A prefeitura de Gaspar abriu parte dos seus postinhos de Saúde no sábado passado. Foi uma operação atabalhoada porque buscou resultados eleitoreiros, maquiada de saúde, sem à necessária antecipada comunicação comunitária. Ela beirou ao fracasso. E podem juntar os números para impressionar e reverter esta má impressão como por exemplo o genérico anúncio de quase mil atendimentos em oitos postinhos durante todo o dia, sendo 800 desses atendimentos, foram para fazer “testes rápidos” do tipo de glicose, aferir a pressão, medir a temperatura, pesar. Tudo isso, que bem poderia fazer na praça sem a estrutura dos postinhos… E os números magros? Quarenta consultas médicas, 100 consultas odontológicas e outras 100 consultas com coletas para preventivos.
A iniciativa da secretaria da Saúde, tocada pelo vereador e advogado, Francisco Hostins Júnior, MDB, por outro lado é boa, dá sinais contraditórios aos velhos discursos, mas se perde por não ser parte de um programa organizado de governo da saúde da mulher, para não fugir do caso em tela. E por quê? Era apenas um evento politicou, promocional, ou simbólico, para ser parte do Dia Internacional da Mulher. Ao menos se diz agora que no dia sábado dia 25 – dia 18 é feriado por causa da Emancipação do município – vai se repetir, fato que por si só, mostra também que há espaço e a prefeitura perde tempo e resultados contra a cidade, o cidadão e a cidadã consciente ou doente. A foto acima mostra que sobrou técnicos e faltou público, a razão do evento e que deveria ser o foco das lentes e das divulgações exatamente por ser uma ação de governo.
Mas, os postinhos de Gaspar já abriram em alguns outros sábados. Sim, em igual promoção no ano passado e para campanhas de vacinação, principalmente de crianças quando isso ainda era uma preocupação de governo e de pais responsáveis. Já na Covid-19, tudo se centralizou e excepcionalmente se atendeu em sábados e feriados no Ginásio João dos Santos, ou na Arena Multiuso.
E o comentário poderia parar por aí, e por aqui.
Há duas semanas, a prefeitura, também num gesto político – não tinha feito isto antes no atual governo -, resolveu fechar na segunda-feira de Carnaval estes mesmos postinhos que abriu ontem. Fez feriadão para os seus servidores e serviços contra a cidade, os cidadãos e cidadãs trabalhadores. Até mereceu até um pito público da Associação Empresarial, a Acig, até porque as creches e escolas também fecharam. Ou seja, pegou muito mal. É que a prefeitura de Gaspar e seus “çábios” que já estão pensando em outubro de do ano que vem. Quem ela agradou? A máquina de funcionários, comissionados, temporários e estagiários que alimenta para serem cabos eleitorais de seus políticos para continuarem no poder de plantão. Entenderam?.
Esclarecido, então vamos adiante. Afinal a gestão do bem público aqui dá lugar à politicagem.
Ora, se abrem parte dos postinhos para a promoção política, é sinal de que os nossos postos de saúde nos nossos principais bairros da cidade só não podem abrir aos sábados ou finais de semana inteiros, como podem estender o seu horário para além das 16h30min ou 17h, principalmente em áreas como o Santa Terezinha e Bela Vistas, além do Centro. É só estruturar as equipes. Isto, já aconteceu – quase como um fato inédito na nossa cidade – com o posto do Centro, nas férias da prefeitura deste final e inicio de ano. Ficou aberto até as 20h. Deveria ser até as 22h.
Ah, mas não há demanda, informa-me, rotineiramente, gente ligada à secretaria ou fontes políticas ligadas ao governo de Kleber, a quais me pedem o anonimato. ao mesmo tempo emenda uma série de dificuldades, entre elas “eu é que não vou trabalhar aos sábados, ou de noite”. É só experimentar, criar hábitos, haver ofertas de profissionais e serviços, que a demanda latente preenche os espaços. Foi o que aconteceu com o posto do Centro: da experiência das férias deste anos, ele continuou aberto até as 20h. Ao menos ficou depois das férias, neste fevereiro e até agora em março. E não está ocioso. Ao contrário.
Entre as dificuldades sempre alegadas, estariam à falta de pessoal ou à necessidade de contratação de mais profissionais especializados, entre eles médicos. Sim, porque não adianta abrir o postinho, sem ao menos um médico clínico geral plantonista para a costumeira olhada, diagnóstico e receita. Se por um lado há gente na secretaria de Saúde que diz que não trabalharia aos sábados ou há noite, há trabalhadores comuns, mal remunerados, ou até sem empregos, os que pagam os pesados impostos, que só podem acessar ou é mais cômodo, ir a um posto de saúde aos sábados ou depois das 16h30min ou 17h, no intervalo do almoço – sim porque aqui ainda muitos deles fecham para o almoço.
