O que aconteceu esta semana, com mais de um mês de atraso, do silêncio da imprensa e diante de cobranças tímidas de alguns setores da quase inexpressiva oposição em Gaspar? O prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, na maior cara de pau, veio a público ontem, se não foi para zombar, foi para esconder – o que é um hábito dele e da gestão que ele lidera há sete anos – e confessar que não pode explicar à cidade, aos cidadãos e às cidadãs: a real situação caótica – ou não e assim desmentir na lata os críticos e a população que reclama diariamente – do Hospital de Gaspar e como ele vai fazer para sair dela ou da má e errônea percepção que o culpa, exige mudanças, come grosso dinheiro e lhe tira votos
Eu exagero? Veja e ouça o vídeo dele próprio enchendo linguiça, talvez orientada pela cara marquetagem, seus “çábios”, os que dependem do empreguismo e conclua, você mesmo, o grau de enrolação e zombaria.
Segundo o vídeo acima, a prefeitura de Gaspar recebeu “aquele” relatório contendo o suposto diagnóstico feito pelo Hospital Santo Antônio de Blumenau no Hospital de Gaspar, o doente de verdade e que é um poço sem fundo e que “come” milhões de reais do Orçamento dos pesados impostos de todos nós, e bota milhões de dinheiro bom e público, mas que por outro lado, claramente, não está trazendo retorno para a comunidade, principalmente a mais vulnerável, doente, com dor e sem esperança de cura.
Kleber, falou, falou, falou e escondeu, mais uma vez, a realidade do Hospital e o que vai fazer para sair do enrosco em que se meteu e está.
Afinal o Hospital Santo Antônio vai ser parceiro do Hospital de Gaspar como se queria e se vendeu no início, ou foi mais um a correr de algo que não tem como reverter o que está prejudicado? O Hospital Santo Antônio não quer ser contaminado na sua boa imagem que conquistou às duras penas, com gestão profissional, buscando a sua vocação, mas que como ente público tinha os mesmos defeitos décadas atrás devido a ingerência dos políticos – como é aqui hoje -, mudou radicalmente, e agora, é uma referência não só na região, mas em Santa Catarina?
Afinal, por que este “relatório”, ou este “diagnóstico” não foi compartilhado com a comunidade? O que se esconde mais uma vez Kleber e sua turma? Transparência zero! Esta é a marca reiterada do atual governo gasparense.
Quais são, de fato, estas “oportunidades” que o “relatório”, ou “diagnóstico” que Kleber menciona no vídeo?
Quais são estas melhorias que foram sugeridas pelo Santo Antônio, e que, supostamente, no discurso rápido, tímido e vazio de Kleber, estão sendo acatadas e sendo implementadas no Hospital de Gaspar por onde passaram uma dezena de administradores, tanto quanto foram os secretários de Saúde e até um presidente da Comissão Interventora, Jorge Luiz Prucino Pereira, PSDB, o faz tudo de Kleber, mas que teve que correr de lá, exatamente porque como titular da secretaria de Fazenda e Gestão Administrativa, e interino da comprometedora secretaria de Planejamento Territorial a qual acumulava, áudios mostravam conversas cabulosas, que uma CPI montada às pressas pelo governo, resolveu enterrá-la e inocentá-lo em num ritual estranho e secreto na Câmara sob o comando de José Hilário Melato PP, e relatoria de Roberto Procópio de Souza, PDT?
E as outras sugestões do Hospital Santo Antônio ao Hospital de Gasparpor que estão sendo descartadas?
Ontem, sem alarde, o queridinho do poder de plantão Alan Vieira, servidor efetivo, foi substituído na diretoria administrativa do Hospital, pela também servidora de carreira da prefeitura de Gaspar, a enfermeira Aline Cristine Deichman da Cruz. É esta a “grande” mudança? Alan foi promovido para a diretoria administrativa da secretaria de Saúde, tocada por um curioso na Área, Santiago Martin Navia, MDB, suplente de vereador e já em pré-campanha, como anunciou no própria conta da sua rede social.
Retornando.
O que de verdade aconteceu? O que já escrevi há semanas: o Hospital Santo Antônio, de Blumenau, ficou assustado com o que viu e principalmente o que não conseguiu ver. Ficou mais arrepiado quando soube que a Câmara criou uma comissão de “acompanhamento” da auditoria para exatamente nada sair do controle dos políticos no poder de plantão. Criaram espuma. Espalharam mais uma vez uma cortina de fumaça.
