Ouviu dizer por aí. O populista Ciro André Quintino, MDB, que está presidente da Câmara de Gaspar, foi ao seu alambique de oportunidades e saiu na frente. É para causar, ter paternidade, palanque e discurso.
Na semana passada, Ciro foi à tribuna da Câmara para apenas fazer manchete na imprensa amiga. Ele defendeu a tal tarifa zero para o transporte coletivo de Gaspar. Só para lembrar, o governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, Luiz Carlos Spengler, PP, e Marcelo de Souza Brick, Patriota, ou PL, sei lá, ou PP, talvez, e que Ciro sempre apoiou até agora incondicionalmente, só piorou o que já ia mal. A Covid-19 deu um a mãozinha para se arrumar um culpado pelo desastre nosso transporte público e na mobilidade urbana.
O transporte coletivo de Gaspar é pago pelos usuários. E mesmo assim, sem falar nas críticas de horários e itinerários, ele não é sustentável economicamente. As supostas planilhas provariam isto. Mas, como no governo de Kleber e Marcelo a transparência, na maioria dos casos nem translúcida é, e pedir informação para esse pessoal é como ficar chocando ovos podres, então melhor é admitir este desequilíbrio seja verdadeiro. O que não se sabe, é o tamanho dele.
Para a Expresso Presidente ficar aqui, em contrato emergencial e não se ter um novo “apagão” neste setor – ou também já esqueceram que ficamos sem transporte coletivo em Gaspar? – a empresa toma da prefeitura milhões de Reais há dois anos em subsídios, dinheiro que deveria estar prioritariamente na educação, saúde, obras. E apesar desse tempo, Orçamento de Gaspar ainda não foi balanceado para este tipo de despesa.
O desenho das concessões feitas até aqui – começou no governo do PT de Pedro Celso Zuchi, pois antes não havia isso na nossa cidade -, e principalmente pelo governo Kleber e seus “çábios”, foi de um erro brutal de percepção da nova realidade de mercado. E meus leitores e leitoras sempre souberam disso em vários artigos. Todos os “çábios” deram com os burros na água mesmo avisados pelo mercado e quem queria explorar o serviço por aqui. A verdade é que no tempo da uberização, o sistema de concessão e gestão de transporte coletivo continua no tempo dos taxímetros dos táxis. Depois de experiências malsucedidas, o jeito foi ficar com a Expresso Presidente. E ela não veio para cá para se arriscar e perder dinheiro.
Perguntei ao vereador Ciro se ele sabia o quanto vai custar a tarifa zero para os cofres da prefeitura de Gaspar se ela for implantada como está garganteando. Nada!. Perguntei se já foram feitas simulações deste custo. Nada! Perguntei se ele sabe o quanto já se gastou em subsídio municipal só este ano para manter o transporte coletivo ativo. Nada! E sendo o vereador tão interessado neste assunto, perguntei a razão pela qual, num caso prático, não se faz esta experiência com uma linha circular no bairro Bela Vista (onde há três dos 13 vereadores) para se levar e trazer moradores, trabalhadores, professores e estudantes gratuitamente do bairro ao ponto de ônibus do sistema de transporte coletivo de Blumenau. Nada!
O empolgado e falador Ciro está mudo. É só apertar.
Ciro não é chegado a perguntas que exigem um certo exercício de coerência para as respostas. Populistas tocam flautas para os ouvidos dos eleitores e eleitoras. Depois arrumam culpados pela troca do playlist. Coerência é uma palavra que se torna maldita e um palavrão para os políticos populistas. Ciro não é empresário, não administra negócios, não enxerga planilhas. Na Câmara autoriza despesas e mais despesas. É político. Vive de viagens, filmetes, visitas, discursos, entrevistas sem perguntas, festas de todos os tipos e mãos para tapinhas, redes sociais. Tudo com dinheiro dos pesados impostos do povo. E político quando falta dinheiro, aumenta os impostos, as taxas – como recentemente fez o prefieto e todos os vereadores aprovaram no caso dos cemitérios. Não se corta custo, salário e nem se desemprega ninguém. Também simples assim.
Não estou ou sou contra a tal tarifa zero. Estou, mais uma vez, espantado com a irresponsabilidade dos políticos que falam o que não conhecem e acabam no fundo, provocando um debate que pode entortar à viabilidade da própria ideia que expõem, que dizem defendê-las, provocando debates paralelos. E por quê?.
A ideia da tarifa zero é essencialmente um conceito socialista, porque nesta tese, só pobre é que depende de ônibus e eles deveriam ser protegidos pelo estado nos custos que possuem diante das baixas remunerações que recebem. Errado. Porque se este for o conceito, há outros mecanismos sociais compensatórios, entre eles, o Vale Transporte e que no setor público até os ricos que se deslocam com automóveis ganham.