Não devemos esquecer, por outro lado, de que a doença não escolhe hora, dia e local. Resultado desta falta de opção: o Pronto Atendimento do Hospital de Gaspar vive sempre cheio, e para simples diagnósticos de casos ambulatoriais, incluindo curativos, aferição de pressão, medição de temperatura entre outros. Como o Hospital virou um ralo sem fundo de dinheiro público, onde a transparência é um problema permanente, talvez seja este o meio escolhido pelos “çábios” para sacrificar pessoas, gastar dinheiro e concentrar o problema num só lugar.
Se há espaço para uma promoção se associar no marketing das comemorações do Dia Internacional da Mulher para alavancar atos políticos usando os postos de Saúde da cidade, há mais espaço ainda para eles funcionarem de forma expandida e efetivamente atenderem a demandas crescentes da cidade e das 73 mil almas dela.
“O povo não está acostumado, Herculano”, disse-me alguém com o mesmo fito de que é se gastar dinheiro bom em coisa sem retorno e que não seja o eleitoreiro promocional. O povo realmente não está acostumado e não entende, quando se fala com ele, a razão disso não ser assim, se com os nossos vizinhos Blumenau e Brusque é, e não foi por questão política, mas de necessidade, bem análise técnica naquilo que está diante dos olhos e razoabilidade. O dia que isto virar uma prática, o povo vai se acostumar, como se tornou natural ver supermercados abertos até altas horas da noite, além de sábados e domingos.
Não faz muito tempo, nem farmácia particular tínhamos aberta depois das 19 horas. Chegou-se a pensar – e até se formulou Projeto de Lei – para obrigá-las a plantão noturno. Hoje já se acostumou a acessá-las depois das 19 horas. Ou seja, há demanda. É assim que se evoluiu. Em Gaspar, enquanto a Saúde Pública for pensada para cabala de votos, quem ganha mesmo é a doença e quem perde é o cidadão e a cidadã, o doente, o desassistido, o vulnerável e que está sendo usado para votar naquilo que não vai mudar a favor dele.
E por que não vai mudar ou vai demontar para mudar? Porque quem faz estas jogadas marqueteira dissimuladas contra a população, está no local certo para mudar o atraso e não o faz, mas o perpetua. Então está na hora de desconfiar destas ações marqueteiras dos políticos, feitas para adoçar o bico dos incautos e apenas usando pretextos para públicos específicos. Acorda, Gaspar!
TRAPICHE
Beira o ridículo I. O prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB está carimbando como seus candidatos à sucessão – e até podem ser que eles e o prefeito nem estejam no MDB -, os vereadores licenciados para serem secretários do atual governo. Vive criando espaço de exposição e ação política para Francisco Hostins Júnior, MDB e Cleverson Ferreira dos Santos, PP. Kleber anuncia ou inaugura alguma coisinha por aí e as fotos se espalham nas redes sociais que como se fosse coisa do outro mundo. E, de preferência associando-se a criancinhas ou gente idosa.
Beira o ridículo II. Antes ou depois do mesmo evento oficial, aparece o vice-prefeito, Marcelo de Souza Brick, Patriota, e quase de muda para o PL – o evento para esta filiação estaria marcado ainda para acontecer hoje em Florianópolis, mesmo diante de intensa movimentação contrária desde quinta-feira quando esta notícia se espalhou pela cidade -, com a mesma papagaiada, incluindo as tais fotos crianças e idosos. O atraso é tão grande, que parece que estamos no tempo do papel carbono, e não exatamente da duplicação digital.
Beira o ridículo III. Aliás, o nome do vice Marcelo está sumindo das placas oficiais de inauguração de instalações e ambientes públicos. Sintomático e vergonhoso. E por quê? Mostra bem a cara permanente de vingança do atual governo vestido de bom moço e de fundamentos religiosos, exatamente aqueles que inspiram o perdão. Quem usa alguém para chegar ou se perpetuar no poder de plantão, mas estando lá, descarta-o e não diz para a população à razão disso, merece a punição desse mesmo deus que diz acreditar e nortear a sua vida pudica.
