É segunda-feira dia oito de maio. Na imprensa local e regional, nada, nadinha de nada.
Então, uma semana depois, volto ao tema que continua atual; e incomodando, exatamente por falta de esclarecimento e resposta convincentes da prefeitura, do Hospital, dos políticos e gestores públicos. É sobre as dúvidas provocadas pelo ralo milionário de verbas públicas que se tornou o Hospital de Gaspar sem a devida contrapartida para a sociedade. Nada é novo. Estas dúvidas têm sido apontadas, e reiteradamente, há quase dois anos na Câmara de Vereadores. Além de não sensibilizar à imprensa local e regional, por razões conhecidas, não sensibilizou, ainda, as instituições de fiscalização e investigações, estas por sua vez, devido a razões “desconhecidas”. E assim, espero.
Começou com o falecido vereador Amauri Bornhausen, PDT, funcionário público municipal, pertencente, vejam só, à própria Bancada do Amém, onde estão onze fiéis (MDB, PP, PDT, PSD e PSDB) dos 13 vereadores de Gaspar. Ele era um calo ao poder de plantão, à falta de transparência e à incompetência. Foi, devidamente, isolado e desacreditado. Quando Amauri morreu no ano passado, o governo no poder de plantão, “aliviado”, achou, por sua vez, que tudo seria enterrado com o próprio Amauri. Errou de novo, no cálculo. Não foi. O caixão destas dúvidas continuou aberto. Fedendo. Por isso, ampliou-se.
Até agora, o governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, e Marcelo de Souza Brick, Patriota, ou PL, sei lá, bem como os vereadores da Bancada do Amém que não foram atrás das correções, por preguiça. E aconteceu um novo erro de cálculo. Talvez, por confiar demais no tal “corpo fechado” que dizem possuir nas instituições. Com uma CPI dos quatro áudios cabulosos vazados, montada para dar em pizza, para inocentar todos os envolvidos nas gravações, tanto que não se ouve nada dela, decorrido quase um mês da instalação dela na Câmara, o governo Kleber e Marcelo está se incomodando, de verdade, é com o Hospital.
E isso o força a usar o seu velho jeito truculento de agir: chantagear e se vingar. Vamos aos fatos.
Na sessão de terça-feira passada da Câmara de Vereadores de Gaspar, essa gente do governo passou vergonha, muita vergonha, mais uma vez. O vereador Dionísio Luiz Bertoldi, PT, vestiu-se de “professor”, como ele próprio se intitulou, deu aula. Pintou e bordou. Humilhou. Todos se remexiam nas confortáveis poltronas, exibindo claro desconforto.
No outro lado, sem argumentos e de combater números, informações, dados e indagações ou produzindo repostas convincentes, não exatamente ao vereador “professor” Dionísio, mas à comunidade de Gaspar, tanto o líder do governo, Francisco Solano Anhaia, MDB, o que foi desmentido e desmontado nas contas do “professor”, quanto o líder do PSD – origem do vice-prefeito Marcelo, Giovano Borges, não tiveram dúvidas em se instalar explicitamente no jogo rasteiro: iniciaram um processo desqualificação de Dionísio e que passa bem longe dele.
Ameaçaram associá-lo a malfeitos do que ele não possui participação e nem controle direto e indireto como filiado ao PT. Ao invés de rebatê-lo na credibilidade, e, principalmente de forma técnica, em tudo aquilo que ele – e Amauri, repito, que era do próprio governo Kleber e Marcelo – denunciou até agora, preferiram atravessar a rua para escorregar na casca de banana que eles próprios jogaram lá inadvertidamente. Tanto o governo, como seu líder na Câmara, como a bancada de apoio, sabem que estão expostos, de mãos vazias e sob sérias desvantagens. Então, não restou outra alternativa a não ser apelarem para o jogo baixo e para a sua torcida que está sumindo, segundo as próprias pesquisas que mandam fazer e analisam.
Dionísio, didaticamente, uma por uma, vem desmontando, as afirmações de Anhaia, feitas em sessões anteriores naquilo que é frágil ou que não existe, pois é fruto de exageros, erros ou incompetência. Impressionante. E Anhaia persiste naquilo que não cola.
