Na sessão semanal da Câmara de Gaspar e realizada terça-feira passada estampou-se nela mais um retrato daqueles onde o cachorro corre atrás do próprio rabo e não consegue seguir em frente entre nós. O que voltou? A tal possibilidade dos moradores, trabalhadores e estudantes do e no bairro Bela Vista se integrarem ao sistema de transporte coletivo urbano de Blumenau, impedido pela Viação Verde Vale. Não porque ela quer. Ela detém do governo do estado – por licitação – a permissão na ligação intermunicipal entre Gaspar, Blumenau, vice e versa.
E os políticos de Gaspar querem no grito – como estão acostumados – destitui-la neste direito e sob várias alegações populistas e antes do caminho administrativo, judicial ou da negociação. Simples assim!
Qual a novidade? O vereador Giovano Borges, PSD, morador do bairro – há mais dois vereadores lá, o Alexsandro Burnier, PL, e o Cleverson Ferreira dos Santos, PP, hoje na secretaria de Agricultura e Aquicultura – “descobriu”, muito tardiamente, diga-se, que há uma tal que a conurbação. Ela permitiria à integração dos sistemas de transportes coletivos entre outras ações integradas numa mesma região geográfica como a nossa do Vale Europeu. Gaspar é lindeira com Brusque, Blumenau, e de lá com Indaial, Timbó e Pomerode.
Giovano foi dramático. E só descobriu isso se informando com entendidos no assunto, segundo ele, daqui e de Blumenau. Ufa! Eureka! Eu escrevo sobre isto há pelos menos 15 anos. O que prova isso? O quanto os políticos e seus assessores – que cada vez aumentam mais em seus gabinetes – estão desatentos naquilo que deveriam conhecer para melhor representar seus eleitores e eleitoras.
E ele confessou com esta expressão chula: a “água está batendo na bunda”, provavelmente a dele e a dos políticos que estão vendo outubro chegar, na mesma proporção que aumenta o bafo dos eleitores e eleitoras contra a impotência dos políticos de trazerem soluções necessárias, urgentes e até óbvias para suas comunidades.
Político quando fala de água na bunda, é porque na verdade está sabendo que a água vai chegar ao seu nariz, tirar o fôlego na busca de votos e afogá-lo diante da catástrofe que não conseguiu evitar ou controlar durante o mandato.
Giovano não está errado. Está apenas desesperado e justamente porque não fez a lição de casa.
Primeiro invocou uma tal frase que ele encontrou – e eu não – na Lei que criou a Política Nacional de Mobilidade Urbana, provavelmente se referia a 12.585, de janeiro de 2012, ou seja, com quase 12 anos de vigência: “a União apoiará e estimulará ações coordenadas e integradas entre municípios e estados em áreas conurbadas...”
Segundo, mesmo sendo da Bancada do Amém e onde estão religiosamente os onze votos da atual administração (MDB, PP, PSD, PSDB e PDT), Giovano está pedindo ajuda e intermediação neste assunto ao líder do governo na Câmara, Francisco Solano Anhaia, MDB, junto ao prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, isto sem falar que a sua cara metade na política, Marcelo de Souza Brick, Patriota, ou PL, sei lá, ou PP, talvez, é o vice-prefeito e podem muito bem encaminhar este assunto.
Entenderam? Está falando com quem não mexeu nenhuma palhinha neste assunto por quase dois mandatos. Será que fará isso em semanas como quer? Maluquice!
E por que nada irá para a frente? Porque ninguém em Gaspar até hoje se interessou verdadeiramente em tornar a antiga AMMVI – Associação dos Municípios do Médio Vale do Itajaí – hoje AMVE – Associação dos Municípios do Vale Europeu – em uma área metropolitana, o status administrativo e político de uma área conurbada. Nem mesmo o prefeito Kleber quando foi presidente da AMMVI. Vão agora, um processo que demora anos e há um rito legal para isto no ambiente da legislação local, regional e estadual?
Este desespero de Giovano é tão grande e incoerente ao mesmo tempo. Ele, há poucas semanas – repito, há poucas semanas – foi o relator do Projeto de Lei Complementar número seis. O que fez? Ratificou no Ato de Retirada de Gaspar do Consórcio Intermunicipal do Médio Vale do Itajaí, o Cimi, sediado em Timbó. foi aprovado pelos 13 vereadores de Gaspar.
Ora, quem se retira de um consórcio que pretende resolver os problemas comuns exatamente nesta conurbação regional não pode agora, porque a “água está batendo na bunda”, como ele próprio afirmou, defender a necessária regionalização dos transportes coletivos urbanos apenas para não perder os votos no seu reduto do Bela Vista que estão lhe escapando às vésperas de um pleito eleitoral. Pensa pequeno. E paga o preço disso.
Giovano já pediu a cabeça da Viação Verde Vale, não conseguiu. Já mostrou a suposta incompetência dela e não conseguiu mudar o direito dela e de quem a suceder, pois precisso ficar bem claro isto. Já quis melar a permissão da Verde Vale via o deputado Jerry Comper, MDB, que está secretário de Infraestrutura e Mobilidade Urbana, usando o cabo eleitoral do deputado, o presidente da Câmara, Ciro André Quintino, MDB, não conseguiu. Está esperando um acordo da Verde Vale para com o sistema de Blumenau atender somente o Instituto de Educação e não o seu bairro, se a Verde Vale for a compensada financeiramente pela prefeitura de Gaspar na cessão de nove horários. Giovano está com água na bunda, como ele mesmo diz e adverte aos colegas para o mesmo estágio. E a água está subindo.
A solução está nas mãos de Kleber, Marcelo e da própria Câmara que tendo um Projeto de Lei, daqueles que as dezenas aparecem por lá anulando e suplementando dotações orçamentarias, tirará a “água da bunda de todos”. Se não fizerem isso, ela chegará ao nariz e dali, salvem-se quem puder.
A solução está com o sistema da Presidente que atua em Gaspar, se autorizada. Basta criar uma linha circular gratuita no bairro Bela Vista – até porque os vereadores são defensores no gogó da Tarifa Zero no Transporte Coletivo Urbano de Gaspar. Ela linha levaria e apenharia os estudantes, trabalhadores e moradores na divisa de Blumenau. Qual a dificuldade? Por que esta insistência de colocar a culpa na Verde Vale, na secretaria de Infraestrutura, no Sistema de Blumenau ou até na falta de uma região metropolitana que Gaspar nunca reivindicou para se beneficiar dela? Está na hora dos pararem e se desmoralizarem com os discursos e “descobertas” de algo que há mais de uma década regulamentado e que ignoraram até aqui. Acorda, Gaspar!
