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COÇAR E TRAIR, É SÓ COMEÇAR. APÓS JURAR A CONTINUIDADE DA UNIÃO COM PP, PSD, PDT E PSDB, DEPOIS DO PP FILIAR E LANÇAR MARCELO PRÉ-CANDIDATO, O PREFEITO KLEBER EM EVENTO PARTICULAR DO VEREADOR, LANÇA CIRO COMO PRÉ-CANDIDATO DO MDB

Atualizado às 13h51min deste 13.12.2023. A notícia e que todos deram, ou vão dar e replicar pelas redes sociais e aplicativos de mensagens é: o vereador e presidente da Câmara, Ciro André Quintino, MDB, foi lançado como pré-candidato a prefeito de Gaspar no ano que vem. Esta manchete da imprensa local, regional e até estadual, num movimento coordenado de comunicação, esconde outra ação: a que fechar o espaço contra o PSD, PDT e PSDB para Ciro ser vice do atual vice, Marcelo de Souza Brick, agora no PP. Ou então, ensaia-se, mais uma vez, nova rasteira no próprio Marcelo.

Resumindo. Mesmo enfraquecidos, MDB e PP querem continuar o protagonismo no poder de plantão. E os nanicos PSD, PDT e PSDB, mais nanicos nas saias do MDB e PP.

Retomando.

Ciro promoveu, com sucesso, na segunda-feira à noite, mais uma vez, o tradicional “Carreteiro dos Amigos do Manda Brasa”, que inicialmente era chamado de “Carreteiro Amigos do Ciro”. Mudou na última hora. Ele aconteceu na comunidade São João Batista, reduto dele, o tradicional Beco, no Gasparinho.

Acorreram para lá os amigos do vereador nos diversos partidos da atual coligação, os patrocinadores da boca-livre (a bebida era à parte) e a turma do “manda brasa” – o apelido do velho MDB que nem existe mais. Em Gaspar, o MDB está cada vez menor. Ao convescote vieram os deputados (agora secretário de Infraestrutura e Mobilidade de Santa Catarina) Jerry Comper, MDB, e Carlos Chiodini, presidente estadual do MDB, para os quais Ciro é cabo eleitoral por aqui, bem como o prefeito Kleber Edson Wan Dall, ainda no MDB.

A informação que não circulou publicamente, mas deixou todos do entorno de Ciro nervosos, decorreu do artigo de segunda-feira neste espaço A REEDIÇÃO DA “REUNIÃO” DO MDB, PP, PSD, PDT E PSDB PARA CONTINUAR NO PODER EM GASPAR JÁ FEZ A PRIMEIRA VÍTIMA: CIRO QUINTINO Foi o artigo que apressou, por sua vez, uma série de acontecimentos para tornar o evento da noite um ponto mais radical, povoado e sem volta.

Para abafar as dúvidas, logo no início da tarde de segunda, Ciro ao lado de Kleber afirmava que ele seria o pré-candidato do MDB. Reuniões. Disparos de contrainformações. Desespero. Explicações. Enquanto isso, o fogo amigo, disfarçado de oposição – o que mostra bem o nível de desgaste desta “união” MDB, PP, PSD, PDT e PSDB, usava os aplicativos de mensagens e as redes sociais para dedurar comissionados supostamente em pleno horário de trabalho preparando o tal carreteiro do Manda Brasa e do Ciro.

Finalmente, diante de uma plateia eclética e de ausências sentidas, inclusive do MDB local e regional, diante do parceiro – e ex-arqui rival PP e também do já nominado pré-candidato a prefeito, o atual vice, Marcelo, não restou outra alternativa a Kleber do que apontar Ciro como o pré-candidato a prefeito pelo MDB, sem que isso tenha sido decidido coletivamente pelo diretório – aliás, como também não foi no PP para o anúncio de Marcelo. Mal-estar para uns. Festa para outros.

Definitivamente foi uma segunda-feira agitada. E foi dada a largada na corrida ao velho paço municipal da Praça Getúlio Vargas, que até perdeu a velha figueira este ano. O poder de plantão saiu na frente. Está cercando o bode. E a oposição, tanto do PT, do PL, do Republicanos, do Novo, do União Brasil preferiu assistir a largada e suspeitar de infidelidades. Estão guardando o fôlego, pois não possuem a máquina que MDB, PP, PSD, PDT e PSDB tem na mão, como poder de plantão por sete anos.

E disso, o PT conhece bem, inclusive o desgaste de ser poder por dois mandatos seguidos e entregue uma ponte do Vale, de R$43 milhões à época, sem praticamente um tostão dos gasparenses. Hoje, esta ponte custaria o dobro. Kleber que foi ontem a Brasília num tour com o seu ex-vice, hoje chefe de gabinete e presidente do PP, Luiz Carlos Spengler Filho, não conseguiu em sete anos, nada parecido para a cidade. Ao contrário. Terá que vender imóveis para fazer caixa e terminar o mandato.