Neste mundo em mudanças, com o aquecimento global, esta ideia da tarifa zero também se atualizou e passou a ser também, uma questão de mobilidade coletiva – de pobres e ricos – nos centros urbanos adensados, em horários de grande mobilidade e principalmente, de sustentabilidade ambiental. E por este caminho, a primeira coisa a ser eliminada, seriam os combustíveis poluentes no transporte coletivo. Mas, pouco se fala disso.
Em Gaspar, de junho de 2021 a junho de 2022, foram R$7,4 milhões de subsídios para a Expresso Presidente operar aqui; para período seguinte foram mais R$8,2 milhões. Só este ano a prefeitura já pagou até sexta-feira R$ 5,4 milhões, entre eles, R$1,8 milhão em passes. E já está em vigor um aditivo de R$4,3 milhões para valer até o final deste ano.
Mesmo com esta montanha de dinheiro dos cofres da prefeitufra, cada passageiro ainda precisa pagar de R$4,80 a R$5,00. Então, vereador Ciro quanto vai custar à prefeitura bancar o sistema com a tal tarifa zero? R$30 a 40 milhões? Um orçamento maior que o da secretaria de Obras e Serviços Urbanos, ou do Planejamento Territorial? Ciro não até o fechamento deste artigo ainda não sabia o montante. Estava calado. Mas, está atrás de votos fáceis com discursos que vão custar caro a todos se não for debatido com a população e bem engenheirado pelos técnicos e não pelos políticos de fala fácil atrás de votos. Afinal, esta máquina de se perpetuar no poder não pode parar.
Ciro ainda comparou Gaspar a Balneário Camboriú onde segundo ele, a tarifa zero é um sucesso. Falso. Não se sabe onde ele tomou os dados para se basear esta afirmação. Primeiro porque este sistema lá está em vigor há apenas dois meses. Como avaliar algo como sucesso em tão curto espaço de tempo?
Tanto que agora se amplia e ainda se testa as únicas cinco linhas urbanas para se conhecer seus clientes, horários, demandas e uso. Tardiamente se descobriu que se precisa de calhas exclusivas para não ficar entalado no trânsito congestionado de sempre de lá. Também está se intensificando a divulgação deste benefício de mobilidade urbana para se crie, aos poucos, a cultura do uso da tarifa zero. Há relato de que uma linha que saiu da Barra Sul para a Praia Brava teve apenas dois passageiros. Brevemente vai abrir outra que vai do Pontal Norte até Centro de Eventos na BR 101.
O “sucesso” propagado por Ciro como balizador da tarifa zero em Balneário Camboriú, governada por um bolsonarista recém filiado ao PL, Fabrício de Oliveira, foi tão grande, que a ideia já foi reavaliada. Em dois meses, apenas 132 mil passaram pelas catracas gratuitas, ou seja, em torno de 60 mil pessoas. É assim que deve funcionar: reavaliar. E não porque custa muito, numa cidade rica em arrecadação, mas porque não houve a adesão esperada. E aí há a outra preocupação: como aumentar adesão. Provavelmente este não será o problema daqui por sermos precisados desta gratuidade no sistema.
Continuando.
Exatamente, se cuidadoso fosse ou fosse bem orientado, Ciro não poderia ter escolhido como exemplo de Balneário Camboriú para semear a ideia da tarifa zero por aqui, mas um outro dos 67 municípios brasileiros – mais parecido nas características daqui – que já aderiram a este sistema entre os 5.568 que temos pelo país.
Balneário Camboriú está em apenas 47 quilômetros quadrados – e onde os ônibus circulam em torno de reduzidíssimo dez quilômetros quadrados, nos quais estão concentrados 80% da população de 142.295 habitantes. E a massa de trabalhadores reside em Camboriú e Itajaí que o sistema da tarifa zero de lá não abrange.
Gaspar, por outro lado possui 387 quilômetros quadrados e apenas 72.570 habitantes, que se espalham por muitos bairros, sendo que um deles nem bem se interliga com o Centro, mas com Blumenau. Só por aí se vê o tamanho do desafio e a razão pela qual as duas cidades não podem ser comparadas nesta proposta da tarifa zero, a não ser por políticos que tratam os ouvintes deles como tolos.
Em Blumenau, a iniciativa da discussão da tarifa zero é do próprio prefeito de lá, Mário Hildebrandt, Podemos. Lá também se subsidia o transporte coletivo. Entretanto, há cuidados, há estudos que podem incluir determinadas linhas e horários. Como escrevi, a ideia é boa, é nova, mas precisa ser tratada com responsabilidade técnica e não apenas como um negócio cassa votos de políticos populistas. Este zero não nunca foi ou será zero. Sempre será bancado pelos impostos de todos. E se feito por demagogos, virará colapso não só ao sistema, mas ao governo de plantão. No sistema pago, sem controle, sem ação fria do gestor, o colapso do já aconteceu em Blumenau e em Gaspar. No subsidiado, a falta de transparência é um péssimo indicador. Simples assim.