Como escrevi aqui, Anhaia é um pitbull e o governo de Kleber e Marcelo o reenviou – estava na chefia de Gabinete e na passagem relâmpago na secretaria de Planejamento Territorial – para a Câmara. Achava, que, este modo de reagir iria assustar Dionísio, como assusta os dependentes da prefeitura, a imprensa, à desorganizada e quase inexistente oposição. Está provado que deu certo. E persiste naquilo que não cola. Ou seja, no erro tático.
“Vocês têm ajuda jurídica, contador e outros assessores”, reclamou e admitiu Anhaia como sendo esta uma vantagem de Dionísio. O que prova isto, por si só e estando ela na voz do líder do governo que tem a missão de esclarecer o que se denuncia contra o governo? Que Dionísio está com a razão e bem assessorado. Resumindo: não está mentindo.
Mal e desemparado, sem cartas na manga, está Anhaia. E aí apela, ameaça, contradiz com números irreais e que dão chances a Dionísio se intitular até de “professor. E por quê? Uma cara e ocupada máquina governamental, feita de quase uma centena de comissionados, além do corpo bem nutrido de assessores na secretaria da Saúde comandada pelo vereador, o advogado Francisco Hostins Júnior, MDB, a quem está subordinado o Hospital de Gaspar, sob intervenção e dúvidas, não é capaz de dar suporte e amparo para rebater Dionísio?
Isto beira ao cinismo. É grave. Porque deixa o seu líder Anhaia sem contra-argumentos, exposto, estrebuchando-se, ao mesmo tempo em que é obrigado a escolher à chantagem como única opção para tentar parar o que está sendo desnudado e que leva a culpa para o coração da administração de Kleber, Marcelo, Jorge, Hostins… Inacreditável!
Então, por conta de todas as fragilidades visíveis neste caso, só restou a Anhaia, ex-petista – que saiu do partido por não ter espaço para concorrer a vereador pela sigla na Margem Esquerda -, usar à surrada expressão ameaçadora contra Dionísio: “…é senhores, quem tem telhado de vidro não deve atirar pedra no telhado dos outros”. Como assim? E na mesma toada, o amigo de todas as horas do vice-prefeito Marcelo, Giovano, fez coro a Anhaia para ameaçar Dionísio. Diz que vai associá-lo aos lambuzados, condenados e descondenados do PT nacional.
O correto, neste caso, seria fazer esta associação aos petistas daqui e seus erros. E há. Mas, aí, espertamente, o próprio Giovano “não tem nada”, ou não pode avançar, o que é pior, e, desconversa, porque já fez parte do jogo e do governo de Pedro Celso Zuchi. Mais abaixo, ainda vou esclarecer mais detalhes deste embuste no Trapiche. A verdade é que Anhaia está numa missão impossível – no filme de ficção, o impossível até se tornar possível – e os governistas, a qualquer custo, tentando se livrar da craca que está cada vez mais grudando neles e sem tempo de se limparem dela até outubro do ano que vem. Acorda, Gaspar!
TRAPICHE
Encenação I. O governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, e Marcelo de Souza Brick, Patriota ou PL, sei lá, sabe que está encalacrado neste assunto do Hospital de Gaspar. Não consegue reagir. E quanto mais enrola e quer ganhar tempo, sangra e erra. É o cachorro correndo atrás do próprio rabo. Como está encalacrado nos casos do meio ambiente. como se tenta salvar dos áudios-vídeos.
Encenação II. Voltando. Outro equívoco desta série “isto não é comigo; embala que o filho é seu” no mesmo erro da montagem da CPI fake para dar em pizza, foi o requerimento-convite do líder do governo, Francisco Solano Anhaia, MDB, fez para que o secretário da Saúde, o também vereador, Francisco Hostins Júnior, MDB. Ele vai nessta quinta-feira à tarde, “prestar contas” de 2021, 2022 e primeiro trimestre de 2023, para os vereadores. Ele foi aprovado por unanimidade. Estas contas deviam estar disponíveis para a cidade há dois anos.