O que está claro com tudo o que aconteceu na reafirmação da coligação MDB, PP, PSD, PDT e PSDB, a filiação de Marcelo e o anúncio do PP que ele será o candidato a prefeito e o mesmo anúncio do MDB nesta segunda-feira tudo numa dança ensaiada e mostrada num intervalo de dez dias? 

De que Marcelo está avisado do seu enquadramento e da sua fragilidade na turma em que se meteu – por sua própria escolha – ao sair em 2020 da carreira solo no PSD e que ao menos dominava. O MDB, Kleber, o grupo de empresários e de interesses que cercam essa gente atualmente no poder de plantão já lhe passaram a perna. Não entregaram o que lhe prometeram no acordo: a prefeitura em 2021 para ele não concorrer contra a reeleição de Kleber 2020. Parecem estar ensaiando outra. E sem disfarces estão dando avisos.

Como escrevi aqui, várias vezes, até junho do ano que vem, muita água vai passar por esta ponte chamada de eleições municipais. É muito cedo. Mas, tudo se encaminha para um e para outro lado separando os preparados dos ingênuos. A foto que abriu este artigo e a usei no dia primeiro de dezembro em LÉ COM CRÉ. ASSIM OS POLÍTICOS DE GASPAR VÃO AGREGANDO, SEPARANDO E MARGINALIZANDO OS QUE ESTÃO AGRUPADOS NA CONTINUAÇÃO DO PODER DE PLANTÃO. AO MESMO TEMPO ENFRAQUECEM NOVOS GRUPOS OU NOMES Ela, olhando bem, parece-se com a representação da Última Ceia, do gênio Leonardo da Vinci. Então coçar e trair, é só começar. E basta um. E alguém será crucificado.

GASPAR TEM O MELHOR PREFEITO DE SANTA CATARINA

E por que Ciro tem que ser o nome do MDB? Porque o partido tem o melhor prefeito de Santa Catarina, Kleber Edson Wan Dall. Simples assim. Pena que não seja assim reconhecido por seus pares e por aferições de vários indicadores. Então sobra capim por toda a cidade.

Esta revelação foi o ápice da festa do Ciro e do velho Manda Brasa gasparense na noite de segunda-feira. A bolha presente lá foi ao delírio. Para não dizer de que eu exagero mais uma vez, este é o discurso de Kleber. É vazio. Por outro lado, foi feito sob medida para se dizer aos seus que há combustível e uma luz no final deste túnel. Depois do vídeo de Kleber no convescote político, algumas pontuações minhas sobre o conteúdo.

Para o prefeito Kleber, Gaspar produziu o melhor programa social do Brasil: a geração de empregos (não deu os números, não os comparou, não fundamentou o que disse). 

Kleber não está errado no conceito. Nos números não valem, todavia os que trocaram os bons empregos formais pelas MEIs. Nas atitudes, o rosário é, por outro lado, longo. Foi Kleber que para diminuir as filas nas creches as criou em meio período. E mesmo assim as vagas continuam insuficientes para a demanda atual e do futuro. 

Como alguém pode ser atraído para um emprego na cidade se sabe que vai ganhar pouco e não terá vagas em creches para seus filhos? Igualmente se não houver, como não há, ensino de qualidade, com turno integral, ou minimamente, o contraturno.  Ontem mesmo, os pais com filhos nas creches, estavam ouriçados com as férias coletivas de 35 dias da prefeitura de Gaspar. Para nesta sexta-feira dia 15 e volta só na quinta-feira dia 18 de janeiro de 2024.

Até agora, nenhuma orientação de como elas vão ou não vão funcionar neste período. Se a comunicação e a marquetagem é muito boa para anunciar pré-candidatos, a do governo de Kleber peca, repetidamente, na interlocução com os cidadãos e cidadãs precisados dos serviços públicos da prefeitura de Gaspar.

Como pode alguém ser atraído até para morar – pois os loteamentos se multiplicam – se há claros problemas de mobilidade, não há coleta e tratamento de esgoto, abastecimento de água comprometido devido a esta expansão imobiliária, se investidores em parques logísticos e industriais – que geram empregos diretos e indiretos, renda e tributos – ficam isolados como, por anos, à espera do asfalto na Vidal Flávio Dias, no Belchior Baixo, no Distrito do Belchior, ou se desde 2016 o Plano Diretor não é atualizado como manda a lei, e todos ficam a mercê das escolhas e boa vontades – e até vinganças – dos políticos no poder de plantão?

E na Saúde pública? Caos.

Nos postinhos, nas farmácias básicas, nos exames especializados e no Hospital de Gaspar só problemas, dúvidas e falta de transparência. Então como Gaspar está produzindo o melhor programa social do Brasil, a geração de empregos? Ao saber dessa deficiência crônica do governo de Kleber e Marcelo, a mão de obra – qualificada ou não – foge daqui. É nesta hora que se vê as ausências no contraponto das instituições representativas das classes produtivas.

E foi, segundo o que está no discurso acima, para continuar na mesmice que está aí e sob severas críticas que Kleber apresentou Ciro como seu sucessor. Melhor padrinho Ciro não podia ter. Ciro para completar, no discurso falou em união. Agora é esperar o que é esta “união”. Vamos aguardar o final da Santa Ceia. Acorda, Gaspar!

