Pesquisar
Close this search box.

BALAIO DE GATOS E OUTROS BICHOS. A SUCESSÃO DE 2024 EM GASPAR COMEÇA A TOMAR RUMOS DESCONHECIDOS E O IMPONDERÁVEL PODE SER O FATOR DE DESEQUILÍBRIO

Está caindo o castelo de cartas marcadas que deu sustentação precária ao primeiro mandato de Kleber Edson Wan Dall, MDB, e que ele pensava que o deixaria quase intocável neste segundo mandato. Diante do longo e inexplicável silêncio da imprensa local e regional, quem é leitor e leitora deste espaço não se surpreendeu com os penúltimos acontecimentos. Sim, porque é difícil prever os últimos e que alimentam este jogo viciado entre os nossos políticos, a sua rede intrincada de protetores no poder de plantão e seus interesses, quase todos nem sempre bem claros para a cidade.

Kleber e seus “çábios” são presas de seus próprios enredos de erros, ganância, arrogância e vingança que distribuíram – e ainda tramam, mesmo diante de tanta exposição – a torto e a direito a quem não se ajoelhou nas suas armações ilimitadas. Saiu de cena o prefeito de fato, Carlos Roberto Pereira, o que cuida do velório do MDB como presidente da Executiva municipal e que armou um suposto ciclo de poder 30 anos como se discursava por aí, e entrou em cena, depois da vitória do segundo mandato de Kleber, o deputado Federal e sua Igreja, Ismael dos Santos, PSD, de Blumenau. 

Se alguém quiser explicar ou entender o que se passa em Gaspar, é preciso antes perceber este “rito de passagem” no poder de plantão. Já é parte da história da cidade. E o que estás acontecendo é a tal lei do retorno. Mais cedo do que muitos previam.

Kleber nunca foi MDB, sempre escrevi e repeti ao longo de mais uma década. O MDB o abraçou porque ele tinha e ainda possui – e não se deve descartar ingenuamente isso – uma máquina de votos. O PP, o mais organizado dos partidos por aqui, nunca teve candidato capaz de disputar uma eleição majoritária, mas como poucos, soube fazer leituras. Apostou em Kleber, negociando generosos espaços na prefeitura e no Samae. Hoje por exemplo, possui quatro secretarias das 12 secretarias.

Ao querer ficar no comando do futuro, Kleber, o novo prefeito de fato, o deputado Ismael, podem ter precipitado a abertura da porta do inferno para eles próprios

Primeiro se lançaram à esperteza. Segundo, provaram que não são capazes de cumprir acordos, quando deixaram o vice-prefeito Marcelo de Souza Brick – que talvez esteja filiado ao PL -, no caminho. Quando eleito com Kleber, Marcelo era PSD de Ismael. Alijado, foi para uma aventura solo no Patriota paras ser deputado estadual e que também não deu em nada. Resumindo. Essa gente que está exposta e reclama, deixou Marcelo duas vezes ao relento: uma quando lhe tirou, na cara dura, a secretaria de Educação jurada para ele indicar o titular e a outra, quando não deu à titularidade da prefeitura que era parte do acordo para Marcelo não ser candidato solo com chances reais contra Kleber, mas seu vice. 

Por isso e por tudo que se está descobrindo, neste intricado jogo de poder, quem tiver a mancha do que se descobre por vídeos-áudios, terá dificuldades para seguir com apoio de Kleber e Ismael, mesmo tendo eles, a máquina da Igreja pouco abalada nestes assuntos. Ali o voto do fiel é caixão.

Neste balaio estão o vereador Francisco Hostins Júnior, MDB, investido de secretário da Saúde; o vereador Cleverson Ferreira dos Santos, PP, investido de secretário da Agricultura e Aquicultura; bem como o próprio vice Marcelo, que estando lá na prefeitura, se não viu nada do que se descobre por aí, foi então incompetente e não serve para se confiar nele como futuro prefeito. E se sabia, foi cúmplice e conivente. E o outro fato que pega é silêncio dele diante de tanta traição.

Sobra o PT, possivelmente com o vereador Dionísio Luiz Bertoldi. Não é preciso me alongar que o partido, bem como o desastre chamado Luiz Inácio Lula da Silva que ainda não desceu do palanque, serão os que matarão a candidatura dele num ambiente de conservadores. Tem ainda o vereador e presidente da Câmara, Ciro André Quintino, MDB, o campeão de diárias. Ele está tentando se desgarrar desta craca toda. Fez até um discurso para isso. Além de tardio e oportunista, o difícil é este discurso colar. Tenta explicar o inexplicável. Tendo a oportunidade de se manifestar, Ciro preferiu o silêncio quando os mesmo que querem a CPI agora, rejeitaram o requerimento de Dionísio para trazer o ex-secretário e faz tudo de Kleber, Jorge Prucino Pereira, PSDB, para dar esclarecimentos em ambiente restrito.

