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JORGINHO MELLO FAZ UM MÊS DE TRAPALHADAS NO GOVERNO CATARINENSE. AINDA HÁ 47 MESES À REVERSÃO DESTE QUADRO SOMBRIO

O noticiário nacional – cheio de cortinas de fumaças e factoides que blinda na mesma proporção o terceiro mandado de Luiz Inácio Lula da Silva, PT – se sobrepõe ao catarinense. Desde que a RBS chegou em Santa Catarina e acabou com o jornalismo competitivo no ambiente político de “A Notícia”, “O Estado” e o “Jornal de Santa Catarina” e bem antes da revolução das mídias sociais, ficamos, cada vez mais, reféns da mediocridade dos nossos políticos. A RBS arrasou a terra e foi embora. Até, espertamente, usou ícones ilhéus para criar identidade local e tudo ficou numa boa. Esta é outra história…

Retomo.

O senador Jorginho Mello, PL, anunciava-se – por tudo que fez e fazia – que seria o pior governador de Santa Catarina. Apesar desse prenúncio, ele foi eleito na onda do bolsonarismo vingativo e tomado pela rede social. A ordem era eleger qualquer um, menos o quase impichado por duas vezes, Carlos Moisés da Silva, Republicanos, devido ao desentendimento que o governador teve com a vice da direita radical, hoje deputada Federal, a oestina Daniela Cristina Reinehr, PL, e a qualificação que ganhou de traíra.

Outra. O desastre de Jorginho não nasceu hoje. Vem desde quando ele era deputado estadual e foi presidente da Assembleia Legislativa. Vem da troca de partidos. Vem do aparelhamento que por décadas comandou no Dnit daqui e mesmo assim, as rodovias estiveram sempre precarizadas, com obras morosas e custosas. Era alguns entre tantos maus sinais.

Para não ir longe na incapacidade técnica desse aparelhamento no Dnit catarinense que passou pelos governos do PT e do MDB de Michel Temer, o hoje governador do estado de São Paulo, Tarcísio Gomes de Freitas, Republicanos, quando ministro de Infraestrutura de Jair Messias Bolsonaro, PL, botou a turma de Jorginho para correr por falta de resultados. Quando o senador neo-bolsonarista Jorginho foi chorar as pitangas para o próprio presidente, que já não o tinha em boa conta, mesmo diante da exposição de Jorginho na CPI da Covid incondicionalmente a favor do negacionismo de Bolsonaro, prevaleceu à decisão de Tarcísio. Ou seja…

O desastre anunciado de Jorginho se deu praticamente em plena campanha a governador. Despudoradamente, Jorginho percorreu o Vale do Itajaí – a pedido do próprio Bolsonaro, que o não tinha em boas contas – para “convencer” as lideranças políticas e até empresariais de que não se devia aceitar os R$485 milhões dos impostos de catarinenses aprovados pela Assembleia e propostos por Carlos Moisés, para duplicações e melhorias de rodovias federais, nas quais, além de minguados, o próprio governo Bolsonaro retirava do orçamento daqui para colocar o dinheiro em outras partes do país. Jorginho foi corrido. Recolheu-se.

Mesmo com todos estes e uma longa lista de sinais contraditórios, Jorginho foi eleito. Resultado? Ele ainda não completou as indicações da estrutura administrativa de governo. É um erro atrás do outro. Quis colocar o filho, sem votos, na linha de frente. Recuou. Atua nos bastidores como poucos. E ajuda a errar mais ainda o governo do pai.

A patética e armada entrevista do secretário da Fazenda, Cleverson Sievert, foi esclarecedora: as promessas do candidato Jorginho estavam comprometidas pela realidade de um estado que se recuperou no caixa, mas insuficiente para populismo irresponsável do novo governo. E ainda tentou culpar o governo que saiu por não ter deixado a montanha de dinheiro que precisa para fazer valer o seu discurso de campanha. E para completar, o nó que tenta dar nos prefeitos pendurados no tal Plano 1.000, de Carlos Moisés, está corroendo apoios e deixando ele politicamente ainda mais isolado. Impressionante amadorismo para quem não é nenhum neófito no riscado e isso há muitos anos.

Quando Jorginho fala e tenta se explicar, complica tudo. Tanto no gestual como nas palavras. Não convence. Não é claro. Amonta-se em dados e palavras.