TRAPICHE

Faz de conta I. Bastaram menos de 30 dias da edição da Lei do Silêncio (Lei 1.154/88, acréscimo sancionado em 17.11.2023) em Gaspar e o próprio prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, jogou-a no lixo, na frente de todos os gasparenses, inclusive dos que aprovaram o Projeto de Lei na Câmara, dos que estavam obrigados a fiscalizar esta lei em vigor – e estavam lá no Beco no Carreteiro dos Amigos do Manda Brasa. Em Gaspar, as Leis existem para decoração, ou então, para serem usadas contra os que discordam do poder de plantão. Simples assim!

Faz de conta II.  Bingo. Eu avisei lá no dia 21 de novembro, depois do silêncio da imprensa, em COM A CIDADE EM FRANGALHOS, OS VEREADORES EM CAMPANHA ELEITORAL E DE COSTAS PARA A REALIDADE, PROIBEM FOGOS DE ARTIFÍCIOS COM “ESTAMPIDO ALTO” EM GASPAR. AVANÇA, CAPIM! de que isto iria acontecer. Fui, mais uma vez, massacrado pelo autor do Projeto de Lei, Francisco Hostins Júnior, MDB e de muda para o PL, e pelos políticos dessa pantomina. Aprovaram uma coisa que sabiam que faziam de conta que valeria. Entre outras tantas.

Faz de conta III. O que aconteceu nesta segunda-feira no Carreteiro do vereador Ciro André Quintino, MDB, presidente da Câmara, um dos que aprovou – na votação ele não se manifestou contra – o Projeto de Lei que proibia fogos de artifícios com estampidos altos em Gaspar? Um foguetório dos bons para comemorar o “lançamento” pelo prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, do nome de Ciro, dentro do MDB, como pré-candidato a prefeito nas eleições do ano que vem. 

Faz de contas IV. Coitados dos ouvidos do povo, dos animais e dos autistas argumentos alegados chorosamente no Projeto de Lei, sob a relatoria de Mara Lúcia Xavier da Costa dos Santos, PP, para aprovar o que foi sancionado por Kleber Edson Wan Dall, MDB, como Lei, dentro do Código de Posturas do município. E sem veto algum. O que escrevi no dia 21 de dezembro, no blog, entre tantos argumentos e que irritou os políticos envolvidos nesta trama?

Faz de contas V – “Porque no Projeto de Lei aprovado, com muito bla-blá-blá da relatora e do autor, primeiro não diz como isso vai ser fiscalizado, qual é o limite de decibéis permitido por esta Lei contra o barulho dos fogos – é o mesmo que dizer que não se deve imprimir velocidade alta numa rua e não se impor limites -, quem medirá – igual a Ditran daqui que não funciona, mesmo existindo a Lei para ser aplicada -, e qual será a punição – ou seja, o valor da multa – para quem “desobedecer” a Lei que será sancionada por outro embalador de demagogias, o prefeito Kleber“. 

Faz de contas VI. Bingo mais uma vez. E rápido demais. E em evento dos próprios políticos. Ou seja, mais um ponto para este espaço. O assunto de segunda-feira à noite bombou nas redes sociais e aplicativos de mensagens. Questionado, o autor do Projeto que virou Lei, Francisco Hostins Júnior, MDB disse: “a lei foi sancionada. Todos devem respeitar. Graças a Deus não estava naquele evento. Respeito e coerência não são muito peculiares na vida pública e política, infelizmente. Difícil esperar respeito que não tem coerência entre o discurso e prática“. Como se vê, nada como um dia atrás do outro. Eu continuo coerente. E pago caro por isso. Por isso, desta vez foi Hostins Júnior quem teve que lavar a minha alma. E afiou o discurso…

Ausências sentidas no convescote do vereador Ciro André Quintino, MDB: do ex-prefeito de fato e ex-presidente do MDB de Gaspar, o tal Manda Brasa, Carlos Roberto Pereira; do presidente do Samae e articulador da candidatura de Marcelo de Souza Brick, PP, Jean Alexandre dos Santos, MDB e de muda para o PSD, talvez; do ex-faz tudo e irmão de templo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, presidente do PSDB de Gaspar, o consultor político do poder de plantão, Jorge Luiz Prucino Pereira.

Diante do que aconteceu nesta segunda-feira, o PSD – o de Giovano Borges -, o PDT e o PSDB – que nem se sabe se existe de fato na cidade – estão autorizados a lançarem os seus pré-candidatos a prefeito, mesmo tendo eles, jurados, que ficariam numa mesma balaia para esta disputa? Ou seja, a união é só para os mesmos. O resto vem a reboque?

Dormitando há um ano e meio nos escaninhos da Câmara de Gaspar, o Projeto de Lei 53/2022, do nada, apareceu na pauta da sessão de terça-feira da Câmara de Gaspar. Ele “permuta” área verde e de uso comum do Loteamento Jardim das Flores com a SPE que faz o Seahaus, ambos no bairro Figueira. Tudo para permitir acesso ao Seahaus. E como de praxe, a prefeitura não respondeu às perguntas de esclarecimentos dos vereadores. Ou porque não possui respostas. Ou porque, como é praxe, e possuir maioria com a Bancada do Amém, não está nem aí.

