança para a cobrança de taxas tramitou na Câmara, aceleradamente. Giovano Borges, PSD, relatou e por iniciativa dele, cortou a audiência pública. Quase todos preferiram ficar do lado do prefeito e vice. Agora, estão contando estorinhas. E elas não colam.

Nos cemitérios de Gaspar não se pode colocar nem flor de plástico. É para combater a dengue. O bairro mais infestado é o Sete de Setembro. Um dos locais de maior criação e proliferação do mosquito da dengue, segundo os da prefeitura que atuam na campanha em Gaspar é uma das propriedades da prefeitura, o abandonado e quase totalmente depredado Centro Educacional Maria Hendricks. Casa de ferreiro, espeto de pau. Faça o que eu digo, mass não faça o que eu faço… I-na-cre-di-tá-vel!

Os políticos no poder de Gaspar sabem muito que a chapa está queimando. Depois da ostentação, estão se tornando humildes. Agora deram até para fazer marmitas – e com batatas que podem azedar quando guardadas, mesmo em geladeiras. Espera-se que estas marmitas sejam apenas de uso caseiro e não de substituição a alimentações em ambientes coletivos.

Segunda-feira, 9h da manhã, primeiro dia da volta das férias da prefeitura de Gaspar. A bandeira da cidade no Marco Zero, continuava a meio mastro (luto) e sem o miolo dela onde está o brasão da cidade. E o prefeito – que sabia de tudo por dias e antes das férias – continuava “on” no gabinete dele e de lá, com a equipe de secretários – apreciando-a maltratada. Terça-feira, zombaria. Tudo igual. Nesta quarta-feira ela está lá rasgada e de luto em homenagem aos nossos gestores públicos. Retrato irretocável da cidade e seus governantes.

No facebook do vice Marcelo de Souza Brick, PP, ele publicou uma foto dele no primeiro dia da volta das férias, acompanhado do ex-vice de Kleber, hoje chefe de gabinete e presidente do PP, Luiz Carlos Spengler Filho, e do próprio prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB com a seguinte afirmação: “o trabalho de fato nunca para, mas hoje renovado e entusiasmado, retomamos…

O que sucedeu? Uma enxurrada de reclamações e desabafos. A equipe do prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, fecha a participação popular e ele sobrevive numa bolha. E parece que vai fica nela por muitos anos. Marcelo de Souza Brick, PP, é um dos que se ensaiam candidato a suceder Kleber.

Avisei na segunda-feira que um concurso para escolher os professores ACTs iria azedar. Pois é: azedou. O secretário de Educação, um curioso na área, o jornalista Emerson Antunes, PSD, de Blumenau, bem como o prefeito Kleber Edson Wan Dall, quando cheiraram o azedume, apressaram-se em colocar a culpa na empresa que fez o concurso. 

Por outro lado, estranho não o silêncio dos pré-candidatos a prefeito do governo, o que seria normal e esperado. Mas, de gente que jura ser a mudança como Rodrigo Boeing Althoff, PL, professor e gestor na área educacional, bem como de Oberdan Barni, Republicanos, filho de uma professora e do fundador do Sintraspug – que contra a ideia do fundador, transformou-se agora numa linha assessoria do governo Kleber Edson Wan Dall, MDB.

É sempre assim. Ninguém que se diz autoridade, assume. No ano passado, teve sala de aula que houve falta de professor do começo ao fim do ano. Em 2024, o ensaio começou mais cedo do que o previsto. Na imprensa, só a nota oficial da prefeitura jogando a culpa nos outros. Ela é solidária e devia estar acompanhando este caso muito mais de perto. O caso foi dar no Ministério Público. Ufa!

Quer mais uma? Onde estavam Kleber Edson Wan Dall, MDB, e o irmão de templo, secretário de Educação de Gaspar, o jornalista Emerson Antunes, PSD, depois da reunião do secretariado? Visitando as obras de readequação do ginásio Gilberto Francisco Sabel, para ser uma “fábrica de experimentos digitais”. Qual o erro disso? Todos sem Equipamentos de Proteção Individual. E a empresa solidária. Este mau exemplo é rotina repetitiva e por autoridades que precisam dar o exemplo. Então.