A comissão ao invés de ir falar com os auditores – em Blumenau – e se cientificar do que estava sendo apurado e recomendado, preferiu ir “visitar” o Hospital de Gaspar em sérios problemas, para aparecer na mídia e com isso mandar recados aos que tinham autorização para bisbilhotar o que infecta a operação e os resultados do Hospital para os gasparenses.
Para a possível parceria – que era a intenção do ex-secretário de Saúde, o advogado e vereador Francisco Hostins Júnior, MDB, e que está de muda para o PL, e por isso, já rifado pelo governo de Kleber, Marcelo de Souza Brick, Patriota que não existe mais, PL, sei lá, ou PP, talvez, bem como a própria Bancada do Amém, o Hospital Santo Antônio seria o gestor técnico-administrativo.
A proposta era simples: começar do zero e com garantias mínimas de aporte para que o Hospital de Gaspar rodasse. Os passivos, de toda a ordem, incluindo os de responsabilidades civis até então já proposto e no prazo de serem propostos por equívocos do passado, seriam do município. E aí começou-se a se dar o nó.
Emperrou também na liberdade de empregar, demitir, buscar produtividade e resultado para o Hospital de Gaspar. Nada disso está acima na fala marota de Kleber. Nenhum desses políticos que não querem a cura do Hospital. E quando com simples dores de barriga, eles procuram outros hospitais, principalmente os de Blumenau, incluindo o Santo Antônio. Interessante. Acorda, Gaspar!
KLEBER E MARCELO SABIAM DESDE 2016 OS PROBLEMAS DO HOSPITAL DE GASPAR. TINHAM SOLUÇÃO. QUANDO NO PODER, FORAM INCOMPETENTES OU OMISSOS. E JÁ ÀS VÉSPERAS DE NOVA CAMPANHA ELEITORAL, ESTÃO COM O MESMO DISCURSO CONTRA OS MAIS VULNERÁVEIS
O vídeo com falas editadas – para ser curto, apenas por isso – que circula freneticamente nas redes sociais de nossa cidade é o perfeito retrato da política, da enganação e de como Kleber Edson Wan Dall, MDB, bem como o então adversário dele na eleição de outubro de 2016, Marcelo de Souza Brick, naqueles tempos abrigado no PSD. O vídeo mostra como os candidatos se comportam na campanha eleitoral e como, quando eleitos, eles manda bananas para o eleitorado que acreditou nas falas deles.
O vídeo não deixa a menor dúvida. Kleber e Marcelo, em lados opostos, sabiam em detalhes problema do Hospital de Gaspar. Mais do que isso: tinham e prometiam aos cidadãos e cidadãs mudanças – se eleitos – ao que não funcionava para o povo sofrido: o Hospital de Gaspar – e até mesmo a saúde pública – que herdavam e culpavam, acertadamentemente, o inventor da intervenção, aparelhamento e falta de transparência do Hospital de Gaspar, Pedro Celso Zuchi, PT.
Kleber foi eleito. Teve sete anos para colocar em prática o seu discurso. Só piorou o Hospital. Marcelo, foi cooptado em 2020 por Kleber para não ser mais adversário. O que fez? Em três anos que é sócio de Kleber no poder plantão, nada daquilo que diagnosticava, pregava e jurava que mudaria pelos gasparenses.
Agora, ambos estão na praça. Sabem o que está acontecendo – ainda mais com o diagnóstico técnico do Hospital Santo Antônio – com o Hospital. E não querem colocar uma solução. Por quê? Ela é dolorida para eles além de ser a prova de quem errraram por tanto tempo, ainda mais para quem se vende como exínio administrador e planejador na marquetagem que seus “çábios” inventaram para dourar uma imagem sob sérios questionamentos de gestão.
E é só dolorida porque não cumpriram o mínimo do que prometeram à sociedade. E tudo piorou. Um está apresentando um candidato para continuar o que não funciona e come montanhas de dinheiro dos pesados impostos dos cidadãos e cidadãs. O outro é o candidado daquilo que não funciona. E a maioria dos que se ensaiam ser seus adversários, além de não terem planos claros para salvar o Hospital de Gaspar e a saúde pública que anda mal nos postinhos, foi, simnplesmente, por medo, interesses e espertezas, conivente com isso tudo. E contra os mais pobres. Agora quer dar o bote, como se não tivesse parte de culpa nisso tudo. Acorda, Gaspar!