TRAPICHE
Enquanto aqui, a CPI secreta da pizza do sabor “desconheço” e foi criada pelo governo de plantão para “investigar” a si próprio o caso dos áudios cabulosos do ex-faz tudo do governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, e Marcelo de Souza Brick, Patriota, ou PL, sei lá, ou PP, talvez, o ex-secretário da Fazenda e Gestão Administrativa, Jorge Luiz Prucino Pereira, presidente do PSDB, tratava de panos quentes, no Supremo Tribunal Federal, os primeiros “patriotas” que intentaram um “golpe” em oito de janeiro depredando símbolos da República, recebiam as primeiras penas sob os holofotes e conhecimento de todos os brasileiros.
Quanta diferença. Em Gaspar, tudo escondido e até vereador dormindo durante a leitura do relatório por Roberto Procópio de Souza, PDT, ex-ferrenho oposicionista do atual governo, hoje um soldado dele, e que pediu a referida CPI. No STF, com tudo aberto, os ministros – e a própria Justiça – ficaram expostos mais uma vez. Alguns advogados dos réus também! (Des)avança Gaspar!
Como funciona a esperteza e as pesquisas de avaliações de políticos. Sabedores de que o Datafolha estava nas ruas coletando impressões sobre o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, PT, os “çábios” do marketing e da comunicação do governo trataram, preventivamente, de impulsionar uma pesquisa digital de última hora, a do Ipespe, feita para a Febraban, onde supostamente se mostrava Lula crescendo na aprovação do seu governo.
Ontem à noite, os veículos do sistema Globo, estamparam a pesquisa do Datafolha. Bingo. O governo do viajante e gastão Lula piorou levemente perante os brasileiros ouvidos pela pesquisa. Advinha qual dos dois institutos tem mais credibilidade?
Quanta diferença. O prefeito de Blumenau, Mário Hildebrandt, ainda no Podemos, está numa ida rápida a Alemanha. Entre outras, com a comitiva, vai participar da abertura da Oktoberfest, de Munique, a original, como convidado oficial. Aqui a festa é ícone nacional. Em Gaspar, desmembrada de Blumenau, o prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, recebe a “chama crioula”, vinda de Lages – uma cidade originariamente gaúcha – para a comemoração da Semana Farroupilha, uma comemoração histórica de uma revolução que pretendeu separar o Rio Grande do Sul do Brasil.
Quanta diferença. Em fim de governo Kleber Edson Wan Dall, MDB, e Marcelo de Souza Brick, Patriota, ou PL, sei lá, ou PP, talvez, bem como os vereadores da Bancada do Amém (MDB, PP, PSD, PDT e PSDB) estão agora comemorando entregas de calçadas e vejam só, remendos de ruas. Nos projetos que mandam e passam na Câmara estão fechando vias projetadas que foram ocupadas por loteamentos. Qual é mesmo a marca do atual governo?
Coisa de doido I. O presidente da Câmara de Gaspar, Ciro André Quintino, MDB, disse que foi chamado ao bairro da Lagoa por moradores de lá. É que cães foram encontrados mortos por suposto envenenamento. Crime. tipificado em lei. O vereador prometeu investigar e resolver o caso, entregando os responsáveis a Justiça. Como é que é?
Coisa de doido II. Investigar crimes em que há suposto envenenamento de animais não é caso de polícia? O que o vereador e a população que o procurou está querendo dizer? Que a polícia de Gaspar não está fazendo o serviço dela?
Coisa de doido III. Ah, mas a Câmara também possui a prerrogativa de investigar, dir-me-ão alguns. Sim! Via a Comissão Parlamentar de Inquérito. Por enquanto, as CPIs na Câmara de Gaspar estão sendo feitas para enterrar os problemas da atual administração contra a cidade, cidadãos e cidadãs. Se não fazem a lição de casa, farão lições extras e daquilo que nem conhecem?
Coisa de doido IV. A última, a CPI que apura as conversas cabulosas do ex-faz tudo do prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, o ex-secretário de Fazenda e Gestão Administrativa, ex-presidente da Comissão de Intervenção do Hospital, ex-secretário interino de Planejamento Territorial, que continua presidente do PSDB, Jorge Luiz Prucino Pereira, é secreta. E tudo sob o pior dos silêncios: incluindo o presidente Ciro André Quintino, MDB, que lavou as mãos. O presidente de fato dela, e todos sabem, é o mais longevo dos vereadores, José Hilário Melato, PP. Nem mais, nem menos.
Coisa de doido V. Ou seja, se a Casa que pode investigar fatos e atos duvidosos, ou viciados no âmbito administrativo e não investiga, fará agora o serviço da polícia, ao invés de cobrá-la na missão para qual os cidadãos e cidadãs pagam-na com os pesados impostos? O vereador Ciro só faz isso para ganhar simpatia em um nicho de eleitores e eleitoras. E por quê? Está perdendo naqueles em que já foi campeão de votos: promete ressuscitar um Projeto de lei dele em que se pune com multas quem atropela animais em Gaspar e não presta socorro.
Coisa de doido V. Primeiro isto é competência federal e já há lei que o define. Segundo: numa cidade onde a prefeitura – e a Câmara como um todo – é omissa na política de zoonoses, onde uma ONG é perseguida por ser seu presidente divergente do poder de plantão, então perguntar não ofende: para onde mesmo o atropelador casual de um animal solto em Gaspar vai levá-lo para socorro com credenciamento público? Secretaria da Agricultura? Superintendência do Meio Ambiente e Sustentabilidade? A casa do vereador, do prefeito? Como se vê, políticos quando em busca de votos fáceis, revelam como não possuem qualquer noção da realidade e das armadilhas que armam contra eles próprios.
E por falar em polícia. O ex-delegado Egídio Maciel Ferrari, que fez história com suas investigações contra bandidos na passagem por Gaspar, hoje deputado estadual pelo PTB, e com alto comprometimento na causa animal, foi sondado para se filiar ao MDB. Notícia velha e o fato que foi para a dormência. Até porque pode lhe custar o mandato que é do PTB. Pois não é que o MDB de Gaspar ao ver a possibilidade do deputado Egídio estar no MDB, também o escalou para ser candidato a prefeito por aqui?