No fundo está faltando é assunto sério para o vereador Ciro pendurar no pescoço e lhe garantir credibilidade como candidato a qualquer coisa, tanto que como estes mesmos discursos desconectados de quase campeão de votos teve dificuldades para se reeleger vereador. E ele sabe disso. Há lições e aprendizado.
Este tipo de discurso de pegar no ar algo que não está estruturado esvazia estas boas ideias e contaminam discussões técnicas necessárias. Ou estão querendo criar outro sumidouro de dinheiro público como é o Hospital de Gaspar e que silenciosamente – depois de tanto escândalo e de quebrar o caixa da prefeitura – estão se livrando dele dando ele a alguém que entende do riscado, como o Hospital Santo Antônio, de Blumenau?
A tarifa zero é algo a ser considerado, mas não com gente que está devendo resultados para a simples manutenção da cidade – para não falar em obras estruturantes -, está devendo saúde, educação, assistência social, turismo, desenvolvimento econômico e não consegue, sequer, atualizar o Plano Diretor e remenda-o permanentemente ao gosto do freguês. Acorda, Gaspar!
TRAPICHE
Bingo. Provocado pelo vereador Dionísio Luiz Bertoldi, PT, o presidente da secreta CPI da pizza do “desconheço”, José Hilário Melato, PP, que se montou na Câmara de Gaspar só com governistas para se criar uma cortina de fumaça aos quatro áudios vazados com conversas cabulosas do ex-faz tudo do governo, Jorge Luiz Prucino Pereira, presidente do PSDB, afirmou que o Ministério Público disse não ter recebido nenhuma denúncia – de quem quer que seja – de irregularidades sobre as obras da Rua José Rafael Schmitt, aqui no Centro.
Como sempre escrevi. Esta obra e esta rua foram escolhidas a dedo para compor uma CPI para servir de álibi para tudo o que se ouviu naqueles áudios. É que nesta obra, supostamente, não há nenhum recurso público.
O PSD de Gaspar fez uma feijoada. Estava depois de longo tempo ausente da cidade, o novo prefeito de fato, o deputado Federal, Ismael dos Santos. O irmão de templo e prefeito de Gaspar, Kleber Edson Wan Dall, MDB. Lá estava também o vice-prefeito, Marcelo de Souza Brick, que já foi presidente do partido por aqui, mas que está filiado ao Patriota, que tem ficha assinada no PL, mas que disse ter aberto um canal com o PP, se a volta dele para o PSD se complicar. Afinal, a máquina não pode parar.
A ausência sentida nesta feijoada e que mostra parte do rumo que tudo isto terá, foi a do deputado estadual, Napoleão Bernardes, PSD, de Blumenau.
A disputa na eleição intermediária para escolher o novo prefeito de Brusque no dia três de setembro, virou uma prévia do que poderá ser as eleições municipais de 2024. O PT trouxe o vice-presidente Geraldo Alckmin, PSB, e que já foi o ícone do PSDB. Esqueçam o que disseram e fizeram no passado. Até os petistas daqui estavam tietando Alckmin, como o vereador Dionísio Luiz Bertoldi, PT (foto). Impressionante também é como Alckmin empresta moderação para quem vive flertando ditaduras e desastres econômicos.
O PT sabe o que faz. Não traria o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a mesma missão em Brusque. Nem em Gaspar.
Mudou o nome, mas os problemas são os mesmos. Antes era o PIX do Moisés. Agora é o TEV – Transferências Especiais Voluntárias – do Jorginho, aprovadas pela Assembleia Legislativa para acabar com este nhenhennehen do passado e presente. São recursos para cobrir as obras do falecido Plano 1.000 pactuados entre os municípios e o governo do estado. Mesmo assim, a secretaria da Fazenda do Estado está contingenciando os recursos. Faltam documentos.
Segundo o secretário Cleverson Siewert, estão faltando a muitos municípios o tal Demonstrativo de Atendimento aos Requisitos para Transferências (DART). Enquanto isso, o governo ganha fôlego no caixa e as obras ficam parada nos municípios.
O ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, dono do PDT, esteve em Brusque para entregar a nova agência do INSS. Os ainda raros pedetistas daqui foram lá pedir para reabrir um posto do INSS aqui em Gaspar. Fizeram bem. O posto do INSS de Gaspar foi fechado na pandemia. Quem trouxe este posto para Gaspar, foi o ex-prefeito Adilson Luiz Schmitt, ex- MDB, PSB, e PPS em 2007. Isto mostra como Gaspar insiste em andar para trás e perder suas conquistas.