TRAPICHE
Depois de quase provocar uma tragédia como mostrei no artigo de segunda-feira, a prefeitura de Gaspar, criou vergonha na cara e prometeu para hoje começar a ponte sobre o ribeirão Gasparinho ligando as ruas Fausto Dagnoni e Rodolfo Vieira Pamplona no limite do Gaspar Mirim e Gasparinho. Vão começar pelas cabeceiras. Depois virá o “pontilhão” de concreto.
A promessa são três meses para entrega. A contagem já começou. A enrolação vai se iniciar nas cabeceiras. E nada disso precisaria ser feito, se houvesse manutenção, se houvesse vigilância e se curiuosos fosse lá fazer o que deu. na telha como tirar areia, tirar os tapumes e dar mais velocidade as corredeiras do ribeirão que solapou e levou os tubos da passagem.
Hoje fez 15 anos que o morro do Samae no Centro veio abaixo contra a Avenida das Comunidades. Foi a maior tragédia decorrente de eventos climáticos severos que Gaspar e especialmente Ilhota já conheceu em 2008.
Afinal, como está a representação que o partido Novo, de Gaspar, levou ao Ministério Público para impedir que o Projeto de Lei 84/2023 fosse aprovado e se liberasse o leilão de imóveis públicos para fazer caixa ao município? O PL já passou na Câmara num processo vapt-vupt e até já virou a lei 4.354, de três de novembro. Estamos no dia 21. Nem denúncia. Nem Ação Civil Pública. E Indaial, algo semelhante, pelo mesmo caminho, deu samba, faz muito tempo. Avisados estavam. Acorda, Gaspar!
7 comentários em “GESTÃO KLEBER, MARCELO E BANCADA DO AMÉM ZOMBAM DA INTELIGÊNCIA E DAS NECESSIDADES DOS GASPARENSES MAIS VULNERÁVEIS. AVANÇA CAPIM!”
SENADO TENTA DESFIGURAR ARQUITETURA QUE JÁ ESTAVA DESFIGURADA, por Bruno Boghossian, no jornal Folha de S. Paulo
Quando um país desenha sua estrutura política, está criada a arquitetura institucional que deve equilibrar as relações de poder. Um presidente pode vetar um projeto de lei, o Congresso pode derrubar esse veto, e um ministro do STF, indicado pelo presidente e aprovado pelo Senado, pode restabelecer tudo como estava.
A ideia é que cada lado tenha ferramentas que sirvam como contrapesos aos demais para impedir abusos e produzir estabilidade. Vez ou outra, alguma autoridade se sentiria prejudicada. Haveria choro e ranger de dentes, mas, ao final, os objetivos estariam garantidos no agregado.
A investida do Congresso para restringir o poder do STF indica que essa arquitetura se deformou nos últimos tempos e tende a ficar ainda mais desfigurada. O Senado aprovou nesta quarta-feira (22) a proposta que limita decisões individuais e cria regras para dificultar os pedidos de vista, que interrompem julgamentos no tribunal.
A corte não é inocente. Muitos atropelos cometidos pelo Supremo tiveram a marca da vontade particular de alguns ministros, que sequestraram processos em suas gavetas ou soltaram canetadas sem submetê-las ao crivo do plenário.
De fato, o tribunal estaria melhor se agisse apenas de forma colegiada. O próprio STF caminhou nessa direção ao estabelecer prazos para que decisões individuais sejam levadas aos demais ministros. Mas seria ingenuidade acreditar que o Congresso resolveu melhorar o desenho da corte num impulso desinteressado.
O Senado só decidiu se mexer depois que o tribunal acabou com a farra bilionária das emendas de relator e abriu caminho para descriminalizar o uso de maconha. Os casos envolveram julgamentos colegiados, mas deram combustível para a retaliação dos parlamentares.
Na prática, os congressistas querem neutralizar um daqueles incômodos contrapesos que limitam seu poder. O tribunal, por sua vez, quer manter uma autoridade inchada. O mais provável é que, no fim das contas, o edifício continue torto.