O assunto é controverso. Há um Termo de Ajustamento de Conduta entre os empreendedores, a secretaria de Planejamento Territorial, a Superintendência de Meio Ambiente e Desenvolvimento sustentável. E tem tudo para parar no Ministério Público e a Justiça. Não só isto, como a Via Projetada, bem como o desvio de curso d’água.

A denúncia do partido Novo de Gaspar no Ministério Público local contra a forma como se estruturou o leilão dos imóveis que a prefeitura quer vendê-los para fazer caixa, não encontrou problemas naquilo que se denunciou: a especificação do que se apurar com a venda dentro do Orçamento municipal do uso dos recursos apurados pelo referido leilão.

Entretanto, a denúncia prosseguiu por outro aspecto e terá desfecho em 90 dias: forma de contratação direta dos avaliadores. O Ministério Público vai avaliar se era necessária uma concorrência para a escolha desses profissionais. O leilão dos imóveis acontecerá no dia 26 de janeiro. 

Estranho é que quem vai ao site da prefeitura tem muita dificuldade para encontrar como se chegar e se habilitar ao leilão. Parece coisa de cartas marcadas ou de quem não quer vender nada. Publicidade, zero. Ainda mais para quem é marqueteiro demais nas coisas de políticas e diz que está com o caixa furado, precisando muito deste negócio. Acorda, Gaspar!

Aqui está o link deste assunto: https://grp.gaspar.sc.gov.br/grp/materiais/acessoexterno/compras/licitacaoConsultaAcessoExterno.faces

Registro I. Ontem quem estava em Brasília era o secretário de Infraestrutura e Mobilidade, o deputado estadual Jerry Comper, MDB (foto ao lado). Ele foi receber do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, PT, o papelinho que dá o crédito de R$632 milhões para investir na recuperação das rodovias estaduais e mote de propaganda do governador Jorginho Melo, PL.

Registro II. Vários estados foram contemplados. Entre eles, o estado de São Paulo com R$10 bilhões. O governador Tarcísio gomes de Freitas, do Republicanos, por exemplo, foi ao Palácio do Planalto e posou na foto oficial com Lula, exibindo igual papelinho.

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9 comentários em “COÇAR E TRAIR, É SÓ COMEÇAR. APÓS JURAR A CONTINUIDADE DA UNIÃO COM PP, PSD, PDT E PSDB, DEPOIS DO PP FILIAR E LANÇAR MARCELO PRÉ-CANDIDATO, O PREFEITO KLEBER EM EVENTO PARTICULAR DO VEREADOR, LANÇA CIRO COMO PRÉ-CANDIDATO DO MDB”

  1. Pingback: EM MEIO A BOATOS DE DESISTÊNCIA, KLEBER LANÇA O VICE, PELA SEGUNDA-VEZ, COMO SEU PRÉ-CANDIDATO À SUA SUCESSÃO; CANCELA O "SEU MDB" E A ENTREVISTA COLETIVA PARA "EXPLICAR" UM FATO POLÍTICO FUNDAMENTAL DAS ELEIÇÕES DE OUTUBRO; E

  2. BUSINESS AS USUAL, por Willian Waack, no jornal O Estado de S. Paulo

    É a politização do STF que estava em jogo no circo armado no Senado para apreciar a indicação de Flávio Dino como novo ministro da Corte, além de Paulo Gonet para a PGR. O mérito do espetáculo residiu sobretudo em escancarar a realidade.

    A politização do Supremo é tratada hoje nas esferas do Executivo, do Legislativo e no imenso universo da mídia profissional e redes sociais como um dado inconteste da política brasileira. Dino fez uma defesa pro forma da “autocontenção” do Poder Judiciário e também foi ouvido pro forma.

    Esforço semelhante foi feito por Paulo Gonet. “Não acho que o Ministério Público faça política”, respondeu aos senadores. Não é o que pensa a totalidade da classe política, aqui apoiada em fatos históricos incontestes.

    Senadores e indicados foram obrigados a abordar de maneira direta a questão do equilíbrio entre os Poderes. A degradação na suposta “relação harmoniosa” entre eles vem de longe e desaguou na situação atual, na qual o Executivo se queixa do Legislativo, que se queixa do Judiciário, que se queixa do Legislativo, e todos parecem ter razão.

    Os indicados fizeram as observações que deles se esperava, com as devidas citações de textos clássicos e dispositivos da Constituição para admitir que uma coisa ou outra talvez tenha escapado da norma, mas que, no total, o equilíbrio entre os Poderes funciona. Qualquer maçaneta de porta de gabinete em Brasília sabe que não é bem assim.

    Ambos, Gonet e Dino, prestaram a devida reverência aos parlamentares que os sabatinavam no Senado. Em especial Dino atribuiu sempre ao Legislativo, aos que têm voto, a responsabilidade principal na decisão das principais matérias – deixando para o STF apenas a “interpretação” da norma, sem ser legislador. Na Brasília de hoje ninguém leva isso a sério, começando pelo Palácio do Planalto, que vê no STF um importante aliado em economia e política. E como eventual freio ao Legislativo.