Primeiro, tudo é possível. Segundo: se tudo é possível, este possível mostra bem claramente o quanto o MDB de Gaspar está sem força e candidato a prefeito para outubro de 2024. Tanto precisa até importar um nome de Blumenau e que sequer nasceu no MDB. O deputado Delegado Egídio continua na dele, até porque os que o cercam, dizem que não tem nada a ver com os do MDB que estão no poder de plantão em Gaspar. Hum!
Um enviado do governador Jorginho Melo, PL, veio a Gaspar fazer contato o vice-prefeito Marcelo de Souza Brick, oficialmente no Patriota, mas com ficha assinada no PL e que está nas mãos do deputado Ivan Naatz, PL, mas sondado pelo PP. A conclusão do emissário foi de que seria problemática para o PL uma possível vitória de Marcelo. A conversa não foi conclusiva, mas não foi boa.
Se o PL de Gaspar possui mesmo um candidato e que na pesquisa do partido ela aponta Rodrigo Boeing Althoff, bem à frente dos demais, apesar de ele estar há quase três anos escondido e cego aos equívocos da atual administração, qual a razão para o Diretório de Gaspar estar ele próprio olhando alternativas e Florianópolis fazendo incursões de checagem por aqui? Por que nas pesquisas do próprio PL, o partido testa outros nomes?
Uma das respostas pode estar nas fotos do encontro do PL Mulher de Gaspar realizado na segunda-feira e que deixou os bolsonaristas do PL arrepiados. Rodrigo Boeing Althoff, que já foi secretário do ex-prefeito Pedro Celso Zuchi, PT, já foi filiado ao PV e foi candidato a vice-prefeito na eleição perdida em 2012 com Kleber Edson Wan Dall, MDB. Mais. Nestes três anos não conseguiu fazer uma equipe de trabalho e conta com a sorte: o engajamento de bolsonaristas raízes e que fazem barulho por centenas nas redes sociais em sua defesa.
Os empresários gasparenses da área de terraplanagens, construção civil e imobiliária estão desmontando acampamento de apoio ao atual governo. Esta é a nota. Bom final de semana a todos. Acorda, Gaspar!
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MUSK E TESLA, DUAS GENIALIDADE, por Elio Gaspari, nos jornais O Globo e Folha de S. Paulo
Estão nas livrarias duas publicações com as biografias de duas pessoas notáveis. Dois gênios, cada um ao seu tempo. Um é Elon Musk, contado por Walter Isaacson. O outro é Nikola Tesla, de Marko Perko e Stephen Stahl.
Musk viu seu primeiro computador em 1982, aos 11 anos, e é a pessoa mais rica do mundo, com uma fortuna avaliada em 65 bilhões de dólares.
Em 2002, ele se meteu com a ideia de carros elétricos. A Tesla, empresa que os fabrica, já bateu a marca do milhão de carros vendidos. Quando decidiu dar esse nome ao carro, Musk sabia quem ele havia sido, mas até hoje há quem pense que Tesla, como Sony, é um nome de fantasia.
MUSK: A IDEIA NA CABEÇA E A EMPRESA NA MÃO
Isaacson conta a vida de um garoto criado na África do Sul. Com a cabeça no mundo da Lua, desde o dia em que conseguiu comprar, com seu dinheiro, um dos primeiros computadores pessoais, navegou neles. Fez seu primeiro videogame aos 13 anos.
Estudando Economia e Física nos Estados Unidos, em 2003, aos 22 anos escreveu um trabalho intitulado “A Importância de ser Solar”. Logo depois, Musk caiu no Vale do Silício, na Califórnia, onde visionários tinham computadores e internet. Daí em diante, sua história de sucesso seria apenas mais uma.
Isaacson mostra um gênio empresarial, como já mostrou a genialidade artística de Leonardo da Vinci, a esperteza de Henry Kissinger e a criatividade obsessiva de Steve Jobs.
Sua primeira descoberta deu-se quando criou a empresa de software, a Zip2, ligando ofertas comerciais a mapas. “Eu aprendi que você não pode ser um bom diretor de tecnologia, a menos que seja o diretor-executivo.” (Desde garoto ele queria mandar em tudo.) Em 1999, ele tinha 5 mil dólares na conta quando vendeu a Zip2 por 20 milhões. Três anos depois, vendeu a segunda — a PayPal — por 1,2 bilhão de dólares e recebeu US$ 250 milhões.
Com a cabeça na Lua e Marte, Musk criou a SpaceX para ir ao espaço. Com os pés no chão, foi atrás do carro elétrico. Muita gente estava atrás dessa ideia e, em 2008, ele seria a última pessoa a colocá-la de pé. O carro custaria mais de 100 mil dólares, Musk dispensou quatro CEOs da empresa, seu primeiro casamento atolou, e três foguetes da SpaceX falharam nas tentativas de colocar satélites em órbita.
Isaacson mostrou a capacidade de Musk de dar a volta por cima, movido por um temperamento difícil e obsessivo, que faz dele um tipo inesquecível e intratável. Exemplo: em 2020 ele foi acusado de ter ajudado no golpe contra o presidente boliviano Evo Morales e respondeu: “Nós vamos dar golpe em quem quisermos. Lidem com isso.” (A Bolívia tem minas de lítio, matéria-prima para as baterias de carros elétricos.) Infelizmente, Isaacson não trata desse episódio. Dois anos depois, Musk veio ao Brasil para um encontro com Jair Bolsonaro.
Musk saiu do inferno astral de 2008. O quarto foguete pôs um satélite em órbita e ele ganhou um contrato da Nasa. Conseguiu um reforço de caixa com o governo, um investimento da Daimler alemã e comprou uma fábrica da Toyota nos Estados Unidos a preço de banana. Em 2013, quando tinha um novo modelo nas ruas, a Tesla comprava 10% das baterias do mundo. Do jeito que iam as coisas, em poucos anos compraria 100%. Solução? Resolveu construir uma mega fábrica de baterias nos Estados Unidos, associando-se à Panasonic. Parecia ficção científica.