Corre por fora e declaradamente o engenheiro Rodrigo Boeing Altoff, PL. Ele também é, em parte, culpado do que se vai sendo levado a público, exatamente porque, tendo a autoridade dos votos que recebeu em outubro de 2020, negou-se a exercer o papel de fiscal e liderar a oposição construtiva. E para complicar, Rodrigo está numa guerra particular com o deputado Ivan Naatz, PL, de Blumenau, que quer por que quer, mais uma vez, atravessar o samba por aqui, quando em Blumenau o PL também se divide.

A novidade da semana foi o surgimento de um outsider, feita com muita antecipação e aí é que mora o perigo, da candidatura do empresário Oberdan Barni, um conservador, com laços no bolsonarismo. Ele pretende construir a sua base no Republicanos. E dependendo do comportamento dele, pode atrair jovens, empresários, gente cansada com o cabresto do MDB, PP, PSD entre outros, bem como o jogo de interesses que permeia o PL por aqui. Ah, e gente bem cansada dessas histórias mal contadas, que a cidade inteira reproduz nas conversas privadas.

Como se vê, o estrago dos três vídeos-áudios foi e será grande. E se vier mais, o caldo vai tomar outros gostos e ingredientes. Como se viu, o inesperado tornou o futuro quase certo das próximas eleições por aqui, em algo desconhecido, perigoso e incerto. Acorda, Gaspar!

TRAPICHE

A cidade, os cidadãos, as cidadãs, parte da imprensa – que ainda não se libertou das amarras que a liga às migalhas enquanto milhões passam sob seus olhos para os que lhes amendrontam – e os que armam a CPI malandra na Câmara de vereadores de Gaspar, foram almoçar na sexta-feira estupefatos com o meu artigo. Ele mostrou a razão disso tudo. Alguns aplaudiram. No privado, muitos políticos me amaldiçoaram. Fazem isto há anos. E não ainda entenderam que quanto mais apanho, mais expostos ficam.

Quem não veio a público ainda explicar que nada tem a ver com o que já se conhece por aqui e nos tais vídeos-áudios, é o prefeito de Blumenau, Mário Hildrebandt, Podemos. Mas, a citação de que empreiteiras daqui teriam se livrado de problemas por lá com a interferência de políticos daqui, teve também a magia de levar o Ministério Público Estadual a se mexer e ao menos, tentar encontrar o fio da meada. E vai encontrar, mas o que enrola os daqui.

Amanhã, bem a propósito da Semana Santa onde para os cristãos está a Via Dolorosa, o presidente da Câmara, Ciro André Quintino, MDB, promete “colocar em votação” o pedido de admissibilidade da tal CPI. Espetáculo!

Em havendo apenas cinco assinaturas no tal pedido, se fundamentado naquilo que preconiza a Lei Orgânica, esta CPI já seria instalada automaticamente, até porque não há nenhuma outra CPI em curso. É o que diz a legislação. Há onze assinaturas da Bancada do Amém, ou seja, mais que o dobro do mínimo exigido. Então para que votar. Hoje à tarde, começa a discussão técnica daquilo que está claro.

Por outro lado o espetáculo do oportunismo também já começou, Ciro André Quintino, MDB, presidente da Câmara, tenta se descolar da craca que está na praça. Soltou dois memes nesta segunda-feira. Um bem cabuloso. Perguntou e respondeu. “Como podemos mudar Gaspar? Devolvendo o dinheiro dos cofres que foram roubados!!!”. Então quer dizer que o presidente da Câmara, da Bancada do Amém do prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, está antecipadamente insinuando de que há gato nesta tuba? É isso? E se há, para que mesmo uma CPI? E armada para abafar tudo? Meu Deus. Essa gente se enrola no próprio anzol.

Esta Comissão Parlamentar de Inquérito, como já expliquei, é para dar um salvo conduto a Kleber e os seus no poder de plantão, principalmente o irmão de templo e o faz tudo, Jorge Luiz Prucino Pereira, PSDB, além de encontrar outro cristo para se crucificar. Nem mais, nem menos. E se Dionísio Luiz Bertoldi, PT, ou Alexsandro Burnier, PL, os que não assinaram porque foram passados para trás, não forem bem orientados, serão eles, da vejam só, da suposta manca oposição, que darão o atestado que a Bancada do Amém prometeu ao prefeito Kleber, secretários e empreiteiras de estimação envolvidas.