    Temas que suscitam ferozes batalhas na internet, como aborto ou drogas, foram abordados pelos indicados exatamente como se esperava, isto é, empenhados em não gerar manchetes. Dino enfileirou Montesquieu, Locke, Aristóteles e os textos federalistas que criaram a Constituição americana para dizer que ativismo judicial não pode ser um dogma filosófico – ou seja, depende do ativismo para quê.

    Gonet fez o afago final, comparando o Senado a uma grande Ágora ateniense na qual se exercita a democracia em nome de 220 milhões de brasileiros. Não se sabe quantos dos senadores conhecem a antiguidade clássica de 2.500 anos atrás para apreciar a qualidade do afago. Mas todos sabem que, depois da sabatina, é business as usual.

  3. A RETÓRICA PERDULÁRIA DE LULA, editorial do jornal O Estado de S. Paulo

    O presidente Lula da Silva estava animado na última reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável, conhecido como Conselhão. Em discurso, declarou que não vê nenhum problema em fazer dívida para gerar crescimento econômico, tornou a questionar a meta de déficit zero defendida pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e ainda incluiu a inflação entre os parâmetros que podem ser ignorados em nome da necessidade de estimular a economia. Ou seja, Lula corroborou, praticamente na íntegra, o documento irresponsável do PT que, dias antes, defendeu que o governo dê uma banana para os limites fiscais em nome da necessidade de ganhar eleições – a única coisa que realmente importa para o lulopetismo.

    “Se for necessário este país fazer um endividamento para crescer, qual é o problema?”, questionou Lula. Em vez de fazer essa pergunta retórica, o presidente poderia ter consultado seu ministro da Fazenda, que certamente saberia lhe explicar que endividamento não gera crescimento, mas inflação, juros altos e estagnação. Se gastança fosse solução, o

    Brasil, cujo Estado é perdulário praticamente desde a Independência, teria crescimento chinês.

    Enquanto o pobre ministro da Fazenda tenta encontrar tostões nos bolsos das calças para fechar as contas de um governo com cada vez menos recursos, o presidente desmoraliza publicamente seu esforço: “Eu não quero saber de onde a gente vai ter dinheiro”.

    O flerte de Lula com a irresponsabilidade fiscal está se transformando em relacionamento sério. A certa altura de sua arenga, o chefão petista declarou que já conhece “o caminho das pedras” e que, portanto, é preciso “decidir agora se vamos retirar essas pedras ou não”, isto é, “se a gente vai chegar à conclusão que, olha, por um problema da Lei de Responsabilidade Fiscal, de superávit primário, de inflação, a gente não poder fazer”.

    Ou seja, Lula considera que a Lei de Responsabilidade Fiscal é um “problema” a ser ignorado, uma “pedra” a ser removida, em nome do crescimento econômico. No mesmo fôlego, desestimou o caráter inflacionário do endividamento. Esse é o receituário do desastre, como já deveria ter ficado claro para um presidente que está em seu terceiro mandato e que teve bastante tempo para aprender com seus próprios erros e com os de sua inesquecível criatura, Dilma Rousseff, cujo mote “gasto é vida” ornou a maior recessão da história recente do País.

    Não há milagre. Somente o aumento da produtividade da economia é capaz de induzir períodos de crescimento perenes e estáveis. Não basta ampliar de forma desmedida qualquer tipo de investimento sem considerar a qualidade desses gastos nem a óbvia necessidade de encontrar as receitas correspondentes – isso num país já sufocado por imensa carga tributária. Não adianta escolher a dedo setores a serem estimulados nem “campeões nacionais” a serem financiados sem considerar as condições da economia brasileira e sua capacidade de competir e se integrar com as cadeias globais.

    Lula parece convencido de que ainda estamos na primeira década do século, quando o mundo vivia o superciclo de commodities, que gerou o vigoroso crescimento brasileiro registrado em alguns daqueles anos. Não há nada parecido com isso no horizonte.

    Não se trata de demonizar o papel da política fiscal para reativar a economia durante turbulências, como a crise financeira mundial de 2008 e a pandemia de covid-19. Mas é fundamental que todo governo minimamente responsável saiba a hora de retirar os estímulos para deixar a economia voltar a andar com as próprias pernas. Lula, ao contrário, acha que é função dele guiá-la pelo melhor caminho.

    Contrariando todas as expectativas, felizmente o País deve encerrar o ano com um crescimento de 3%. É um crescimento robusto, muito puxado pelo agronegócio. Seria o momento ideal de investir em uma política fiscal anticíclica, que dialogue com a política monetária e crie um espaço fiscal para que a sociedade possa enfrentar momentos de crise – que sempre virão – de uma forma menos penosa.

    É, contudo, o exato oposto do que Lula defende. Para ele, basta querer – e gastar – que os problemas acabam.

  4. Bom dia.
    Sobre a lei da proibição de foguetório na cidade, ele aconteceu praticamente dentro da delegacia.
    Já imaginaram o que aconteceria se fosse uma festa de casamento e se os “autores” fossem da oposição???