Político acostumado a mandar e desmandar, Jorginho um ex-bancário do já inexistente BESC por exatamente ter servido de caixa aos políticos que no passado se aboletaram do governo do estado, não foi capaz de articular, auscultar e até, prudentemente, aquietar-se na eleição da mesa da Assembleia, onde um dia já foi presidente e de lá, foi duro negociador com o Executivo, “alegando” a tão decantada independência de poderes. Jorginho está sendo engolido pelas circunstancias. Está refém não só da Alesc em si, mas de grupos, inclusive dentro do seu próprio PL.

Para o MDB, numa bandeira branca, sinalizou que vai dar o Seinfra – Secretaria de Infraestrutura – a um deputado, ainda não se sabe bem quem será. Antes, porém, Jorginho colocou em postos chaves seus amigos que Tarcísio, com aval de Bolsonaro, mandou demitir do Dnit catarinense por não produzirem resultados para o Ministério de Infraestrutura e os que pagam impostos em Santa Catarina. Ou seja, Jorginho quer um deputado de primeira linha do MDB como rainha da Inglaterra na secretaria de Infraestrutura para enfraquecer a bancada na Alesc? Jorginho parece que não foi deputado estadual, presidente da Alesc, deputado federal e Senador. Ou será que o MDB em rota de enfraquecimento ainda vai se prestar este papel de bobo da corte?

Se não bastasse tantos erros, o penúltimo – sim, porque haverá muitos outros – foi agradar ala radical do PL catarinense e empregar um forasteiro, mas segundo o próprio, devoto de Santa Catarina de Alexandria, para a secretaria de Cultura. Impressionante. Jorginho devia pedir ao nomeado, ao menos que ele lhe contasse a história do Contestado, que lhe é tão peculiar no seu Meio Oeste de onde vem Jorginho para fazer tanta barbeiragem contra a história do estado de Santa Catarina neste primeiro mês como governador.

Há esperanças, todavia. Sobraram 47 meses para o governador Jorginho Mello, PL, reverter todos estes tropeços sinalizadores de que está buscando cascas de bananas em ruas bem iluminadas.

TRAPICHE

Quando o prefeito sai de férias – mesmo que não fale isto para a sua cidade, cidadãos, cidadãs e não se sabe bem a razão disso, ainda mais para quem fica o tempo inteiro se exibindo nas redes sociais e até com coisas sem importância – quem deveria assumir não seria o vice-prefeito? O que claramente demonstra isto?

Esta semana, depois de quase dois meses “parada” – a última sessão foi no dia 13 de dezembro do ano passado -, a Câmara de Gaspar voltará a ter uma sessão ordinária. Os vereadores ficam emputecidos quando se diz que estavam de férias. Mas, neste período não decidiram nada, a não ser consumir R$7.780,00 de diárias só neste ano, das quais, R$3.601,00 foram para o campeão delas, presidente da Casa, Ciro André Quintino, MDB.

Inverdades I. O artigo de quarta-feira CIRO, MELATO, GIOVÂNIO E ALEXSANDRO QUEREM INCHAR E CRIAR MORDOMIAS NA CÂMARA DE GASPAR – SEM SEDE PRÓPRIA – COMO NUNCA SE VIU ANTES repercutiu forte. Alexsandro Burnier, PL, cobrado nas suas redes, saiu em defesa da Câmara e dos experimentados que ficaram bem caladinhos deixando apenas ele exposto. Alexsandro afirmou que eu teria escrito inverdades. Já desnudei tanto o vereador como as supostas inverdades, a cortina de fumaça para se sair bem outra vez.

Inverdades II. Lamento dizer, mas Alexsandro tinha razão. Sabia o que falava. Eu afirmei que a Câmara daria um assessor para cada vereador. Serão para cada vereador e mais dois, ao total de 15. Deculpem leitores, leitoras e vereador Alexsandro. A resolução 16/2023 da Mesa Diretora publicou na sexta-feira, dia três, depois do meu artigo, já que eu abri a porteira, a “disciplina” este tipo de inchamento. Na imprensa de Gaspar todos estão em silêncio obsequioso e sepulcral.

Inverdades III. Cada vereador terá direito a um estagiário de quatro horas ou de seis horas, assim como os vereadores mirins ou área administrativa, bem como a tal assessoria de imprensa – que com um contratado efetivo e um comissionado – não funciona. Em fevereiro do ano passado, um estagiário de quatro horas ganhava R$669,86 mensal e um seis horas, R$1.004,90 por mês, além do vale transporte. Isto foi reajustado.