MILEI COMO OPORTUNIDADE, por Willian Waack, no jornal O Estado de S. Paulo
Sim, a América do Sul está passando por “confusões e dificuldades políticas”, reconhece Lula. De fato, em 17 eleições na América Latina realizadas desde 2021 só não houve alternância de poder naqueles países com regimes ditatoriais como Venezuela e Nicarágua. Nesses não teve “confusão”.
As “dificuldades políticas” às quais o presidente brasileiro se refere são provavelmente encontrar algum tipo de “eixo” de alinhamento especialmente dos países sul-americanos. Era, de fato, mais fácil nos idos do primeiro mandato de Lula, quando o grito popularizado por Chávez – “Alca al carajo” – simbolizava um desses “eixos de alinhamento”: oporse aos Estados Unidos.
Em parte devido às rápidas mudanças geopolíticas, o eixo pela afinidade ideológica faliu. Lula assumiu insistindo em “liderar” o subcontinente a partir desse tipo de alinhamento, o mesmo erro cometido pelo antecessor Jair Bolsonaro.
Para o País, a sucessão de erros básicos de política externa significa perda do que seria sua “liderança natural”. É o maior território, a maior população, a maior economia, é vizinho de quase todos na América do Sul. Virou superpotência exportadora de commodities agrícolas e minerais, com e tem setores industriais de ponta. E o que registra ao seu redor é um raro descompasso.
A vitória de Javier Milei na Argentina foi um choque além da “confusão” de alternância de poder. Ela tirou imediatamente do Brasil o protagonismo nas negociações com a União Europeia sobre livre comércio, um acordo sobre o qual há dúvidas concretas se Lula realmente o deseja. Nesse contexto, projeta uma sombra espessa no Mercosul.
Mas o que ela sugere também, caso Milei leve adiante o discurso eleitoral, é uma delicada situação para o Brasil no grande jogo internacional. Pois ele pretende “realinhar” a Argentina em relação à China – que ocupou o lugar antes do Brasil nas relações comerciais e grandes projetos com o vizinho. E já obteve do presidente Joe Biden uma promessa de estreitamento das relações, incluindo apoio à aliança ocidental no caso da Guerra da Ucrânia.
É evidente a fratura nos Brics e no chamado Global South, duas plataformas através das quais Lula vem tentando se projetar nos grandes assuntos mundiais. O outro lado da moeda é o fato de que Milei depende tanto do Brasil quanto o Brasil da Argentina que, no fundo, Milei está “reabrindo” ao Brasil. Ou seja, há um enorme espaço para convergência de interesses. Se Lula esquecer seus conselheiros internacionais do PT.
A cagada dos “liberais” intervencionistas Bolsonaro e Paulo Guedes, sob o silêncio dos políticos em campanha e contra as contas públicas que administrariam se eleitos
A CONTA DO POPULISMO COM O ICMS CHEGOU, editorial do jornal O Estado de S. Paulo
Seis Estados das Regiões Sul e Sudeste anunciaram nesta semana que vão propor, às suas respectivas Assembleias Legislativas, o aumento da alíquota modal do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para 19,5%. Segundo carta divulgada pelos secretários estaduais de Fazenda de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul, a medida seria uma reação à reforma tributária sobre o consumo, que, segundo eles, reduzirá a autonomia dos entes federativos.
“Nesse sentido”, diz o documento, “a arrecadação dos Estados com o ICMS nos próximos 5 anos condicionará, em significativa medida, as suas receitas tributárias nos 50 anos subsequentes, configurando-se um forte incentivo para que aumentem a sua arrecadação entre 2024 e 2028, por exemplo, mediante a realização de programas de recuperação de créditos tributários ou aumentos de alíquotas modais de ICMS.”
É interessante observar o argumento tortuoso a que os secretários recorrem para justificar o aumento do imposto. Verdadeiros estadistas, estariam muito preocupados com a arrecadação que legarão aos Estados quando o ICMS for extinto e substituído pelo futuro Imposto sobre Bens e Serviços (IBS). Veem-se, portanto, obrigados a elevar os impostos agora para defender as futuras gerações desse possível ataque às contas públicas que pode vir a se materializar de 2033 a 2078.
É evidente que se trata de desculpa esfarrapada para aumentar tributos e gastar o dinheiro arrecadado desde já. Esse movimento era mais do que previsível. Mas a motivação desse ato não é a reforma tributária, que, por sinal, ainda nem entrou em vigor.