    Nunca esquecendo do episódio da Audiência Pública na Câmara municipal, aquela pra discutir e APROVAR a toque de caixa
    a COMPRA do terreno da FURB.
    Na época, a mesa diretora (feminina) da Casa do POVO chamou a polícia ARMADA de FUZIL pra INTIMIDAR os REPRESENTADOS insatisfeitos com os DESMANDOS dos seus (??????) representantes…
    👀
    Pois é, de lá pra cá, o Avança CAPIM e o AVANÇA BURACO da bancada do AMÉM ganhou força e vigor.

    1. Parece que é este tipo de percepção, tão clara na cidade, mas todos, repito, todos, com medo de expressá-la, que se quer longe do debate público e das urnas de outubro de 2024

  5. TUDO AO MESMO TEMPO, por Vera Magalhães, no jornal O Globo

    O risco de deixar tudo para a última hora, como o governo resolveu fazer neste fim de ano no Congresso, é que alguma tartaruga pode acabar escapando. Como os assuntos pendentes são relevantes em várias searas, pode-se dizer que Lula está vivendo perigosamente na economia e na política ao término de seu primeiro ano.

    Há um silêncio da parte do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que denota que nem ele, desta vez, tem um cenário claro daquilo que é possível e o que não é viável entregar ainda neste ano entre as muitas pendências.

    Sua prioridade é desde sempre a reforma tributária. É aquele feito que sabe que será creditado mais a seu empenho pessoal e sua capacidade de liderança sobre a Casa que preside que ao governo ou ao Senado. Aprovar em definitivo a Proposta de Emenda à Constituição e promulgá-la depois de décadas será, para ele, o momento de auge de seu mandato e um possível passaporte para um futuro longe da planície da Câmara quando deixar a presidência.

    A dúvida é quanto ao real empenho de Lira para aprovar o projeto mais caro a Fernando Haddad, a Medida Provisória 1185, que muda a cobrança de impostos federais que incidem sobre incentivos fiscais. O governo acredita que há boa vontade do cacique em ajudar a Fazenda nisso, até porque o acordo incluiria que uma parte da receita a mais com arrecadações reforçaria as emendas parlamentares.

    Mas há sérias dúvidas entre lideranças da própria Câmara quanto à capacidade do sempre onipotente Lira entregar os votos desta vez. O silêncio com que ele conduz essas duas semanas finais do ano mostra que ele quer primeiro articular os votos para só então anunciar o cronograma, o que torna bastante imprevisível o montante com o qual a equipe econômica vai poder contar no conjunto de medidas que erigiu para viabilizar o arcabouço fiscal.

    Não parece ajudar a desanuviar o cenário o jogo duro da Fazenda em anunciar sua proposta alternativa para o veto de Lula à prorrogação da desoneração da folha de pagamentos para 17 setores da economia até 2027. Aliados do ministro têm dito que ele quer condicionar o acordo à votação das matérias na pauta da Câmara, sobretudo a MP 1185. Mas soa demasiado confiante da parte da equipe de Haddad achar que tem como pagar para ver com um cronograma tão apertado.

    No afogadilho desse dezembro decisivo, também há uma certa dose de incerteza na política, com a votação, nesta quarta-feira, da indicação do ministro Flávio Dino para o Supremo Tribunal Federal.

    Qualquer um com quem se converse em Brasília começa dizendo que é muito improvável que o Senado rejeite um de seus quadros para uma vaga na mais alta corte. Mas, em seguida, ministros e senadores são reticentes quanto a arriscar um placar e uma certeza. E relatam uma dose de trabalho extra para assegurar votos na própria base aliada.

    Um sinal na reta final desse cuidado extra veio na decisão de Lula de enviar seus ministros senadores de volta ao mandato para “prestigiar” o colega. Na verdade, havia incerteza quanto ao voto de apenas uma suplente, Margareth Buzzetti (PSD-MT), companheira de chapa do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro. Mas o Planalto foi aconselhado a disfarçar o cuidado embalando todos os ministros senadores no mesmo pacote, porque tudo que não se precisava nessa fase decisiva era uma acusação de misoginia contra uma senadora do Centrão.

    A aposta mais aproximada que aliados de Dino fazem é que ele deverá ter mais votos que André Mendonça (47) e menos que Cristiano Zanin (58) e ser confirmado. Se for assim, está ótimo para ele e para Lula. Mas o voto é secreto e o trabalho da oposição contra o maranhense é obstinado, pois obter sua derrota seria um troféu natalino com o qual os bolsonaristas sonham para desgastar o presidente ao término do seu primeiro ano.

    Como se vê, os próximos dias vão demandar do Planalto e da Fazenda capacidade de enxergar as nuances e de articular saídas rápidas. O acúmulo de pendências mostra que foram atributos que faltaram nos últimos meses.