E por falar em férias de prefeito que não larga o osso ao vice, antes na Câmara, tudo se disfarçava em “ponto facultativo”; agora é folga mesmo. Na cara dura. A resolução é da nova Mesa Diretora da Câmara, a que está inchando gabinete e criando mordomias para os vereadores. E no pacote de bondades para agradar os servidores, a Câmara de Gaspar divulgou os dias que eles vão folgar neste ano criando feriadões convenientes em início ou finais de semana, como se estivessem trabalhando.

O primeiro é este mês na segunda de carnaval, dia 20 e que se emenda com a terça-feira 21; na sexta-feira dia nove de junho para fazer o feriadão com o de oito de junho, Corpus Christi; igualmente no dia oito de setembro, uma sexta-feira emendando o Dia da Independência; igualmente no dia 13 de outubro, outra sexta-feira pois na quinta é dia da “Padroeira do Brasil”; igualmente no dia três de novembro, também uma sexta-feira já que Dia dos Mortos cai na quinta-feira. Já os que pagam as vossas excelências…

Na Câmara de Gaspar, você pode pedir a metade do 13º, que chamam de gratificação anual especial, no dia dois de janeiro. É lei.  Pois não é que o primeiro pedido já chegou e está deferido. Na iniciativa privada para quem optar pagar o 13º em duas parcelas, a primeira pode ser a qualquer momento do ano a partir de fevereiro e até 30 de novembro. A segunda, até no dia 20 de dezembro.

Hoje vai se dar a abertura oficial do calendário escolar oficial em Gaspar. Haverá espetáculo, sim. Será no Bela Vista Country Club. Pela reserva das 8h às 18h a prefeitura está pagando R8,6 mil ao clube, com direito a seis horas de climatização e a presença de até duas mil pessoas.

Enquanto isso, as creches de Gaspar continuam fechadas. Só abrem – e se adaptando à disponibilidade de pessoal – só nesta quarta-feira. Desde o dia nove de dezembro do ano passado elas estão fechadas e sem plantão. No ano que vem, ano de campanha política para eleger prefeito, talvez este desprezo por trabalhadoras, se disfarce melhor em perspectiva de solução ao povo. E os eleitores e eleitoras tomarão como mudanças. E…

As notícias de transtornos causados por má prestação de serviços, obras malfeitas ou falta de manutenção e que os gasparenses não conseguem emplacar nas rádios, jornais e “tevê” daqui, mas abundam das redes sociais, estão se tornando rotina em veículos de Blumenau para serem espalhados aqui nas redes sociais. É uma tática. Logo os gasparenses terão também estes canais de Blumenau misteriosamente desinteressados. Ainda mais às vésperas das eleições do ano que vem. 

Alguém possui alguma mínima dúvida de que isto acontecerá?

Outra. Ontem houve a tradicional festa comunitária da Capela São Braz, na Lagoa, em Gaspar. Estavam lá políticos que perderam a voz na política e querem recuperá-la, os que tendo voz, não a usam em favor dos seus eleitores ou eleitoras, e os com voz forte não conseguem se fazer ouvir e se compreender na comunidade.

Todos estavam atrás de bençãos e milagres de São Braz, para suas gargantas com o santo padroeiro. O bispo e santo turco do século quarto, ficou conhecido por salvar uma criança da morte que engasgara com um espinho na garganta. Simbologia significativa com os nossos políticos. Acorda, Gaspar!

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9 comentários em “JORGINHO MELLO FAZ UM MÊS DE TRAPALHADAS NO GOVERNO CATARINENSE. AINDA HÁ 47 MESES À REVERSÃO DESTE QUADRO SOMBRIO”

  1. EM VEZ DE ATACAR BC, LULA PRECISA COMEÇAR A GOVERNAR

    Na posse do economista Aloizio Mercadante no comando do BNDES, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a repetir suas diatribes contra o Banco Central (BC) e a taxa de juros. “Não existe justificativa nenhuma para que a taxa de juros esteja em 13,5% ao ano [na verdade, está em 13,75%]”, afirmou. “É uma vergonha esse aumento de juro.” Lula pode não saber, mas declarações como essa só contribuem para o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC precisar manter o juro nas alturas. E o desprezo que ele tem demonstrado por conceitos básicos da economia não ajuda. Os próprios ministros da área econômica estão incomodados.