São as Leis Complementares 192 e 194, que alteraram a legislação do ICMS e impuseram um teto nas alíquotas aplicadas sobre combustíveis, energia e telecomunicações – historicamente a maior fonte de arrecadação dos Estados. Aprovadas no ano passado pela Câmara e pelo Senado, elas foram fruto da pressão do ex-presidente Jair Bolsonaro para baixar os preços dos combustíveis poucos meses antes da eleição.
A carta dos secretários estaduais de Fazenda até menciona esse contexto, mas de forma lateral. Sem culpar Bolsonaro e o Congresso, o documento cita uma “decisão federal alheia à vontade dos Estados” que promoveu “substantivas alterações na legislação do ICMS, as quais reduziram a sua capacidade de gerar receitas aos Estados”. “Tal intervenção provocou uma expressiva e insustentável redução das receitas tributárias estaduais”, afirma a carta.
À época em que as leis foram submetidas a votação no Legislativo, não se viu qualquer mobilização por parte dos governadores para barrar a medida. Pudera: Cláudio Castro, Renato Casagrande, Romeu Zema, Ratinho Jr. e Eduardo Leite ainda não disputariam a reeleição. O único que ainda não ocupava o cargo era Tarcísio de Freitas, mas já se sabia que o ministro da Infraestrutura de Bolsonaro seria candidato ao governo de São Paulo.
Naquele momento, todos optaram pelo silêncio. Não era hora de testar o humor do eleitorado e opor-se à redução de impostos, mas de aprovar reajustes salariais para o funcionalismo, realizar concursos públicos e afrouxar os gastos. A conta finalmente chegou. Nos primeiros seis meses deste ano, a arrecadação caiu 8,73% em termos reais, segundo o Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz) do Ministério da Fazenda.
Saliente-se que os governadores do Sul e Sudeste não foram os únicos a adotar a medida. Segundo o Estadão, 17 Estados já elevaram as alíquotas modais de ICMS desde o fim do ano passado. A diferença é que eles não culparam a reforma tributária por seus atos.
É cômodo, mas falso, responsabilizar a reforma tributária pelo aumento dos impostos. É fácil para os governadores se esconderem atrás de uma carta assinada por seus secretários estaduais de Fazenda para se livrarem dos danos causados por uma decisão impopular.
Mas a medida anunciada nesta semana é mera consequência da omissão destes mesmos Estados no ano passado, quando as propostas foram discutidas e aprovadas sem qualquer resistência. Estão, agora, colhendo o que plantaram
LINCHAMENTO VIRTUAL DE JORNALISTA NÃO COMBINA COM GOVERNO DEMOCRÁTICO, editorial do jornal O Globo
A Associação Nacional de Jornais (ANJ) emitiu nesta segunda-feira uma nota oportuna e necessária repudiando as tentativas de intimidação contra o jornal O Estado de S. Paulo e sua editora de Política, a jornalista Andreza Matais. Depois de ter revelado em reportagem o encontro da mulher de um líder de facção criminosa com secretários do Ministério da Justiça e parlamentares, Andreza foi submetida a ataques virulentos nas redes sociais, promovidos por influenciadores e contas simpáticos ao governo, depois repercutidos por autoridades.
“O uso de métodos de intimidação contra veículos e jornalistas não se coaduna com valores democráticos e demonstra um flagrante desrespeito à liberdade de imprensa”, afirma a ANJ. “Também evidencia uma prática característica de regimes autocráticos de, com o apoio de dirigentes políticos, sites e influenciadores governistas, tentar desviar o foco de reportagens incômodas por meio de ataques contra quem as apura e divulga.”
A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e deputados governistas como Ivan Valente, Nilto Tatto e Rubens Pereira Jr. endossaram conteúdo de uma publicação de inclinação petista acusando Andreza de ter submetido jornalistas a assédio moral durante a confecção da reportagem sobre a “dama do tráfico”. A única “prova” apresentada para embasar acusação tão grave eram reproduções de telas do site do Ministério Público do Trabalho que qualquer um pode preencher anonimamente.
Não foi a primeira vez que Andreza foi alvo de perseguição por reportagens que desagradaram ao governo. Em outubro, sua conta no portal gov.br foi invadida, e ela recebeu ameaças de que seus dados pessoais seriam revelados em represália a notícias sobre o governo federal. Os ataques começaram depois de outra reportagem, atribuindo à atuação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a liberação de recursos para a Argentina pagar dívidas com o FMI.
