Hoje, não vou repetir os comentários sobre as dúvidas escandalosas sobre a gestão e uso das milionárias verbas públicas no Hospital de Gaspar sem a proporcional contrapartida à sociedade gasparense e principalmente aos mais vulneráveis que necessitam dele. Vou outra vez, dar chance a imprensa local – e regional. Ela sabe de tudo, mas como agente social não consegue produzir uma só pio e linha sobre este tenebroso assunto que ontem teve mais uma jogada na Câmara para ampliar a cortina de fumaça. Os poderosos de plantão agradecem. Os necessitados, sofrem.
Por isso, volto a tema recorrente, também recorrentemente “esquecido” na imprensa. Eu abordei transversalmente quase uma centena de vezes. Explicitamente tratei na semana passada em UM EXEMPLO DE MÁ GESTÃO. A MARGEM DO RIBEIRÃO GASPARINHO ESTÁ QUASE PRONTA DEPOIS DE QUASE R$420 MIL PARA REMENDAR À FALTA DE MANUTENÇÃO
E também na semana passada, a toque de caixa, sem debate na Câmara e na cidade de Gaspar – e pouquíssima visibilidade ou esclarecimento na imprensa -, mudaram-se as regras para sepultamentos, permanência e deslocamento dos restos mortais nos nossos campos santos nos dois únicos cemitérios de Gaspar. Mais. Silenciosamente, inseriu na legislação, com um item e uma palavra: a obrigação da cremação nos cemitérios, o do Santa Terezinha e o do Barracão. Até uma audiência pública ensaiada pelo relator matéria, o vereador Giovano Borges, PSD, foi cancelada.
Ele a todo momento, justificava à pressa incontida em se livrar deste assunto e vê-lo aprovado sem qualquer embaraço, contestação e mexida naquilo que veio do prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, – a não ser em supostos erros do vernáculo. É que estava estava prestes a estourar um escândalo devido à falta de túmulos na cidade. E algo bem medido. Quem não conhece o governo de Kleber e Marcelo de Souza Brick, Patriota, ou PL, sei lá, e a Bancada do Amém, que os comprem.
Na verdade, há uma máquina de negócios por detrás tudo disso. Ela já foi desnudada e uma vez. E por conta disso já foi parar no Ministério Público. Ele obrigou à mudança da legislação ao tempo do prefeito Pedro Celso Zuchi, PT, para se haver à mínima concorrência entre as empresas que eram de fachada. Os donos dos negócios – e os políticos no poder de plantão da época – ficaram putíssimos e até cortaram anúncios de quem permitiu que eu publicamente tocasse neste assunto macabro, mas extremamente rentável.
A legislação mudou por imposição do então atuante MP. Bons tempos aqueles em que o MP fungava no cangote dos políticos e poderosos daqui. Todavia, com o passar dos dias, a suposta concorrência desapareceu e tudo continuou como antes. Isto pode explicar muito bem à pressa em aprovar à alteração construída na prefeitura, o silêncio sepulcral, sem qualquer trocadinho, dos políticos na discussão deste projeto. Ele passou na Câmara sem qualquer discussão, bem como e principalmente, o atraso na busca de uma solução bem antes da previsível falta de espaços para enterros em nossa cidade, fato que fez o PL ter o afogadilho que teve. Nada é por acaso.
Uma coisa encaixa na outra. A incompetência neste caso, parece ser solidária com a falta de transparência. Ela em nossa cidade tem sido um problema recorrente na administração pública, entre os nossos políticos e seus amigos.
É quase impossível que um governo que vive postando todos os dias nas redes sociais reuniões e mais reuniões de planejamento, não tenha ouvido falar o que todos falam e por isso, previsto esta exaustação de espaços dos atuais cemitérios e não tenha, há tempo, numa cidade que cresce a olhos vistos, “tão planejada”, previsto o surgimento de outro cemitério, mesmo que privado, construído uma legislação para as novas regulações, os tais gavetários e ossários, permissões de áreas dos túmulos em terra, e até mesmo, à cremação que será um caminho sem volta na solução aos que se desligaram da tradição “és pó da terra e a ela retornarás”. Se há mais vivos nascendo ou vindo morar aqui, naturalmente, há mais mortos também. Até o coveiro sabe disso. Só os administradores da cidade não? Hum!