Primeiro, por barbeiragem colocou um caminhão traçado quatro por quatro na oficina. Meses e dinheirão perdidos. Depois foi um trator para op vinagre. Agora, o estouro da bomba hidráulica em outro trator. Em um lugar sério, este operador já teria sido substituído ou reciclado.

A turma que inventa candidatos a prefeito em Gaspar desta vez está com uma pulga atrás orelha. Se olhar bem, há um pulgueiro. Acorda, Gaspar!

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12 comentários em “O POLÍTICO CIRO É O ANTICANDIDATO DELE MESMO”

  1. Pingback: O PULO DO GATO DO MDB DE GASPAR PARA OUTUBRO. ENSAIA DIZER QUE MDB DE KLEBER NÃO É O MDB DE CIRO, MESMO UM DEPENDENDO DO OUTRO - Olhando a Maré

  2. O FUTURO DISTANTE, por Willian Waack, no jornal O Estado de S. Paulo

    Para um estrangeiro participando do Fórum Econômico Mundial, em Davos, o Brasil não deve ter sido um país fácil de ser decifrado. Num mesmo dia ele ouviu do ministro de Minas e Energia que o petróleo continuará sendo – e muito – explorado. E da ministra do Meio Ambiente que negará permissões para mais exploração de petróleo.

    Ouviu de ambos que o Brasil é “a” solução para o investimento privado na transição de energia (leia-se economia verde). Seria por tentar ressuscitar o capitalismo de Estado e projetos estatais da velha indústria pesada, com seu direcionamento para os tais “campeões nacionais”, como desconfia o Financial Times (muito lido pela turma que frequenta Davos), que seja a aposta do presidente Lula?

    Falar de mudança climática gera tráfego copioso e gratuito na internet, mas, a julgar por outro material publicado em Davos – pesquisa da Fundação Dom Cabral e do próprio Fórum sobre o futuro do crescimento –, o buraco para a economia brasileira é bem mais embaixo. Mais uma vez o País desponta nesse tipo de análise por suas incomparáveis potencialidades (água e produção de alimentos) e suas imensas fragilidades.

    A principal é ligada ao “ecossistema tecnológico”, conceito que engloba tanto os clássicos como inovação e desenvolvimento de tecnologias quanto a formação de capital humano e ambiente de negócios (tributação, propriedade intelectual e regulação). Apenas no quesito capital humano calcula-se que 44% das habilidades dos trabalhadores no Brasil devem sofrer alterações nos próximos cinco anos e 60% da força de trabalho vai necessitar de treinamento.

    Como se vê, a questão não se reduz a afinar discursos entre áreas com visões conflitantes da exploração de recursos. Todo mundo reconhece que investimento em infraestrutura, educação e formação de capital humano é fator essencial para crescimento em qualquer lugar do planeta, mas não explica tudo.

    O diferencial essencial, conclui o texto da Dom Cabral, são gestão pública e investimentos que garantam melhor ambiente de negócios, estimulem novas empresas, atraiam capital externo e tenham impacto na renda per capita. Nesse sentido, o Brasil tem tido grandes dificuldades e, apesar do sucesso de setores como aeronáutica e agricultura/pecuária, no seu conjunto é uma área estagnada em relação às principais economias.

    A percepção de que o Brasil se move pouco, embora desfrute de fatores favoráveis (inclusive geopolíticos), surge em outro levantamento publicado em Davos, feito entre executivos, dando conta de certa decepção em relação ao País como lugar estratégico. Devem estar se perguntando por que demoramos tanto para chegar ao futuro.

  3. A OBSESSÃO DE LULA PELA VALE, editorial do jornal O Estado de S. Paulo

    O presidente Lula da Silva quer porque quer retomar o poder de influência sobre a Vale. Consta que o petista está fazendo o que pode para emplacar o companheiro Guido Mantega na empresa – como presidente ou como integrante do Conselho de Administração. Em qualquer hipótese, a simples possibilidade de que isso aconteça, mesmo que Mantega não tenha condições de mudar os rumos da Vale como deseja Lula, ajudou a derrubar as ações da companhia na Bolsa – investidor nenhum gosta de interferências políticas nas empresas em que põe dinheiro.