Beira o ridículo IV. Numa entrevista conduzida para não se ter nenhum embaraços e feita ontem à Rádio CBN de Blumenau – a que possui um alcance regional ampliado no Vale do Itajaí – feita para falar sobre os 89 anos de emancipação de Gaspar deste sábado, o prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, desfiou obrinhas como marca dele na cidade. Ou seja, lavou a minha alma mais uma vez e disse, nas entrelinhas, deixou claro também que não tinha nenhuma competitividade para ser candidato a deputado estadual. Quem mesmo são os caros “çábios” marqueteiros que os orienta?
Brincando com o perigo I. Esta semana bombou nas redes sociais um vídeo de um prefeito de uma cidade gaúcha, que estando convocado na Câmara de Vereadores de lá a dar explicações da sua administração, viu uma funcionária sua e que é vereadora, na hora do expediente de servidora na Câmara. E a informou que cortaria o ponto dela. Segundo ele, citando a lei, ela não poderia estar em dois lugares ganhando dinheiro público e num deles, ausente, a prefeitura. Uma rebordosa.
Brincando com o perigo II. Aqui o vereador José Carlos de Carvalho Júnior, MDB, é funcionário público como técnico em vigilância sanitária, ainda em tempo de estado probatório na prefeitura de Gaspar. Pois não é que esta semana pegou uma diária de R$300,00 para ir a Florianópolis. Entre outras coisa, foi participar de reuniões com a presidência e na sede do MDB de Santa Catarina. Nada a ver com a função para a qual está contratado na prefeitura de Gaspar.
Brincando com o perigo III. Isto sem falar, que pelo menos uma vez de semana, a tarde, ou seja, durante o expediente, o servidor vereador precisa estar na Comissão de Economia, Finanças e Fiscalização por onde passam todos os projetos que dão entrada na Câmara e antes deles irem a plenário para discussão e votação. Se o vereador fosse de oposição e atuante nesta função, ele estaria sob tiroteio. Mas, como José Carlos é da situação e até líder do governo na Câmara, está livre, leve e solto nos dois empregos remunerados pelo povo.
Brincando com o perigo IV. Para aparecer a qualquer custo, o secretário de Agricultura e Aquicultura de Gaspar, Cleverson Ferreira dos Santos, PP, está postando fotos nas redes sociais como se estivesse manobrando – e nos textos insinuando que está – tratores, neste caso, de uso ou propriedade da secretaria. A primeira pergunta: ele está habilitado? Se não está não é uma infração funcional? A segunda é: se acontecer algum acidente contra terceiro ou danificar a máquina, quem vai pagar? No passado, com outros, ficou na conta dos pesados impostos de todos os gasparenses.
Depois de ficar entocado achando-se o fiapo de ouro da cocada preta e vendo gente não identificada com Gaspar disposta a lhe bater a carteira no PL, o presidente da Comissão Provisória do partido daqui, engenheiro Rodrigo Boeing Althoff, acampou desde segunda-feira em Florianópolis e tenta usar o deputado Maurício Eskudlar
k, PL, como bombeiro para lhe dar sobrevida e fazer a ponte com o vice-prefeito Marcelo de Souza Brick, e assim tornar o “pouso” de Marcelo no PL daqui mais suave e palatável inclusive ao próprio Rodrigo, o que foi rifado neste processo.
Vendido, Rodrigo e o PL bolsonarista de Gaspar, já admitem como irreversível a vinda de Marcelo, que vem tentando todo o tipo de aproximação. Agora, o que Rodrigo e o PL que o cerca estão atrás é do menor dano possível. E os dois lados estão com a mesma carta na mão. O Republicanos já demonstrou apreço por Marcelo. Já Rodrigo e sua turma também olham para o Republicanos como uma tábua de salvação da honra se Rodrigo vier pelas mãos do atropelamento do deputado Ivan Naatz e do governador Jorginho Mello, ambos do PL.
Por outro lado, o todo poderoso MDB de Gaspar, o que se espelha no MDB de Blumenau, que nem vereador tem mais há duas legislatura por lá, está em uma encruzilhada que lhe pode matar de vez por aqui. É quase certo o prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, venha a sair dele. E Kleber faz as contas e acha que leva uma boa parte e desmancha o partido por aqui. Este assuntou foi tema na segunda-feira passada de uma reunião em Florianópolis com o presidente estadual, deputado Federal, Carlos Chiodini.