Seis anos foi o tempo que Kleber, Marcelo, Vereadores e os “çábios” que cercam toda essa gente levou para fazer e manda para mandar a regulação à Câmara para ser conhecida e não ser debatida, não esclarecida, não alterada e votada silenciosamente como se estivesse respeitosamente num velório. Esperou-se o limite do limite. Gente ávida pelo perigo, pela exposição e se estabelecer em dúvidas. Havia três vagas disponíveis para comercialização ou destinação no Cemitério Santa Terezinha quando o Projeto de Lei 16/2023 foi aprovado na terça-feira da semana passada. Só isto é um mau sinal para tudo. E passou. Incrível.
Giovano, experiente, até ensaiou dar uma fingida transparência. Entretanto, do nada, em horas, recuou da tal audiência pública, em assunto tão sensível e controverso, exatamente pelas circunstâncias próprio governo gasparense criou contra a sociedade. Giovano, que está tentando se descolar dos áudios de conversas cabulosas entre os manda chuvas do governo e que ele os apoia, entrou na mesma onda de que, não havia tempo para discutir mais nada, sob pena de não ter como dar um enterro correto e digno, como se ele, o prefeito, o vice e seus secretários não fossem responsáveis por mais esta tragédia se ela viesse a acontecer.
Ora, não havia tempo porque o prefeito Kleber, seu ex-vice Luiz Carlos Spengler Filho, PP no primeiro mandato e seu atual vice, Marcelo, muito próximo de Giovano, não tiveram esta iniciativa ao tempo certo. Preferiram um mudança de afogadilho como se fez. Ela pode estar imperfeita, trazer vícios e benefícios que não se desnudou, exatamente porque todos ne negaram a discutir o PL. Kleber e os seus, novamente, com o dos vereadores – de situação e oposição – se estabeleceram na má gestão, bem como na falta de planejamento, previsão, esclarecimento e resultados.
Perguntar, mais uma vez, não ofende: a cidade tem que pagar e comer cru o que vem do Executivo e chancelado sob o silêncio incondicional de todos os vereadores?
Além de não mostrar os detalhes que os permissionários – os donos de túmulos – vão perder seus direitos a eles, na comparação com a Lei antiga e conhecida, e agora modificada, até a montagem que o vereador Giovano fez, e distribuiu nas suas redes sociais, para situar as principais mudanças, e que a republico acima, excluiu à inserção da palavra “cremação” à obrigatoriedade no artigo oitavo da lei mudada. para os cemitérios entre as prestações de serviços.
Mas uma vez, perguntar, não ofende: como esta obrigatoriedade vai ser cumprida? Também vai se inventar, por falta de tempo, em regime de exceção, que ninguém de fora se habilite por aqui? Acorda, Gaspar!
TRAPICHE
Começou a enrolação. O presidente da CPI, José Hilário Melato, PP, sobre os áudios cabulosos gravados com o ex-secretário de Fazenda e Gestão Pública, ex-presidente da Comissão Interventora do Hospital de Gaspar, e faz tudo do governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, e Marcelo de Souza Brick, Patriota, ou PL, sei lá, Jorge Luiz Prucino Pereira, presidente do PSDB de Gaspar, pediu, preventivamente, a prorrogação dela por mais 60 dias.
Desta CPI só se sabe, até agora, segundo o próprio site da Câmara, de uma reunião: a que escolheu o mais longevo dos vereadores para presidente e o proponente dela, Roberto Procópio de Souza, PDT, para relator, todos das Bancada do Amém. Falta transparência e trabalho. E o alongamento é um sinal de que precisam de tempo cair no esquecimento e assim, inocentar os que aparecem nas gravações.