Encenação III. Primeiro vai se prestar contas do Hospital de 2021, 2022 e parte de 2023? Hum! Ou seja, vão constituir prova que se está devendo isso à sociedade? Pior. Passarão recibo e darão razão às denúncias do ex-vereador Amauri Bornhausen, PDT e agora, de Dionísio Luiz Bertoldi, PT, de que tudo isso estava escondido, motivo de vários requerimentos represados na burocracia da prefeitura e do Hospital, não respondidos e quando foram, tiveram que buscar amparo na Justiça em Mandado de Segurança. E mesmo assim, não se sabe se estão certos. Meu Deus! Quem mesmo orienta essa gente?
Encenação IV. Segundo: às 15h30min de uma quinta-feira, quando todos os gasparenses estão no trabalho? Não vai se dar chances razoáveis de participação, mesmo sabendo-se que a apresentação tem cunho quase privado aos vereadores – pois não é uma audiência pública? Mesmo assim, preventivamente, a prefeitura organizará uma tropa de choque para ocupar os espaços. Tudo para que não haja nenhuma reação ao que vai ser apresentado lá. Isto tem nome: intimidação.
Encenação V. Está faltando gente neste “convite”. Entre eles, o ex-presidente interventor do Hospital de Gaspar, e o irmão de templo do prefeito, o faz tudo do governo e ex-secretário de Fazenda e Gestão Administrativa, Jorge Luiz Prucino Pereira, PSDB, e que há um mês está sumido da cidade. Vão lá, ao menos, os seus de confiança porque mesmo diante de todos os escândalos, não houve mudanças na estrutura que ele montou para gerir o que as conversas cabulosas e gravadas mostraram até aqui.
Encenação VI. Se Marcos Roberto da Cruz, que é o interventor agora e acumulando a titularidade como secretário da Fazenda e Gestão Administrativa, bem como Alan Vieira, diretor do Hospital, escorregarem no jogral ensaiadinho com o secretário de Saúde, podem fornecer pistas e mais munições. Se omitirem dados, igualmente.
Encenação VII. De verdade? Está faltando neste “convite” para confrontação, fundamentalmente, é Josué Sommer, o dono da Prime Medical, a que faz a gestão técnica do Hospital de Gaspar e centro das dúvidas. O vereador Dionísio Luiz Bertoldi, PT, bem que tentou incluí-lo no requerimento do líder do governo e mudar o horário da apresentação. A Bancada do Amém, orientada, resistiu.
Encenação VIII. Então, um outro requerimento vai a votação nesta terça-feira. Ele tentará trazer além dos que foram “convidados” para esta quinta-feira, o prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, diretor de controles, Ernesto Hostin, bem como o sumido de Jorge Luiz Prucino Pereira, PSDB, e Josué Sommer. O requerimento é para uma audiência pública e sob o manto de convocação. Resta saber como votará a Bancada do Amém neste requerimento do vereador Dionísio Luiz Bertoldi, PT.
Encenação IX. “Precisamos saber antes dos números do Hospital para então só depois se ter uma audiência pública” rebateu e esclareceu, perdidamente, o líder do governo, Francisco Solano Anhaia, MDB, ao negar mudar o seu requerimento a pedido de Dionísio Luiz Bertoldi, PT. Cumuéqueé? Ora, se confessa que desconhece os números do Hospital, como é que Anhaia se arvora de autoridade para desqualificar os apresentados por Dionísio agora e os de Amauri no passado? Cada uma!
O PSDB de Gaspar está num silêncio sepulcral sobre os áudios do seu presidente local, Jorge Luiz Prucino Pereira. A vereadora Franciele Daiane Back, madrinha de Jorge na tomada do comando do diretório, finge que o assunto não é com ela. Não moveu uma palha em defesa do “afilhado”. Entretanto, o seu silêncio é, ao mesmo tempo, cúmplice, pois quem cala consente. A cidade inteira sabe. Um tucano gasparense de longa data, perguntado, disse-me estar envergonhado de tudo isso e de todos.