O garoto que se encantou com “Projeto Marte”, a ficção científica de Wernher von Braun, o visionário que fez as bombas-foguete V-2 de Hitler, e 25 anos depois ajudou os Estados Unidos a descer na Lua, continua sonhando e ganhando dinheiro. Satélites, painéis solares, carros que não precisam de motorista, inteligência artificial e, quem sabe, um dia se chega a Marte.
TESLA, IDEIAS NA CABEÇA, NADA NA MÃO
Elon Musk não inventou nada, o sérvio Nikola Tesla inventou de tudo. Musk é a pessoa mais rica do mundo. Tesla foi despejado dos luxuosos Waldorf Astoria e do hotel Saint Regis por falta de pagamento e morreu num quarto do New Yorker em janeiro de 1943. Em setembro, a Corte Suprema dos Estados decidiu que ele (e não o italiano Guglielmo Marconi) era o inventor do rádio. Na biografia de Musk, Isaacson menciona-o apenas uma vez, de passagem.
Devem-se à Tesla não só o rádio, mas também a difusão da transmissão da eletricidade por meio da corrente alternada (essa que sai da tomada) e o motor elétrico. Ele concebeu os telefones portáteis, as lâmpadas fluorescentes, a ressonância magnética, o raio laser e o radar. Trabalhou, sem sucesso, na transmissão de energia elétrica sem fios por longas distâncias. Tinha a ideia de construir uma torre que irradiaria energia. Teve a ajuda do banqueiro J. P. Morgan, mas essa ele não conseguiu. (Jair Bolsonaro queria ir a uma empresa da Flórida que continua batalhando na ideia.)
Em 1881, o ano em que teve seu primeiro colapso nervoso, Tesla estava andando em Budapeste quando concebeu um motor que giraria por impulsos magnéticos vindos de uma rede de eletricidade. (Leo Szilard concebeu a bomba atômica em 1923, numa esquina de Londres, esperando um sinal de trânsito.) Em 1883, Tesla foi trabalhar com Thomas Edison e tomou o primeiro de uma sucessão de calotes.
Se a biografia de Musk expõe as obsessões do bilionário, a de Tesla, com os subtítulo “A vida e a loucura do gênio que iluminou o mundo”, mergulha na sua personalidade depressiva, maníaca. Tem até duas cronologias, uma de suas criações e outra de suas crises. Na vida de Nikola Tesla, quando uma coisa podia dar errado no mundo dos bens materiais, errado dava. Ele vendeu as patentes dos motores para a Westinghouse, ganhou dinheiro e perdeu-o. Montou um laboratório e ele pegou fogo.
O mundo do jovem Musk teve foguetes e computadores, o de Tesla teve a eletricidade. Thomas Edison acendeu sua primeira lâmpada em 1879, usando uma corrente contínua.
Ele era um craque na marquetagem. Em 1890 os dois travaram a “guerra das correntes”. Edison de um lado com a corrente contínua (a das baterias, por exemplo) e Tesla com a corrente alternada. Ambas funcionam, mas a alternada podia ser transmitida por grandes distâncias. Os lobistas de Edison espalharam que ela eletrocutaria as pessoas. Com a ajuda da Westinghouse, Tesla prevaleceu. Em 1915, o The New York Times propôs os dois para o prêmio Nobel de Física.
Com o tempo, as esquisitices de Tesla afogaram seu gênio. Afinal, ele dizia que ouvia outros mundos. Tudo bem, mas Marconi também os ouvia, e Edison anunciou um telefone que falaria com espíritos.
Em 1934, aos 78 anos, Tesla estava quebrado, e a Westinghouse passou a pagar seu quarto de hotel. Um ano depois, ele concebeu a Super Arma, uma espécie de Raio da Morte.
Quando Elon Musk deu o nome de Tesla ao seu carro elétrico, havia no gesto algo mais que uma homenagem, sabe-se lá o quê.
CALOTE EM CUBA, DEFICIT NO BRASIL, por Eliane Cantanhêde no jornal O Estado de S. Paulo
No sobe-e-desce do início do terceiro governo, o presidente Lula está mais uma vez em baixa. Voltou a alimentar polêmicas na política externa, demitiu a segunda ministra, deu posse envergonhada aos novos ministros do Centrão e não foi uma boa ideia usar relógios que seriam da União. E como andam as votações no Congresso? E o “déficit zero” em 2024, foi um sonho de verão?
Em novo giro internacional, Lula tem quatro focos: a complexa relação com Cuba, equilibrarse para o Brasil não virar massa de manobra da China, exibir um contraste vigoroso entre ele e Jair Bolsonaro na abertura da Assembleia Geral da ONU e priorizar convergências e amenizar crescentes divergências com os EUA, como na guerra da Ucrânia. Sem improvisos, por favor!
Segunda maior economia do mundo, a China se move para transformar seu poder econômico em liderança política e, na disputa com os EUA, usa os Brics, agora ampliados, e o G77 + China, que reúne 134 países “em desenvolvimento”. O Brasil é relevante em ambos e Lula já deu um, dois, três… sinais de aproximação com China (além de Rússia) e relutância com EUA (além de Europa). Preocupante.
Lula já chegou em Havana, para a reunião do G77 + China, condenando o embargo liderado pelos EUA contra a Ilha. É uma velha posição do Brasil, rompida por Bolsonaro, mas Lula tem outros alvos: justificar a condescendência com Cuba, que deve, não nega, mas não tem como pagar mais de R$ 2,5 bilhões ao Brasil. Culpa do embargo? É preciso saber se isso é suficiente para abafar a gritaria bolsonarista, evitar novas críticas de Uruguai e Chile e explicar ao distinto público brasileiro o uso de dinheiro público para as ligações amorosas de Lula com Cuba e Venezuela.
Em Nova York, Lula não terá de comer pizza em pé no meio da rua e vai repor o Brasil nas boas teses de sustentabilidade, paz, democracia, justiça social e combate à fome. Temas também para a conversa de quartafeira com Joe Biden, centrada num plano global para empregos. Se Lula vai apostar no contraste com Bolsonaro, a foto da posse vai amarelando. Na de Bolsonaro só homens brancos. Na de Lula, mulheres, uma indígena, negros. E agora? Depois das ministras de Esportes e Turismo, quantas vão sucumbir na guerra com o Centrão, que entra no governo a portas fechadas?