Se não inventarem moda, se não fizerem nada de diferente do que se fez na CPI em que o governo Kleber desmontou para enterrar o relatório do ex-vereador Cícero Giovane Amaro, sobre as irregularidades de contratação e execução da drenagem da Rua Frei Solano, no Gasparinho, pelo Samae, tocada à época pelo mais longevo dos vereadores, José Hilário Melato, PP, e se não houver manobras para a montagem de blocos partidários, esta CPI terá quatro membros.

Um será indicado pelo MDB por ter quatro vereadores; outro pelo PP com três vereadores e os demais partidos PSDB, PL, PSD, PDT e PT” disputam” as demais vagas.

Como o autor do pedido de instalação da CPI, o vereador Roberto Procópio de Souza, PDT, já se ensaia para ser o relator. Ou seja, a conta já estaria fechada a favor do governo com três votos. E aí para humilhar, só faltaria o Dionísio ou o Alexsandro se meterem entre estes três, e para coroar, os governistas da Bancada do Amém escolherem o Dionísio, ou o Alexandro, como presidente da CPI. O escolhido será um fantoche e vai fazer o que eles querem.

Nem voto terá, porque não há mínima chance de empate nesta CPI. E se isto acontecer, um dos dois – Dionísio ou Alexsandro -, terá assinado à inocência dos que hoje estão no pelourinho.

Espetáculo completo. Um outro meme de Ciro André Quintino, MDB, nesta segunda que pululou nas redes sociais perguntava e afirmava: “Como podemos mudar Gaspar?” E ao final, como enquete, perguntava se o povo de Gaspar votaria nele. Até antes da publicação deste artigo, 67% responderam que não. Quem mesmo é o marqueteiro dele para deixá-lo tão exposto e muito antes de tudo ser esclarecido?

A verdade, é que quando o requerimento do Dionísio Luiz Bertoldi, PT, foi derrubado há três semanas pela Bancada do Amém (dez votos a dois), para que o secretário fosse esclarecer o primeiro vídeo-áudio e que quase nada tinha de tão especial, faltou o voto de Ciro. Ele não precisou votar, mas não também – e podia já prevendo que daria no que deu – se posicionou em nada sobre o assunto. Só apareceu bem depois e quando as labaredas chegaram bem perto dele.

Estadualizou. E este assunto – antes que outros áudios ainda apareçam – vai ficar fora de controle do tal corpo fechado nas instituições de fiscalização e investigação e que os no poder em Gaspar tanto arrotam por aí. O blog estadualizado “SC em Pauta”, editado por Marcelo Lula, trouxe tudo os que meus leitores e leitoras já sabiam por primeiro. O secretário Jorge Luiz Prucino Pereira, PSDB, procurado, não deu respostas. Já o prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, mostrou-se surpreendido. Ele não está acostumado com imprensa que não faz perguntas. E a que faz, persegue, pune.

O prefeito deixou, por duas vezes, a mesma pergunta em aberto naquilo que diz serem vídeos-áudios montados e supostamente com conversas tiradas de contextos. Kleber não levou ainda este material ao Ministério Público e à Polícia para que se apure à veracidade e á origem desse material contra ele, sua imagem e seu governo. Estranho. Alega que é preciso contratar uma perícia. Mais estranho ainda. Uma perícia a esta altura do campeonato custa muito menos do que o desgaste que ele está tendo e naquilo que pode levá-lo a ser culpado e até, à interdição na função. Ao fim, Kleber admitiu que não tem controle sobre as suas 12 secretarias. Ai, ai, ai…

Outra. Não tenho procuração e não estou antecipando nenhuma defesa. Mas, se não se cuidar, a Pacopedra vai pagar o pato sozinha, em obra quase particular, pois a maior parte da Rua José Rafael Schmitt, a que adentra ao bairro Santa Terezinha, não tem nada a ver com a prefeitura, mas com loteadores naquilo que prometeram dar de contrapartida ao município. A única parte onde a obra é pública, é aquela de poucos metros liga a Barão do Rio Branco até a segunda parte da Avenida das Comunidades, passando por detrás do supermercado Top.