O fedor do lixo I. Depois da Operação Mensageiro – da qual Gaspar está, até este momento, longe, pois não se sabe de qualquer ligação até agora com faz tudo Serrana -, a administração de Kleber Edson Wan Dall, MDB, e Marcelo de Souza Brick, Patriota, ou PL, sei lá, está decidida em se livrar da gasparense Saay’s Soluções Ambientais, sucessora da Say Muller, inventada pelo ex-prefeito Pedro Celso Zuchi, PT, em 2009 e que emergencialmente faz hoje a coleta de lixo na cidade, numa licitação que causou muito ruído à época em que ela aconteceu por aqui.
Fedor do lixo II. Por que orquestradamente? Desde a semana passada, os vereadores da Bancada do Amém estão criticando, pesadamente, a coleta de lixo que é gerenciada pelo Samae de Gaspar. Ele é tocado pelo experiente neste assunto e importado da autarquia de Blumenau, Cleverton João Batista, MDB. Saay’s portadora de defeitos semelhantes aos da Serrana não é a preferida da gestão Kleber e Marcelo. Ela a quer trocar no vencimento do contrato. E começou a criar o clima para isso. Espera-se que ninguém da família de gestores do governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, ganhe emprego na nova empresa.
É um erro atrás do outro. Político posta fotos dele sujo de lama. E nas redes sociais, os memes e principalmente nos aplicativos de mensagens a reproduzem, silenciosamente, aos milhares. E não o perdoam nos comentários. Também, não é para menos. Quem mesmo orienta esses políticos? Amadores de seus próprios pontos frágeis que os ampliam.
Na versão exemplo, o prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, depois de se desgastar mostrando obrinhas, múltiplas reuniões de planejamento com sua “equipe” e autorizar a prefeitura ser chamada pelo apelido diminutivo de “prefa”, está ele próprio, na nova fase da cortina de fumaça, como garoto propaganda. Está mostrando como se abre oportunidades para estágios em diversos graus de escolaridade na prefeitura de Gaspar. Como falta exemplo de resultados que venha de cima, antecipadamente, o estagiário pode estar comprometendo o seu currículo quando for ao mercado de trabalho no futuro.
O vereador Ciro André Quintino, MDB, está perdendo uma das suas marcas populista que ele quer se ver reconhecido, isto se o seu amigo e empresário Oberdan Barni, Republicanos, continuar a insistir em ser candidato a prefeito no ano que vem. O “Cirão da Massa” – referindo-se ao povo, neste caso – será substituído por Oberdan da Massa Forte, nome da empresa de Oberdan. Até nisso, Ciro está perdendo massa.
Os políticos que vêm prometendo há três anos verbas para melhorar a infraestrutura e à implantação de um campo suplementar de grama sintética do Clube Atlético Tupi, de Gaspar, apareceram, novamente, no afamado Torneio do Primeiro de Maio do Tupi, desta vez realizado no domingo dia 30 de abril. As promessas foram renovadas. O descrédito, também.
Dionísio Luiz Bertoldi, PT, pegou forte no desperdício do caixa do governo Kleber Edson Wan Dall, MDB, e Marcelo de Souza Brick, Patriota, ou PL, sei lá. “Gastaram R$1,8 milhão com a compra do prédio do antigo BESC, aqui no Centro. E ele se tornou a Casa de Mosquitos, Criadouro da Dengue”. Ele também não poupou críticas aos R$14 milhões dados à Furb para melhorar o caixa da instituição, com os recursos bons dos pesados impostos dos gasparenses. Um erro atrás do outro. E com explicações.
O que faz um secretário da Saúde, vereador Francisco Hostins Júnior, MDB, acompanhar o patrolamento da estrada geral do Arraial? Falta do que fazer na sua pasta e no Hospital sob ataques de falta de eficiência, transparência e cheio de dúvidas?
O governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, e Marcelo de Souza Brick, Patriota, ou PL, sei lá, continua sonegando informações aos vereadores. Dionísio Luiz Bertoldi, PT, anunciou que entrou na Justiça com mais cinco mandados de segurança para ver seus requerimentos respondidos. Impressionante rotina contra a simples e obrigatória transparência. O que essa gente quer ver escondida?
Assessor do presidente da Câmara, Ciro André Quintino, MDB, resolveu brigar com eleitores de outros supostos candidatos pelas redes sociais? É isso? Se for, é o primeiro sinal de que Ciro está perdendo a mão, bem como a razão por falta de argumentos. Ou os discursos, entrevistas e programas de rádios dele é tudo encenação? Acorda, Gaspar!
8 comentários em “MAIS UM EXEMPLO – ENTRE DEZENAS – DE MÁ GESTÃO DO GOVERNO KLEBER E MARCELO. LEVOU SEIS ANOS PARA “DESCOBRIR” QUE NÃO HÁ VAGAS NOS CEMITÉRIOS. ENFIOU GOELA ABAIXO NOVAS REGRAS BEM COMO A CREMAÇÃO COMO SOLUÇÕES E SEM OUVIR A CIDADE”
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Sobre os cemitérios de Gaspar, penso ser um desrespeito e uma violação, a retirada dos restos mortais após cinco anos, principalmente com as famílias de baixa renda, uma vez que serão as únicas afetadas.
Cemitérios guardam memórias afetivas, não pano de chão e vassouras.
AMIGOS, AMIGOS, NEGÓCIOS À PARTE, editorial do jornal O Estado de S. Paulo
Na terça-feira, o presidente argentino, Alberto Fernández, foi a Brasília de pires na mão pedir água para a combalida economia argentina. Depois de quatro horas de reunião com o presidente Lula da Silva, recebeu um tapinha nas costas e voltou de mãos abanando. Ou nem tanto. Lula disse que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, irá a Buenos Aires costurar um acordo e também ao FMI e ao Banco dos Brics.
Sem dúvida, a recuperação da Argentina é do interesse geopolítico e comercial do Brasil. O país é nosso terceiro maior parceiro comercial e o principal comprador da indústria. No ano passado, o Brasil registrou um superávit de US$ 2,2 bilhões com o vizinho. O colapso de sua economia teria um duro impacto sobre nossa balança comercial.
Apesar de as exportações para a Argentina terem aumentado 20% neste ano, o Ministério da Fazenda estima que mais de 200 empresas brasileiras têm tido dificuldades de receber e reduziram suas exportações. Isso porque os negócios são realizados com dólares, e as divisas do governo argentino sumiram como água na areia. Na mesa de negociação estariam prazos mais dilatados para os importadores pagarem suas compras, a conversão direta das transações em reais e pesos e uma linha de crédito para as exportações.
Os riscos são evidentes. O peso derrete a olhos vistos, ampliando o perigo de perdas cambiais do Brasil. Já a linha de crédito envolveria pagamentos diretos do BNDES aos exportadores brasileiros, com garantia do Tesouro. Tecnicamente, poder-se-ia exigir da Argentina garantias na forma de títulos com liquidez internacional, como títulos de outros países ou contratos de compra de commodities, e, por óbvio, a operação exigiria taxas de juros mais altas. A questão é em que medida a técnica será levada em conta. A julgar pelo histórico e pelas declarações do presidente Lula, não muito.
O modelo não é novo. Nas mãos do PT, o BNDES liberou dinheiro a juros camaradas para empreiteiras brasileiras (quase todas condenadas pela Lava Jato) contratadas por governos estrangeiros. Só os calotes de Cuba e Venezuela somam US$ 529 bilhões. Como o risco foi assumido inteiramente pelo governo brasileiro, o BNDES acionou o Tesouro. Ou seja, o contribuinte não só subsidiou os juros, como cobriu as dívidas dos governos companheiros.