    A incerteza diante da falta de regras fiscais confiáveis e os riscos de volta de um modelo econômico fracassado elevaram as expectativas inflacionárias pela oitava semana consecutiva (para 5,78%, segundo a pesquisa Focus, do BC). Como o BC não controla o juro real, apenas estabelece a taxa nominal necessária para conter a inflação, não é acaso que ela tenha de ser tão alta. Em vez de reclamar dos juros ou de tentar repetir em seu governo o que já deu errado nas gestões anteriores do PT, Lula deveria fazer avançar a agenda voltada para o crescimento prometida na campanha eleitoral.

    Deputados e senadores já foram empossados, e as lideranças do Congresso estão eleitas. As investigações sobre o 8 de Janeiro seguem seu curso. O Estado Democrático de Direito foi salvo, e as instituições permanecem atentas para evitar novos ataques. Para fortalecer a democracia, o melhor que o governo pode fazer agora é começar a governar. O projeto de reforma tributária e a proposta de um novo arcabouço fiscal, metas anunciadas tantas vezes, precisam se tornar realidade. Mas não só. O Brasil também tem demandas urgentes na infraestrutura e noutras áreas.

    A reforma do caótico sistema de tributos brasileiro é prioritária. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem uma equipe competente que deverá aproveitar em seu projeto as propostas já avançadas na Câmara e no Senado para unificar impostos e simplificar a legislação. Acertadamente, Haddad prometeu uma reforma neutra, que não aumentará a carga tributária. Mas haverá redistribuição de impostos entre setores. É essencial que o governo adote uma estratégia de comunicação capaz de explicar à opinião pública e ao Congresso que as eventuais perdas de regalias de determinados setores serão compensadas pelo avanço do país. Todos ganham quando aumenta o potencial de crescimento do PIB.

    Concomitantemente, o governo precisa agir noutras frentes. O gargalo na infraestrutura limitará vendas externas de açúcar já neste ano. É urgente privatizar portos, garantir independência às agências reguladoras e melhorar o ambiente de negócios para atrair investidores em infraestrutura.

    Por fim é crítica, como deixou clara a última ata do Copom, a recuperação da credibilidade das contas públicas, abalada pelas sucessivas rupturas do teto de gastos e pela falta de regras fiscais confiáveis. Não adianta repetir que será apresentado um novo “arcabouço fiscal”. Enquanto ninguém souber o que essas palavras significam na prática, a incerteza persistirá. Declarações desastradas de Lula tentando atribuir ao BC uma responsabilidade que é dele em nada contribuem para dissipá-la. Ao contrário. Está na hora de o PT mostrar que aprendeu com os erros do passado. E precisa começar a agir logo.

  2. LULA INVESTIU CONTRA A TRÉGUA OBTIDA POR HADDAD, por Maria Cristina Fernandes, no jornal Folha de S. Paulo

    Durou pouco a trégua obtida pelo ministro da Fazenda com a ata do Comitê de Política Monetária. Pela manhã, Fernando Haddad saudou como “melhor” e “mais amigável” a ata do Banco Central que menciona a percepção de alguns integrantes do Copom de que o pacote fiscal da Fazenda poderia vir a atenuar o risco fiscal. À tarde, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou à sua cantilena diária contra a independência do Banco Central e seu atual titular jogando por terra o esforço de seu ministro em reconstruir pontes com a autoridade monetária.

    O documento sustenta a decisão do banco de manter a taxa de juros em 13,75% em função das pressões inflacionárias, mas abre uma janela de reconsideração para as iniciativas da Fazenda. Foi esta a brecha pactuada depois de ministro e presidente do BC terem discutido a repercussão do comunicado do Copom no início da semana. Haddad prontamente registrou esta abertura elogiando a ata tão logo seu texto se tornou público.

    Assim como havia feito com Aloizio Mercadante na véspera, com seu discurso passadista sobre o BNDES, o presidente dobrou a aposta contra os compromissos amarrados por Haddad. A missão precursora de sua nova artilharia foi a presidente do PT, Gleisi Hoffmann. A dirigente petista foi às redes sociais dizer que a ata havia sido menos crítica à política econômica deste governo do que àquela do antecessor, que sambou em cima das regras fiscais para abrigar a gastança da campanha pela reeleição.