Estavam presentes o vereador Ciro André Quintino e José Carlos de Carvalho Júnior que se assanham a tocar a sigla, além de Jairo Comper, irmão do deputado que é secretário sem poderes na secretaria de Infraestrutura e Mobilidade, Jerry Comper. É nesta hora, que se nota o quanto faz falta nas articulações o ex-prefeito e presidente de honra do MDB de Gaspar, Osvaldo Schneider, o Paca. Um outro leitor da cena política catarinense me contesta: tudo o que o MDB está passando, foi criado pelo Paca que na sua cabeça o desaparecimento dele nesta vida terrena não era uma possibilidade.
E para encerrar o artigo e as notas desta quarta-feira. Acima, está um vídeo do vereador Alexsandro Burnier, PL, do bairro Bela Vista, que não é da Bancada do Amém, onde estão onze dos 13 vereadores de Gaspar. Ele também não é tão oposição assim ao governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB. Mas, como até os da Bancada do Amém não aguentaram o bafo dos eleitores, diante da proximidade de ano eleitoral e das múltiplas reclamação e chegaram a demonstrar em plenário a insatisfação naquilo que é básico e não são atendidos, Alexsandro fez o repetido papel dele.
Alexsandro e outros chovem no molhado. E o molhado está expondo as falhas do governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, reiteradamente. E não se trata de enxurrada, coisa além da conta. Já escrevi aqui, que em Gaspar há a secretaria de Obras e Serviços Urbanos, tocada pelo agente de trânsito, ex-vereador, ex-vice-prefeito, Luiz Carlos Spengler Filho, na vaga cativa que o PP arrumou no governo Kleber. Ela não funciona no essencial: a manutenção da cidade. É preciso criar uma estrutura com alguém com senso de prioridade para por as coisas nos trilhos minimamente. Isto os “çábios” e os caros marqueteiros de Kleber não enxergaram ou trabalham contra ele. E faz tempo. Acorda, Gaspar!
8 comentários em “JÁ ESTAMOS EM CAMPANHA ELEITORAL E O PREFEITO KLEBER ESTÁ TESTANTADO OS SEUS CANDIDATOS. A MALTRATADA SAÚDE PÚBLICA ESTÁ SENDO USADA COMO UM CHAMARIZ POLÍTICO”
A NOVA CRISE DA FINANÇA MUNDIAL, por Vinicius Torres Freire, no jornal Folha de S. Paulo
Estamos em uma crise financeira, crise mundial, de duração e tamanho incertos. O rolo vai ter alguma ou muita influência, da sua aplicação no banco à política econômica do governo, passando pelo Banco Central, para citar apenas questões caseirinhas.
É o estágio um da crise: as autoridades dizem que os problemas são localizados e o sistema é sólido. Apagam os incêndios que enxergam. Pode haver fogo em outra parte.
Fazer prognóstico seria agora, mais do que sempre, chute desinformado. Desconhece-se o tamanho de certos estragos. Alguns mercados são obscuros (não há dados, cotações ou quantidades, públicos). Os entendidos fazem avaliações ainda mais disparatadas.
Francamente, quase ninguém deve mesmo saber a dimensão do que se passa.
Faz uma semana, não havia sinal de terremoto ou quase ninguém prestava atenção a prenúncio de problema.
Até quarta-feira da semana passada, os povos dos mercados discutiam se a taxa básica de juros dos EUA AUMENTARIA em 0,25 ou 0,5 ponto percentual. Até então, as taxas de juros que definem o custo de financiamento do governo SUBIAM. Começaram a cair na quinta-feira e despencam desde segunda-feira.
Nesta quarta, especulava-se, em palavras e atos, se o Fed, o BC dos EUA, vai elevar a taxa básica na quarta-feira que vem e o quanto vai BAIXA-LA até o final deste 2023.
Não dá para confiar muito nem mesmo na informação que vem do mercado de juros dos EUA. Segundo relatórios de alguns bancões e relatos da mídia financeira americana, os negócios com títulos do governo estão meio emperrados, engasgados, por falta de liquidez (não há bastante ofertas de compra e venda). E daí? Quando há pouco dinheiro na praça, poucos negócios podem provocar variações grandes de preços.
Há quem compare este engasgo de agora ao do começo de 2020, que piorou muito com a epidemia. Foi um dos motivos pelos quais o BC dos EUA voltou a tomar as medidas extremas e heterodoxas que se tornaram comuns desde 2008. Na prática, mas indiretamente, o Fed passou a financiar governo e certos setores da economia.
Por enquanto, não se fez nada de parecido. O fundo garantidor de crédito dos EUA salvou os correntistas gordos do SVB; o Fed ofereceu empréstimos para que bancos não precisem vender seus títulos a preço de liquidação. Mas parou por aí, uma tentativa de circunscrever a crise dos bancos médios do país. Na Europa, a Suíça diz que vai dar segurar as pontas do Credit Suisse, bichado e com uma capivara, ficha corrida, ruim.