    A intenção de fincar uma bandeira na mineradora, a segunda maior do mundo, traduz a obsessão de Lula e do PT em transformar as grandes empresas nacionais em agentes a serviço dos delirantes projetos desenvolvimentistas do lulopetismo. O caso da Vale é exemplar dessa sanha.

    Lula vem desde pelo menos 2006 questionando os rumos da empresa depois de sua privatização, em 1997, sob a alegação de que privilegia a busca do lucro e coloca em segundo lugar o imperativo de investir no País e gerar empregos. Em 2009, em seu segundo mandato, Lula traçou o plano de substituir o então presidente da Vale, Roger Agnelli, porque este havia demitido 1.300 funcionários em razão da crise mundial de 2008 e, principalmente, porque havia se recusado a tocar adiante o projeto lulopetista de investir na área de siderurgia e de transformar a Vale em generoso cliente da inexistente indústria naval que Lula sonhava desenvolver. Agnelli não resistiu à pressão e caiu em 2011 – depois de manobras, ora vejam, do então ministro da Fazenda, Guido Mantega, que costurou apoio dos principais acionistas da Vale para afastar o executivo, tornando-se, ele mesmo, uma espécie de interventor informal da então presidente Dilma Rousseff na companhia.

    Logo, chega a ser ofensiva a versão segundo a qual Lula estaria se empenhando em cavar um lugar para Mantega na Vale apenas para demonstrar gratidão ao ex-ministro por seus serviços prestados e arranjar-lhe um bom salário. Todos sabem que Mantega foi escolhido para essa missão porque é um tarefeiro do lulopetismo, como ficou claro, por exemplo, quando presidiu o Conselho de Administração da Petrobras, entre 2010 e 2015. Naquela época, Mantega deu aval aos projetos megalomaníacos que ajudaram a arruinar a empresa e atuou em favor da política suicida de preços dos combustíveis para socorrer a companheira Dilma, às voltas com uma inflação que corroía sua popularidade.

    Portanto, ainda que Mantega seja um nome indelevelmente ligado ao que de pior o lulopetismo produziu, sobretudo na trágica passagem de Dilma Rousseff pela Presidência, quando ajudou a mascarar o desastre das contas públicas que culminaria em recessão e impeachment, ele não passa de um peão no projeto estatólatra de Lula.

    Esse projeto inclui não só a Vale, mas também a Eletrobras, cuja privatização é tratada por Lula como “sacanagem”, “bandidagem” e “crime de lesa-pátria” – o presidente mandou entrar na Justiça para reaver o poder de decisão sobre a empresa, o que na prática representaria sua reestatização, um escandaloso retrocesso. E, claro, não se pode esquecer da Petrobras, cuja reconstrução após a razia lulopetista levou anos, mas que de uns tempos para cá voltou a navegar ao sabor dos interesses do governo, em franco desrespeito aos seus investidores privados.

    Seria tolo esperar outra coisa de Lula, um presidente comprovadamente incapaz de imaginar o Brasil com uma economia que se desenvolva e se sustente por suas próprias forças, em razão de investimentos privados, num ambiente de livre competição, sem qualquer interferência estatal. Nos sonhos de Lula está um setor produtivo que deixe de buscar o lucro e seja voluntarioso agente de seus fantásticos projetos de desenvolvimento liderados pelo Estado – todos já devidamente desmoralizados ao longo da trevosa era em que o lulopetismo exerceu o poder.

