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A CPI NÃO VAI APURAR NADA. VAI INOCENTAR. E QUANTO MAIS FAZ ISSO, ELA DERRETE A IMAGEM FRÁGIL DO GOVERNO DE KLEBER E MARCELO ASSIM COMO DOS PARTIDOS QUE ARMAM O FAZ DE CONTA. É O QUE MOSTRA PESQUISA

Revisado parcialmente às 19h05min deste 20.04.23. Eu devia estar escrevendo sobre o escândalo e o dreno de montanhas de dinheiro da prefeitura e do Fundo Municipal de Saúde para a empresa Prime, paga para fazer a gestão do Hospital de Gaspar. Mas, é um assunto tão recorrente neste espaço, que mais uma vez, teimosamente e esperançoso, vou dar tempo para a calada imprensa de Gaspar e regional fazer manchetes, baseadas naquilo que o vereador Dionísio Luiz Bertoldi, PT, esclareceu – e desenhou – que parte da cidade sabe e outra desconfiava -, sem margens de dúvidas na sessão da Câmara, na terça-feira.

Este escândalo não possui só a marca da omissão da imprensa tradicional que recebe migalhas enquanto vê milhões passarem sob seus olhos, mas do medo. Quem está sendo punido, chamado a se calar é quem denunciam. Parte deste resultado que passa longe de qualquer transparência está as entidades que dizem representar a sociedade gasparense, a oposição em frangalhos, o Ministério Público Estadual, o Tribunal de Contas do Estado e tantos outros. Alertados com documentação, ou lendo o que escrevo, sempre alegam falta de provas, quando não advertem, que é perigoso lidar com os que fazem gato e sapato com o dinhero público dos pesados impostos. 

Os poderosos no poder de plantão, por sua vez, agradecem e ainda zombam.Dizem que tem uma rede de proteção institucional que os deixa de corpo fechado. E parece ser verdadeiro isso, diante de tantos, smiultâneos acontecimentos, denúncias e gravações.

Por outro lado, este não é o tema meu comentário tardio desta quinta-feira, véspera do enforcado Alferes Tiradentes, só porque ele era contra a derrama, à gulosa ganância da O reinado português sobre as nossas riquesas, tudo para sustentar os poderosos e ricos da Coroa de lá. Tiradentes queria menos, e mais do que isso, o retorno dos impostos para os brasileiros e com uma terra independente e soberana.

Retomando.

O governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, e Marcelo de Souza Brick, Patriota ou PL, desenrolou a corda para o suicídio politico dele próprio. Tudo isso está acontecendo há um ano e meio das eleições de outubro do ano que vem. É muito próximo para achar que o povo vai se esquercer disso até lá. Esta armação, ou erro de gestão como agora querem dar no enfemismo de ocasião, todavia, já vem desde quando Kleber se elegeu com Luiz Carlos Spengler Filho, PP, em outubro de 2015, quebrando uma hegemonia de oito anos de Pedro Celso Zuchi, PT, e que já tinha experimentado quatro anos entre 2001 e 2004.

Qual o resultado disso tudo? 

Se as eleições fossem na semana passada, por exemplo, Kleber e Marcelo estariam condenados mortalmente nas urnas. Foi isso, que revelou uma pesquisa feita por um grupo de empresários para testar a temperatura e descobrir o que os políticos daqui sempre escondem deles e da população a quem manipulam. Foram ouvidas pouco mais de 700 gasparenses atendendo os cortes etários, gênero, escolaridade e proporcionalidade de eleitores por bairros, segundo a eleição realizada aqui em 2022.

A pesquisa não se preocupou tanto com nomes de candidatos, mas principalmente de como estava pensando naquele instante o eleitor e a eleitora gasparense. Para os leitores e leitoras deste espaço e eu que tive acesso a algumas informações isoladas, nada surpreendente. Neste ponto, devo interromper, porque a pesquisa foi feita exatamente quando a cidade confirmava pelos vídeo-áudios o que desconfiava e ela se espantava com a criação de uma CPI armada pelos “çábios” do governo de Kleber e Marcelo para dar em nada. 

Isto, deve-se reconhecer, acaba distorcendo parcialmente pois a raiva incontida é grande, principalmente em que está decepcionado com as ações e resultados de seus líderes e dos votos desperdiçados neles, somado ao fingimento de que não foi nada, de que foi menos, de que todos fazem, de quem ninguém vai ser punido e vão continuar numa boa como se isso fosse algo menor.

Retomo.

Mas, isto não invalida alguns tópicos desta pesquisa para reflexão dos gasparenses e principalmente, dos caminhos que vão dar rumos para as novas oportunidades e abrir chance para novas parcerias, ou até nomes que não estejam envolvidos até, aqui, na política.

Bingo! Escrevi sobre os sinais de isolamento que vi na sua convenção MDB gasparense. Ela mais pareceu um velório de quem tinha o rompante de ser uma referência na cidade, ainda é governo. Não era apenas sinais. A pesquisa a que tive acesso mostrou isto de forma bem clara e na voz dos próprios gasparenses. Não se enganem. Os que estão no poder de plantão possuem as suas pesquisas. Sabem onde estão metidos, pisando e de como tudo está se tornando irreversível. Então…

E quando perguntados sobre a suposta corrupção na prefeitura de Gaspar, quase 47% dos entrevistados na mesma pesquisa não tiveram dúvidas disso. Assim como mais de 78% dos que responderam a pesquisa associam Marcelo a Kleber, o vice está em maus lençóis também e até agora, não moveu uma palha dissociar desse mar de dúvidas. Aliás, a pergunta é: qual as razão deste silêncio de tantas revelações?

E quanto ao governo de Kleber e Marcelo? Espantoso para quem tem suporte de uma estrutura de marqueteiros bem caros e vive nas redes sociais contando o lado azul de tudo que faz, pensa e se delicia.

Pouco mais de 46% acham o atual governo de Gaspar regular; 20% péssimo, 19% ruim e menos de 10%, ótimo.

Isto é um desastre e péssima notícia para quem está no poder há mais de cinco anos. E onde está o calo de ineficiência além da má imagem carregada de dúvidas? A saúde para 76% dos entrevistados. Uau!

Este espaço sempre advertiu para a ralo sem fundo do Hospital. O falecido vereador Amauri Bornhausen, PDT, funcionário público municipal e em tese da Bancada do Amém era um dos inconformados. Na terça-feira passada, didaticamente o vereador Dionísio Luiz Bertoldi, PT, mostrou como se falseou uma concorrência e como se contratou em São Paulo, por milhões de reais uma empresa gestora, antes mesmo dela apresentar o Orçamento para concorrer e ser então, por atributos técnicos e menos cara entre as falsas concorrentes.