É aquele trecho, ainda aqui no Centro, que está desbarrancando para dentro do ribeirão Gaspar Mirim e interdita parte da ponte da Barão, por falta de manutenção da prefeitura. A Pacopedra livrará a cara de outras empreiteiras de Blumenau que apareceram por aqui para fazer mal feito, repetidamente, com custos nas alturas, na cara de todos, ou sempre estiveram no centro das dúvidas para os mesmos tipos de serviços, como se não houvesse concorrência.

O enterro da vaca, ou dos políticos espertos. Uma vaca atolou no brejo numa propriedade rural no Óleo Grande. Os vizinhos desatolaram. Ficou doentinha. Morreu. Alô Cidasc! A proprietária, pediu ajuda ao secretário de Agricultura e Aquicultura, o vereador Cleverson Ferreira dos Santos, PP, para o buraco e o enterro. Ele disse para colona se virar. E daí um monte de versões. Gaspar é assim!

Chororô. O secretário vereador, o mesmo que postou na semana passada se exibindo com equipamentos novos, disse de viva voz que a máquina para a cova e içamento da bichinha estava estragada há um mês. E o assunto, primeiro foi dar na “rádia”, o que por si só mostra que alguma coisa está fugindo do rígido controle estatal. Depois correu por tudo. Bafafá. Desgastes. Ameaças. Mas, a secretaria de Obras e Serviços Urbanos tinha uma máquina terceirizada funcionando a poucos metros da vaca morta. Sem alternativa, diante de tantos escândalos correndo à solta pela cidade, da repercussão deste fato, os políticos trataram de fazer enterro da vaca para não serem eles enterrados prematuramente vivos.

A administração de Kleber Edson Wan Dall, MDB, está mesmo ladeira abaixo. No Dia Primeiro de Abril, conhecido entre nós como o Dia da Mentira – eu prefiro, o Dia do Mentiroso – as redes sociais se entupiram com a falta de entrega de obras prometidas, ou a notória falta à qualidade mínima dos serviços públicos em Gaspar. A verdade se esconde por algum tempo, mas não o tempo todo. A chaleira se destampou. E está difícil de controlar o bafo quente dela.

A culpa é do prefeito? É! Mas, também dos que puxam o saco e não são capazes que orientá-los, dos “çábios” que ele os têm em boa conta e principalmente da errática, por anos afio, da sua equipe de marketing, tantas vezes apontada aqui como problema. Ela é um atraso. O resultado está aí. É o cachorro correndo atrás do rabo. E como estamos na Semana Santa, é pau batendo em judas. Resta saber, quem é o traidor dessa história toda. Vamos orar, irmãos!

Corrida contra o tempo. Depois de enrolar, o prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, e quatro dias marchando em Brasília, admitiu que as obras de reurbanização e pavimentação da Rua Prefeito Leopoldo Schramm, no Gaspar Grande, pararam por falta de pagamento da parte comprometida pelo governo do estado. A empreiteira correu. Ou seja, Kleber tirou a sua culpa e colocou em Jorginho Mello, PL. E o governador está implicando com tudo relacionado ao Plano 1.000 aprovado no tempo do ex-governador Carlos Moisés da Silva, Republicanos.

Se a moda pega. O jornal “O Município” de Brusque fez esta manchete de algo bem longe daqui. Ex-prefeito e família terão que devolver mais de R$4 milhões por enriquecimento desproporcional. A análise se baseou nas declarações de bens e investimentos, de Euzebio Calisto Vieceli, de Pinheiro Preto, no Vale do Rio do Peixe. Além dele, estão no rolo, a companheira e os dois filhos.

Discriminação transversal. Enquanto o governo de Kleber Wan Dall, MDB, se exibe por aí com atividades e proteção para os idosos, um vídeo-áudio, revelou o que verdadeiramente ele pensa sobre isso. O secretário tratou um empresário idoso, mas ativo naquilo que exerce na sua empresa, como um matusalém, com quase 600 anos de idade, como se tanto tempo de experiência fosse um demérito, principalmente, quando não atende plenamente à ganância particular ou corporativa dos políticos esfomeados.

Por derradeiro, perguntar não ofende: quem mesmo acompanhou o ex-secretário Jorge Luiz Prucino Pereira, PSDB, a Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, nas férias do início do ano? E por quê? Acorda, Gaspar!