Fernando Haddad anda sumido, com o déficit zero parecendo só um golpe de marketing. A revelação do Estadão de que Lula não devolveu (justamente) relógios da Presidência enfraquece a munição contra Bolsonaro. E os advogados dos três primeiros condenados no STF pela tentativa de golpe confirmam: os bolsonaristas estão quietos, mas organizados e à espreita.
CONGRESSO ESTÁ COM VONTADE DE ARMAR BOMBAS PARA LULA, por Vinicius Torres Freire, no jornal Folha de S. Paulo
O Congresso andava quieto depois de aprovar uns projetos econômicos que até remendam o país e, mais impressionante, até uma promessa de Reforma Tributária. Então saiu para as férias. A seguir, entrou na muda, entretido com a barganha de ministérios. Voltou à ativa para tratar de assuntos cooperativos e corporativos. Ameaça agora aprovar uma rajada de medidas que podem estourar e desmoralizar as contas públicas, um tabefe no governo de Luiz Inácio Lula da Silva e no país.
Sim, “assuntos cooperativos e corporativos”. O Congresso mais e mais é uma cooperativa privada de direito público, destinada a criar uma casta de negociadores de dinheiros públicos (de emendas a fundões eleitorais) e de garantias de permanência no poder (com, de novo, fundões partidários e regulações contra a concorrência político-eleitoral).
Considere-se essa dita “minirreforma eleitoral” e a anistia que vão se dando para trambiques em contas partidárias.
Há sinais preocupantes. Já seria de qualquer modo difícil reduzir o déficit e o crescimento da dívida pública. A situação ficou ainda mais delicada com a queda em parte inesperada da arrecadação de impostos. Com a saraivada de projetos gastadores, o caldo engrossa.
Aprovou-se no Senado uma emenda constitucional que coloca na conta do governo federal mais servidores de ex-territórios federais, um trem da alegria que, vez e outra, roda desde a aprovação da Constituição, por inspiração e com apoio de lideranças do governo.
O governo combinara com estados e municípios tapar parte das perdas causadas pela redução da alíquota do ICMS (combustíveis, energia etc., obra eleitoreira inspirada pelo governo das trevas). A conta está saindo mais cara, inclusive por iniciativa de petistas. Há projetos para beneficiar indevidamente servidores —obra de Rodrigo Pacheco, presidente do Senado (PSD-MG). Pode haver dinheiros federais para policiais. Etc. Enfim, há risco de a Reforma Tributária ser desfigurada no Senado.
Entretanto, gente graúda no Congresso faz cara feia para aumento de impostos, em particular sobre mais ricos (fundos exclusivos, offshores). Vem com a conversa de que “o governo tem de cortar” em vez de apenas pedir dinheiro (que o Congresso quer gastar a rodo). Que cara de pau.
Os assuntos econômicos mais importantes, imediatos, de conjuntura são:
Haverá dinheiro e vontade para ao menos cortar o déficit primário em 2024? Déficit zero não vai ter, afora milagres. Mas é essencial reduzir o déficit, com aumento de imposto, redução de despesa e preservação total ao menos desse “arcabouço fiscal” um tanto relaxado;
A inflação continuará caindo ou controlada mesmo com a quase estabilidade de salários e algum crescimento mínimo da população ocupada? Parece esotérico, mas é importante. Pode ser que a capacidade de crescimento da economia seja maior do que imaginávamos, o que terá (deve ter) consequências práticas (em juros, por exemplo).
Quanto ao segundo tópico, nada se pode fazer, no curto prazo. Quanto ao déficit, estamos com água pelo nariz. Uma frustração grande do controle do rombo vai, no mínimo, evitar queda maior das taxas de juros. Pode resultar apenas em rebaixamento de perspectivas de crescimento. Mas, a depender do tamanho da lambança, cresce muito o risco de uma reviravolta maior de expectativas (de crescimento, de inflação, de ânimo empresarial para investir).
Não raro, o Congresso se dedica a um esforço concentrado de destruição. Para citar apenas dois casos graves, fez assim com FHC, no final de seu primeiro mandato (1998). Fez assim com o programa Dilma 2 de remendar os estragos, em 2015. Convém prestar atenção.
O BOLSONARISMO ENCONTRA ECO NA EXTREMA ESQUERDA PARA MÉTODOS
Esta declaração abaixo, é Rui Pimenta, presidente Partido da Causa Operária – o único que ainda usa a foice no seu logo – e eterno candidato a presidente da República, sempre com meia dúzia de votos
“Se você faz uma manifestação desarmado, não é um golpe de Estado, mas um ato político.
Pode ser um ato com objetivos muito ruins, mas se formos defender atos políticos apenas com objetivos com os quais a gente concorda, não tem ato político.
‘Ah, mas o ato invadiu o prédio’. Várias vezes um ato termina invadindo um prédio. Eu tenho 40 anos de militância, a quantidade de vezes que participei de ato que acabou entrando e ocupando reitoria, prédio público, acampamento, ocupação, ministério… Não consigo nem contar quantas vezes vi isso daí.
O pessoal pode argumentar o que quiser, mas invadir prédio público não é golpe de Estado e nem terrorismo, a não ser que invada com uma força poderosa armada.”
CONSERVADORISMO TERÁ QUE SE LIVRAR NO EXTREMISMO, editorial de O Globo
Por muitas décadas, a divisão entre os campos políticos identificados como direita e esquerda se baseava em questões como papel do Estado na economia ou desigualdade social. Mais recentemente, a pauta de costumes, influenciada pela agenda identitária originada nos Estados Unidos, passou a ocupar espaço. Temas como aborto, sexualidade, armas ou drogas se tornaram mais relevantes para explicar a sociedade. Dentro dessa temática, a visão associada ao conservadorismo tem sido predominante no Brasil — e decisiva na política. É o que constatou a mais recente pesquisa A Cara da Democracia, feita com 2.558 entrevistados pelo Instituto da Democracia (IDDC-INCT) no fim de agosto.
A maioria se diz contra a legalização do aborto (79%), contra a descriminalização do uso de drogas (70%) e a favor da redução da maioridade penal (65%). É certo que, entre os partidários do ex-presidente Jair Bolsonaro, os percentuais são mais altos (respectivamente, 90%, 83% e 77%). Mesmo assim, uma maioria expressiva dos admiradores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva defende as mesmas posições (77%, 71% e 62%). O principal contraste entre os dois grupos se dá na opinião sobre questões de gênero e sexualidade (60% dos lulistas são favoráveis ao casamento gay, enquanto 69% dos bolsonaristas são contrários).