  6. LULA EVITOU A FRIGIDEIRA, por Elio Gaspari, nos jornais O Globo e Folha de S. Paulo

    Se Lula fosse para a reunião dos presidentes da Venezuela e da Guiana que começa amanhã numa ilha do Caribe, correria o risco de cair numa frigideira de expectativas. Apesar do palavrório de Nicolás Maduro, não se sabe exatamente o que ele quer, muito menos até onde é capaz de ir. Na outra ponta do problema, não se sabe o que o presidente da Guiana quer negociar, muito menos se a ExxonMobil aceita discutir seus contratos de exploração de petróleo na plataforma continental da Guiana. Em qualquer dos casos, pesará uma decisão da Corte Internacional de Haia.

    Essa circunstância dá à encrenca de Essequibo uma diferença em relação a duas grandes, e fracassadas, aventuras militares: a da Argentina nas Ilhas Malvinas, em 1982, e a do Iraque no Kuwait, em 1990. Naqueles casos, dois ditadores invadiram terras alheias pensando em conversar depois. Deu no que deu. Maduro não moveu um só soldado. Anexou o Essequibo nas tipografias de Caracas que imprimem mapas e avisou que quer conversar.

    Maduro não quer terras, quer royalties. Logo, esse é um litígio para diplomatas e advogados, não para soldados. Como ensinava o embaixador Ítalo Zappa, ao contrário dos enfrentamentos militares, as negociações diplomáticas não pressupõem claros e imediatos vencedores e derrotados. Às vezes, quem perde diz que ganhou e quem ganhou diz que perdeu.

    Se Lula fosse à reunião caribenha, o Brasil carregaria a bola de ferro de sua simpatia pelo governo venezuelano. A ida de Amorim permite colocar o Itamaraty na condição de facilitador na criação de prazos e foros para que a Guiana e a Venezuela conversem.

    Pouco a ver com mediação, pois, com seu plebiscito de fancaria, Maduro envenenou a questão. Como a disputa por Essequibo tem quase dois séculos, um ano para cá, dois para lá fariam pouca diferença.

    Caso Lula aparecesse na foto, uma reunião ao fim da qual se decide apenas continuar conversando poderia ser considerada um fiasco, por alimentar expectativas. Com a ida de Amorim, ela pode ser vista como um primeiro passo, mesmo que não se saiba para onde.

    Toda a retórica venezuelana pode ser contida se, enquanto o litígio estiver sendo negociado, Maduro aceitar uma situação em que sua estatal petrolífera concederá licenças de exploração de petróleo na plataforma da Guiana, sem mover equipamentos. Esses contratos, como o mapa que exibiu, seriam apenas conquistas tipográficas, valendo as folhas de papel em que foram impressas.

    Entre o plebiscito e a declaração de Maduro de que está aberto para conversas, passou-se menos de uma semana. (No meio, houve um exercício militar “de rotina” de tropas americanas.)

    Tudo indica que a teatralidade venezuelana tem um pé na política interna, e nada impede que Maduro continue brandindo seu mapa. Afinal, os argentinos continuam dizendo que as Ilhas Falkland são suas e chamam-se Malvinas.

    Maduro trata os Estados Unidos como “o Império”, e o governo americano excita a oposição venezuelana, mas, quando a questão girou em torno do petróleo, as cabeças esfriaram. Em outubro passado, Maduro soltou cinco presos políticos, e Washington suspendeu por seis meses as sanções que bloqueavam a compra de gás e petróleo venezuelano.

  7. ALIANÇA DE LULA COM O SUPREMO, por Vera Rosa, no jornal O Estado de S. Paulo

    O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), conclui hoje sua última reunião deste ano. A expectativa é um corte de meio ponto percentual na taxa básica de juros, a Selic, para 11,75%. A reunião ocorre um dia depois do anúncio da inflação de novembro: 0,28%, menor resultado para o mês desde 2018. No acumulado do ano, o índice está em 4,04%. A previsão dos analistas ouvidos pelo BC é de 4,51% em 2023, abaixo do teto da meta (4,75%). Depois de dois anos acima do limite, o Brasil volta enfim a dominar a inflação. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deveria lembrar tal feito antes de voltar a atacar o presidente do BC, Roberto Campos Neto. Inflação alta, vale ressaltar, é particularmente perniciosa aos pobres.

    O Copom deu início à escalada de juros em março de 2021, antes da maioria dos bancos centrais das grandes economias, que depois seguiram a mesma estratégia contra o choque inflacionário da pandemia. A Selic saiu de 2% em janeiro de 2021 até chegar a 13,75% em agosto de 2022. Apesar disso, em 2021 a inflação ficou em 10,06%, quase o dobro do teto da meta (5,25%). No ano passado, caiu para 5,79%, ainda acima do teto. Só neste ano voltou para dentro dos limites. A conquista só foi possível também graças aos compromissos fiscais assumidos pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Sem eles, as expectativas inflacionárias sofreriam deterioração, exigindo do BC juros ainda mais altos.

    O regime de metas de inflação foi adotado em 1999 e tem se provado eficaz para ancorá-las. Em 24 anos, a inflação ficou fora do intervalo de tolerância apenas sete vezes: no choque econômico do início do século e no primeiro ano de Lula no Planalto (2001, 2002 e 2003), na crise provocada por Dilma Rousseff (2015 e 2017) e nos últimos dois anos. O resultado de 2023 reforça o poder do BC como referência futura da alta de preços. Sem credibilidade, não há regime de metas que funcione.