Esta imagem é da última CPI feita na Câmara de Gaspar. O governo Kleber a enterrou com dois votos dos seus vereadores – Francisco Hostins Júnior, MDB, e Roberto Procópio de Souza, PDT -, o relatório que apontava irregularidades na drenagem da Rua Frei Solano

Compartilhe esse post:

Facebook
Twitter
WhatsApp
Telegram
LinkedIn
Email

5 comentários em “BALAIO DE GATOS E OUTROS BICHOS. A SUCESSÃO DE 2024 EM GASPAR COMEÇA A TOMAR RUMOS DESCONHECIDOS E O IMPONDERÁVEL PODE SER O FATOR DE DESEQUILÍBRIO”

  1. ERROS QUE FICAM CARO AO PAÍS, por Míriam Leitão, no jornal O Globo

    Alguns erros do governo Lula podem ficar caros para o país. Há muito em risco nesse momento em que a extrema direita ficou tão forte e tão extrema. Inimigos da democracia estão muito mais armados e podem voltar a se fortalecer. Tudo o que não pode acontecer é o governo dar motivos para a confirmação de temores de leniência com a corrupção. Três partidos da base do governo entraram no STF para livrar empresas, que confessaram corrupção, do pagamento das multas ao Estado. O movimento traz ainda uma contradição insanável. A esquerda querendo proteger grandes empresas contra os cofres públicos

    Os acordos de leniência foram fechados por grupos que admitiram diante do Ministério Público, em ações diferentes, ocorridas em vários estados, que corromperam agentes públicos e tiveram vantagem nisso. Só há uma vítima aí, o Estado brasileiro. Foram condenadas a pagar multas bilionárias nos acordos de leniência. Estão nesse caso J&F (holding da JBS), Odebrecht, Camargo Corrêa, OAS, UTC. Só a J&F fechou acordo para pagar R$ 10,3 bilhões. Não há razão alguma para que PSOL, PC do B e Solidariedade tentem socorrê-las.

    As empreiteiras confessaram que formaram cartéis para fraudar licitações na Petrobras. A ação foi, em Curitiba, mas com o apoio do MPF de outros estados e com a CGU. No caso da JBS foi em Brasília, no Grupo de Trabalho Greenfield, já extinto. As primeiras parcelas eram menores, depois aumentariam, mas isso durante 25 anos, até 2042. Os beneficiários desse pagamento são União, BNDES, Caixa, Funcef e a Petros. Além disso, ela poderia pagar R$ 2,3 bilhões em projetos sociais, mas a única coisa que a empresa fez foi um acordo com a Fiocruz na pandemia para uma pequena parcela. Até agora, pagou pouco mais de R$ 500 milhões. A parcela anual agora é de R$ 350 milhões, uma fração mínima do faturamento anual. Nada que quebrasse a empresa. Segundo uma reportagem da “Folha”, o subprocurador da República Ronaldo Albo aceitou as alegações da empresa para dar um abatimento na dívida, passando por cima do procurador natural do caso, Carlos Henrique Martins de Lima.

    Isso se soma a outras iniciativas para negar tudo o que houve nas operações contra a corrupção no Brasil nos últimos anos. Os erros da Lava Jato foram reconhecidos pelo STF nas decisões que tomou nos processos do presidente Lula. Mas isso não abona todos os investigados, nem apaga as evidências. Retornaram para a Petrobras R$ 6 bilhões. Ex-diretores afirmaram ter contas no exterior onde haviam sido depositados valores muito acima de suas posses, e de onde saiu dinheiro de volta para a Petrobras. Para proteger as estatais de riscos como esse é que foi aprovada a Lei das Estatais, no governo Temer, e foi criada a diretoria de governança da Petrobras, ainda no governo Dilma. Informações de que essa diretoria poderia ser rebaixada a um nível menor na hierarquia foram desmentidas ontem pela Petrobras. Ainda bem. Que essa ideia não volte a ser considerada na empresa.

    O governo precisa olhar para outros lados, nos quais é fundamental para o país que essa administração acerte. Veja-se, por exemplo, a manchete de ontem de O GLOBO. O jornal trouxe uma grave revelação do repórter Rafael Soares. Armas novas, compradas por supostos colecionadores, vão parar na mão do crime. A reportagem rastreou algumas dessas armas. Num dos casos relatados, uma pistola TS9, calibre 9mm, foi produzida em abril de 2020 na Taurus. Três meses depois, foi comprada por Anderson Guilherme de Jesus Souza, um “atirador esportivo” novato. Em setembro, Souza conseguiu o registro no Exército. Iria supostamente usar as armas em competições. Em fevereiro de 2023, foi preso com sua pistola, junto a um bando de milicianos que mantinha três mulheres reféns com o objetivo de tomar o imóvel delas em Campo Grande. Um milhão de armas estão por aí, a maioria nas mãos de criminosos. Desmontar essa farsa dos clubes de tiro, que fornece armamento ao crime e apoia a extrema direita, é uma das inúmeras tarefas que este governo terá que enfrentar.