“Falha nossa”. O presidente da Câmara, Ciro André Quintino, MDB, ao apresentar o vereador Francisco Solano Anhaia, MDB, na última sessão, titulou-o como líder do PT. Climão. Consertado. Anhaia, realmente, está numa maré de azares…
O PL de Gaspar vai ficar órfão. Já está dividido. E para complicar, a manchete do final de semana era de que o filho do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro, PL, Jair Renan, morador de Balneário Camboriú, onde ensaia ser candidato a vereador, esteve almoçando em Gaspar com o sumido senador Jorge Seift Júnior, PL, e o seu suplente, o empresário de Blumenau, Adrian Censi. Foi num clube privado na Vidal Flávio Dias, no Belchior Baixo, distrito do Belchior. O PL de Gaspar só soube disso pelas redes sociais e a imprensa regional. E digere.
Explicação I. Eu sempre escrevo que o vice-prefeito de Gaspar, Marcelo de Souza Brick, originariamente do PSD, depois de uma sucessão de erros, foi parar no Patriota e de lá, o deputado de Blumenau, Ivan Naatz, metendo o bedelho por aqui, teria filiado – e me mandou por emissários a “ficha” em papel assinada – Marcelo no PL. Bom! No sistema da Justiça Eleitoral, o que vale, conforme certidão que se tirou no sábado, dia cinco de maio e apresento acima, Marcelo ainda está no Patriota.
Explicação II. Esta gente da política fica fula contra fatos e documentos que não lhes interessa. Marcelo de Souza Brick está fulo comigo. Ivan Naatz, também. Bobagens! Deveriam ficar fulos é contra as suas próprias trapalhadas. Marcelo errou, não amarrou o acordo e sabe que foi traído por Kleber Edson Wan Dall e o MDB quando ambos “desistiram” – pois nunca a consideraram de fato – da candidatura a deputado. Marcelo para não ser concorrente de Kleber aceitou ser vice com a promessa de ser prefeito desde o ano passado.
Explicação III. Marcelo de Souza Brick errou ao se consertar na armadilha que armou contra ele próprio e foi para o Patriota para ser candidato a deputado estadual numa aventura cujo final foi anunciado aqui, bem antes dele entrar nela. Marcelo está errando de novo ao tentar entrar no PL de Gaspar pela porta lateral, sob desgastes de casos complicados que o afetam na gestão dele com Kleber Edson Wan Dall, MDB à frente da prefeitura e não disse até agora que nada tem a ver com eles. Marcelo, novamente, está em erro, ao optar pelo silêncio e esperar à calmaria para o novo bote às sobras.
Explicação IV. Na semana passada, Marcelo de Souza Brick fez aniversário. O prefeito festejou a data e o parabenizou pelas redes sociais. Na verdade, era uma oportunidade para um recado público. Não que esteja tudo bem entre eles, e sim, de que não adianta Marcelo dizer que não faz parte dos problemas do governo de ambos, incluindo o Hospital, os áudios vazados e as questões ambientais. Nunca, até agora, contestou ou disse que não faz parte disso.
Explicação V. Por outro lado, o ex-vice de Kleber Edson Wan Dall, MDB, que acaba de ir para o congelador na chefia de Gabinete depois de ter na mesma negociação o levou à titularidade da secretaria de Obras e Serviços Urbanos, Luiz Carlos Spengler Filho, PP, e para “ceder” a vaga de vice a Marcelo de Souza Brick nesta e “assim todos se darem bem no poder de plantão”, também publicou uma felicitação nas redes sociais em foto de ambos. E não se trata de nenhuma ingenuidade.
Explicação VI. Neste caso, foi para explicitar outra dança: a de que Marcelo de Souza Brick, desgastado com tantos erros em busca de um partido para torná-lo viável candidato a prefeito em outubro do ano que vem, estaria arrumando o PP como o salão para esta nova dança, nesta festa onde quem só paga ingresso são os eleitores e eleitoras desinformados.