O prefeito de Criciúma, Clésio Salvaro, PSD, foi às redes sociais para dizer que estava mandando um projeto de Lei, baseado numa decisão do STF. Ele não quer pagar quatro funcionários da prefeitura que estão à disposição do sindicado dos servidores de lá e que custam mais de meio milhão de reais aos cofres públicos. O que quer Salvaro no Projeto de Lei? Que o sindicato pague os funcionários ou eles voltem para as atividades na prefeitura. Se esta moda pegar por aqui… e
Os vereadores Francisco Hostins Júnior e José Carlos de Carvalho Júnior, ambos do MDB, pediram que a Câmara constitua por inicialmente 120 dias, uma Comissão Temporária Especial destinada ao acompanhamento do trabalho de consultoria e diagnóstico situacional do Hospital de Gaspar pelo Hospital Santo Antônio de Blumenau. É que todos estão de cabelos em pé.
Alguns temem que serão desnecessários por lá, outros que abram armários com esqueletos e muitos são de opinião de que nada deve mudar, mesmo que doente, o Hospital continue só piorando. Esta comissão – que é necessária e deveria ser feita por técnicos e não por políticos – é a ponte de proteção dos que deixaram o Hospital de Gaspar chegar aonde chegou. Nem mais, nem menos.
Um entre centenas casos e exemplos de como não funciona à simples manutenção da cidade, ou própria Ditran de Gaspar. Esta foto, que circula nas redes sociais. Ela mostra uma lombada da Rua Oriente, no bairro Sete. A lombada está assim, sem sinalização há dois anos. Por isso, ela está aqui, Outra, na Angelina Motter está com o mesmo defeito de origem. E olha que tem vereador governista morador na região. Desrespeito às leis e ao cidadão. Para as reclamações , a prefeitura manda bananas aos moradores. Já os que passam por lá, estão sujeitos à acidentes. Principalmente à noite.
Um Projeto de Resolução de alguns vereadores da Câmara retira a obrigação de requerimento pedindo audiências obrigatórias. Cortina de fumaça. Na verdade, em outro ponto, desobriga nos horários e dias de interesse do vereador ou da Cãmara a qualquer convocação de funcionários públicos ou autoridades municipais para serem inquirido ou esclarecer dúvidas, incluindo dos próprios projetos de interesse do governo ou na cidade. Mais um golpe na transparência e prestação de contas. Acorda, Gaspar!
8 comentários em “POPULISMO DERROTA IDEIAS POSSÍVEIS E INVIABILIZA PRIORIDADES. CANDIDATO A QUALQUER COISA, O VEREADOR CIRO OUVIU FALAR DA TARIFA ZERO. PARA APARECER, ELE DIZ QUERER ISTO PARA GASPAR, MAS NÃO POSSUI NENHUM DADO OU MODELO QUE A SUSTENTE.”
O amor venceu, viva a volta do imposto sindical, dos financiamentos as ditaduras amigas. Viva nosso dinheiro sendo investido em publicidade. As empresas de cabides estão adorando a volta do amor, pois as estatais voltaram a comprar cabides para colocar os cumpanheiros…..
Viva ao ministro da in Justiça que é um leão contra o cidadão de bem que tem uma arma, mas um verdadeiro Lord com os traficantes, que possuem armamento que nem o exército tem. Os traficantes devem comprar na Shein, por isso o ministro Anta Haddad deve ter tarifado a mesma empresa. Como ninguém viu isso antes. Precisou o amor voltar…….
VOLTA DO IMPOSTO SINDICAL SERIA UM RETROCESSO, editorial do jornal O Globo
Mesmo antes de tomar posse, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva jamais escondeu a intenção de rever a reforma trabalhista aprovada em 2017. O Ministério do Trabalho foi entregue a Luiz Marinho, que comandou o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC como Lula e já fora ministro em mandatos anteriores. Agora, enquanto o Supremo demora a julgar se é constitucional haver uma contribuição obrigatória a sindicatos, Marinho confirma que o governo remeterá ao Congresso um projeto que, na prática, recria o imposto sindical (ainda que com outro nome).
Até 2017, cada trabalhador recolhia o equivalente a um dia de trabalho por ano para sustentar a burocracia sindical. Na reforma, a obrigatoriedade acabou. Foi um avanço, pois os sindicatos deixaram de ter uma fonte cativa de recursos sem fazer esforço e precisam se aproximar das categorias que representam. Os sindicalistas, há décadas habituados ao privilégio, tiveram de começar a justificar com seu trabalho o sustento das entidades.