A decisão do Fed sobre os juros na semana que vem é complicada. A inflação ainda está alta, maior do que no Brasil. Pelo manual, bancos centrais fariam o possível para conter o que, se diz, seria apenas uma crise de liquidez (acesso regular a financiamento) e os pânicos. Outras agências salvariam atropelados, a crise amainaria e a definição da taxa básica de juros seria pautada pelo problema inflacionário.
O “socorro” virá. Altas de juros e finais de ciclo de crédito, com mais ou menos especulação ruim ou bolhas, sempre dão problema. Sem “socorro”, o sistema não para em pé, como se sabe pelo menos desde 1929.
Mas é conversa mole dizer que a política do Fed ou do BC do Brasil ficarão insuladas, protegidas do rolo. Todas essas questões se entrelaçam. Qual o efeito de juros ainda mais altos sobre bancos? O pânico de agora vai provocar quebradeiras, paradão na economia dita real?
O BC do Brasil, que decide o que fazer da Selic também na semana que vem, vai enfrentar problema similar, em outra escala. Talvez tenha a ajuda do ministério da Fazenda, que pode apresentar um bom plano para gastos e dívida, o que seria um alívio para a crise aqui neste rincão do mundo.
A gente não precisava mais desta.
SUSPENSÃO DE ATIVOS DA PETROBRAS PROVOCARÁ PARALISIA NO SETOR, editorial de O Globo
No momento em que as companhias independentes de petróleo, as junior oils, preparavam o lançamento de ações em Bolsa para se capitalizar e investir no aumento da produção, o governo se encarregou de mudar as regras da atividade, paralisando todos os projetos de crescimento e obrigando os empresários a engavetar planos para novos negócios, fusões e aquisições que fortaleceriam o setor.
Não bastasse a decisão sem sentido de taxar as exportações de petróleo — ainda que por quatro meses —, agora o governo suspendeu a venda de ativos da Petrobras, incluindo campos de produção que não interessam mais à empresa. Espalhou com isso uma insegurança sobre o setor capaz de paralisar qualquer novo projeto. A reação das empresas é compreensível, já que tudo pode mudar de uma hora para outra dependendo de uma ordem emitida do Planalto.
De acordo com cálculos obtidos pelo GLOBO, apenas três dessas companhias independentes de petróleo pretendiam investir R$ 5,8 bilhões em polos de produção na Bahia, no Espírito Santo e no Rio Grande do Norte. Como um todo, as junior oils estimavam investir R$ 40 bilhões até 2029, criando mais de 300 mil empregos no interior das regiões Sudeste, Centro- Oeste e Nordeste, segundo a Associação Brasileira de Produtores Independentes de Petróleo e Gás (Abpip). A perspectiva era mais que dobrar a produção do conjunto de empresas, de 225 mil para 500 mil barris diários.
Nada pior para o planejamento das empresas que a falta de estabilidade nas regras. A justificativa para a suspensão de vendas de ativos da estatal é que Lula pretende reavaliar a Política Energética Nacional. Para isso, não era preciso suspender a venda de campos antigos, em curso desde 2015, quando a Petrobras decidiu se desfazer de áreas de produção que não eram mais rentáveis para uma companhia de grande porte.
As junior oils surgiram para aproveitar a oportunidade oferecida pelo óleo e pelo gás que ainda existem nesses campos. Investimentos são suspensos, empregos deixam de ser criados e regiões pobres no interior, onde geralmente ficam essas áreas produtivas, perdem renda.
Não faz sentido taxar exportação de petróleo, porque mudam-se regras que deveriam ser estáveis para investimentos que já foram decididos. Menos ainda interromper a venda das áreas de produção, porque afastam-se novos investimentos. O melhor que o governo pode fazer é recuar nas duas decisões. Quanto à Petrobras, deveria se dedicar ao que o mercado demanda de uma petrolífera de grande porte: explorar o petróleo em águas profundas, prospectar o pré-sal e desenvolver fontes limpas de energia.
QUAL É O PLANO DE LULA, por Willian Waack, no jornal O Estado de S. Paulo
Lula está jogando com um time velho e experiente. É o que torna maior a surpresa com as dificuldades que o presidente exibe até aqui para governar.
A recente bronca dada em público em reunião com 19 de seus 37 ministros revelou uma séria desarticulação. Que aponta um defeito de saída: a falta de conjunto e de um sentido e direção.