Os argentinos, vale lembrar, têm muitos dólares. Mas estão debaixo do colchão ou em contas no exterior. Os hermanos foram em massa à Copa do Catar e o próprio governo estima que só nos EUA há US$ 300 bilhões aplicados. Se o governo não põe a mão nesses dólares, é porque os próprios argentinos não querem trocá-los pelos pesos corroídos dia após dia por uma inflação que, em ano eleitoral, o governo não tem intenção de controlar aumentando os juros. Mas Lula quer. Afinal, segundo ele, “me comprometi com meu amigo Alberto Fernández que vou fazer todo e qualquer sacrifício para que a gente possa ajudar a Argentina”.
A cortesia – com o chapéu alheio – é grande. Lula promete que vai falar com o FMI para tirar “a faca do pescoço da Argentina”. Como se sabe, essa faca não tem fio. O empréstimo de US$ 42 bilhões à Argentina foi o maior já realizado pelo FMI, e as condições, as mais frouxas de que se tem notícia. Mesmo assim, o Fundo está a ver navios. Lula também quer que Haddad vá ao Banco dos Brics para “sensibilizar o coração” de seus gestores. E se os argentinos não pagarem aos Brics ou ao Brasil? Será que Lula lhes dirá o que disse do FMI, que não podem “ficar cobrando um país que só quer crescer, gerar emprego e melhorar a vida do povo”?
O importante é que Fernández “vai voltar mais tranquilo”, por ora “sem dinheiro, mas com muita disposição política” – supostamente para viabilizar as ambições peronistas nas eleições. Cabe perguntar se um presidente argentino de direita sairia com a mesma disposição. Mas, deixando as especulações de lado, mais importante é indagar quanto a disposição conferida a Fernández custará ao Brasil. Afinal, para ajudar seu “amigo” Lula prometeu “todo e qualquer sacrifício”. A questão é: quem será sacrificado, companheiro?
AINDA NEM COMEÇOU, por Willian Waack, no jornal O estado de S. Paulo
Jair Bolsonaro tornou célebre a expressão “o poder da caneta Bic” (que trocou de marca conforme as conveniências) para descrever o que ele considerava ser imensa capacidade de mando do chefe do Executivo. Era um mau entendimento da natureza do poder do presidente no sistema de governo brasileiro. Ela reside, na verdade, na capacidade de ditar a agenda política.
Lula está indo pelo mesmo caminho. Não, não se trata de desconhecer a realidade do avanço do Legislativo sobre o Executivo, que Lula admite, mas julgando-se capaz de resolver no “gogó”. Especialmente na economia, agenda é estabelecer um foco político específico pelo qual o presidente se empenhe vigorosamente.
Reforma tributária e uma fórmula para tratar das contas públicas foram declaradas prioridades pelo atual governo. São questões intimamente ligadas, especialmente diante da ênfase na receita trazida pelo arcabouço fiscal – portanto, arrecadação em primeiro lugar.
Mas o que faz o presidente? O presidente da Câmara, Arthur Lira, faz essa pergunta abertamente. Lula deixa o ministro da Fazenda dizer as coisas sensatas para os agentes econômicos, e libera o PT para criticar a peça que pretende ver aprovada no Congresso. O empenho pessoal foi até aqui transformar em questão pessoal (na figura do presidente do Banco Central) a pesadíssima taxa Selic.
Da mesma maneira, quando se trata do arcabouço fiscal (destinado, no fundo, a diminuir a relação dívida/PIB), o empenho político do presidente vai na contramão. “Se precisar de dívida, o Brasil vai se endividar”, declarou. Reduzir a dívida se endividando?
É na questão da reforma tributária/arcabouço, porém, que está a verdadeira questão levantada por Lira: a capacidade de articulação política do presidente é essencial. De novo, não se trata de compor maiorias com emendas e cargos. Trata-se de dar orientação política a uma formidável batalha que envolverá interesses antagônicos dos mais diversos (reforma tributária) e linhas de ações governamentais que significam escolher prioridades (arcabouço fiscal).