Era, por sinal, exatamente o que Lula, os metalúrgicos do ABC e a CUT defendiam para acabar com os sindicatos dirigidos por “pelegos”. O imposto sindical foi foco de um sem-número de escândalos de enriquecimento ilícito. Com a reforma, a fonte das maracutaias secou. Em 2017, último ano de sua vigência, o imposto arrecadou R$ 3,6 bilhões. Com a extinção, prevê-se que neste ano a estrutura sindical receberá R$ 68 milhões dos afiliados. Não é pouco dinheiro. Se não satisfizer às necessidades, os sindicalistas poderão ampliar a arrecadação com capacidade de trabalho e poder de convencimento. Mas parece mais fácil aproveitar o governo de um ex-sindicalista para recuperar o manancial de dinheiro fácil.
A atual versão do projeto que deverá ser enviado ao Congresso em setembro estabelece o teto de 1% do salário anual do trabalhador, descontado da folha salarial. Pode parecer pouco, mas não é. “Antes, um trabalhador que ganhava R$ 3 mil mensais tinha de pagar R$ 100 ao ano”, diz o sociólogo José Pastore, da USP, estudioso do mercado de trabalho. “Com o novo teto, considerando o 13º salário, a remuneração anual pode chegar a R$ 39 mil, o que resultaria numa contribuição de R$ 390.” Mesmo que seja possível justificar a cobrança de uma taxa para arcar com o custo das negociações coletivas, o patamar sugerido pelo governo é escandalosamente alto (o quádruplo da antiga contribuição sindical).
O projeto do Ministério do Trabalho vincula a aprovação do acordo coletivo ao pagamento da nova contribuição, uma forma indireta de torná-la compulsória. Nas palavras do economista José Márcio Camargo, da PUC-Rio e da Genial Investimentos, o projeto é “péssimo” por “obrigar o trabalhador a pagar por algo que não escolheu”. Além disso, aumenta o custo de contratação, sobretudo dos menos qualificados.
Acomodadas ao modelo vigente de sindicato único por categoria, as lideranças sindicais preferem fazer pressão pela volta das contribuições compulsórias a aceitar modernizá-lo. Autorizar mais de um sindicato por categoria traria uma competição bem-vinda no uso dos recursos dos trabalhadores e melhoraria a qualidade do serviço prestado. Para alguns economistas e estudiosos, sem o monopólio cartorial, uma contribuição obrigatória poderia ser justificável. Mas, se com o monopólio ela é inaceitável, mesmo sem ele seria um abuso.
MILEI MUITO ALÉM DA DOLARIZAÇÃO, por Janaína Figueiredo, no jornal O Globo
Se o candidato de extrema direita Javier Milei for eleito presidente da Argentina, o país — que em dezembro completará 40 anos consecutivos de democracia, fato inédito desde o golpe militar de 6 de setembro de 1930, contra o presidente Hipólito Yrigoyen, da tradicional União Cívica Radical — poderá abrir um capítulo inesperado em sua História recente. Muito se fala da proposta de dolarização do candidato do jovem partido A Liberdade Avança, e poucos sabem que sua vice, a advogada Victoria Villarruel, defende uma “revisão da década de 70” e considera as Mães e Avós da Praça de Maio, acima de qualquer coisa, mães de terroristas.
À medida que passam os dias, o fenômeno Milei cresce, e é preciso entender profundamente o que ele representa, porque sua eventual vitória terá impacto dentro e fora da Argentina. O economista e suas ideias penetraram em todos os setores sociais do país — ricos, classe média e pobres. Essencialmente, porque em todos esses setores há argentinos desiludidos com um país que há 80 anos vive aos trancos e barrancos, sem encontrar saída sustentável para sucessivas crises econômicas. São pessoas em situação precária, marginalizadas do mercado de trabalho formal, mas também profissionais bem remunerados que vivem em casas luxuosas de grandes condomínios da província de Buenos Aires. Para todos, a Argentina precisa de uma alternativa radical, de alguém que chute o balde, que faça o país “explodir” (expressão literal, que ouvi da boca de muitos argentinos), para ressurgir das cinzas e voltar a ser a nação rica e próspera do início do século passado.
Nas primárias de 13 de agosto, mais de 7 milhões de argentinos votaram em Milei e Villarruel. Alguns nem sabem como funcionaria uma dolarização, muitos são ex-eleitores do peronismo e do kirchnerismo. O cansaço é tão grande que essas pessoas foram cativadas por um candidato antissistema sem estrutura política, sem bancada expressiva no Parlamento e que, por esses e outros motivos, poderá arrastar a Argentina para uma crise de governabilidade — como tantas que o país já viveu — que se somaria à crise econômica gravíssima que já enfrenta.