Explicação VII. O que mostra tudo isso? Que a festa e as escaramuças entre os mesmos só está começando. E de que o MDB e PP estão decadentes. Interromperam esta decadência se unindo no sapo com a cobra lá em 2000. Primeiro se uniram para ter poder. Agora, precisam importar candidatos que não honraram em acordos para sobreviverem no poder. E o PP se arrisca mais que o MDB, mesmo sabendo que Marcelo de Souza Brick, pode estar herdando erros de Kleber Edson Wan Dall. Todos se merecem. Aliás, hoje, faz um ano do falecimento do ex-prefeito Osvaldo Schneider, o Paca, MDB que dava um pouco de bom senso a esta gente.
SEXTA-FEIRA, à noite, encerrado do expediente, pegou fogo no sistema de ar-condicionado do escritório imobiliário e de negócios da mulher de Kleber Edson Wan Dall, MDB, Leila, e do Irmão dele, Nelson Wan Dall Júnior, no Centro de Gaspar e em edifício afamado.
Normal, inclusive a imprensa de Gaspar – que hoje vive apenas de manchetes de acidentes e desastres de gente pouco conhecida – não explicitar quem exatamente ocupava o lugar e que foi afetado pelo incêndio. Todos jornalistas diplomados e formados, ou seja, sabem do que esqueceram.
O que não foram normais, neste fato? Foram os comentários que rolaram nos aplicativos de mensagens e que foram muito além do incêndio em si, prontamente controlado pelo Corpo de Bombeiros de Gaspar. Isto mostra muito bem, as dificuldades de imagem dos que estão no poder de plantão. Acorda, Gaspar!
4 comentários em “DIONÍSIO DESMONTA À FRAGIL DEFESA DE KLEBER E MARCELO NO HOSPITAL. BANCADA DO AMÉM REAGE. COM CHANTAGENS COMO ÚNICO ARGUMENTO – DE SEMPRE – PARA PARAR E CALAR O QUE LHES INCOMODA”
FRENTE ESTREITA, por Eliane Cantanhêde, no jornal O Estado de S. Paulo
O presidente da República perdeu quatro meses e dez dias nestes praticamente 130 dias em que colecionou derrotas nunca vistas neste país de Congresso Nacional em geral benevolente com governos estreantes.
Ok, Lula 3 não é uma estreia clássica, mas por isso mesmo deveria ter expertise acumulada no tema articulação.
Falta de experiência não é. Tampouco de reiterados avisos. Provavelmente trata-se de excesso de confiança do mandatário no próprio taco. E este está gasto pela passagem do tempo. Na campanha, o então candidato prometia administrar a relação com o Parlamento na base da “conversa”. Imaginava levar suas excelências no papo.
A realidade, contudo, se mostrou mais complexa. Habitualmente arguto, Lula neste mandato parece ter tido sua visão anuviada pelo ego inflado devido à volta por cima. Promete tomar as rédeas da organização da base sustentado no seguinte tripé: liberação de emendas, cobrança de fidelidade e presença nas negociações.
Isso tudo conta, mas é para lá de insuficiente não havendo sensibilidade para perceber que o humor de suas excelências agora tem como referência o fator redes sociais. Congressistas gostam das benesses oficiais, mas gostam também dos votos que os mantêm na condição de interlocutores privilegiados do poder central. Hoje há uma pressão externa inexistente há 20 anos.
A distribuição de cargos e emendas já foi incorporada pelo Legislativo como “obrigação” do Executivo. Falta no elenco de providências o diálogo inclusivo com atenção às demandas reais da sociedade. Escutar e, sobretudo, atender a quem pensa diferente. Lula fala para a esquerda, mas venceu pelo pragmatismo democrático do centro.
Não há como obter êxito na contramão do espírito do tempo. Eleito vestido de frente ampla e governando em figurino de frente estreita, ele agrada a minoria, mas desagrada a maioria.
BATENDO CABEÇA, por Joel Pinheiro da Fonseca, no jornal Folha de S. Paulo
O governo Lula segue amargando derrotas no Congresso: PL das Fake News, privatização da Eletrobras, Marco do Saneamento. E isso num período que deveria ser marcado por uma agenda positiva, aproveitando a boa vontade de Congresso e população. Mas, em vez de focar nos temas em que haveria fácil consenso, Lula governa com a agenda da ala radical do PT.