    O projeto de limpar o país dos crimes praticados pelo governo Bolsonaro é fundamental para a democracia. A tentativa de impor uma versão falsa de tudo o que houve no combate à corrupção e proteger empresas que praticaram crimes vai minar a confiança nesse governo.

  2. Para ler e reler a lição, que o governo Lula, o PT e a esquerda do atrasam ignoram, fazem discursos fáceis para analfabetos, ignorantes e desinformados, mas que no fundo serão eles os que pagarão a pesada conta do futuro se tudo continuar como está. E o jornal Folha de S. Paulo não é exatamente de direita, nem conservador, apesar de alguns traços liberais.

    ARGENTINA SEM FREIOS, editorial do jornal Folha de S. Paulo

    Nas primeiras décadas do século passado, a Argentina figurava entre os países mais ricos e promissores do mundo, exibindo uma renda per capita superior às de França, Alemanha e Itália. Para emigrantes europeus da época, era decisão difícil optar entre a nação da América do Sul e os Estados Unidos.

    Até os anos 1940, os argentinos ainda mantinham o país relativamente rico e formado por famílias de classe média. Com solo fértil, as exportações de grãos e carnes puxavam a economia, que passava por processo de industrialização.

    A segunda metade do século 20, entretanto, marca o início de uma longa decadência, pontilhada por crises agudas que mantiveram a renda per capita do país estagnada nos últimos 40 anos.

    Esse declínio culmina agora na formação de nova tormenta, em ano de eleição presidencial. A alta dos preços, superior a 100% em 12 meses, ameaça descambar para um cenário de hiperinflação e agravamento das condições sociais.

    Dados oficiais colocam 43,1% dos argentinos (19,8 milhões) abaixo da linha de pobreza. No mercado de trabalho, 70% das novas vagas são informais, e mais de 40% das formais pagam salários insuficientes para a compra de uma cesta básica completa.

    Na base da crise argentina está o fato de, em mais de um século, o país ter encerrado apenas dez anos com as contas públicas no azul. E, com a recorrência de governos populistas, ter fechado sua economia e multiplicado benefícios à população e às empresas sem a devida responsabilidade fiscal.

    Atualmente, subsídios estatais em energia e transportes consomem quase o dobro das despesas em saúde; o funcionalismo estatal inchou de 2,7 milhões para 3,4 milhões em dez anos; e 55% das aposentadorias foram concedidas sem a contribuição dos beneficiados.

    Para financiar gastos, a Argentina passou simplesmente a emitir pesos em quantidades bilionárias, ao mesmo tempo em que sufoca o setor produtivo com mais impostos, sobretudo o agronegócio gerador de dólares, moeda em absoluta escassez no país.

    Sem solução no horizonte, o drama argentino explicita como a falta de regras para o funcionamento da economia pode desorganizar um país que já foi rico e próspero —e tornar extremamente difícil a volta à normalidade.

    Para o Brasil, o vizinho serve de exemplo prático sobre como metas para a inflação, um Banco Central autônomo, a Lei de Responsabilidade Fiscal, reformas como a da Previdência e, agora, a busca por um novo arcabouço fiscal foram e são fundamentais para evitar que governos de turno arruínem progressivamente, e sem freios, as condições de vida de uma sociedade.

  3. INDEFINIÇÃO DA PETROBRÁS SOBRE PREÇOS AUMENTA RISCO DE DESABASTECIMENTO, editorial do jornal O Globo

    Na campanha eleitoral e depois de empossado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu o compromisso de “abrasileirar os preços dos combustíveis”. Não explicou bem o que isso significa. Aparentemente, além do previsível jogo de cena para a plateia, ele pretende que o novo presidente da Petrobras — o ex-senador Jean Paul Prates — deixe de seguir a cotação internacional do petróleo na formação dos preços da gasolina e do diesel, como dita o princípio do Preço de Paridade de Importação (PPI), seguido pela estatal desde 2016.