Em paralelo, pela primeira vez em 40 anos, a Argentina, num eventual governo de Milei, voltará a discutir o que aconteceu no país na década de 1970 e princípio dos anos 1980. Villarruel —que, em caso de vitória, será encarregada de comandar uma pasta que acumulará temas de Defesa e Segurança —já avisou que “a História precisa ser bem contada… todos sabemos que não existem 30 mil desaparecidos, foi um número inventado”. E assegurou, ainda, que “faltam muitos terroristas nas prisões”. Em matéria de segurança, a candidata a vice, que tem um poder de oratória notável, também fez anúncios:
— O delinquente deve entender que, se está armado, sua vida corre perigo. Tenha armas reais ou falsas, ele está exposto.
Com o pinochetismo saindo do armário no Chile e Nayib Bukele, de El Salvador, como presidente mais popular da América Latina, uma Argentina de Javier Milei e Victoria Villarruel não terá dificuldade em encontrar parceiros políticos na região e no mundo. Os vínculos com o bolsonarismo, trumpismo e partidos de extrema direita como o Vox espanhol são fortes.
Mas os eleitores de Milei não estão pensando em nada disso. Muitos votaram no kirchnerismo no passado, apoiando os governos de Néstor e Cristina Kirchner, que promoveram a condenação e prisão de centenas de militares que atuaram na última ditadura. Esses argentinos não estão preocupados com revisões do passado, nem com políticas de linha dura que em outros países acarretam, segundo denunciam ONGs internacionais, violações dos direitos humanos. São pessoas fartas de tudo e de todos, que chegaram a um nível de esgotamento emocional tão profundo que fazem apenas uma avaliação do dia a dia, dos perrengues da economia, da inflação sufocante e decidiram acreditar que Milei, como ele mesmo diz, sabe como descascar o abacaxi argentino.
O que vem por aí, se o candidato da extrema direita se impuser nas urnas, vai muito além da dolarização e de um programa que buscará a estabilidade econômica tão almejada pela sociedade argentina.
Uma análise técnica mostra como o Brasil dos políticos populistas é o patinho feio no desempenho econômico comparativo e tudo contra o seu próprio povo, o qual sempre escolhe pelo voto livre exatamente a escória para liderá-lo. Depois de Fernando Henrique Cardoso, PSDB, só o vice- Michel Temer, MDB, no lugar de Dilma Vana Rousseff, PT. Antes, outro vice, Itamar Franco, então ainda no MDB, de outro impichado Fernando Collor de Mello, fez significativos avanços na legislação e economia. O resto é escuridão. Inclusive no atual governo, o viajante no turismo com a sua primeira dama que se acha mandatária
POR QUE OS BRICS DEVERIAM SER CIRBS, por Pedro Cafardo, no jornal Valor Econômico
No dia em que começa a reunião de cúpula dos líderes do Brics, em Joanesburgo, é oportuno atualizar os dados sobre o crescimento dessas nações que, 20 anos atrás, eram consideradas as grandes potências econômicas emergentes do século XXI.
Infelizmente, o Brasil continua sendo a maior decepção entre os quatro países do grupo original, formado também por Rússia, Índia e China.
Vale recordar que esse grupo surgiu de um estudo feito em 2003 pelo economista Jim O’Neil, então do Goldman Sachs, e assinado também por Dominic Wilson e Roopa Purushothaman.
O estudo é detalhista e ousado em “profecias”. Projeta o crescimento do Produto Interno Bruto, ano a ano, para cada um dos quatro países desde o ano 2000 até 2050, quando o quarteto, em conjunto, deveria superar o PIB do G6, formado por EUA, Alemanha, Japão, França, Inglaterra e Itália. A África do Sul não fez parte do estudo e só entrou no grupo em 2011.
Pode ser que a profecia da Goldman Sachs ainda se realize – afinal, faltam 27 anos para 2050. Pelo que se viu até agora, porém, as projeções estão sendo cumpridas apenas por China e Índia. Aliás, se o grupo original fosse renomeado hoje com base nos desempenhos, seu nome deveria ser invertido: Cirbs.
A pedido da coluna, o economista Robinson Moraes, do Valor Data, atualizou os números da corrida dos quatro Brics. Os gráficos ao lado mostram no fim da fila o Brasil, que nos primeiros 22 anos do século teve crescimento acumulado do PIB de 60,3%, muito abaixo do projetado pela Goldman Sachs, de 116,9%.
Mesmo tendo sofrido dois grandes impactos por causa de sanções aplicadas pelas potências ocidentais após a tomada da Crimeia (2014) e a invasão da Ucrânia (2022), a Rússia ainda teve crescimento maior que o do Brasil. Seu PIB no período avançou 89,7%, menos que o projetado no estudo do Brics, de 142,6%.
As linhas dos gráficos indicam claramente que o desempenho dos dois países asiáticos contrasta com o dos dois outros parceiros. O Goldman projetava 285,4% para a China e 241,7% para a Índia e os resultados foram, respectivamente, 487,9% e 303,2%.