Lula venceu a Presidência com 50,9% dos votos. A vitória só veio graças a alianças com políticos de centro. Foi a minoria de eleitores moderados —incapaz de levar um candidato ao segundo turno— que pendeu mais para o lado de Lula e decidiu a eleição a seu favor.
Na mesma eleição, o Congresso veio majoritariamente de direita. Sempre é possível negociar, mas a distância ideológica cobra um preço mais alto para entregar alinhamento.
Nada disso, contudo, parece ter sido internalizado pelo governo. Lula tenta governar como se o projeto petista raiz tivesse amplo apoio popular e força no Congresso.
Ninguém deveria esperar do governo do PT uma agenda de privatizações. Mas entre não levar novas adiante e desfazer aquelas já aprovadas no passado há uma grande distância. Não sou eu quem está dizendo, mas o próprio Arthur Lira, em entrevista à CNN.
Lira foi eleito presidente da Câmara com recorde de votos. Talvez fosse uma boa ideia o governo alinhar melhor com ele e outros interlocutores de peso do Congresso em vez de partir para novas derrotas. O governo quer fazer um governo apenas do PT.
E existe ainda também uma coisa chamada povo, que escapa até mesmo ao presidente da Câmara. E a relação da opinião pública com a política mudou desde que Lula deixou o poder em 2010. Antes imperava o mais profundo ceticismo quanto à ideia de a população impactar o que acontecia em Brasília; hoje impera a crença contrária.
Graças às redes sociais, as pessoas acompanham, formam opinião, discutem e querem se fazer ouvir em Brasília. O grau de entendimento das questões pelo cidadão médio é discutível, mas o fato é que essa postura tem um impacto, como vimos na derrota do PL das Fake News. A agenda petista radical não tem tração junto à sociedade.
Para o governo, cada pauta que naufraga na Câmara é uma desmoralização. Para o Brasil, com tanto por fazer, é tempo perdido. O que me leva à pergunta: se o Congresso é mais hostil e a opinião pública não apoia os pontos mais radicais da agenda petista, o que explica a insistência? Pura teimosia?
Não ouso fazer a psicanálise do poder. Mas suspeito que o governo conte com a cartada do recurso à terceira casa do Legislativo: o Supremo.
O argumento de que o Supremo é “apenas provocado” pouco muda as coisas nesse jogo, dado que a todo momento partidos de todos os lados provocam o Supremo com assuntos de seu interesse. Privatização da Eletrobras, Marco do Saneamento, regulação das redes; todos os temas da República chegam à mesa dos ministros.
Na falta de meios de controle externos, cabe torcer para que o Supremo pratique a autocontenção que vem sendo esboçada desde o fim do ano passado e reconheça que nem todas as discussões se resolvem na interpretação constitucional. Tendo isso, aí quem sabe o governo reajuste sua atitude e tenha mais humildade na relação com Congresso e povo. Não sei qual é mais improvável.
Para ler atentamente
No Brasil de até pouco tempos atrás, roubar dinheiro público, estava circunscrito à obras públicas – de todos os tipos e tamanho – e algumas compras. Hoje, sabe-se que isto está enraizado na saúde e agora, se descobre na educação, pelos resultados que não se consegue na mesma proporção das verbas que aumentam cada veza mais para o setor. Não é à toa, que gravações ouvidas por aqui, falam num tal de 25% e a ocupação por curiosos no assunto
EDUCAÇÃO PELO RALO, editorial do jornal Folha de S. Paulo
São aterradores os dados que demonstram a ineficiência do gasto público brasileiro em educação, em particular no ensino médio, apresentados em artigo da pesquisadora Laura Machado, do Insper, publicado por esta Folha.
De acordo com estatísticas oficiais, o dispêndio médio por aluno do ensino médio mais que quadruplicou, em números corrigidos, de 2004 a 2018, passando de R$ 1.810 a R$ 8.003 (valores de 2018).
Em boa parte desse período, até 2010, houve considerável crescimento da economia e da arrecadação de impostos nos três níveis de governo —e os gastos mínimos em educação, por mandamento constitucional, são fixados em parcelas fixas de receitas da União, dos estados e dos municípios.