  4. Canrobert Marcolino

    Sugestões para substituir o “título” do município, já que temos outros itens a olho nu, que não à moda infantil:
    “Capital Nacional do Gelo Baiano”
    “Capital Nacional do Buraco”
    “Capital Nacional do Capim”

  5. O BRASIL TEM UMA INDÚSTRIA CEGA, por Elio Gaspari, nos jornais O Globo e Folha de S. Paulo

    Ricardo Bastos, presidente da guilda dos carros elétricos, mostrou, numa entrevista ao repórter Eduardo Sodré, que o Brasil pode perder o bonde de um novo salto industrial:

    — Você pode escolher se fechar, se esconder e postergar um problema que vai atingi-lo daqui a um par de anos ou um pouco mais. Em 2023, as exportações brasileiras [de veículos] começaram a cair. E não podemos culpar a Argentina, porque existem outros mercados que cresceram, como o mexicano.

    Bastos defende os interesses de sua guilda, e os números sugerem que ele deve ser ouvido. A chinesa BYD ultrapassou a Tesla na produção de carros elétricos. Quando Juscelino Kubitschek fez-se fotografar ao volante do primeiro Volkswagen, a China produzia bicicletas. Há dez anos, fabricava carros, mas exportava pouco. É possível que em 2030 o Império do Meio tenha um terço do mercado mundial de veículos.

    Enquanto isso, Pindorama trata o carro elétrico como se fosse um cisco incomodando o olho. Lida com o que lhe parece ser um problema onerando as importações, sem um programa agressivo de transformação de sua indústria automotiva. Parece um erro novo, mas é coisa velha.

    O patrono da indústria brasileira é o Barão de Mauá. Faliu. Ele navegou no Amazonas, produziu barcos e abriu ferrovias. Aqui e ali, culpou o governo pela sua ruína. O Brasil entrou deliberadamente tarde no mundo das ferrovias. Quando chegou, atrasado, ao tempo dos automóveis, afogou o transporte ferroviário. O raio caiu duas vezes no mesmo lugar.

    O sábio Warren Buffett já ensinou que, quando surge uma tecnologia nova, o empresário não deve correr atrás, pois, de maneira geral, a maioria dos pioneiros acaba quebrando. Diante da nova tecnologia, o que se deve fazer é saltar da velha. Por exemplo: se apareceram os bondes elétricos, vendem-se os burros. Se apareceram automóveis, venda seus cavalos.

    Olhando para trás, quando surgiu a energia a vapor, o negócio era se livrar dos negros escravizados, mas, na terra das palmeiras, esperou-se até 1888. Errou-se porque prevaleceram interesses estabelecidos. Mas nem sempre errou-se.

    Presidentes visionários criaram o Instituto Tecnológico de Aeronáutica e a Embrapa. Estão aí a Embraer e o agronegócio para mostrar que vale a pena olhar para a frente. Foi na Embrapa que se criou a semente de soja que brotava no Cerrado. Basta ouvir quem fala do novo.

    Na contramão, atendendo a alguns espertalhões da indústria eletrônica e a meia dúzia de militares interessados em boquinhas, o Brasil fechou seu mercado aos computadores estrangeiros. Para ter uma ideia do que se dizia, à época ouviu-se o seguinte:

    — O Brasil não pode deixar que os dados bancários de uma pessoa circulem numa rede estrangeira.A eletrificação dos veículos veio para ficar. Quem os produz com a tecnologia velha defende seus interesses, mas o governo não tem motivos para se associar a essa blindagem. O preço dessa opção será a preservação de um parque industrial condenado ao sucateamento. Uma indústria pode precisar de proteção, mas isso não a torna mais competitiva. Os barões da indústria automotiva estão sentados em cima de 70 anos de proteção.

    A exportação de proteínas cresce, e a de veículos encolhe. O agronegócio sabe se transformar, já o baronato da atual indústria automotiva sabe se proteger.

  6. FELIZ 2024, por Vera Magalhães, no jornal O Globo

    Que políticos têm obsessões particulares, fruto de seu repertório cognitivo e afetivo e de sua história, é óbvio. Mas, que um político tão experimentado, tanto no triunfo quanto na queda, como Lula se mostre tão aferrado a essas cismas num mundo tão complexo quanto o de hoje, é um tanto alarmante.