Quando se pede aos entrevistados que se situem no espectro ideológico, 22% apontam a extremidade direita na escala, o dobro dos que escolhem a esquerda (11%). Em 2018, ano da primeira pesquisa A Cara da Democracia, mais brasileiros se diziam de centro (17%) que de esquerda (6%) ou direita (9%) somadas. De lá para cá, a situação se inverteu. O centro atrai 16%, e os dois polos mais que o dobro (33%).
Mais que a predominância do conservadorismo, chama a atenção como o bolsonarismo se apropriou dessa parcela da sociedade. Isso pode ser medido pela adesão às teorias conspiratórias disseminadas pelas redes bolsonaristas. Um terço dos entrevistados — e 72% dos bolsonaristas — diz acreditar que as eleições do ano passado foram fraudadas e que Bolsonaro venceu. É aproximadamente o mesmo percentual de americanos que creem na “grande mentira” de Donald Trump, segundo a qual Joe Biden só chegou à Casa Branca graças a fraudes eleitorais (30%).
Tanto Trump como Bolsonaro usaram a autoridade e a exposição que tinham para disseminar mentiras sobre a lisura das eleições. Como resultado, contribuíram para corroer a confiança na democracia. Embora três em cada cinco bolsonaristas entrevistados afirmem preferir a democracia a qualquer outra forma de governo, um quarto deles aceitaria uma ditadura em algumas circunstâncias. “A pesquisa mostra que ainda existe uma base bolsonarista que rejeita a democracia e as instituições democráticas”, afirmou ao GLOBO o cientista político Leonardo Avritzer, um dos responsávels pela pesquisa.
Para os conservadores brasileiros, a pesquisa traz uma mensagem ambivalente. De um lado, com Bolsonaro, seus valores reverberaram nos últimos anos e se tornaram predominantes na sociedade. De outro, foram contaminados pela visão conspiratória que emana do bolsonarismo. Para prevalecer na arena política, o conservadorismo precisará doravante encontrar seu caminho para fazer valer suas opiniões dentro das instituições democráticas. Lidar com as sequelas deixadas pelo bolsonarismo será seu maior desafio.
A DITADURA EQUIVOCADA, por Carlos Alberto Sardenberg, no jornal O Globo
O governo da China enfrenta sérias dificuldades naquilo que parecia ser sua especialidade: botar o país para crescer. Há problemas econômicos específicos — como o endividamento das administrações regionais e o esgotamento de grandes projetos de infraestrutura —, mas a questão básica é mais profunda. Trata-se da perda de eficiência do sistema político, aquele que se poderia chamar de ditadura esclarecida.
Ditadura, pelo óbvio. A sociedade vigiada e controlada pelo Partido Comunista. Na economia, ampla abertura para o investidor privado nacional e estrangeiro. Por trás disso, o comando de uma burocracia formada nas melhores universidades ocidentais e treinada em grandes companhias.
Um pequeno exemplo: a política monetária é aplicada pelo Banco do Povo da China. O povo não manda nada. Mandam economistas que trabalham exatamente como os mais eficientes banqueiros centrais do mundo.
Há uma ideologia por trás disso. Sustenta que a democracia política, estilo ocidental, não funciona e, pior, atrapalha o crescimento econômico. Muito debate, parlamentos atrasando a aplicação dos programas, imprensa incomodando, sociedade reclamando e resistindo a medidas do governo — não há como ter eficiência, diz essa doutrina. Mas, para que isso seja verdade, é preciso admitir que a tecnocracia é eficiente e sabe claramente os interesses atuais e futuros dos cidadãos e do país. Logo, não erra.
Pois o governo do presidente Xi Jinping vem cometendo erros sucessivos. O mais desastroso foi o programa Covid Zero. A ideia era bloquear a transmissão do vírus. Um teste positivo numa fábrica — e se fechava toda a fábrica, trabalhadores e funcionários lá dentro, por quantos dias fosse necessário para testar todo mundo e isolar os doentes. Um caso num bairro, e todos os moradores eram simplesmente trancados em suas casas, com barricadas à frente dos prédios. Se o vírus escapava do bairro mesmo assim, regiões inteiras eram isoladas. Um caso num porto, e se fechavam todas as operações ali.
Sendo essa a política, o governo se descuidou da vacinação — e deu tudo errado. A Covid Zero paralisou seguidamente a economia e não impediu a transmissão. Quando, finalmente, se abandonou a política, a economia estava desorganizada, a sociedade cansada e não vacinada. Depois o governo se equivocou em várias tentativas de recuperação, e o resultado aí está: a China crescendo muito pouco, os ganhos de renda bloqueados.
Como se chegou a esse ponto? Pela natureza do regime. Sem democracia, sem livre debate, os médicos e cientistas que alertavam sobre os erros da Covid Zero eram simplesmente presos ou trancados em casa. Incipientes debates em alguma imprensa regional, reportando reclamações de moradores, foram rapidamente abafados.
O mesmo acontece nas decisões de política econômica. Quando o presidente e a administração central erram, a burocracia mantém esse erro, insiste, até que as próprias instâncias superiores, o presidente e a cúpula do partido percebam a besteira. De novo, como não há debate sobre a falência de certas políticas, não há base para a procura das mais corretas. Erro atrai erro.
E quer saber? É bom que isso esteja acontecendo. O povo chinês paga um preço e também muitos países cujas economias se ligaram mais fortemente à China. Mas era preciso desmistificar o sistema e derrubar a ideia de que a democracia atrapalha. É notável também a perda de prestígio da China como parceiro econômico e geopolítico. Se o governo lá muda suas políticas sem consultar seu próprio povo, por que consultaria outros governos?
Assim é que os países ocidentais no sentido amplo, democráticos e desenvolvidos — incluindo Japão, Austrália e Coreia do Sul —, buscam parceiros confiáveis. Países emergentes democráticos são candidatos. Alguns pularam na frente. O México ultrapassou a China como maior fornecedor dos Estados Unidos. Canadá também. A União Europeia, outro exemplo, procura fontes de energia fora da Rússia.
Enquanto isso, o Brasil de Lula, antiamericano, se alinha com China e Rússia.