E quem agora está dando ares de seriedade a tudo isso, ao que não possui transparência? O vereador Francisco Hostins Júnior, MDB, vestido de candidato a prefeito de Kleber.

Não é a toa, que lendo a pesquisa, fica claro que o eleitor e a eleitora estão cansados dessa gente que se finge de santa, administrador e cheia de padrinhos de “mãos limpas”. Os entrevistados, assustadoramente, querem gente não contaminada pela política cheia de espertos, vilões disfarçados de cordeiros. Ao mesmo tempo, buscam candidatos com reconhecida capacidade de gestão, diálogo e transparência. Acorda, Gaspar!

TRAPICHE

Qual a manchete de hoje na imprensa de Gaspar, sem dizer nada? “Gaspar está entre as cidades alvo da operação como o crime organizado”. Estão atrás dos bandidos errados? Ou já estão todos misturados?

A socióloga Rosangela Silva, é a nova conjuge do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, PT. Não foi eleita. Não possui votos, mas faz questão de dizer que manda nele e no governo. A Janja que esbanja e não manja, não se manca é o exemplo acabado de como uma esposa é capaz de acabar com a imagem de um político, mesmo ele sendo muito popular. E com os não tão populares? Pois é. Gaspar padeceu e padece do mesmo mal.

A vereadora Franciele Daiane Back, PSDB, da Bancada do Amém, está bem silenciosa a tudo e todas as dúvidas do governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, e Marcelo de Souza Brick, Patriota, ou PL, sei lá. Ou seja, prova, como jornalista com canudo e diploma, tem lado, ideologia e silêncio conveniente, mesmo posando de profissional isenta. 

Franciele abriu  guerra particular. E não é a de esclarecer os vídeos-áudios do seu li´der chefe que inundam Gaspar oiu sequer, dar pista paradeiro do presidente do partido tucanato gasparense e que arrumado por ela: Jorge Luiz Prucino Pereira.

Entre as muitas cortinas de fumaças do pessoal da Bancada do Amém, a vereadora arrumou bronca  com o superintendente do Distrito do Belchior, Anderson Reinert, o Mano. Vejam só. Ele foi indicado por ela e Franciele agora, na tribuna da Cãmara, está queimando o rapaz. Só porque ele não quer ser funcionário dela, mas da prefeitura. 

É que as lideranças do Distrito foram com a cara do superintendete, o MDB onde não está ainda, igualmente e prefeito Kleber também. Franciele está enciumada. Quer exclusividade. E por quê? Teme que Anderson seja seu concorrente no ano que vem. E Franciela está escaldada. E teme que o feitiço vire contra o feiticeiro. Franciele, foi assessora de imprensa do “deretor” Jaime Kischner, MDB. Quando viu era tarde. Franciele se elegeu e ele chupou o dedo no Belchior.

Qual a diferença de Gaspar e Blumenau? A qualidade dos políticos? Não! Da tal sociedade organizada. Aqui, há meses venho escrevendo que Ciro André Quintino, MDB, campeão de diárias, para se eleger presidente da Câmara fez um pacto com o mais longevo dos vereadores José Hilário Melato, PP, por mais mordomias e assessores. Negaram tudo. Esta semana mostrei o pau, a cabeça da cobra e o veneno dela. Ficaram fulos. Mas todos vão votar da legalização daquilo que não estava legal.

A sociedade de Gaspar está quietinha e mais uma vez, sendo enganada por discursos. Nada conterá esta sanha da Mesa Diretora. Nela, além de Ciro e Melato, estão Giovano Borges, PSD e ex-presidente, bem como o novato, Alexsandro Burnier, PL, que diz que ser político é uma profissão, que tem custos e deve ser bem pago por isso. E nada isso iria adiante se os demais vereadores não garantissem os votos para tal engordamento nos seus gabinetes.

Em Blumenau, onde de grão em grão isto também virou um cabideiro, principalmente à época de Jovino Cardoso Neto, Solidariedade, sob polêmica, está se tentando criar mais um cargo de assessor parlamentar para cada gabinete dos vereadores de lá. A imprensa revelou o que se escondia – ou que não era pesquisado, pois está tudo à mostra no site da Câmara. Virou uma polêmica. E da noite para o dia. As entidades representativas da sociedade já pularam no pescoço dos vereadores.

No início do ano, lá em Blumenau, também se quis criar o 13º dos vereadores. Houve a mesma reação da tal sociedade organizada. Voltou-se atrás. Projeto arquivado. Nada ilegal. Mas, imoral. O partido Novo de Blumenau, por exemplo, fez uma conta interessante para o leigo, o eleitor, a eleitora compreender bem como os políticos nos seus discursos fingidos, esfarrapados e tratando todos como analfabetos, ignorantes, desinformados e submissos, desviam recursos públicos para as máquinas deles de fazer votos para eles, poder e nada mudar.

“O que você prefere… mais 15 assessores para os vereadores, ou R$2 milhões aplicados por ano na segurança de escolas e centros infantis?”. Ou “o que você prefere… mais 15 assessores para os vereadores ou mais 150 novas vagas para creches?” 

Pois é, esta conta nunca é feita por aqui, e quando é feita, os políticos caem de pau em quem a faz? Por quê? Não há a tal sociedade organizada, não há liderança que esclareça, não há oposição séria e independente. Não há imprensa de verdade. E os políticos, enlameados, tomam conta do dinheiro público e aplaudem à incompetência nos resultados naquilo que prejudica claramente à sociedade nas suas prioridades.

Bomba. Um dos envolvidos em supostos erros administrativos do governo Kleber Edson Wan Dall, MDB, e Marcelo de Souza Brick, Patriota ou PL, sei lá, já procurou um escritório especializado em delação premiada. Ele teme, que venha, ser o bode expiatório dos espertalhões no poder de plantão. E não quer pagar o pato sozinho, muito menos experimentar a cana e o vexame dela. Aleluia irmãos!

Depois que a Defesa Civil do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, PT, mandou R$388 mil, para recuperar as ruas Rio Branco e José Rafael Schmitt, as quais desbarrancavam para dentro do ribeirão Gaspar Mirim, a obra feita por uma empreiteira de Indaial, deslanchou como um foguete.