A mesma bronca dada nos ministros havia sido aplicada pelo presidente da Câmara no presidente da República. Aparentemente com razão, Arthur Lira se queixa da lentidão de Lula em compor os entendimentos políticos que definem a ocupação de comissões e a distribuição geral de cargos.
O problema, apontou Lira, é que sem essas definições (que ainda estão em curso) não existe a tal “base” para votações. Note-se que essa advertência foi formulada antecipando vulnerabilidades do governo para garantir no Congresso a permanência de mecanismos com impacto na arrecadação (o voto de qualidade no Carf é um entre vários exemplos).
A causa da “lentidão” pode ser vista como prudência. No caso atual de Lula, parece ser hesitação. Por sua vez, compreensível: o presidente tem sido alertado para o fato de que, mesmo distribuindo verbas e cargos, os partidos que compõem a tal “frente ampla” não garantem automaticamente maiorias no Congresso.
Mais de um interlocutor do presidente observou que ele oscila entre, por um lado, dar ouvidos a sua velha-guarda, que pensa que venceu as eleições de 1989. E, por outro, em compor um programa de governo com correntes políticas que, na maçaroca ideológica brasileira, cada vez mais se voltam para suas questões regionais.
Sabia-se bem antes de outubro passado que o Lula 3 jamais teria o conforto de uma lua de mel pós-eleições, aspecto agravado pela pequena margem da vitória. A “calcificação” da polarização não recuou. É significativo registrar o grau de desconfiança que perdura em relação ao atual presidente por dirigentes de vários setores da economia, especialmente finanças e agroindústria.
E vice-versa. “Não vou governar para o mercado”, tem dito o presidente. Lula considera que as percepções de agentes econômicos, sobretudo quanto a riscos fiscais, são moldadas por aspectos político-ideológicos – entre eles, um acentuado antipetismo. Que não são passíveis, portanto, de “pacificação”.
Dificuldades para escalar um governo, coordenar vários partidos, assegurar maiorias no Parlamento e atender a demandas sociais e dos agentes de mercado são da natureza da política e valem para qualquer dirigente. O problema para Lula 3 é quando ecoa em cada um desses segmentos, da política e da economia, a mesma pergunta: qual é o plano dele?
AS VIRTUDES DA RECEITA FEDERAL, por Elio Gaspari, nos jornais O Globo e Folha de S. Paulo
Se e quando a turma que tentou liberar as joias das Arábias na Receita Federal do aeroporto de Guarulhos for assistir a “Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo”, os doutores terão um momento de satisfação quando Evelyn (Michelle Yeoh, que levou o Oscar de Melhor Atriz) acerta um soco na boca da auditora Deirdre, da Receita americana (Jamie Lee Curtis, que levou a estatueta de Atriz Coadjuvante).
O filme lida com realidades paralelas numa comédia. O caso das joias das Arábias lida com realidades paralelas da trágica vida real dos poderes de Brasília.
O assessor do ministro-almirante achava que poderia passar com as peças pela alfândega de Guarulhos. Não conseguiu. O ministro-almirante achou que, indo ao auditor que havia apreendido as joias, resolveria a questão. Nada feito. Tempos depois, o tenente-coronel do Planalto achou que desembaraçaria as joias e mandou um sargento a Guarulhos. Outro auditor recusou-se a liberar o mimo. O sargento ligou para o tenente-coronel e explicou que sua missão estava encalhada. Ofereceu ao auditor seu telefone para que falasse com o poderoso tenente-coronel, braço direito do então presidente da República. O auditor explicou que não falava ao telefone em situações daquele tipo.
Do almirante ao tenente-coronel, passando pelo sargento, todos viviam uma realidade, a dos poderosos. Os auditores da Receita viviam a realidade de uma burocracia rígida. Ela é treinada no exemplo do secretário da Receita Osíris Lopes Filho, aquele que deixou o cargo em 1994, depois de peitar os bancos e de ter sido impedido de cobrar os tributos devidos pelos passageiros do avião que transportou a seleção tetracampeã do mundo. Ou ainda no exemplo de Lina Maria Vieira, submetida a um processo de fritura durante o mandarinato do ministro Guido Mantega. Foi dela a seguinte frase:
— O bom contribuinte se sente um otário.