O uso do linchamento virtual para intimidar jornalistas combina mais com autocracias do que com um governo eleito empunhando o estandarte da democracia. Na corrida cotidiana para levar notícias ao público, mesmo os melhores jornalistas erram. Publicações sérias como o Estadão costumam retificar informações incorretas. Além disso, o Judiciário dispõe de mecanismos eficazes para partes atingidas por reportagens reivindicarem seus direitos. Nada — nem o fato de eventualmente errarem — justifica ataques coordenados a jornalistas, muito menos a mulheres, situação frequentemente contaminada pelo machismo.
Se há algo de positivo em todo esse episódio lamentável, é a certeza de que a imprensa continua a cumprir seu papel de fiscalizar os poderosos. Como afirmou Eurípedes Alcântara, diretor de jornalismo do Grupo Estado: “A reação furiosa orquestrada nas redes sociais contra jornalistas do Estadãoem nada diminui a qualidade da apuração da reportagem sobre as intimidades da dama do tráfico com altos funcionários públicos. Ela mostra apenas a incapacidade de certos setores de conviver com o jornalismo independente”.
Parece Gaspar? E olha que não é o PT que fez a mesma coisa quando no poder por aqui
A “DEMOCRACIA” DO PT É COM ASPAS, editorial do jornal O Estado de S. Paulo
Não durou muito a farsa segundo a qual Lula da Silva precisava ser eleito para, segundo suas palavras, “recuperar a democracia neste país”. Bastou que a imprensa começasse a publicar notícias desfavoráveis ao governo para que esses campeões da democracia voltassem a ser o que sempre foram – a vanguarda da truculência. Para a seita petista, vale tudo, até mentir e distorcer, para desmoralizar aqueles que ousam revelar os malfeitos do governo de Lula.
No domingo passado, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, usou suas redes sociais para atacar o Estadão, compartilhando – como se fosse digna de crédito – uma suposta denúncia anônima contra o jornal que teria sido apresentada no site do Ministério Público do Trabalho (MPT). “Gravíssima denúncia feita ao MPT sobre a fabricação do ‘escândalo da dama do tráfico’ pelo Estadão para fazer parecer que (o ministro da Justiça) Flávio Dino é simpático ao crime organizado”, escreveu a presidente do PT. Ato contínuo, todo o exército de militantes petistas na internet passou as horas e dias seguintes a repercutir a patranha, sem qualquer cuidado a respeito da veracidade do que ali se expunha.
Esse é o padrão de atuação dos petistas. Para eles, nem é preciso que a informação seja verdadeira para que seja usada em favor de seus propósitos autoritários, isto é, difamar o jornal que revelou que a mulher de uma das lideranças do Comando Vermelho (CV) participou de reuniões no Ministério da Justiça e Segurança Pública.
Ora, o Estadão nunca afirmou que Flávio Dino era simpático ao crime organizado. Trouxe apenas fatos: Luciane Barbosa Farias, mulher de Clemilson dos Santos Farias, conhecido como “Tio Patinhas” e um dos líderes do CV no Amazonas, esteve no Ministério da Justiça, em março, para reunião com o sr. Elias Vaz, secretário Nacional de Assuntos Legislativos, e em maio, para reunião com o sr. Rafael Velasco Brandani, titular da Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen). Na reportagem que revelou o caso, publicada no dia 13 de novembro, o próprio Ministério confirmou a presença de Luciane na comitiva para as duas reuniões.
A atestar que o jornal fez apenas o seu trabalho – trouxe fatos relevantes ao conhecimento do leitor –, o Ministério da Justiça, no mesmo dia da publicação da reportagem, elaborou uma portaria alterando as regras de acesso ao prédio. No entanto, o PT não gosta de jornalismo independente. Diante da natural repercussão do caso, o partido de Lula passou a atacar o jornal, como se a reportagem sobre as reuniões no Ministério da Justiça fosse fake news.