    Prates chama o PPI de “dogma” e costuma tentar se desvencilhar de perguntas diretas sobre o assunto com respostas enigmáticas. “Estamos flutuando de acordo com a referência internacional e com o mercado brasileiro”, afirmou certa vez sobre a política de preços sem dar mais explicações. Noutra oportunidade foi mais claro ao afirmar que o preço internacional é o melhor para a empresa, mas que “isso não quer dizer que se tenha de andar em cima da linha do preço do importador” — o Brasil importa quase 30% do diesel e 15% da gasolina que consome. “Para cliente que paga bem, você dá desconto. É uma política de empresa”, repete Prates como se justificasse a redução de preços na bomba.

    Entre outros motivos, o PPI vem sendo deixado de lado porque foi criado para garantir a quem comprasse refinarias da Petrobras que o preço interno dos derivados de petróleo estaria em linha com os praticados no exterior. Era uma forma de dar segurança aos investidores. A estatal precisava vender ativos para abater dívidas de US$ 100 bilhões. Das grandes refinarias, apenas uma foi vendida: a Landulpho Alves, na Bahia, ao Mubadala Capital, fundo soberano de Abu Dhabi. No poder, Lula congelou as privatizações, necessárias para dinamizar o mercado e aumentar a competição que reduziria o preço nas bombas.

    Prates dá sinais de que quer definir os preços na avaliação dos mercados no dia a dia. Como? É algo viável numa empresa do porte da Petrobras? Não se sabe. O certo é o risco de desabastecimento, já que boa parte dos combustíveis é comprada no exterior por distribuidoras privadas. Se o preço nas bombas não lhes garantir a margem de lucro esperada, elas pararão de importar, e caberá à Petrobras trazer o derivado de fora. O risco de desabastecimento é ruim para a Petrobras, para o país e para a imagem de Lula.

    Ninguém sabe o que a Petrobras porá no lugar do PPI, nem como formará os preços nas refinarias. O assunto deveria preocupar contribuintes, consumidores de combustíveis, acionistas brasileiros e estrangeiros. Sem uma política de preços explícita, sempre haverá a suspeita de que quem manda na gestão é o Planalto.

  4. MAL ESTAR ECONÔMICO, editorial do jornal Folha de S. Paulo

    Não é confortável a situação da economia percebida pelos brasileiros. A tendência de melhora das avaliações no ano passado deu lugar a uma constatação mais forte de estagnação nos últimos meses. Mais grave, há clara deterioração das expectativas para a evolução do emprego, dos salários e da inflação.

    Em linhas gerais, essa é a percepção captada pela pesquisa mais recente do Datafolha, que colhe os primeiros impactos do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

    Somente 23% acham que a situação do país progrediu nos últimos meses, ante 34% no final de outubro, às vésperas do segundo turno da eleição presidencial. Os que acreditam em piora também caíram, de 42% para 35%, mas o movimento mais notável se deu entre aqueles que não veem mudança, que saltaram de 23% para 41%.

    Quanto ao futuro, o aumento do pessimismo é inequívoco. Em outubro, apenas 13% dos brasileiros aptos a votar consideravam que a economia do país iria piorar. O percentual subiu a 20% em dezembro e atingiu 26% agora. Já os que esperam melhora caíram de 62% para 49% em dezembro e 46% em março.

    Em aspectos mais específicos, desde dezembro ampliou-se a parcela dos entrevistados que preveem mais inflação (de 39% para 54%), mais desemprego (de 36% para 44%) e perda do poder de compra dos salários (21% para 31%).

    Tais projeções têm amparo na realidade. Depois de uma expansão surpreendente no primeiro semestre do ano passado, a atividade econômica se encontra em desaceleração, o que já afeta o mercado de trabalho. Já a alta de preços tem se mostrado resistente.

    Ao mesmo tempo, Lula tem feito má gestão das expectativas desde a vitória nas urnas, com ataques ao Banco Central, críticas às metas de inflação e declarações contra a austeridade orçamentária.

    O Datafolha ajuda a entender a insistência do mandatário na ofensiva contra os juros —que tem o apoio de esmagadores 80%, enquanto 71% consideram que as taxas estão acima do adequado.

    É compreensível o anseio geral por juros mais baixos. Entretanto as pressões públicas de Lula sobre o BC, somadas às intenções gastadoras do governo, acabam por dificultar a queda da inflação esperada e, assim, da taxa Selic.

    A administração petista não contará com nenhuma bonança imediata na economia. Diante de um quadro político também pouco amigável, é natural que a popularidade do atual presidente se compare aos níveis modestos obtidos por Jair Bolsonaro (PL) no mesmo período de mandato.

    Cumpre tomar agora as decisões difíceis que poderão permitir uma melhora mais duradoura do cenário nos próximos anos.