A Receita tem mais de 10 mil auditores fiscais, todos chegaram por concurso, e todos têm uma carreira de Estado. Num universo desse tamanho, há de tudo, mas nele vigora a Lei de Serpico. Frank Serpico era um policial de Nova York que levou um tiro na cara, dado por traficantes associados a policiais corruptos. Ele denunciou as malfeitorias da polícia da cidade, e sua lei reza assim:
—É o policial corrupto quem deve temer o honesto, não o contrário.
Os auditores de Guarulhos travaram as joias da Arábias porque foram temperados em bons exemplos e não temem, são temidos. Seguem as normas e raramente falam. Quando falam, às vezes dão sono.
Vale lembrar que meses antes da apreensão das joias das Arábias um hierarca da Receita visitava o Planalto a bisbilhotar a vida de inimigos do rei. Em pelo menos duas ocasiões, hierarcas da Receita foram contactados por poderosos interessados na liberação das joias. Nada feito. É um efeito da Lei de Serpico.
A realidade paralela dos poderosos costuma prevalecer. Se não fosse assim, a turma das joias das Arábias jamais teria tentado atropelar os auditores com suas carteiradas.
Resta à turma das joias o consolo de ver o filme “Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo”.
Voltando ao nosso quintal no comparativo com municípios vizinhos na área da SAÚDE, Brusque, cidade com 130.000 habitantes, menos que o dobro de Gaspar, possui TRÊS HOSPITAIS e uma UPA na área central.
Lá, INDEPENDENTE de sigla PARTIDÁRIA, a coisa funciona pq o POVO tem Representantes.
Bom dia.
Os çábios e os marketeiros do Kleber não trabalham contra o Kléber, mas contra a cidade.
Se ELES estão preocupados?
Tão nem aí..
O bolso DELES está cheio. Somos um povo muito bonzinho 👀
Se fomos CAPAZES de tirar dois Presidentes da República, o que falta pra tirarmos o prefeito daqui?
Isso é com o povo?
Praça da Figueira ou a Câmara Municipal?
PISANDO EM OVOS, editorial do jornal Folha de S. Paulo
Concebidas como um instrumento para que o presidente da República seja capaz de ditar a agenda de governo, as medidas provisórias hoje evidenciam as dificuldades de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em lidar com um Congresso que acumulou poder nos últimos anos.
As MPs são editadas pelo Palácio do Planalto para providências urgentes, têm força de lei e entram em vigor imediatamente —só deixam de valer se forem rejeitadas ou não votadas pelos parlamentares em até 120 dias. Sem elas, não seria possível nem mesmo a tradicional reconfiguração dos ministérios nos inícios de mandato.
Muito se discutiu no passado recente sobre o emprego abusivo desse recurso. Hoje, os problemas de Lula são bem mais comezinhos.
O petista se vê pressionado a intervir em um impasse entre os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), em torno do rito de tramitação das MPs. É o tipo de questão que só desperta interesse nos salões de Brasília, mas que pode paralisar os atos do governo.
Pacheco quer que a apreciação das medidas do Executivo comece por uma comissão formada por deputados e senadores, como determina a Constituição; já Lira quer manter por mais tempo uma norma extraordinária, adotada na pandemia, pela qual se dispensa essa primeira etapa —e o processo tem início no plenário da Câmara.
É evidente que, do ponto de vista formal, o chefe do Senado está coberto de razão. O que está em jogo, porém, é a capacidade do todo-poderoso líder dos deputados de interferir em atos vitais do governo.
Enquanto isso, 11 MPs de Lula estão empacadas no Congresso, o que vai da criação de ministérios ao pacote para reduzir o déficit do Tesouro Nacional —e o Planalto pisa em ovos para não melindrar nenhuma das Casas legislativas enquanto negocia uma solução.
O presidente, afinal, conta com uma coalizão sofrível no Parlamento, e sua eleição, embora recente, se deu por margem mínima de votos. Não pode se dar ao luxo, portanto, de desperdiçar capital político.
A mesma fragilidade explica por que Lula aceitou um montante recorde de R$ 46,3 bilhões em emendas de deputados e senadores no Orçamento deste ano, além de manter o loteamento político da estatal Codevasf, que gerou desmandos revelados por este jornal sob Jair Bolsonaro (PL).
As mostras de pragmatismo são compreensíveis, ainda mais diante da força do bolsonarismo, mas a governabilidade não pode se limitar a evitar crises com o Congresso.
Urge que Lula apresente as prioridades de seu programa de governo, a começar, de preferência, pela norma de contenção da dívida pública e pela reforma tributária.