As “agendas” políticas até aqui trouxeram ao governo maiores dificuldades do que ganhos. A promoção de movimentos como o MST resultou na instauração de uma CPI considerada perigosa no próprio entorno de Lula. O empenho político do governo em torno da regulação das grandes plataformas – independentemente do mérito da questão – demonstrou a dificuldade em se afirmar no Congresso.
E ainda mal começaram os grandes testes.
JUROS: HORA DE VIRAR O DISCO, por Zeina Latif, no jornal O Globo
O Senado promoveu uma sessão de debate sobre “Juros, Inflação e crescimento econômico”, com a participação de ministros, senadores, representantes do setor privado e economistas com formação acadêmica. Em que pesem as muitas vozes ponderadas, fugindo de Fla-Flus, é inevitável a leitura que os ouvidos moucos aos argumentos técnicos do presidente do Banco Central decorrem da inadequada politização do tema por parte de importantes atores políticos, na esteira das próprias críticas do presidente Lula ao BC.
A insistente pressão para o corte da Selic prejudica institucionalmente o regime de metas de inflação e, pior, desvia o país dos debates urgentes sobre as razões da fraqueza estrutural da economia.
Além da confusão usual entre fatores de curto prazo e longo prazo que afetam o crescimento, atribuindo-se à política monetária um status que não condiz com sua natureza de curto prazo, dá-se excessiva importância à sua capacidade de afetar a performance na indústria, mesmo no curto prazo. O impacto da taxa Selic na produção industrial é muito menor do que se imagina.
Primeiramente, as grandes variações da produção industrial decorreram de choques externos –a crise global de 2008-09 e a pandemia – a greve dos caminhoneiros em 2018 também machucou o setor. Fora esses episódios, a produção oscila pouco, sentindo moderadamente o ciclo monetário.
No governo Lula, até eclodir a crise de 2008, a indústria acumulou alta de 30%, com taxa Selic real média (descontada a expectativa inflacionária para 12 meses à frente) de quase 11% ao ano. Foi um período, no entanto, de redução estrutural dos juros e maior ímpeto da indústria.
Em que pese o impacto de curto prazo da política monetária no setor, havia causas comuns regendo os dois movimentos: a robusta dinâmica internacional que alimentou o boom de commodities e reformas estruturais, notadamente no mercado de crédito, que produziram ganhos de produtividade na economia.
Os sinais de estagnação da indústria ficaram visíveis já em 2010, e assim seguiu até a grande recessão na gestão Dilma, sendo que a indústria, mais sensível a erros de política econômica e ao custo-Brasil, entrou em crise antes do setor de serviços. Isso tudo com juros reais nas mínimas históricas.
Com Dilma, houve contração de 17% da indústria, com Selic real média em 4,7%, ainda que em alta. Os juros ficaram estruturalmente mais elevados diante dos muitos equívocos na política econômica e excessos fiscais.
A interrupção da grande recessão na indústria se deu em 2016, no governo Temer, mesmo com juros reais nas alturas.
Desde 2018, a produção industrial anda praticamente de lado – seu patamar atual está 17% abaixo do período pré grande recessão. E a taxa de juros real oscilou bastante. Saiu de 7% nominal ou 2,9% real, chegou a 2% nominal e -1,9% real em 2020 e agora está em 13,75% nominal e 8% real. Enquanto isso, a produção industrial pouco se alterou – excetuando o período da pandemia.
A importância excessiva atribuída aos juros elevados, que são consequência e não causa de distorções da economia, contribui para afastar o país do enfrentamento dos problemas estruturais que amarram a indústria. A defesa da reforma tributária, por exemplo, é praticamente ausente. Quase nada se fala da qualidade da educação básica de massas, que propiciaria a empregabilidade nas classes populares e maior renda.
O consumo (aparente) de bens de consumo (calculado pela soma da produção e da importação desses bens, descontadas as exportações) está 20% abaixo do patamar anterior à grande recessão, sem sinais de recuperação. E a culpa da reduzida demanda não é dos juros.