    Haddad assumiu a Fazenda buscando alinhamento entre as políticas econômica e monetária e bancou, junto a Lula, a interlocução com Campos Neto. Ao persegui-la, Haddad também visa a uma composição com vistas à próxima reunião do Conselho Monetário Nacional, instância composta ainda pela ministra do Planejamento, Simone Tebet. Se se limitar a fazer eco ao discurso lulista, corre o risco de se isolar no CMN, instância definidora da meta de inflação. Se Lula não escolheu Campos Neto, foi ele quem nomeou Tebet, dando ao Conselho configuração mais moderada. Sua artilharia contra o BC se insurge contra suas próprias escolhas ministeriais.

    É bem verdade que Campos Neto riscou o fósforo. Ao endurecer o jogo no Copom, o presidente do BC desgastou Haddad. Foi a janela aberta por este desgaste, com óbvias consequências para a sucessão lulista, que a dirigente petista buscou escancarar ignorando os recuos sinalizados pela ata. Se Gleisi mira a sucessão, Lula parece centrado no aqui e agora e na ansiedade por resultados.

    Nem a Haddad nem a Campos Neto interessa o conflito. Pesa em favor de uma convergência o que ambos têm a perder com o embate. Por um lado, Haddad pode ter minadas as chances de fazer uma gestão bem-sucedida na economia se as expectativas se deteriorarem. Por outro, Campos Neto arrisca-se a não ter voz na definição das duas diretorias do Banco Central que vagam no fim deste mês. Não deixaria de ter maioria no colegiado, mas passaria a conviver com um permanente dissenso. A ata mais moderada não garante suas prerrogativas nas indicações mas manteria aberta a chance de ser consultado. Cai tudo por terra quando Lula joga o Senado contra seu mandato. Lula está em guerra contra seu próprio governo. Resta saber por que.

  3. Nossa aldeia precisa ser estudada..
    Somos um povo que se indiguina com “heresias” bíblicas, mas que permite CRECHES e ESCOLAS embrulhadas em lonas plásticas enquanto o PREFEITO RECEBE SALÁRIOS de presidente da república 😠
    Já os amigos e CORRELIGIONÁRIOS, aqueles que ocupam os gabinetes refrigerados das secretarias municipais, recebem SALÁRIOS de ministros da nação (sim, tudo com letra minúscula mesmo 👀😥).

    Não somos uns BOCÓS???

    A Câmara municipal?
    Essa, se passar na peneira, sobrarão os mirins.
    “Chupa que a cana é doce” parece ser o lema de alguns quando ouvem os nossos questionamentos;
    Outros chamam a POLÍCIA ARMADA DE FUZIL PRA CONTER OS “REBELDES”.

    Chega logo 2024 🙌

  4. A TENTATIVA DE ESVAZIAR AS AGÊNCIAS É DESCABIDA, editorial do jornal O Globo

    Não tem cabimento a ideia do deputado Danilo Forte (União-CE) de intervir no funcionamento das agências reguladoras, subordinando suas decisões e atos normativos a conselhos vinculados aos ministérios. Uma leitura superficial das emendas propostas pelo parlamentar do Centrão à Medida Provisória 1.154/2023 pode dar a impressão de que o objetivo é seguir o princípio da “separação de poderes”, aumentar a “participação democrática” ou melhorar a “execução de tarefas” no setor público. Não é disso que se trata. A aprovação das propostas aumentaria a interferência política em áreas técnicas, elevaria o risco para investidores e faria o país dar vários passos para trás na relação entre Estado, consumidores e empresários. A recém-empossada Câmara dos Deputados precisa derrubá-las.

    A criação de agências reguladoras independentes ganhou fôlego no Brasil a partir da década de 1990. Contando com áreas técnicas, passaram a ter duas missões: criar regras específicas de regulação para cada setor e fiscalizar seu cumprimento. Nesses mais de 20 anos, o saldo é sobejamente positivo. Mesmo que elas tenham sofrido todo tipo de pressão de diferentes governos e lobbies de toda sorte, são inequívocos os benefícios desse modelo. O mais marcante nos últimos tempos foi a resistência da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aos ataques do então presidente Jair Bolsonaro às vacinas e às medidas de controle da pandemia.