SINAL AMARELO NO CRÉDITO, NÃO VERMELHO, por Zeina Latif, no jornal O Globo
O atual retrato do mercado de crédito revela excessos cometidos nos últimos anos. Houve forte crescimento da dívida de indivíduos junto ao Sistema Financeiro Nacional (SFN), que atingiu 32,4% do PIB em 2022; um salto expressivo em relação a 2018 – 6,7 pp, sendo 4,5 pp no segmento livre.
Não é uma cifra baixa quando comparada a países parecidos – 45% no Chile, 29% na Colômbia e 17% no México. Como efeito colateral, aumentou a inadimplência, o que não justifica, porém, políticas de socorro aos inadimplentes.
O quadro tornou-se mais estridente a partir de 2021, quando, na esteira dos juros baixos, o endividamento como proporção da renda familiar anual avançou rapidamente, atingindo 49,5% (+7,9 pp ante 2020) – puxando para 28% da renda familiar o comprometimento de recursos para honrar a dívida.
Descontando o crédito imobiliário, a cifra permanece elevada, de 31,5% da renda familiar, mas com alta menos pronunciada (+6 pp).
Sem surpresa, o retrato da inadimplência desagrada. Porém, está em linha com o padrão histórico. Somando-se os atrasos entre 15 e 90 dias (5,3%) e a inadimplência (4,1%), chega-se a 9,4% da carteira do SFN (9,7% é a taxa média desde 2011).
O grande salto em relação a 2020 decorre do fato de a taxa ter ficado atipicamente baixa naquele ano (6,9%), por conta do robusto Auxílio Emergencial — sim, a inadimplência caiu na pandemia, mesmo com o aumento do desemprego.
O problema, na verdade, fica mais claro quando se considera o atraso/inadimplência como proporção da renda familiar, e não da carteira das instituições financeiras. Nesse caso, a taxa chega a 4,5%, ante média de 3,8% desde 2011. Em outras palavras, pela ótica dos indivíduos, o quadro é mais agudo.
Como agravante, são as classes populares que mais sofrem, como aponta o especialista Genaro Dueire Lins.
Além de a taxa de inadimplência ser mais alta nesses grupos – 20% para os sem renda e 6% para até dois salários mínimos, ante cerca de 1% para acima de dez salários mínimos – , o diferencial entre pobres e ricos aumentou, até porque os mais pobres se endividaram mais.
No cerne do problema há o maior uso do cartão de crédito, cujo saldo total cresceu 85,2% para aqueles com renda até dois salários mínimos, enquanto para o grupo acima de dez salários mínimos, cresceu 71,6% desde 2021.
O cartão de crédito para a baixa renda, com juros de 400% aa no rotativo, pode se transformar em “presente de grego”, mas que muitos aceitam de bom grado, por despreparo ou por não haver maiores consequências em caso de inadimplência – está em 30% entre os mais pobres somando com os atrasos.
O quadro preocupa, mas não justifica uma política pública de socorro aos inadimplentes, como pretende o governo com o Desenrola, inicialmente focado nas pessoas com renda de até dois salários mínimos. Algo não apenas inédito, como não observado na experiência mundial.
Primeiro, apesar dos excessos, não se configura uma situação extrema, causada por choques adversos, sendo que já está ocorrendo relevante desaceleração na utilização de linhas mais onerosas, como crédito rotativo e cheque especial.
Segundo, mesmo se fosse uma situação excepcional, há instrumentos mais adequados, como medidas regulatórias do BC para facilitar a renegociação de dívidas, conforme feito durante a pandemia.
Terceiro, a renegociação de dívidas exibe, desde o final de 2021, forte dinamismo, com taxas anuais de crescimento na casa de 40%.
Quarto, há legislação, de 2021, para tratar de situação de superendividamento, de forma a preservar o chamado mínimo existencial dos indivíduos em caso de renegociação de dívida.
Finalmente, e mais importante, o Desenrola poderá ter um efeito colateral bastante indesejado, que é o comportamento oportunista, de lado a lado – risco moral, no jargão dos economistas -, com a fatura indo para os cofres públicos.
Indivíduos tornam-se mais displicentes na decisão de endividamento, apostando em socorro futuro, e instituições financeiras afrouxam padrões de concessão de crédito, pela mesma razão. Exemplo disso são os seguidos Refis, para empresas que devem ao fisco, alimentando devedores contumazes.
Antes de avançar com seu programa, cabe ao governo uma avaliação cuidadosa.
É necessário, pois, cuidar da educação financeira da população, especialmente porque a bancarização cresceu. Cabe também promover um ambiente macroeconômico saudável para não agravar a superação desse período de ajuste.