    Desde que assumiu pela primeira vez a Presidência, em 2003, Lula trata com certo desdém o Fórum Econômico Mundial, em Davos. A forma de mostrar que esnobava a meca do capitalismo global foi dar o mesmo peso à ida à cidadezinha da Suíça e a Porto Alegre, onde anualmente se realizava o Fórum Social Mundial. Ok, tinha seu charme e fazia sucesso junto à militância, uma vez que a importância do encontro anual em Davos tinha sido uma das marcas do “neoliberal” Fernando Henrique Cardoso, que veio logo antes e cujo legado era moda derrubar.

    Mas o contraponto Davos-Porto Alegre sempre foi um reducionismo não verdadeiro. Para ter maior igualdade social, é preciso mudar estruturas da ordem global, e é em palcos como o suíço que um país bem articulado deve se fazer ouvir e mostrar que tem projetos para isso.

    Daí por que, passados 20 anos, um Lula maduro, que quisesse, de fato, fazer valer o slogan segundo o qual o Brasil voltou ao tabuleiro mundial, deveria ir a Davos. Ou, no mínimo, mandar o ministro da Fazenda ou o vice-presidente da República.

    Até porque, em termos de contraponto com o governo anterior, nunca se pode esquecer a participação bizarra de Jair Bolsonaro em Davos logo antes da pandemia, eternizada no documentário “O Fórum”: um peixe fora d’água deixado de lado pelos líderes mundiais e ironizado pelos ativistas. Lula teria grande chance de demarcar a diferença de estatura entre o atual presidente brasileiro e o que ocupou o posto até 2022.

    Não se trata de menosprezar o peso que Marina Silva tem lá fora. Mas até pelo fato de haver questões não arbitradas na pauta ambiental e disputas internas, a presença de Alexandre Silveira na comitiva meio que “anula” a simbologia de mandar a ministra para lá. Além do mais, a greve dos servidores do Meio Ambiente, que se estende há semanas e compromete o resultado que começava a ser construído no combate aos crimes ambientais, meio que esvazia o trunfo que Marina poderia exibir publicamente.

    Outra das obsessões passadistas de Lula que resistem a cada Ano-Novo é a ideia de um capitalismo de Estado a despeito das evidências. A insistência em aboletar o ex-ministro Guido Mantega no conselho de administração da Vale se insere nessa visão de mundo que já passou na janela e só Carolina e Lula não viram.

    É uma espécie de terceira tentativa de dar a Mantega o que Lula acha que lhe é devido. Não deu certo no BID, não colou a ideia de tê-lo no comando da empresa, privatizada há longínquos 26 anos, e agora vem esse plano C, que é ir colocando o petista aos poucos no conselho, com um salário nada módico de R$ 100 mil, para, lá na frente, tentar construir o acordo para que ele talvez emplaque como presidente da companhia.

    Aparelhar o fundo de pensão da Previ para atuar nas empresas de que é acionista é outro filme velho cuja reprise não condiz com as prioridades do mundo em franca transformação. Mesmo na agenda econômica há urgências batendo à porta do governo, um cobertor curto em termos daquilo com que é possível contar para investir e questões que dependem de uma imersão maior do presidente, até para evitar bateções de cabeça que possam desaguar em crise, como essa questão malparada do vai não vai da reoneração da folha de 17 setores da economia.

    Na insistência em recriar um mundo conhecido, Lula fecha os olhos para o existente e para um que vai se moldando — em que a economia cresce menos e a emergência climática e a polarização política ameaçam governos — e para o qual precisava estar mais bem apetrechado do que está.

  7. Bom dia.
    Gaspar sendo Gaspar e a sua gente esfolada sem dó ou piedade.
    Qual foi a primeira ação do vereador Melato como presidente da casa do POVO?
    Fazer uma chamada Pública para novos estagiários.
    Mas, como “garantiu”, essa chamada será para “assegurar” que não faltarão servidores para “atender as demandas dos cidadãos gasparenses” “e que não haverão custos pq os novos “temporários” ficarão como suplentes, caso haja a necessidade de contratação” 👀😱😱😱💸💸💸💸💸💸.