Esse episódio serve para recordar que, por trás da fachada de defensores da democracia, os petistas são e sempre foram raivosos inimigos da imprensa livre. Desde os tempos da trevosa era petista no poder, jornalistas são ameaçados de agressão por militantes do partido. Há toda uma rede de veículos de comunicação a serviço do lulopetismo que se dedicam a destruir a reputação de jornalistas e de veículos independentes. O bolsonarismo certamente se inspirou nesse método do PT para, por sua vez, hostilizar a imprensa e os jornalistas. O “gabinete do ódio” bolsonarista é filhote dos “blogs sujos” – que recebiam generoso financiamento público dos governos petistas para atacar desafetos do partido.
“O uso de métodos de intimidação contra veículos e jornalistas não se coaduna com valores democráticos e demonstra um flagrante desrespeito à liberdade de imprensa”, afirmou em nota a Associação Nacional de Jornais (ANJ) sobre o vergonhoso ataque petista a este jornal. “Também evidencia uma prática característica de regimes autocráticos de, com o apoio de dirigentes políticos, sites e influenciadores governistas, tentar desviar o foco de reportagens incômodas por meio de ataques contra quem as apura e divulga”, disse a entidade.
Mas os petistas perdem tempo e energia. Desde sua fundação, há quase 150 anos, este jornal nunca vergou diante da força bruta dos inimigos da democracia, e não serão os arreganhos dos sabujos de Lula da Silva que o intimidarão. Continuaremos a publicar tudo o que nosso jornalismo apurar, a respeito deste ou de qualquer outro governo, pois a função da imprensa responsável e livre é revelar aos cidadãos o que os poderosos querem esconder. Isso sim é democracia – sem aspas.
O Samae de Gaspar faz escola para Lula? Ainda voltarei a este assunto da nossa aldeia.
A PETROBRÁS NA BOCA DO CAIXA, por Vera Magalhães, no jornal O Globo
A discussão sobre o preço dos combustíveis, que tem sido a mais frequente modalidade de pressão do Planalto sobre a Petrobras no governo Lula, assim como foi sob Bolsonaro, na verdade é apenas a face mais visível do descontentamento com a condução de Jean Paul Prates na empresa.
Mais importante para Lula que a discussão sobre segurar o reajuste na bomba é saber em que volume e com que velocidade a Petrobras colocará a mão no bolso para financiar os grandes projetos de infraestrutura que são a obsessão do presidente e com que o Tesouro não tem fôlego para arcar sozinho.
Cabe à estatal uma das fatias mais volumosas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), a vitrine de obras e geração de empregos de Lula, não por acaso sob a batuta de Rui Costa, ministro que hoje pilota a chama da boca do fogão em que arde a frigideira de Prates.
Reunião recente entre o presidente da Petrobras e o governo, com quórum similar à de ontem, terminou com essa fritura no auge. O esboço de plano estratégico exibido por Prates irritou Lula e seus ministros pela falta de foco em investimentos de curto prazo, capazes de gerar ganhos de imagem para o petista, e intensivos em geração de novas vagas, dois dos requisitos colocados à mesa.
Ideias como a compra de ativos no exterior e um cronograma segundo o qual alguns dos investimentos estariam prontos só bem depois do fim do atual mandato foram os pontos que azedaram a conversa.
A despeito do claro descontentamento do Planalto, que ficou evidente na fala ainda que polida de Fernando Haddad ao fim do encontro, Prates não só manteve o cronograma de submissão do plano às instâncias da companhia, como programou uma série de viagens apelidada de “turnê mundial” pelos seus desafetos.
Foi aí que as críticas que vinham sendo feitas a portas fechadas ganharam de novo os microfones. Como já havia acontecido em situações anteriores, o porta-voz das cornetadas foi o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, que se aliou a Costa na busca por um substituto para o comando da Petrobras.
A Federação Única dos Petroleiros, a FUP, que nos governos petistas sempre teve grande influência na escolha de presidentes e diretores da Petrobras, saiu em defesa não exatamente de Prates, mas da reserva de mercado dessa vaga, de forma a evitar que ela caia nas mãos do Centrão ou de outros padrinhos que não tenham ligação com a entidade.
Diante desse cenário, o governo vai caminhando para repetir com a Petrobras um tipo de relação que, quando ganhou escala, levou a escândalos de corrupção e loteamento político no passado.
Não foi nada republicana a relação de Bolsonaro com a Petrobras, comprovando que nem o discurso liberal blinda uma companhia tão poderosa e rica da cobiça política do governo, ainda mais quando este vem a ser também seu maior acionista.