Até agora nenhuma placa sobre a obra e a contrapartida da prefeitura. E tudo isso só chegou onde chegou, porque a prefeitura e a secretaria de Obras e Serviços Urbanos, foram negligentes por meses afio, permitindo o crescimento do desbarrancamento. Parece que esperaram pelo pior e o mais caro. A Defesa Civil estadual de Jorginho Mello, PL, mofou com o pedido, onde uma caravana daqui gastou tempo, propaganda nas redes sociais e principalmente, diárias.

Ouvindo as gravações sobre as conversas cabulosas entre políticos e gestores de Gaspar, é difícil de acreditar que gente que se diz pregadora de salmos bíblicos tenham termos tão chulos naqueles diálogos cheios de números. Não é a toa que tratavam de coisas ligadas ao diabo. Ao menos é isso que, falsamente, pregam quando estão nos templos. Bom feriadão. Acorda, Gaspar!

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12 comentários em “A CPI NÃO VAI APURAR NADA. VAI INOCENTAR. E QUANTO MAIS FAZ ISSO, ELA DERRETE A IMAGEM FRÁGIL DO GOVERNO DE KLEBER E MARCELO ASSIM COMO DOS PARTIDOS QUE ARMAM O FAZ DE CONTA. É O QUE MOSTRA PESQUISA”

  1. Para ser lido e absorvido pelos gasparenses naquilo que se imita por aqui

    O CRIME DA LAVA-JATO FOI COMBATER A CORRUPÇÃO, por Carlos Alberto Sardenberg, no jornal O Globo

    Lula comete muitos equívocos. Na maior parte, são opiniões rasteiras sobre assuntos complexos que ele não conhece. Entram nessa categoria os comentários sobre os games — vistos como formadores de crianças violentas — e transtornos mentais — ou “desequilíbrio de parafuso” que afeta 30 milhões de brasileiros, potenciais causadores de “desgraça”. Tratava dos assaltos a escolas, tema sensível, mas essas falas não geram políticas públicas. Ao contrário. Nos ministérios da Saúde e da Educação, ficaram perplexos com os comentários do presidente. Calaram. Ainda bem.

    É diferente quando se trata das incursões de Lula em política internacional. As declarações de apoio à China e à Rússia revelam um antiamericanismo que, antes de mais nada, é visceral. Lula acha — e diz — que sua prisão foi resultado de uma conspiração armada pelo Departamento de Justiça dos EUA. Tem muita gente importante no PT que racionaliza essa ideia, tornando-a base da diplomacia “Sul-Sul”. Se os americanos são capazes de destruir uma economia emergente, então o negócio é buscar outros parceiros.

    En passant, fica dito que a corrupção no mensalão e, sobretudo, no petrolão foi coisa pequena, limitada a algumas pessoas, sem participação do PT, muito menos de Lula. Os grandes acordos de delação? Empresas, executivos e empresários chantageados. E os réus confessos que devolveram dinheiro? Também chantagem e mixaria. Assim mesmo, tudo duvidoso, porque a diretoria da Petrobras na época era formada por cúmplices da conspiração.

    Para eles, a Petrobras quebrou, nas gestões petistas, não por má gestão e roubalheira, mas por ter sido saqueada por agentes do imperialismo. E por que saqueada? Porque a estatal e as empreiteiras associadas, Odebrecht à frente, se espalhavam pelo mundo ameaçando as companhias americanas. (Leiam artigos e livros de José Sérgio Gabrielli e Alessandro Octaviani, este agora indicado para a Superintendência da Susep. Ele, aliás, sustenta que a corrupção foi fator de crescimento em muitos países.) Dizem que, contra essa expansão brasileira, o Departamento de Justiça dos Estados Unidos inventou o programa de combate à corrupção, com o propósito explícito de tirar do caminho as concorrentes das empresas americanas.

    Como chegaram a isso? Partindo de um fato real: o governo americano, com a OCDE, liderou um programa de combate à corrupção que apanhou empresários, empresas e governos pelo mundo todo, inclusive entre os aliados europeus. Não foi, pois, uma ação contra o Brasil de Lula. Foi na sequência de investigações sobre terrorismo e tráfico de drogas, quando se adotou a linha follow the money. Quem financiava o crime? Como se dava a troca de dinheiro sujo por respeitáveis recursos no sistema financeiro global? No meio do caminho, com a colaboração de diversos governos, se topou com a corrupção dos Estados.

    O programa desenvolveu métodos de rastreamento de dinheiro, praticamente quebrando o sigilo bancário e estabelecendo troca de informação entre os fiscos e os bancos centrais. A Lava-Jato fez parte desse programa. Foi assim, aliás, que achou dinheiro desviado em bancos suíços. Sim, Deltan Dallagnol e Sergio Moro estudaram nos EUA. Exatamente como juízes, promotores e policiais de diversos países. Obtiveram condenações notáveis.

    Foi tudo uma farsa global?

    No mundo, muita gente grande continua em cana. Aqui, estão soltando todos os condenados. Não por terem sido considerados inocentes, mas por uma cuidadosa manipulação de regras formais que vai anulando processo por processo. Em cima disso, o discurso petista vai ganhando espaço: o combate à corrupção, uma farsa americana, só serviu para destruir empresas brasileiras, gerar desemprego e recessão. A inversão está feita: não é a corrupção que corrói a economia, mas o combate a ela.

    Pode?

    Não pode. Leiam o livro de Malu Gaspar “A organização” e os escritos de Maria Cristina Pinotti.

  2. A CPI DO 8 DE JANEIRO DARÁ TRABALHO, por Elio Gaspari, nos jornais Folha de S. Paulo e O Globo

    Na quarta-feira deverá ser instalada a Comissão Parlamentar de Inquérito do 8 de janeiro. Ela tem todos os elementos para mostrar o óbvio: o Planalto, o Congresso e o Supremo Tribunal Federal foram invadidos por uma multidão que pedia um golpe de Estado contra o governo de Lula. Apesar disso, o comissariado petista se enrolou, tentando administrar uma realidade paralela implausível. Nela, fazia-se de conta que o apagão da segurança de Brasília ocorreu fora do seu alcance.

    O governo continuou cultivando a realidade paralela na semana passada, ao dizer que o general da reserva Gonçalves Dias “saiu por conta própria” da chefia do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Ele teve que ir embora depois da divulgação, pelo repórter Leandro Magalhães, dos vídeos gravados pelas câmeras do Planalto no 8 de janeiro. Eles mostraram a cordialidade do apagão no GSI invadido.