Além disso, as transformações demográficas do Brasil no período levaram à queda da população jovem e, consequentemente, do número de matrículas nas escolas.
Tamanha expansão do gasto por estudante, entretanto, não resultou em melhora do aprendizado. Segundo o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), as notas médias de matemática permaneceram quase inalteradas e bem abaixo do nível tido como desejável —mesmo sem levar em conta o impacto devastador da pandemia.
É esperável que o Brasil apresente desempenho inferior ao de países ricos, que dispõem de mais dinheiro para aplicar no ensino. É escandaloso, porém, que um aumento contínuo de despesas ao longo de mais de uma década proporcione resultado tão pífio.
Urge, pois, uma revisão de políticas para esse setor essencial. Parece evidente que o modelo atual —baseado na garantia legal de recursos crescentes, em grande parte destinados a mais remuneração de professores— carece de cobranças e incentivos para a busca de melhor aprendizado.
O governo petista, infelizmente, é por demais permeável a interesses e pressões corporativistas, como se vê na hesitação diante dos problemas, que precisam ser superados, na reforma dos currículos do ensino médio com objetivo de reduzir as taxas de evasão.
Normas recentes que condicionam repasses de verbas para municípios ao desempenho dos alunos são um avanço, mas é preciso ir além. Trata-se de enfrentar o maior gargalo da educação, que contribui decisivamente para perpetuar nossa vergonhosa desigualdade.
PROJETO DE CONTROLE, por Felipe Moura Brasil, no jornal O Estado de S. Paulo
O verdadeiro plano do lulismo tem três frentes complementares: 1) Reescrever o capítulo corrupção; 2) Retomar controle das estatais; 3) Controlar imprensa e redes sociais.
O método da frente 1 é demonizar juízes e procuradores para emplacar a tese da “criminalização da política”, desviando para questões processuais o foco das relações financeiras e imobiliárias de Lula e seus pares com empresas que, em seus governos, receberam contratos públicos e praticaram suborno.
Apesar de decisões judiciais favoráveis a petistas (à exceção, por enquanto, de José Dirceu, condenado em três instâncias por corrupção na Petrobras) e aliados (até Sérgio Cabral teve anulada pelo juiz Eduardo Appio, o “LUL22”, uma condenação imposta por Sergio Moro), a frente 1 busca consolidar narrativas de Lula na sociedade, pois, como ele ouviu de uma jornalista americana, “metade do Brasil o despreza”. Essa metade põe em risco futuras eleições e pressiona o Congresso contra as frentes 2 e 3.
A frente 2 busca: a) Afrouxamento da Lei das Estatais, aprovado na Câmara, mas, diante da repercussão negativa, pendurado no Senado e no STF. Lá, porém, a liminar de Ricardo Lewandowski pelo fim da quarentena para indicações político-partidárias, seguida em julgamento por pedido de vista de Dias Toffoli garante que o governo vá nomeando políticos para empresas públicas, o que dificulta impedimento futuro em caso de definição contrária.
b) Alterações no Marco do Saneamento, para garantir vantagens a estatais em contratos. Os decretos do governo, no entanto, foram derrubados na Câmara por motivos bons (pressão de opinião pública e iniciativa privada; repúdio a mudanças sem projeto de lei) e ruins (insatisfação com ‘toma lá, dá cá’).
c) Retomada do controle da Eletrobras, por ação da AGU no STF para derrubar termos que limitaram influência da União; e pressão de Lula, que se recusa a negociar enquanto não forem substituídos executivos atuantes na privatização.
A frente 3 inclui de recusas similares a quem emprega jornalistas incômodos a escambos com verbas de publicidade e itens de interesse de veículos em projetos de lei, como a remuneração para conteúdo jornalístico prevista no PL 2630. Em relação às redes, a frente 3 apresentou regras convenientes, tentou garantir o controle do órgão fiscalizador, reagiu à posição do Google via Senacon e Cade, e celebrou sua remoção por Alexandre de Moraes. Mas perdeu, por ora, com o adiamento da votação.
O autoritarismo lulista está aí – só não vê a metade do país que não quer.