    Passou da hora da gente sair do nosso cercadinho e EXIGIR dessa gente o que PROMETERAM, COBRARAM, MAS NÃO ENTREGARAM.

    1. Bom dia

      Nem eu, nem a senhora, nem as pedras da escadaria da nossa Igreja Matriz de São Pedro, ideia de um insistente visionário chamado Frei Godofredo, acreditamos que a Câmara com o mais longevo dos vereadores, José Hiulário Melato, PP, fará o que está predestinada na Constituição: fiscalizar o executivo e representar o povo.

      Em ano de eleições, será um escritório eleitoral de reeleição e apoio aos da continuidade. E vai começar pelo quadro de estagiários. Obrigado pela leitura e participação

  8. Para os padrinhos dos políticos daqui lerem, cuidadosa e lentamente. Guardem a última linha, por favor

    GRANDES EQUIPES DA HISTÓRIA TEM A CAPACIDADE DE SIMNPLIFICAR O JOGO, por Tostão, Eduardo Gonçalves de Andrade, ex-jogador, campeão com a lendária seleção brasileira de 1970. É médico, 76 anos, no jornal Folha de S. Paulo

    Quando comecei a estudar psicanálise, imaginava que jamais entenderia as ideias de Freud, que elas seriam assunto para intelectuais, psicólogos e filósofos. Logo percebi que seus textos eram tão claros, precisos, convincentes e simples que até os mistérios da alma tinham lógica. Era a vida retratada nos seus livros. Freud colocou ordem no caos.

    Quando atuei ao lado de Pelé, vi que, além de sua técnica exuberante, inigualável, uma das suas principais qualidades era tornar simples o que era complexo. Com poucos gestos, ações, tudo se iluminava à sua frente.

    As grandes equipes da história, como o atual Manchester City, possuem, além de grandes jogadores e ótimos conjuntos, a capacidade de simplificar. A bola sai do goleiro, de pé em pé, geralmente com um ou dois toques. Não complicam. Quando o time se aproxima da área adversária, surgem os dribles e as jogadas de gol. Quando não dá para completar os lances, a bola volta, com frequência para o centromédio (volante) Rodri, que reinicia a jogada. Tudo simples.

    No fim de semana, na vitória de virada por 3 a 2 sobre o Newcastle, o City perdia por 2 a 1. Sem mudar o estilo, a intensidade e a estratégia, continuou com o domínio da bola até fazer mais dois gols, que poderiam ter ocorrido em qualquer momento do jogo. A equipe não teve pressa nem atitudes heroicas para vencer. Muitas vezes, um time está bem perto de virar uma partida e o técnico, sem paciência para esperar, muda a maneira de jogar, substitui jogadores. A equipe perde a chance de ganhar.

    O Real Madrid, a segunda equipe que mais encanta no mundo, também se destaca pela simplicidade, pela troca de passes, pelo domínio da bola no meio-campo, até surgir nas costas dos defensores os espaços para os velozes e hábeis Vinicius Junior e Rodrygo receberem os lançamentos. Assim, o Real goleou o Barcelona por 4 a 1, na decisão da Supercopa da Espanha, jogo realizado na Arábia Saudita por causa do dinheiro de um país que viola os direitos humanos.

    Dorival Júnior certamente assistiu ao jogo e deve estar pensando na possibilidade de usar na seleção o mesmo esquema tático do Real Madrid, com Rodrygo e Vinicius Junior formando dupla de ataque. No Real, eles têm a companhia do meio-campista Bellingham, que marca, dá passes precisos e ainda chega ao ataque para fazer gols. Paquetá poderia ter na seleção o posicionamento de Bellingham. A diferença principal entre a seleção e o Real seria o trio do meio-campo do time espanhol, muito superior ao do Brasil.

    Vinicius Junior, que no início de sua trajetória no Real Madrid errava muito nas finalizações e com frequência tomava decisões erradas, corrigiu as falhas, evoluiu bastante e é hoje um craque, o único jogador brasileiro eleito pela Fifa na seleção mundial da última temporada.