    Esses vídeos, captados por 22 câmeras, somavam 165 horas, ocupando 250 gigabytes de memória e estavam sob a guarda do GSI. Em abril, ele negou o acesso à CPI da Câmara Distrital de Brasília, informando que a tarefa era impossível, dado o tamanho do material. Patranha, não só porque ele poderia ser copiado em poucas horas, mas também porque uma semana depois da invasão do Planalto uma parte dos vídeos havia sido divulgada. Segundo Gonçalves Dias, todos os vídeos foram entregues às autoridades que investigam os acontecimentos. Nenhuma câmera estava quebrada ou desligada. Elas mostram, por exemplo, que o relógio oitocentista do Planalto foi derrubado às 15h33m, recolocado no lugar às 15h43m e derrubado de novo às 16h12m.

    Gonçalves Dias contou à repórter Delis Ortiz que chegou ao Planalto quando a manifestação passava pelo Ministério da Justiça. Logo depois informou que ao chegar ao Palácio ele já estava invadido. O chefe do Gabinete de Segurança Institucional não estava no Palácio. Basta.

    (Vale lembrar que na véspera GDias havia dispensado o reforço do Batalhão da Guarda Presidencial. No dia 8, essa tropa manteve-se inerte nos momentos críticos).

    Desde a véspera, sabia-se que centenas de ônibus haviam chegado a Brasília. Manifestantes pedindo um golpe de Estado estavam acampados diante do QG do Exército há semanas. Nas redes sociais, monitoradas pelo governo, convocavam-se pessoas para a “festa da Selma”. Às 9h30m daquela manhã uma mensagem informava: “Não tem que invadir nada, a não ser na hora certa de comer o bolo da festa da Selma.”

    O bolo da Selma foi comido entre as 15h e 15h25m, com a invasão do Congresso, do Planalto e do Supremo. Estupendo sincronismo.

    Estabeleceu-se que houve um apagão da segurança em Brasília naquele dia. Ele também foi relativamente sincrônico, e a investigação da Polícia Federal e do ministro do STF Alexandre de Moraes reúnem os dados para esclarecer os dois sincronismos.

    Às 17h55m, Lula decretou a intervenção federal na segurança pública de Brasília. O presidente desprezou diversas sugestões para que decretasse um regime de Garantia da Lei e da Ordem, entregando a questão a um comandante militar. Essa ideia era defendida por aliados, como o ministro da Defesa, José Múcio, e também por adversários, como o senador e general da reserva Hamilton Mourão. Lula sentiu na GLO o cheiro do golpe.

    Até agora, o melhor levantamento dos fatos do 8 de janeiro veio do interventor na segurança de Brasília, Ricardo Cappelli, atual chefe interino do Gabinete de Segurança Institucional. Nele, vê-se uma parte de quem fez o que e de quem não fez o que, antes e durante as invasões. Na última quinta-feira, Cappelli identificou para o ministro Alexandre de Moraes os servidores civis e militares que estavam no Palácio do Planalto no dia 8. G. Dias devia ter feito isso há meses.

    O GENERAL MATOU A CHARADA NOTURNA

    O 8 de janeiro teve dois momentos críticos. Um, diurno, deu-se com as invasões. O outro, noturno, esteve envolvido em brumas. Ele aconteceu quando o país, surpreso, viu que uma tropa do Exército barrou viaturas da PM de Brasília que pretendiam desmontar o acampamento montado em frente ao QG do Exército, onde pessoas pediam um golpe.

    Durante mais de três meses acreditou-se que havia ocorrido uma queda de braço, com generais desafiando o governo. O comandante militar do Planalto, Gustavo Henrique Dutra de Menezes saiu do silêncio e revelou que, naquela noite, falou por telefone com Lula, explicando-lhe o risco de uma operação noturna. Acertaram que o acampamento seria desmontado na manhã seguinte, e assim foi feito.

    A ideia de que o Exército havia escorraçado a PM injetou uma tensão desnecessária àquele ambiente carregado. O que poderia ter sido limonada virou limão.

    ARQUIVO VIVO

    Seja qual for o governo, o chefe do serviço de segurança sabe, e guarda, segredos dos titulares.

    O general GDias chefiou a segurança de Lula durante seus dois primeiros governos.

    Nos últimos quatro anos, com Bolsonaro na Presidência, GDias mostrou que tinha boa memória.

    MORAL VARIÁVEL

    Depois de deixar o cargo, GDias deu uma entrevista à repórter Delis Ortiz: lembrou seus 40 anos de serviços ao Exército, defendeu sua moral e criticou a reportagem de Leandro Magalhães, que expôs seus movimentos no Planalto no dia 8 de janeiro. Tudo bem.

    No mesmo dia, o general da reserva deveria ter comparecido à Comissão de Segurança Pública da Câmara dos Deputados para falar sobre o dia dos atos, mas faltou, apresentando um atestado médico da Coordenação de Saúde da Presidência.

    Seu quadro clínico exigiria medicação e observação, “devendo ter ausência em compromissos justificados por motivo de saúde”.

    Noves fora o mau português, ficaram mal o paciente e o médico que assinou a peça.

    941 NA TRANSIÇÃO

    Vitorioso nas urnas, Lula mobilizou uma equipe de 941 pessoas, divididas em 31 grupos temáticos que lidavam com 217 assuntos. Cinco pessoas cuidavam da área da Defesa, 40 da Justiça e Segurança Pública.

    Ao que se sabe, nenhum servidor civil ou militar do Gabinete de Segurança Institucional de nível médio foi substituído.

    O major que no dia 8 de janeiro dava literalmente refresco um invasor, passando-lhe uma garrafa de água, era o responsável pela segurança do Palácio naquele domingo.

    RISCO NO AGRO

    As invasões do MST, bem como a presença de seu líder João Pedro Stédile na comitiva de Lula na viagem à China, debilitaram a banda do agronegócio que se opõe aos agrotrogloditas bolsonaristas.

    MADAME NATASHA

    Madame Natasha adora uma CPI, mas teme que a Comissão de Inquérito do 8 de janeiro lhe lese os nervos, trazendo de volta a onipresente palavra “narrativa” para designar o que se pode chamar de versão, entendimento e, às vezes, de opinião.

    Um bolsonarista dizendo que Lula tolerou os planos e as ações golpistas, não estaria apresentando uma narrativa, mas apenas dando sua opinião ou, talvez sua versão.

  3. UM STF VOLÚVEL, por Merval Pereira, no jornal O Globo

    As permanentes mudanças de posição de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), tomando decisões que muitas vezes alteram o resultado final do julgamento de um caso em que, anteriormente, votaram ao contrário, traz à discussão os critérios para a escolha do futuro ministro. Mais que insegurança jurídica, essa volubilidade dos ministros provoca insegurança econômica e financeira.