  5. ESCULPINDO O INIMIGO, por Demétrio Magnoli, no jornal O Globo

    ‘Arrogância do BC de Guedes e Bolsonaro não tem limites: querem desacelerar ainda mais a economia e manter juros na estratosfera. O Brasil que se dane, segundo o Copom.’ O tuíte de Gleisi Hoffmann, síntese da campanha do governo e do PT contra o Banco Central, não resiste ao gráfico da evolução histórica da Selic.

    Bolsonaro queria incinerar os livros de epidemiologia. Lula declarou, há pouco, que “os livros de economia estão superados”. A crença rondava a mente de Dilma Rousseff quando ela se sentou na cadeira presidencial. A “nova matriz macroeconômica” pilotada por Guido Mantega e pelo obediente BC de Alexandre Tombini baseava-se na ideia primitiva de que o crescimento flui da explosão do gasto e do crédito públicos, sob política monetária expansiva.

    O experimento monetário heterodoxo começou em julho de 2011. Dali a outubro de 2012, numa conjuntura de economia aquecida, a Selic desabou de 12,5% para 7,25%. Deu ruim. A inflação crepitou, e o BC foi obrigado a engatar marcha a ré, alçando os juros até a estratosfera de 14,25% em julho de 2015. Contudo ninguém no PT acusou a presidente de conluio com a maligna Faria Lima.

    Feito o impeachment, Temer colocou no BC Ilan Goldfajn, descrito no discurso petista como o próprio Belzebu: um “neoliberal” a serviço dos banqueiros. Sob o satânico Goldfajn, porém, a Selic sofreu contínua redução, até pousar em 6,5%, em março de 2018. Era a resposta indicada nos tais livros de economia à profunda recessão gerada pelo negacionismo econômico petista.

    Bolsonaro indicou Roberto Campos Neto para o BC e, ainda em 2019, o Congresso aprovou a lei de autonomia da autoridade monetária. O Belzebu II seguiu reduzindo a Selic, até 4,25%, em fevereiro de 2020, e mais ainda, sob a contração econômica provocada pela pandemia, a 2% em agosto daquele ano. Não consta que o PT tenha saudado Campos Neto como um ousado combatente na guerra santa contra os celerados banqueiros. Nem haveria motivo: como seu antecessor, ele apenas adotava o protocolo consagrado de política monetária.

    Juros caem, juros sobem. O mesmo Belzebu II elevou a Selic ao patamar atual de 13,75%, atingido em agosto de 2022. Não prestava serviço aos demoníacos rentistas, mas reagia à folia fiscal de Guedes, que desmoralizava o teto de gastos para auxiliar a campanha de reeleição de seu mestre. Naqueles dois anos de altas sucessivas dos juros, não se ouviu do PT nenhuma indignada condenação do BC.

    — A taxa de juros não tem explicação para nenhum ser humano no Planeta Terra — decretou Lula, sem ler as atas do Copom e excluindo da humanidade nossos mais destacados economistas.

    Há figuras notáveis que concordam. Um é o Nobel Joseph Stiglitz, que preferiu pontificar no BNDES a voltar à Argentina esmagada pela obra inflacionária de seu discípulo Martín Guzmán, a quem expressou apoio integral no início do governo de Alberto Fernández. Outro é André Lara Resende, em sua encarnação heterodoxa, convertido em arauto da curiosa tese de que a dívida pública em moeda nacional pode crescer à vontade, sem impactos negativos.

    Existe um debate legítimo a travar sobre juros, aqui e lá fora, num ciclo internacional marcado por choques estruturais como a pandemia, a desglobalização e a guerra na Ucrânia. A renitente inflação brasileira tem componentes diversos, e sempre é possível errar na calibragem dos juros. São temas complexos, mesmo para especialistas.

    O gráfico histórico da Selic não prova que o Copom tem razão — ou que não tem. O que ele faz é desmascarar a natureza farsesca da campanha contra o BC.

    O bombardeio do governo e do PT tem efeito contraproducente. Diante da pressão, o BC é impelido a atestar sua autonomia, a fim de conservar a credibilidade da política monetária, e isso contribui para retardar a queda da Selic. Lula e os seus sabem disso — mas não buscam, de fato, a queda dos juros. Engajam-se na operação populista de esculpir um inimigo conveniente: o “traidor da pátria” destinado a servir como álibi e foco de mobilização da base fiel.

    — O Brasil não merece isso — tuitou Gleisi, exprimindo uma verdade involuntária.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Não é permitido essa ação.