    Ouço e leio opiniões diferentes sobre Dorival Júnior. Uns acham que ele é o técnico certo para a seleção, por ser sóbrio, organizado, por ter bom senso, além de possuir ótimos conhecimentos técnicos e táticos. Outros reconhecem essas virtudes, mas acham que ele é um técnico muito previsível, pouco ousado, sem surpreender, e que o Brasil precisaria de um treinador mais inventivo, corajoso como Fernando Diniz, que deveria ter tido outra chance.

    Precisamos aguardar os fatos, embora existam fortes argumentos mesmo contra os fatos, pois no futebol e na vida a verdade de hoje pode não ser a mesma de amanhã. “A vida dá muitas voltas, a vida nem é da gente.” (João Guimarães Rosa)

  9. NÃO DEVE HAVER PERDÃO A MULTAS DA ODEBRECHT, editorial do jornal O Globo

    O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli recebeu no último dia 9 um pedido da Novonor — novo nome da Odebrecht — para suspender os pagamentos à União relativos à multa de R$ 3,8 bilhões imposta pelo acordo de leniência firmado pela empresa na Operação Lava-Jato. A Novonor reivindica tratamento semelhante ao recebido de Toffoli pela holding J&F, dos irmãos Joesley e Wesley Batista. Em dezembro, numa decisão provisória que ainda não foi examinada por outros ministros do Supremo, Toffoli suspendeu os pagamentos da multa de R$ 10,3 bilhões que a J&F concordara em pagar no acordo de leniência com o Ministério Público Federal no âmbito de outra operação paralela à Lava-Jato, a Greenfield.

    O recuo nos acordos de leniência firmados por empresas que confessaram seu envolvimento em crimes e falcatruas com dinheiro público é mais um capítulo lastimável na sucessão de retrocessos no combate à corrupção nos últimos anos. Para Toffoli, havia no caso da J&F “no mínimo dúvida razoável” a respeito de um requisito essencial ao acordo: ser voluntário. Se a justificativa já é questionável para a J&F, usá-la para a Odebrecht seria completamente fora de propósito.

    A Odebrecht entregou de forma voluntária provas de corrupção em 49 contratos. Os dados de seu sistema de pagamento de propina foram mantidos intactos, e mais de 70 executivos subscreveram as delações. Empresários, políticos e executivos confessaram crimes. Tudo foi registrado em gravações atestando que não houve coerção. A Odebrecht ainda firmou acordo com autoridades americanas e suíças admitindo ter pagado US$ 788 milhões em propina em 12 países. Apesar de tudo isso, em setembro passado Toffoli surpreendeu o mundo jurídico ao anular todas as provas da delação da empresa, embora não tenha invalidado o acordo. Na ocasião, a Novonor não manifestou intenção de rompê-lo. Agora aparentemente mudou de ideia.

    Para justificar a anulação das provas, Toffoli citou as mensagens obtidas ilegalmente com conversas entre os procuradores da Lava-Jato e o ex-juiz Sergio Moro e afirmou que não havia acordo internacional para o envio de dados da Suíça para o Brasil. Pouco tempo depois, foi desmentido pelos fatos: havia o acordo. Nem assim o caso voltou a ser avaliado pelos demais ministros da Corte. Ao constatar eventuais problemas, não teria havido outra alternativa além da anulação total?

    Os erros e abusos dos procuradores e de Moro são de conhecimento público. Tão ou mais evidente é a capacidade de os envolvidos em corrupção escaparem das garras da Justiça, mesmo quando há fartura de evidências. No caso da Lava-Jato, as empresas foram condenadas também no exterior com base nas mesmas provas. Mais que as multas, está em jogo a credibilidade da própria Justiça. Dada a relevância do tema num país com o histórico de impunidade do Brasil, a avaliação não pode recair sobre um único ministro. Deveria ser colegiada. A Segunda Turma, que cuida dos casos da Lava-Jato, e mesmo o plenário do Supremo têm o dever de examinar a questão, para que não paire dúvida sobre sua solidez jurídica.

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