    O sistema de escolha pelo presidente da República pode ser contestado quando na decisão prevalecem critérios pessoais. A escolha de um ministro “terrivelmente evangélico” deveria ser o bastante para impugnar o ato, mesmo que o indicado tenha “notório saber jurídico”. Também a escolha de um ministro que atua como advogado pessoal do presidente da República, como é o caso de Cristiano Zanin, deveria invalidar a decisão, assim como, nos Estados Unidos, o então presidente George Bush tentou indicar sua advogada pessoal, Harriet Miers, e teve que recuar diante da reação negativa.

    Escolher um candidato do mesmo espectro político do presidente em exercício é normal nas democracias. Por isso, decisões sobre questões que envolvem valores sociais só acontecem quando ocorre de um presidente conseguir montar uma maioria consistente na Suprema Corte. Foi o caso recente sobre o aborto nos Estados Unidos. Os republicanos estão com uma maioria de três votos no plenário, e conseguiram, depois de 49 anos, mudar o entendimento de que o aborto seja um direito constitucional da mulher.

    No Brasil, no entanto, nos deparamos com uma questão distinta. O comportamento do plenário do STF depende da individualidade de seus ministros. O fenômeno faz com que decisões pessoais mudem ao longo dos anos, de acordo com as circunstâncias. Agora, por exemplo, o Supremo utilizou-se de um instrumento chamado “embargos de declaração”, que normalmente não deve entrar no mérito das questões já decididas pelo plenário, para fazer uma alteração significativa na legislação trabalhista. Três ministros já votaram para considerar inconstitucional a proibição da contribuição sindical obrigatória, permitindo a volta desse imposto.

    O relator, ministro Luis Roberto Barroso, foi além e argumentou que os trabalhadores não sindicalizados se beneficiariam do trabalho dos sindicatos sem pagar, como se os sindicatos fossem o único instrumento dos trabalhadores nas suas reivindicações. Torna ilegais aqueles que não querem se sindicalizar. O ministro Gilmar Mendes chegou a pedir desculpas aos que seguiram seu voto na primeira vez em que o tema foi abordado no STF, e mudou de posição, passando a considerar constitucional a cobrança.

    Na Reforma Trabalhista, o imposto sindical foi abolido, e esse voto de agora abre caminho para reintroduzir uma contribuição obrigatória, mesmo para os trabalhadores que não querem se filiar aos sindicatos. Com a reforma, quem quer se filia ao sindicato e paga a contribuição. Agora, seria preciso o trabalhador enfrentar a pressão sindicalista e a burocracia para não pagar o imposto.

    Essa mesma incoerência vem sendo verificada em outros julgamentos. Os julgamentos no caso do ex-juíz Sérgio Moro são exemplares desses movimentos individuais, que podem mudar com o tempo. A ministra Cármen Lúcia, que já tinha defendido a atuação de Moro, mudou de voto e foi decisiva para invalidar o processo do tríplex de Lula e na condenação de Moro pela 2ª Turma como parcial.

    Em 2016, no início da Lava Jato, o ministro Gilmar era um crítico do governo e apoiou a tese da execução da prisão depois da condenação em segunda instância. Mais tarde, mudou de posição, defendendo a prisão só após o trânsito em julgado. Já o ministro Edson Fachin, principal defensor da Operação Lava Jato na 2ª Turma, surpreendeu até os colegas de corte ao anular as ações contra o ex-presidente Lula na 13ª Vara Federal de Curitiba, considerando incompetente a jurisdição. Isso depois de mais de três anos em que o defensor de Lula, Cristiano Zanin, insistia nessa tese, e foi derrotado diversas vezes pelos mesmos ministros do Supremo.

  4. Este comentário serve para Gaspar, na conclusão, sobre o jornalismo adulatório, que penso nem ser adulatório, mas de conivência com todas as dúvidas expostas e até documentadas.

    DEZ PERGUNTAS PARAS DOIS CHANCELERES, por Demétrio Magnoli, no jornal Folha de S. Paulo

    Lula tem dois chanceleres: Mauro Vieira, que comanda o Itamaraty, e Celso Amorim, assessor presidencial. O primeiro representa a política institucional, que definiu o voto brasileiro na resolução da ONU exigindo a retirada das forças russas de ocupação da Ucrânia. O segundo representa a política ideológica, lulista e petista, que renegou aquele voto.

    Proponho dez perguntas a eles, destinadas a esclarecer a posição oficial do Brasil sobre a invasão russa:

    1) A Carta da ONU e a Constituição brasileira consagram os princípios da soberania nacional e do respeito à integridade territorial das nações. É nesses princípios que o Brasil apoia sua pretensão de ajudar a mediar negociações entre Rússia e Ucrânia?

    2) O encontro de Amorim com Putin, em Moscou, seguido pelas declarações de Lula na visita à China e pela recepção de Serguei Lavrov em Brasília, paralelamente à ausência de visitas à Ucrânia, indicam que o Brasil escolheu o lado russo. Ou existe explicação diferente para o desequilíbrio diplomático?

    3) O Tribunal Penal Internacional (TPI), do qual o Brasil participa, emitiu ordem de prisão contra Vladimir Putin, pelo crime de deportação forçada de crianças ucranianas para a Rússia. O Itamaraty não se pronunciou sobre o tema e Amorim visitou Putin pouco depois do gesto do TPI. O governo brasileiro decidiu ignorar o TPI?

    4) Lavrov declarou, em Brasília, que Rússia e Brasil compartilham “posição similar” sobre a “gênese” da guerra na Ucrânia. Lula afirmou, repetidamente, que a raiz da invasão russa é o alargamento da Otan –e, ainda, que os EUA e seus aliados europeus estimulam a continuidade da guerra. Deve-se concluir disso que, de fato, o governo brasileiro concorda com a declaração do chanceler russo?

    5) Segundo Lula, a responsabilidade pela guerra cabe, igualmente, a Putin e Zelenski. O governo brasileiro não distingue o país agressor do país agredido, o invasor do invadido?

    6) A Casa Branca classificou as afirmações de Lula como um alinhamento com a propaganda de guerra russa. Vieira reagiu, negando a interpretação do governo dos EUA –mas não negou a veracidade da declaração de Lavrov sobre a similaridade entre as visões russa e brasileira. Quem cala consente?

    7) Tradicionalmente, Amorim abusa do conceito de soberania, usando-o para evitar qualquer crítica a ditadores amigos que violam os direitos humanos. Contudo, nega solidariedade à nação cuja soberania é destruída por uma guerra de agressão destinada a promover anexações territoriais. Na política externa do governo, soberania é um princípio com validade geral ou mero álibi utilizado para justificar alinhamentos ideológicos?