As curvas das linhas de Brasil e Rússia são semelhantes. Ambos avançaram de acordo com as projeções na primeira década do século e superaram de forma razoável a grande crise global de 2008, mas perderam tração econômica a partir de 2014.
No caso da Rússia, os embargos em razão das guerras explicam boa parte do atraso. Brasil e Rússia, porém, são potências emergentes que se mantiveram altamente dependentes da produção e exportação de commodities, em contraste com os dois asiáticos, que avançaram na produção industrial e tecnológica. No caso brasileiro, as opiniões variam de acordo com as crenças e ideologias dos economistas. A desindustrialização, um fato incontestável, certamente explica em grande parte o fracasso econômico ante às expectativas do setor financeiro internacional retratadas no estudo do Brics.
A ampliação do grupo é o principal assunto em discussão na reunião de cúpula que começa nesta terça-feira na África do Sul. Em artigo no Valor, o jornalista Assis Moreira mostrou que os membros do Brics correm o risco de se tornarem satélites da China. Disparadamente à frente dos outros parceiros, os chineses tentam usar o Brics como massa de manobra em seu confronto econômico com os EUA. Nesse sentido, pressionam os demais para expandir o grupo com a admissão de outros países.
O presidente Lula estaria propenso a apoiar essa ampliação, mas qualquer decisão, como observou o Valor em editorial de ontem, será incômoda para o país. A ampliação dilui o poder do Brasil e cria arestas com os EUA pelo alinhamento à China. A manutenção do status quo pode provocar atritos com China e Rússia e esvaziar o bloco.
Sobre a tal “tarifa zero” nos transportes coletivos, vale um lembrancinha: não existe almoço grátis!
Bom dia.
Se a Câmara Municipal de Gaspar se desobriga de FISCALIZAR e INVESTIGAR as irregularidades dentro do paço Municipal, pra quê mantê-la aberta?
Os milhões que são destinados ao mandato dos nobres vereadores pra cobrir viagens, diárias, ostentação, luxo e mordomias PALACIANAS
precisam equacionar CUSTO/BENEFÍCIO.
A PGR CONTRA A ELETROBRÁS, editorial do jornal O Estado de S. Paulo
O procurador-geral da República, Augusto Aras, mostrou não haver limites em sua capacidade de subserviência aos governos de plantão. A mais nova investida deste senhor se deu no âmbito de uma ação na qual a Advocacia-Geral da União (AGU) questiona um dos pilares do modelo de privatização da Eletrobras.
A iniciativa representa um ataque à segurança jurídica e não passa de uma maneira muito mal disfarçada de reestatizar a companhia sem que a União tenha de pagar por isso. É inacreditável que a PGR tenha dado razão ao governo, não fosse o fato de que Aras está em campanha para manter-se no cargo.
A Eletrobras, por meio de uma capitalização, emitiu novas ações em bolsa. Conforme o projeto de lei já previa, o governo não comprou esses papéis e, assim, teve sua participação reduzida de 63% para 42%. Com o processo, a Eletrobras se tornou uma companhia de controle pulverizado, sem um dono para comandá-la. Para assegurar o formato, o poder de voto de cada acionista foi limitado em 10%, independentemente da quantidade de ações.
Não se trata de uma “jabuticaba”, mas de um modelo adotado por várias empresas no mundo e ao qual o Legislativo deu aval. Se tal limitação protege a Eletrobras da mão pesada do governo, ela também impede que um concorrente privado tente assumir o controle da empresa e forme um oligopólio.
A tese de Aras é ofensiva. Para ele, a União assistiu, “de mãos atadas”, à limitação de seu poder de voto por parte dos acionistas minoritários, em benefício exclusivo deles e em prejuízo exclusivo da União, sem que fosse financeiramente recompensada por isso.
Mas o processo de privatização da Eletrobras não se deu sem condicionantes. Boa parte do dinheiro levantado voltou para a própria União como bônus de outorga; outra parte livrou o Tesouro de bancar subsídios. Obras de recuperação de bacias no Norte, Nordeste e Sudeste foram uma das contrapartidas para a obtenção de apoio parlamentar para a privatização.
Longe do ideal, a forma como esse processo foi conduzido, com inúmeros jabutis, já foi muito criticada por este jornal. Mas o fato é que a Eletrobras se dispôs a pagar mais de R$ 60 bilhões para se livrar, de forma definitiva, dos desmandos do governo e dos parlamentares e fortalecer sua posição no setor elétrico.
Confiantes de que os contratos seriam cumpridos, fundos de investimento aportaram recursos e trabalhadores aplicaram dinheiro de suas contas de FGTS apostando em um novo futuro para a companhia. É contra essas pessoas que o governo se insurge agora – e o pior, com apoio da PGR, que ousa ainda sugerir ao STF que estabeleça um processo de conciliação entre a União e os demais acionistas para que se chegue a um consenso.