Pesa bastante o baixo capital humano no país, que prejudica as classes médias e, assim, o crescimento do mercado consumidor, além de deprimir a produtividade na economia. Aqui, muitos outros temas se somam, como a elevada insegurança jurídica a frear o investimento.
Em um país com tanto consumo reprimido das classes médias, espanta o “samba de uma nota só” dos juros altos.
LINHA DE CRÉDITO PARA A ARGENTINA DESPERTA CETECISMO, editorial do jornal O Globo
O presidente argentino, Alberto Fernández, saiu ontem de Brasília com um bom motivo para demonstrar apreço pelo parceiro Luiz Inácio Lula da Silva. Em meio a abraços e cumprimentos calorosos, entrou na pauta o financiamento do BNDES ao comércio entre os dois países, por meio de um mecanismo que evite pagamento em dólar. Para a Argentina, a linha de crédito aliviaria a pressão num momento de inflação em disparada e escassez de divisas. Para o Brasil, é difícil enxergar as vantagens — e fácil vislumbrar o risco de calote.
É verdade que não faltam motivos para nos preocuparmos com a situação do país vizinho, terceiro maior mercado para exportações brasileiras. No ano passado, as vendas somaram US$ 15,3 bilhões, grande parte produtos industrializados (um diferencial na comparação com outros países para os quais exportamos produtos primários). Várias empresas, em especial multinacionais, mantêm produção integrada nos dois países de olho no Mercosul. Diferentes componentes cruzam a fronteira nos dois sentidos. Por isso qualquer solavanco na Argentina afeta o Brasil.
Há, porém, várias dúvidas sobre o plano anunciado ontem. A mais óbvia é se Lula teria aceitado a ideia do crédito camarada caso o presidente argentino fosse de centro ou de direita. Nos governos petistas anteriores, a ideologia falou mais alto, e o resultado foi desastroso. Desde 1998, o BNDES aportou US$ 10,4 bilhões numa linha de apoio à exportação de serviços de engenharia. Os dois países que mais deram calote foram Venezuela (US$ 682 milhões) e Cuba (US$ 238 milhões). Juntos, ainda devem US$ 52 milhões. Justamente aqueles cujos empréstimos foram ditados por critérios mais ideológicos que econômicos.
Outra dúvida diz justamente respeito à sensatez financeira da iniciativa. A inflação anual argentina supera 100%, e o peso está em franco derretimento diante das demais moedas, inclusive o real. O contrato de financiamento da exportação é fechado num momento, mas a venda na Argentina ocorre depois. Com a inflação em disparada, é certo que haverá descasamento entre os valores. O pagamento ao exportador brasileiro estará garantido, mas o BNDES não tem como saber se receberá as parcelas do financiamento. O plano não apresenta detalhes das garantias oferecidas pelo governo argentino. Levando em conta que as reservas cambiais do país estão esgotadas, será preciso usar a criatividade para apresentá-las.
Defensores da linha de crédito para a Argentina argumentam que o Fundo de Garantia à Exportação (FGE), vinculado ao Ministério da Fazenda, cobrirá eventuais calotes. Mas ter um seguro não é o mesmo que não ter risco. Nesse caso, a conta será transferida para todos os exportadores, e qualquer socorro caberá ao Tesouro. Vale a pena? O simples fato de a nova linha de crédito começar com tal preocupação é mau sinal. É verdade que os argentinos nunca deixaram de pagar o BNDES, mas já estão na 13ª renegociação com o FMI, depois de incontáveis moratórias.
O secretário executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, afirma que a China tem financiado suas exportações para a Argentina e conquistado mercado. Pelas suas contas, o Brasil perdeu cerca de US$ 6 bilhões em cinco anos. Só faltou acrescentar que a China é uma potência global, com PIB equivalente a 11 vezes o brasileiro, e pode se dar ao luxo de correr riscos que nossas agruras fiscais não permitem.