    8) A Crimeia é território ucraniano internacionalmente reconhecido. A própria Rússia reconheceu as fronteiras ucranianas em tratado firmado em 1994 –pelo qual, aliás, a Ucrânia entregou suas armas nucleares à Rússia. Com que direito Lula sugere a cessão da Crimeia à Rússia como condição para futuras e hipotéticas negociações de paz?

    9) A Carta da ONU suporta o princípio da “autodefesa coletiva”, isto é, o direito de fornecer ajuda bélica a nações que resistem a uma invasão não provocada. Sem auxílio militar ocidental, a Ucrânia já não existiria como Estado independente. A “paz” pela rendição –é isso que deseja o governo ao criticar tal auxílio?

    10) No seu pronunciamento sobre o diálogo com Lavrov, Vieira mencionou as “preocupações securitárias” russas e ucranianas mas não se referiu às anexações territoriais russas ou à soberania ucraniana. Lula pretende realmente ser aceito pela Ucrânia como mediador de negociações de paz ou simplesmente invoca a palavra paz para legitimar as narrativas imperiais russas?

    O jornalismo adulatório faz, no máximo, as indagações fáceis. Haverá, ainda, jornalistas dispostos a confrontar os dois chanceleres com as perguntas difíceis?

  5. Este comentário, no que toca erros primários, caberia, guardada as proporções para Gaspar e o governo de Kleber e Marcelo

    TRANCOS E BARRANCOS, por Dora Kramer, no jornal Folha de S. Paulo

    O governo ainda não fez quatro meses e a coleção de desacertos supera em muito a quantidade (e a qualidade) de acertos. Até a unanimidade em torno da reação aos ataques de 8 de janeiro ficou tisnada pelas imagens do general da estrita confiança do presidente da República em passeio ameno no Palácio invadido.

    Luiz Inácio da Silva tem feito escolhas tão ruins quanto enigmáticas. Não obtém bons resultados e por isso suscitam a dúvida sobre qual a motivação dele ao arrumar briga no campo externo com o Ocidente e, no terreno interno, prestigiar as ilegalidades do MST, levando o líder invasor na viagem à China.

    Isso para tratar dos episódios mais recentes e ruidosos. Nesse embornal cabem a turra com o Banco Central, a oferta de holofote a Sérgio Moro, o castigo aos pobres na suspensão do marco do saneamento e ainda toda sorte de improvisos cujo ápice deu-se na atabalhoada suspensão da isenção de taxas às compras nos sites asiáticos.

    A única escolha com explicação clara é a manutenção de Jair Bolsonaro como antagonista preferencial. Quem não gostaria de ter nessa condição alguém com tal sorte de passivos?

    De resto, a seleção de atritos não tem razão de ser. Guarda semelhança com o que a historiadora Barbara Tuchman celebrizou em sua “Marcha da Insensatez”, relatando ao longo da história decisões de governantes que se voltam contra os próprios.

    Conviria Lula e companhia darem uma conferida no livro. Mas, ao que consta, o presidente não segue nem gosta de conselhos. Além do mais, parece embarcado numa egotrip aguda que acentua sua vocação para dono de verdades embaladas em platitudes que animaram plateias e o trouxeram até aqui.

    Mas o tempo passou, os critérios da sociedade se aprimoraram e não aceita que os trancos aproximem o país à beira de perigosos barrancos.

  6. O PERIGO ESTAVA NO PLANALTO, por Eliane Cantanhêde, no jornal O Globo

    A primeira baixa do governo Lula foi de um general, justamente no Dia do Exército, após uma solenidade com a presença do presidente, que conversou amigavelmente com o ministro da Defesa, José Múcio, e o comandante da Força, general Tomás Paiva. Houve, porém, uma evidente articulação para isolar as Forças Armadas da crise com o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e o general Gonçalves Dias.

    Assim, Múcio foi convenientemente excluído da reunião com o vice Geraldo Alckmin, os ministros do Planalto e da Justiça, mais o diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Passos, em que Lula decidiu demitir o general. A ausência foi combinada. “É um caso particular, o Exército não tem nada a ver com isso”, me disse Múcio, sobre Gonçalves Dias retirando vândalos suavemente do andar do gabinete presidencial, enquanto oficiais do GSI até serviam água a eles.

    O general Tomás ecoou: “Não tenho alcance sobre os envolvidos, que estavam fora do Exército. Mas quem voltar, aí é outra coisa”, me disse. Eles serão investigados pela Justiça e depois, condenados ou absolvidos, poderão sofrer processo disciplinar na Força. “Se não for crime, pode ser transgressão disciplinar”, deixou claro o comandante.

    Demitido “a pedido”, o general Gonçalves Dias, que está na reserva há 11 anos, será ouvido pela PF hoje e repetirá a versão de que foi ao Planalto após a invasão, testou se a porta da sala de Lula estava fechada, no terceiro andar, e conduziu “manifestantes” para o segundo, onde seriam presos. O problema é que a PF e a PM tinham ordens de prender todos eles, mas o GSI mandou não prender ninguém. Só depois de se reunir com outros ministros no Ministério da Justiça, Gonçalves Dias deu a ordem de prisão, por telefone.

    Segundo um auxiliar do presidente, o general ficou próximo de Lula nos dois primeiros mandatos e “é íntegro, correto”, mas há um consenso de que os vídeos são “estarrecedores”, porque flagram os oficiais do GSI ajudando os invasores e também porque Gonçalves Dias, o chefe, cometeu vários erros.

    Enquanto Andrei Passos afastou a cúpula e 21 superintendentes da PF, ele manteve no GSI “os golpistas do general Heleno e do Bolsonaro”. Na véspera do 8/1, não viu, ou desconsiderou, o ofício da própria PF alertando para a gravidade da situação e não reforçou a segurança do Planalto. E, no dia, foi “leniente, até conivente”, com os invasores. Houve traição?

    O bom da história é que, assim como o governo não quer envolver o Exército na crise, o Exército não vai passar a mão na cabeça de ninguém. Cada um que responda pelos seus erros, ou crimes.

  7. BASTA DE SEGREDOS, editorial do jornal O Estado de S. Paulo

    A revelação, pela CNN, de imagens de câmeras de segurança do Palácio do Planalto nas quais aparece o então ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Gonçalves Dias, durante a invasão de bolsonaristas da sede do Executivo no 8 de Janeiro precipitou um turbilhão político. Os trechos divulgados mostram agentes acompanhando Dias no terceiro andar enquanto os invasores circulam sem serem detidos.