Lula desde a campanha bate no peito para anunciar que devolveria à companhia seu papel estratégico na indução do desenvolvimento, discurso que Prates adotou, muitas vezes em contradição com a tendência global de as petrolíferas se reposicionarem como empresas indutoras da transição energética, com o investimento em fontes renováveis.
A pressão explícita sobre Prates para transformar o plano estratégico em extensão do PAC, a cobiça política pela presidência (e, consequentemente, pelas diretorias) e as recentes alterações na governança da empresa para torná-la menos imune a ingerência política, no entanto, vão além disso.
Se a cobrança for bem-sucedida e levar Prates a cair ou a capitular para se segurar no cargo, o sinal dado ao mercado, ao exterior e à classe política é que a porteira do aparelhamento político foi de novo aberta.
DALLAS, 22 DE NOVEMBRO DE 1963, por Elio Gaspari, nos jornais Folha de S. Paulo e O Globo
Às 12h30 do dia de hoje, há 60 anos, uma bala de fuzil explodiu a cabeça de John Kennedy. Ele tinha 46 anos e era o primeiro presidente americano nascido no século XX.
Uma pesquisa do Instituto Gallup realizada há poucos dias informa que 65% dos adultos americanos acreditam que houve algum tipo de conspiração no atentado. Como um em cada dez americanos duvida que o astronauta Neil Armstrong tenha pisado na Lua em 1969, deve-se dar atenção ao vigor das notícias falsas.
Logo depois do assassinato, o presidente Lyndon Johnson constituiu uma comissão presidida pelo chefe da Suprema Corte, Earl Warren. Ela investigou o crime e concluiu que foi tudo coisa do ex-fuzileiro naval Lee Oswald, um sujeito desajustado que havia vivido na União Soviética. Tudo o que ele fez deu errado, menos uma coisa, que lhe deu dois dias de fama em vida, pois foi assassinado no dia 24.
O Relatório Warren em si tem 888 páginas. Reúne 15 volumes com cerca de 10 mil páginas de documentos. O Federal Bureau of Investigation (FBI) fez mais de 25 mil entrevistas e produziu 2.300 relatórios. Nada feito: dois em cada três adultos americanos continuam achando que houve mais gente envolvida.
A morte de Kennedy, como os discos voadores e a identidade de Jack, o Estripador, tornou-se campo fértil para transformar curiosidade em teoria.
Quem quiser entender o vigor da suspeita de que houve uma conspiração pode ir atrás do livro “Reclaiming History: the assassination of president John F. Kennedy” (Recuperando a História: o assassinato do presidente John F. Kennedy), do promotor americano Vincent Bugliosi (1934-2015). Com mais de mil páginas e 2,5 quilos de peso, ele esfarelou todas as teorias e concluiu que o Relatório Warren está certo. Bugliosi atuou nos julgamentos de 21 acusados de homicídio, condenou todos e mandou oito para o corredor da morte.
No coração de todas as conspirações está a “bala mágica”. Vinda de cima, acertou Kennedy na nuca. Saindo na altura do nó da gravata, atravessou o tórax do governador do Texas, atingiu seu braço e caiu no piso da limusine. Para quem acredita nisso, os tiros que acertaram o presidente foram dois. Para quem não acredita, há outro atirador. Warren e Bugliosi sustentam que esse terceiro tiro não aconteceu.
Tudo bem, mas pelo menos duas pessoas não acreditavam na “bala mágica”. Um era o presidente Lyndon Johnson. O outro, o poderoso senador Richard Russell, integrante da Comissão Warren.
Em maio de 1964, quatro meses antes da divulgação do relatório, Russell sabia que a comissão acreditava na trajetória da “bala mágica” e disse a Johnson:
— Eu não acredito.
— Nem eu — respondeu o presidente.
Johnson assumiu na tarde do dia 22 e morreu em 1973. Antes, durante e depois do Relatório Warren, ele indicou em pelo menos oito ocasiões que acreditava na conspiração. Sua teoria era que “Kennedy tentou pegar Fidel Castro, e ele pegou-o primeiro”.
No dia de hoje, há 60 anos, o chefe das operações especiais da Central Intelligence Agency (CIA) estava reunido com o major do Exército cubano Rolando Cubela num hotel de Paris. Discutiam a eficácia de uma seringa com veneno, disfarçada numa caneta, para matar Fidel. Quando veio a notícia de Dallas, o encontro foi encerrado