NEGACIONISTA SILENCIOSO, por Demétrio Magnoli, no jornal Folha de S. Paulo
No 16 de novembro de 1998, o então ex-ditador Pinochet foi preso em Londres por solicitação do juiz Baltasar Garzón. A prisão no Reino Unido de um chileno indiciado por um espanhol representou uma aplicação inédita do princípio da universalidade dos direitos humanos. Meses antes, o Estatuto de Roma estabelecera o Tribunal Penal Internacional (TPI), que entrou em vigor em 2002. Nos 50 anos do golpe de Pinochet, quando Lula investiu contra o TPI, o ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, alinhou-se ao presidente por meio de um silêncio cúmplice.
Lula e Almeida são negacionistas dos direitos humanos, mas o primeiro os despreza por motivos geopolíticos enquanto o segundo os renega por motivos ideológicos. As razões do presidente, embora abjetas, inscrevem-se na esfera superficial do oportunismo. Já as razões do ministro têm raízes profundas e, por isso, ferem o núcleo da cultura dos direitos humanos.
Meses antes de assumir o ministério, Almeida publicou um artigo esclarecedor. Consagrado à invasão da Ucrânia, o texto conseguiu a proeza de, ao longo de 613 palavras, evitar a responsabilização de Putin. Nele, invoca-se a “complexidade do evento” para, afastando “reflexões maniqueístas”, atribuir o “conflito” ao “expansionismo capitalista” e à “lógica destrutiva da mercadoria” (leia-se: EUA). Culpa coletiva, difusa, espalhada: “todos os governos estão cientes do horror que estão promovendo”.
O substrato ideológico do artigo encontra-se, contudo, em outro lugar: uma citação de 1950 do martinicano Aimé Cesaire, que ainda militava no Partido Comunista Francês e admirava Stalin. Segundo Cesaire, a indignação diante do nazismo, fonte da Declaração Universal de 1948, não decorria do “crime contra o homem, mas contra o homem branco” pois inexistiria diferença fundamental entre a máquina de extermínio hitlerista e os “processos colonialistas” europeus.
Cesaire escreveu durante 66 anos. Almeida escolheu o voo mais baixo do martinicano. A passagem pertence à extensa tradição do antissemitismo soft contemporâneo que, no lugar da negação factual do Holocausto, opera pela sua relativização. Mas a cuidadosa seleção faz sentido: o objetivo do ministro é exibir a cultura dos direitos humanos como pura hipocrisia de brancos ocidentais.
A narrativa identitária de Cesaire e Almeida tem mil e uma utilidades, inclusive a proteção de Stalin, no caso do primeiro, e a de Putin, no do segundo. Sobretudo, porém, trata-se de contestar a natureza universal dos direitos humanos para sustentar uma doutrina assentada na cisão “brancos/não-brancos”. Daí, a hostilidade tanto à Declaração Universal quanto ao TPI, seu principal fruto.
“Todos os seres humanos podem invocar os direitos e liberdades proclamados na presente Declaração, sem distinção de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião…”. O artigo 2º da Declaração Universal, aprovada antes da queda dos impérios coloniais, indica o alcance da reação civilizatória ao Holocausto.
O Estatuto de Roma nasceu do repúdio ao genocídio de Ruanda (1994) e ao massacre de Srebrenica (1995), eventos incompreensíveis nos termos da doutrina identitária. A “purificação racial” foi a mola propulsora de ambos. Na antiga Iugoslávia, militares sérvios eliminaram milhares de civis muçulmanos bósnios. No país africano, a ditadura hutu comandou o extermínio de mais de meio milhão de tutsis. “Brancos contra brancos” e “negros contra negros”? O exterminismo racista não precisa de diferenças de cor de pele.
O crime de Putin que provocou a ordem de prisão do TPI é do mesmo tipo. A deportação de dezenas de milhares de crianças ucranianas para a Rússia destina-se a russificá-las, um passo no projeto de eliminar a Ucrânia como nação. O negacionista Almeida não vê escândalo nisso: “brancos contra brancos”, tudo bem.
Simples assim???
“O eleitor precisa entender a regra do jogo”, diz Ricado Holz a Crusoé
(Redação O Antagonista, 15/09/23)
Autor do “Manual básico para não ser enganado por políticos”, o especialista em gestão pública Ricardo Holz diz a Crusoé que falta de educação política ajuda a promover políticos com promessas enganadoras.
“‘O foco do prefeito, por exemplo, só pode ser a educação básica, porque só essa porção é que cabe ao município. Mas quando ele fala de forma aberta, que vai melhorar a educação, muita gente pensa em ensino médio e superior’, diz Holz”
“‘A eleição é uma contratação. É assim que o brasileiro precisa olhar para esse processo, ele vai contratar alguém para trabalhar para ele’, lembra o escritor. ‘Esse é um conhecimento básico que o jovem tem que ter. É inacreditável que formemos jovens no ensino médio e eles saiam da escola sem saber quais são as regras básicas do jogo do convívio em sociedade’, complementa.”
(Leia + em: https://crusoe.com.br/edicoes/281/o-eleitor-precisa-entender-a-regra-do-jogo-diz-ricado-holz/)
(Fonte: https://oantagonista.com.br/brasil/o-eleitor-precisa-entender-a-regra-do-jogo-diz-ricado-holz-a-crusoe/?utm_medium=email&_hsmi=274495357&_hsenc=p2ANqtz-9rWOuaqtcr_TD5k1lkS-m9ON3rixpe_nd68MOaSVBXr4r7gxM4xkP0MxqG9hPB9VhF-hvp4_5XCyW5ikqcu-fbTssDcQ&utm_content=274495357&utm_source=hs_email)
LULA ESTÁVEL, editorial do jornal Folha de S. Paulo
A avaliação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) praticamente não se alterou desde o início de seu terceiro mandato. O governo é tido como ótimo ou bom por 38% dos entrevistados pelo Datafolha, ante os 37% em junho e 38% em março. É ruim ou péssimo para 31%, pouco acima dos 27% de junho.
A estabilidade parece compreensível. Não houve alterações relevantes na vida do país, na política, na economia ou em outras áreas que pudessem modificar de forma sensível a opinião pública. Pode-se dizer, na verdade, que a mudança maior foi certa estabilização do clima político e, para o bem ou para o mal, das condições de vida.