    O agora ex-ministro alega que atuou para conduzi-los ao segundo andar, onde, com o reforço da PM, as prisões foram realizadas. É plausível, mas, na prática, o estrago político está feito – afinal, desde aquele fatídico dia, os bolsonaristas se empenham em emplacar a tese de que a invasão e a depredação das sedes dos Três Poderes foram facilitadas e lideradas por “infiltrados” do governo e do PT.

    No meio político, as versões abundam e se chocam. Membros do governo alegam que os agentes do GSI seriam bolsonaristas e estariam apoiando o vandalismo até a chegada de Dias, homem de confiança do presidente Lula da Silva, para impor a ordem. A oposição reavivou teorias conspiratórias e questionou a parcialidade da Justiça na condução dos processos. Tornou-se insustentável a posição do ministro, que se demitiu, e o governo, antes refratário à instalação de uma CPI sobre o 8 de Janeiro, por temer que se transformasse em ribalta para a oposição, passou a apoiá-la.

    Há muitas questões no ar. Se os agentes foram coniventes, por que não foram denunciados pelo ministro? Se o presidente sabia dessa conduta, por que não demitiu todos antes? Por que a Procuradoria-Geral da República não os denunciou e o Supremo Tribunal Federal não os indiciou?

    São indagações cujas respostas são urgentes, sem tergiversações, mas isso só será possível se e quando se levantar o sigilo de todas as imagens daquele dia trágico em Brasília, para que sejam escrutinadas pela sociedade. Sem isso, todas as teorias podem fazer sentido, ainda mais quando vêm acompanhadas de imagens cuja autenticidade se desconhece e que podem ter sofrido toda sorte de manipulações.

    Tudo isso expõe – in nuce, mas de maneira explosiva – um vício de origem, com todas as suas consequências nefastas: a cultura da opacidade entranhada em Brasília.

    Todo poder emana do povo. Os membros dos Três Poderes são mandatários, o povo é seu mandante. E, no entanto, o mandante tem sido mantido no escuro por seus mandatários. Na coisa pública, a transparência é a regra, e o sigilo, a exceção, como está na Constituição.

    Por que, então, três meses após as invasões, as cenas registradas pelas câmeras dos Três Poderes ainda não estão disponíveis para exame da população? Pode haver maior interesse público que a verificação dos fatos ocorridos durante o maior atentado à democracia desde o fim da ditadura? Se há trechos que põem em risco a segurança nacional ou dados constitutivamente sigilosos, que sejam mantidos sob segredo, devidamente justificado. Mas, obviamente, eles são exceção. O resto já deveria estar à disposição dos cidadãos.

    No entanto, não só as gravações, mas todos os inquéritos são mantidos sob sigilo. E não há meses, mas há anos, já que as investigações sobre o 8 de Janeiro foram incorporadas ao inquérito secreto das fake news aberto em 2019.

    Essa situação sombria, além de ser, por princípio, inaceitável, é contraproducente para os próprios Poderes. Governo e Congresso se veem colhidos pela turbulência quando têm pautas importantíssimas a avançar, como o arcabouço fiscal ou a reforma tributária. A Justiça, justamente no momento em que inicia o julgamento dos acusados pelas invasões, é enredada por suspeitas e pressões políticas de todos os lados. Ela está colhendo o que plantou. Mas os frutos são amargos para a população. O sigilo fere justamente o bem que supostamente deveria preservar: a normalidade institucional.

    Para resgatá-la, não é preciso mais que seguir a Constituição: a publicidade é a regra. O Brasil não pode ficar refém das versões fabricadas nos desvãos de Brasília. Transparência já!

    O vespeiro dos ‘jabutis tributários’

    O Estado de S. Paulo

    Renúncias fiscais garantem vantagens a setores beneficiados, mas não se sabe se trazem resultados efetivos para o País nem se esses resultados poderiam ser obtidos a custo mais baixo

    No anúncio do novo arcabouço fiscal, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reconheceu que o governo precisa elevar receitas para reduzir o déficit no Orçamento e retomar o equilíbrio das contas públicas nos próximos anos. Segundo o ministro, atingir esse objetivo não requer aumentar a carga tributária, mas enfrentar as renúncias fiscais. O alvo do ministro são as medidas que reduzem a arrecadação da União em favor de um setor ou contribuinte por meio de subsídios, isenções, anistias, desonerações ou créditos presumidos, e que ele tem chamado de “jabutis tributários”.

    Entre contemplados por essas medidas, há de tudo um pouco. Estão enquadrados na categoria de gastos tributários o Simples Nacional, os incentivos para as fábricas que se instalam na Zona Franca de Manaus, os benefícios concedidos a entidades filantrópicas, a renúncia de tributação de lucros e dividendos distribuídos a pessoas jurídicas, as remissões concedidas por meio do Refis, a desoneração da folha de pagamento para setores específicos e o Rota 2030. Também integram a lista, entre muitos outros exemplos, as deduções de despesas de pessoas físicas com saúde e educação e a isenção dos itens da cesta básica.

    Apesar de todas as restrições e dificuldades orçamentárias, ao menos nesse aspecto o Estado brasileiro tem sido bastante generoso. Ao longo do ano passado, o governo federal abriu mão de R$ 367 bilhões em receitas com os gastos tributários, o equivalente a 4% do Produto Interno Bruto (PIB).

    Quem desfruta dessas condições julga merecer o tratamento diferenciado que conquistou, ao passo que os excluídos costumam considerá-las uma verdadeira regalia.

    O histórico mostra que, uma vez concedida, dificilmente a benesse é revista. Algumas não têm prazo definido para vigorar; outras são sucessivamente renovadas. A perenidade dessas medidas estimula uma prática perniciosa. Os setores costumam pedir benefícios ao governo federal, mas, em caso de insucesso, recorrem ao Legislativo, ambiente em que a defesa do lobby se dá de maneira mais difusa e opaca. Diante do protagonismo que o Congresso conquistou na definição do Orçamento e da própria agenda do País, discutir os gastos tributários tornou-se o mesmo que mexer em um vespeiro. Na teoria, é uma agenda muito fácil de defender. Na prática, é a mais difícil de colocar em prática.

    Um exemplo que ilustra essa situação é a Emenda Constitucional 109/2021. Conhecida por autorizar o pagamento de um auxílio emergencial a vulneráveis no segundo ano da pandemia de covid-19, ela estabelecia, também, uma obrigação ao governo: elaborar um plano de corte de gastos tributários com vistas a reduzi-los de 4% para 2% do PIB ao longo de oito anos. Como muitas outras metas anunciadas pelo ministro Paulo Guedes, esse compromisso ficou no papel, desmoralizando o governo Jair Bolsonaro e a própria Constituição.