    Olhando para 2024, o governo pode atrapalhar o controle da inflação de duas maneiras. A primeira é Lula voltar a pressionar Campos Neto a acelerar a queda de juros. Ontem, em evento no Palácio do Planalto, ele disse ser preciso “mexer com o coração do presidente do Banco Central” para baixar a Selic. A declaração quebra meses de trégua costurada por Haddad e revela a dificuldade de Lula para atender aos anseios do PT na economia.

    Justamente aí está o segundo risco. Uma resolução recente do partido critica a “ditadura do BC independente” e diz ser necessário se livrar do que chamou de “austericídio fiscal”. O governo pode fazer estrago maior se abandonar seus compromissos fiscais. O novo arcabouço para as contas públicas mal tinha sido aprovado, e Lula já falava em desrespeitar as metas de zerar o déficit em 2024. Haddad enfrenta dificuldades no próprio partido para aprovar no Congresso as medidas necessárias ao cumprimento das metas do arcabouço.

    Ora, credibilidade é fator crítico para o êxito de qualquer política econômica. Ainda que atingir as metas seja difícil, o governo não pode passar a impressão de que só finge tentar cumpri-las. Em 2024, com a economia em desaceleração e a eleição municipal, será maior a tentação de tomar decisões eleitoreiras, de olho no curto prazo. Por isso, mais importante que tocar o coração de quem está no BC, será preservar a razão de quem está no Planalto.

  8. MANTER VITÓRIA SOBRE INFLAÇÃO DEPENDE DE CONFIANÇA FISCAL, editorial do jornal O Globo

    O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), conclui hoje sua última reunião deste ano. A expectativa é um corte de meio ponto percentual na taxa básica de juros, a Selic, para 11,75%. A reunião ocorre um dia depois do anúncio da inflação de novembro: 0,28%, menor resultado para o mês desde 2018. No acumulado do ano, o índice está em 4,04%. A previsão dos analistas ouvidos pelo BC é de 4,51% em 2023, abaixo do teto da meta (4,75%). Depois de dois anos acima do limite, o Brasil volta enfim a dominar a inflação. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deveria lembrar tal feito antes de voltar a atacar o presidente do BC, Roberto Campos Neto. Inflação alta, vale ressaltar, é particularmente perniciosa aos pobres.

    O Copom deu início à escalada de juros em março de 2021, antes da maioria dos bancos centrais das grandes economias, que depois seguiram a mesma estratégia contra o choque inflacionário da pandemia. A Selic saiu de 2% em janeiro de 2021 até chegar a 13,75% em agosto de 2022. Apesar disso, em 2021 a inflação ficou em 10,06%, quase o dobro do teto da meta (5,25%). No ano passado, caiu para 5,79%, ainda acima do teto. Só neste ano voltou para dentro dos limites. A conquista só foi possível também graças aos compromissos fiscais assumidos pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Sem eles, as expectativas inflacionárias sofreriam deterioração, exigindo do BC juros ainda mais altos.

    O regime de metas de inflação foi adotado em 1999 e tem se provado eficaz para ancorá-las. Em 24 anos, a inflação ficou fora do intervalo de tolerância apenas sete vezes: no choque econômico do início do século e no primeiro ano de Lula no Planalto (2001, 2002 e 2003), na crise provocada por Dilma Rousseff (2015 e 2017) e nos últimos dois anos. O resultado de 2023 reforça o poder do BC como referência futura da alta de preços. Sem credibilidade, não há regime de metas que funcione.

    Olhando para 2024, o governo pode atrapalhar o controle da inflação de duas maneiras. A primeira é Lula voltar a pressionar Campos Neto a acelerar a queda de juros. Ontem, em evento no Palácio do Planalto, ele disse ser preciso “mexer com o coração do presidente do Banco Central” para baixar a Selic. A declaração quebra meses de trégua costurada por Haddad e revela a dificuldade de Lula para atender aos anseios do PT na economia.

    Justamente aí está o segundo risco. Uma resolução recente do partido critica a “ditadura do BC independente” e diz ser necessário se livrar do que chamou de “austericídio fiscal”. O governo pode fazer estrago maior se abandonar seus compromissos fiscais. O novo arcabouço para as contas públicas mal tinha sido aprovado, e Lula já falava em desrespeitar as metas de zerar o déficit em 2024. Haddad enfrenta dificuldades no próprio partido para aprovar no Congresso as medidas necessárias ao cumprimento das metas do arcabouço.

    Ora, credibilidade é fator crítico para o êxito de qualquer política econômica. Ainda que atingir as metas seja difícil, o governo não pode passar a impressão de que só finge tentar cumpri-las. Em 2024, com a economia em desaceleração e a eleição municipal, será maior a tentação de tomar decisões eleitoreiras, de olho no curto prazo. Por isso, mais importante que tocar o coração de quem está no BC, será preservar a razão de quem está no Planalto.

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