Deixou o poder um grupo dado à estridência e a atos tresloucados, quando não golpistas. A polarização persiste na sociedade, o que ajuda a explicar a reprovação de Lula, mas o bolsonarismo se retraiu com o ocaso de seu líder.
Não houve desaceleração aguda da atividade econômica e aumento do desemprego, como se temia no início do ano, ainda que o cenário esteja longe de entusiasmar.
De mais significativo na pesquisa, caiu de 50%, em março, para 43% agora a parcela dos brasileiros aptos a votar que espera um governo Lula ótimo ou bom.
O mercado de trabalho se mantém entre estabilidade e melhora modesta. A inflação dos alimentos teve desaceleração forte. Benefícios sociais tiveram aumento importante já sob Jair Bolsonaro (PL).
O líder petista terminou seu segundo mandato, em 2010, com aprovação de 77%, e a diferença em relação a sua popularidade atual pode parecer chocante. Mas talvez não seja preciso lembrar que, naquele ano, o país vivia seu melhor momento de crescimento da renda em três décadas.
Não havia, ademais, a divisão política extremada destes tempos. Conforme o Datafolha, têm avaliação favorável da gestão de Lula 72% de seus eleitores. Já entre os que declaram ter votado em Bolsonaro no ano passado, ínfimos 6% dão boa nota à administração.
De todo modo, cumpre recordar que, no início de seu primeiro governo, em 2003, Lula colhia uma aprovação modesta, em torno de 43% —com queda para 39% no ano seguinte. Seu prestígio começou a decolar apenas em 2006.
Diga-se em favor do petista que os números, embora não grandiosos, são melhores que os de Bolsonaro após nove meses de sua posse. Nesse período, o antecessor marcava 29% de ótimo e bom.
Dadas a ainda difícil situação socioeconômica, as profundas divisões políticas e a duração ainda exígua do governo, o resultado da pesquisa pode ser considerado satisfatório para Lula. O cidadão, entretanto, dá indícios de que espera mais de seu terceiro mandato.
QUASE TODOS UNIDOS PELO RETROCESSO, por Vera Magalhães, no jornal O Globo
Quando PL, PT e praticamente todos os partidos do Brasil se unem em torno de propostas como o pacote que, de uma tacada só, anistia as infrações eleitorais passadas e afrouxa as regras para o futuro, são diminutas as chances de que a reação da sociedade ou uma tentativa isolada como a do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, consigam conter um imenso retrocesso.
É diante desse cenário de uma união quase total que avançam, sob a batuta de Arthur Lira, duas propostas de emenda à Constituição que, com texto propositalmente confuso e subliminar, minam de uma vez todos os controles da Justiça sobre gastos eleitorais com dinheiro público e as regras que visavam a garantir um mínimo de equidade de gênero e racial nas candidaturas e, consequentemente, na representação parlamentar.
É ensurdecedor o silêncio de muitas mulheres em postos de poder — que têm feito o discurso da necessidade de as mulheres terem voz e voto na política — diante do avanço da PEC da Anistia às infrações de 2022, inclusive às regras de cotas e destinação de recursos a candidaturas femininas, e diante da “minirreforma” eleitoral, que visa a fazer letra morta dessas iniciativas recentes.
No governo Lula, as ministras Cida Gonçalves (Mulheres) e Anielle Franco (Igualdade Racial) soltaram uma nota conjunta em maio, quando a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara aprovou a admissibilidade da anistia, mas não se ouviram protestos dessas e de outras pastas comandadas por mulheres diante do avanço, com a rapidez típica dos projetos que Lira abraça, da tal reforma do retrocesso.
A reação mais firme veio justamente de Pacheco, que repetiu o que fez em 2021 diante de outra correria da Câmara para tentar mudar as regras do jogo às vésperas do ano eleitoral. Agora como antes, o presidente do Senado demonstrou disposição de parar a bola e evitar a discussão a toque de caixa de uma série de medidas a que a sociedade está alheia.
Ele é um político conservador, no sentido clássico da palavra, e não na acepção reacionária do bolsonarismo. Por isso foi pela manutenção da autonomia do Banco Central, contra o tal Código Eleitoral de 2021 e engavetou o projeto que a Câmara votou às pressas para tentar emplacar o marco temporal para a demarcação das terras indígenas antes que o Supremo Tribunal Federal analisasse o tema.
O contraponto a Lira é claro, uma vez que o presidente da Câmara manobra a pauta da Casa que comanda ao bel-prazer dos interesses do grupo de partidos que orbitam em torno de si.
A tal reforma, que vem na esteira de uma anistia vergonhosa, quer dar à cúpula dos partidos que cresceram em 2022 maior poder discricionário na definição de candidaturas e na gestão desses recursos, que são públicos, ao mesmo tempo que afrouxa a fiscalização sobre o dinheiro e sobre as regras que tentam garantir maior acesso de mulheres e negros a esses espaços de poder.
Não à toa, a coisa foi toda urdida nos bastidores e só trazida à luz do dia quando já havia toda a articulação pronta para votar na correria, aprovar com o aval de todo mundo e não dar à opinião pública o tempo de entender do que se trata e de pressionar o Congresso pela rejeição da agenda regressiva.
Sobra Pacheco na retaguarda. Diferentemente de 2021, agora a pressão para que ele coloque as PECs para andar é grande. Sobretudo a da minirreforma, para a qual existe prazo.
A articulação política do governo e o próprio Lula lavaram as mãos e fingem que o tema não existe. Mais uma demonstração, além das já dadas na reforma ministerial e nas conversas para indicação de ministros do STF e procurador-geral da República, de que temas como equidade de gênero nos espaços de poder rendem votos, mas não viram compromisso de Estado.
Bom dia.
E durma com um barulho desse 👀
A mão grande corre a soltas…
E a culpa?
A culpa é só nossa.
Bíblia embaixo do braço não determina caráter, nem idoneidade.
Que aprendamos tardiamente e com as fraturas expostas, que POLÍTICOS ou empresários não podem ficar acima das leis que regem também o andar de baixo.
O exercício da cidadania não termina com o voto na urna; é alí que ele começa.
Nenhum funcionário da iniciativa PRIVADA recebe salário ou se MANTÊM no posto sem a contrapartida esperada, sem a avaliação do custo/benefício. Então pq tratamento diferenciado com os políticos?
Sim, a culpa de Gaspar ser Gaspar é só nossa.
Bom final de semana pra vocês também 🙌