    Nada disso, no entanto, deve ser motivo para o governo de Lula da Silva não encampar esse necessário desafio como um plano de remodelação do Estado. Para isso, será preciso aprender com os erros cometidos no passado e não apostar em estratégias que já fracassaram. Nesse sentido, mais do que simplesmente calcular os custos dessas medidas e expor os favorecidos para isolá-los, o governo seguiria um bom caminho se se dedicasse a ir além do mérito de cada setor e levantasse o que essas políticas têm trazido ao País em termos de crescimento do PIB, geração de empregos, redução de preços e benefícios aos que realmente dependem do Estado para sobreviver.

    Passou da hora de o governo fazer uma análise realista sobre o custo-benefício dessas medidas, com base em dados concretos levantados pelo próprio corpo técnico do setor público, que tem plena capacidade para fazer este trabalho. Não há dúvida de que essas políticas proporcionam vantagens aos setores abarcados. A questão é se trazem, também, resultados para o País e a sociedade, e se estes mesmos resultados não poderiam ser atingidos de formas mais transparentes, eficientes e, sobretudo, menos onerosas ao Estado.

  8. UM NOBEL DA PAZ SHOPPE, por Malu Gaspar, no jornal O Globo

    O que a crise provocada pelo plano do governo de taxar as compras das plataformas internacionais de comércio on-line tem a ver com a polêmica diplomática provocada pelas declarações do presidente Lula sobre a guerra na Ucrânia? Aparentemente, nada. Mas, para quem está no dia a dia do Palácio do Planalto, muita coisa.

    Primeiro, o caso dos sites de produtos chineses, que estão faturando tanto ou mais no Brasil do que as grandes varejistas locais. O foco em bugigangas e roupas bem baratas já fez surgir a expressão “da Shopee” para designar aquilo que é popular, mas de qualidade duvidosa.

    A maior parte das vendas desses sites não atinge o valor-limite de US$ 50 para transações de importação sem impostos. A isenção só se aplica a pessoas físicas, mas as empresas burlam a regra e não pagam os tributos.

    Ao propor a extinção do benefício, Fernando Haddad pretendia resolver o problema da sonegação, o dos varejistas e ainda descolar alguns bilhões em arrecadação extra para ajudar a cumprir as metas do arcabouço fiscal. Não funcionou.

    O governo até chegou a defender a medida, mas a reação foi tão forte que Lula mandou parar tudo e cancelar a taxação, preocupado com a perda de popularidade entre consumidores de baixa renda.

    Depois, nos bastidores, começou o jogo de apontar culpados. Aliados de Lula passaram a dizer que a iniciativa não havia sido discutida previamente com a Casa Civil e que houve atropelo na comunicação, uma vez que o fim da isenção foi anunciado pelo secretário da Receita Federal no mesmo dia em que Lula voava justamente para a China, em missão oficial.

    Sob o mais estrito anonimato, porém, alguns auxiliares arriscam outra explicação. Dizem que “o presidente não ouve” — nem o que dizem para ele fazer nem o que falam para não fazer. Parece ter a certeza de que não precisa de ajuda, de que chegou ao terceiro mandato sabendo tudo.

    A mesma reação surge entre diplomatas preocupados com as declarações sobre a guerra da Rússia na Ucrânia.

    “A decisão da guerra foi tomada pelos dois países”, disse Lula, como se o território invadido tivesse culpa pela invasão.

    Na campanha eleitoral, Lula soube usar a ojeriza internacional a Bolsonaro a seu favor, empunhando as bandeiras da reconstrução da nossa democracia e do combate às mudanças do clima e pela preservação da Amazônia.

    De tão bem-sucedida, a estratégia o fez voltar a acalentar o sonho de ganhar o Prêmio Nobel da Paz. Porém, em vez de trabalhar pelo que poderia render algum destaque — quem sabe até o próprio Nobel em reconhecimento pela luta contra a tragédia climática —, Lula encasquetou de se enfronhar na discussão sobre a Ucrânia, com claro viés pró-Rússia.

    Parecendo mesmo acreditar que suas broncas surtirão efeito sobre as decisões de Volodymyr Zelensky e a disposição dos americanos e europeus de apoiar a Ucrânia, Lula não viu problema em receber em Brasília o chanceler russo, Sergei Lavrov, que ainda saiu dizendo que Brasil e Rússia estão alinhados quanto à guerra.

    Só quando a Casa Branca chiou é que a diplomacia brasileira saiu a campo para tentar conter o estrago. O chanceler Mauro Vieira asseverou que a já professada neutralidade do Brasil em relação à guerra não muda, e o assessor especial Celso Amorim disse que “o Brasil não tem que concordar em tudo com os Estados Unidos”.

    Assim como no recuo em relação aos sites chineses, não adiantou grande coisa.

    Num artigo sobre o imbróglio, o colunista Jakob Hanke Vela, da edição europeia do prestigiado site Politico, disse que a guinada de Lula o fez passar de “herói a esquisitão” diante da comunidade internacional. Além disso, teria feito os europeus reconsiderarem o plano de fechar um acordo de livre-comércio com o Mercosul ainda neste ano.

    Citando um documento confidencial da UE, Vela escreveu também que o bloco está “preocupado com a posição brasileira sobre a guerra da Rússia na Ucrânia e com a falta de entregas na questão do clima e do meio ambiente”. E relatou que a atitude brasileira foi compreendida como reflexo da extrema dependência econômica do país em relação à China.

    É apenas uma interpretação, mas dá uma pista do tipo de passivo com que Lula já chega à Espanha na semana que vem para um encontro com o primeiro-ministro Pedro Sánchez. Impossível prever no que vai dar.

    A única certeza é que, nessa postura de não ouvir os alertas do próprio time, o presidente vai desperdiçando o capital que construiu na campanha e perdendo oportunidades que poderiam fazer de seu terceiro mandato um período realmente transformador.

    Do jeito que vai, Lula ainda periga engolir muito desaforo na seara internacional e começar a dar adeus à ideia do Nobel.

    A menos que seja um Nobel da Shopee.

      1. Bom dia.
        25/04/2.023.
        Acabei de receber o comunicado do Facebook dizendo que estou PROIBIDA de fazer comentários por 30 em transmissão ao vivo.
        Será que foi ALGUÉM da Câmara municipal de Gaspar?
        👀💸💸💸💸💸💸💸💸

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