Trata-se de uma afronta à vontade do Legislativo e de uma tentativa de reverter, no tapetão, uma derrota que o PT nunca engoliu na Justiça. A conciliação que a PGR propõe é absolutamente desnecessária. Se realmente quiser retomar o poder sobre a Eletrobras, o governo pode fazê-lo: basta pagar o triplo do valor das ações para reestatizá-la, como estabelece o estatuto da companhia.
A COR É POLÍTICA, por Demétrio Magnoli, no jornal O Globo
A cor é política. Só assim entende-se a mudança captada pelo IBGE na declaração de cor/raça entre 2012 e 2022. No curto intervalo, os pretos saltaram de 7,4% para 10,6% dos brasileiros, enquanto a parcela de brancos caiu de 46,3% para 42,8%. As alterações, que parecem refletir o efeito das leis de preferências raciais, não tiveram impacto sobre os autodeclarados pardos: 45,6% em 2012; 45,3% em 2022. É uma prova, entre tantas outras, do fracasso do identitarismo racial.
“Mestiçagem, identidade e liberdade”, o novo livro do antropólogo Antonio Risério, publicado pela TopBooks, esclarece a finalidade das políticas de raça. Não se trata, como alegam seus arautos, de oferecer oportunidades a pessoas em desvantagem, via acesso às universidades ou a empregos públicos. Busca-se, de fato, dissolver a consciência da mestiçagem que sustenta nossa identidade nacional, substituindo-a pela imagem de um país bicolor, dividido entre “brancos” e “negros”.
“A fusão de raças tem se processado desde os primórdios da vida humana sobre a Terra” — nas palavras de Juan Comas, numa coleção da Unesco sobre raça e ciência. Risério cita a passagem para diferenciar os cruzamentos genéticos (miscigenação) da mestiçagem. A segunda é um fenômeno cultural — social e político.
Mestiçagem significa reconhecimento positivo da miscigenação. O “racismo científico” do século XIX denunciou a miscigenação como degeneração de raças. O movimento identitário-racial, que nasceu nos EUA, opera sob o mesmo paradigma. A noção de raça remete às ideias de pureza, separação e gueto; mestiçagem é a celebração da impureza, da mistura e da troca. O Brasil declarou-se 100% impuro, desde Gilberto Freyre até a Tropicália. Hoje, sua elite intelectual engata marcha a ré, coalescendo ao redor de um projeto de imitação dos EUA.
Mestiços são os 45% de pardos? Não: a escolha é entre sermos todos mestiços ou nenhum de nós ser. Dito de outro modo, a encruzilhada bifurca-se nos caminhos de aderir à raça ou rejeitá-la. É para aderir que, capturado pelo identitarismo racial, o Estado brasileiro extermina estatisticamente os pardos. Faz isso por meio de uma violência simbólica: a cassação da autodeclaração. Os que ousam declarar-se pardos são remetidos à categoria fictícia dos “negros”, pois a impureza deve ser abolida.
Mito, em antropologia, é uma narrativa coletiva, não uma falsificação. Nesse sentido, o mito da mestiçagem concorre com o mito da raça. O Brasil da universidade, das grandes empresas e dos veículos de comunicação escolheu o mito da raça, apartando-se da consciência popular. Não é casual que, nas últimas eleições, fracassaram as candidaturas do identitarismo racial, enquanto formava-se uma “bancada negra” majoritariamente ligada ao Centrão bolsonarista. As guerras culturais da esquerda elegem a direita.
A pureza exige “raízes”. O movimento identitário racial cultua a África. Mas, explica Risério, “a África da militância neonegra do Ocidente é uma África folclórica”, uma “construção ingênua e desinformada”. Eu iria além: é uma África ancestral imaginária invocada por ditadores africanos para desviar suas responsabilidades pelos sofrimentos atuais para as antigas potências coloniais. Alguém já viu a tal “militância neonegra” denunciar as discriminações étnicas na “Mama África”?
O álibi superficialmente poderoso do combate ao racismo acompanha, como uma sombra, a engenharia social dos identitários. Mas é inviável combater o racismo renunciando à noção de cidadania, cujo alicerce é o indivíduo.
A doutrina identitário-racial cancela o indivíduo. Nascer “branco” implica representar os donos de escravos do passado e pertencer à classe-raça opressora do presente. Nascer “negro” implica representar supostos ancestrais escravizados e figurar como vítima de um irrefreável “racismo estrutural” no presente. Nesse cenário, inexistem indivíduos e escolhas. O que existe são, unicamente, destinos determinados pela cor da pele.
A tribo chique da pureza racial nutre e esconde, atrás da linguagem extremada, um conformismo medíocre. Eles precisam do racismo para prosperar.