    Em 1º de janeiro, o governo federal promoveu a reorganização dos ministérios com a MP 1.154/2023, que ainda precisa ser votada no Congresso antes que expire o prazo de 120 dias. Interessado em enfraquecer o poder das agências, Forte vinha tentado promover mudanças por meio de Proposta de Emenda à Constituição (PEC). Como não obteve assinaturas suficientes na legislatura anterior, aproveitou a MP para apresentar sua emenda sem cabimento. Forte gosta de falar em nome de empreendedores, mas a maioria das empresas hoje reguladas pelas agências apoia a independência.

    Os alvos da tentativa estão explícitos no texto da emenda: Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Agência Nacional do Petróleo (ANP), Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA), Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), Agência Nacional do Cinema (Ancine), Agência Nacional da Aviação Civil (Anac), Agência Nacional de Mineração (ANM) e Anvisa.

    Pela proposta de Forte, o poder de todos esses órgãos seria esvaziado. As regras passariam a ser determinadas por representantes do ministério e do setor correspondente à área de atuação, da academia, dos consumidores, e da própria agência. Os efeitos do novo arranjo são previsíveis. Ele acabaria com decisões técnicas e abriria a porteira para todo tipo de desmando político e aumento de subsídios a empresários amigos do governo. “Se aprovadas, as emendas provocarão um grave aumento do risco regulatório, com consequências negativas tanto para consumidores como para as empresas”, afirma o engenheiro Edvaldo Santana, ex-professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e ex-diretor da Aneel. O Congresso não pode permitir que o país sofra tamanho retrocesso.

  5. BIRRA CONTRA O BC NAO LEVA A NADA, por Eliane Cantanhede, no jornal O Estado de S. Paulo

    Assim como não se sabe o que veio antes, o ovo ou a galinha, também não está claro se a birra do presidente Lula é contra o Banco Central ou contra o presidente da instituição, Roberto Campos Neto, que mergulhou no governo anterior mais fundo do que se previa, até ir votar fantasiado de bolsonarista. As duas coisas andam juntas, mas, em se conhecendo um pouquinho Lula, dá para imaginar o tamanho da implicância com Campos Neto.

    Independência não combina com o presidente do BC votando com camiseta amarela da seleção no primeiro e segundo turnos de 2022. Não foi por amor ao futebol. Foi, sim, um mau passo. Campos Neto vinha passando praticamente ileso do desastre que foi o governo Jair Bolsonaro e a aprovação da independência do BC foi considerada um dos raros acertos em meio aos escombros.

    Logo, Campos Neto errou e o erro se torna ainda mais grave porque seu mandato na instituição vai até o fim de 2024, o que significa que ele sabia, como sabe, que vai ter de conviver dois anos com o presidente legitimamente eleito pelas urnas eletrônicas. Seu voto bolsonarista foi uma provocação barata, beirando o juvenil.

    Tudo isso colocado, vem a pergunta: o que o Brasil, a economia e o governo Lula ganham com esses recados praticamente diários do presidente da República contra o presidente do BC, chamado de “esse cidadão”? É uma picuinha, é falar para a claque petista, é desopilar o fígado sem resolver o principal: e a economia?

    O último round foi a decisão do BC, do alto de sua independência, aprovada pelo Congresso, de manter os juros em 13,5% ao ano, contrariando Lula, que detesta ser contrariado. À RedeTV!, ele acenou pela 1.ª vez com a possibilidade de rever a independência do BC, disse que iria “cobrar” o banco e atacou taxa de juros e meta de inflação.

    Criou um fuzuê que lembra dois momentos diferentes, de dois governos de certa forma também diferentes. No primeiro, um pragmático Lula desprezando o clamor de seu vice, José Alencar, pela queda dos juros. No segundo, uma voluntariosa Dilma Rousseff jogando os juros artificialmente para baixo e a inflação para além não só do centro da meta, mas da própria meta. Deu no que deu.

    Lula 3 quer repetir os acertos de Lula 1 ou os erros de Dilma? Essa angústia piora porque faltam rumos claros quanto à responsabilidade fiscal e sobram dúvidas sobre interferência política na Petrobras e no BNDES. Só para lembrar, o governo não é exclusivo do PT, é uma frente ampla que só atingirá seu principal alvo, democracia com sustentabilidade social, com sólida sustentabilidade econômica

  6. LULA ACELERA NO “NÓS X ELES” E PARECE ABANDONAR A IDEIA DE PACIFICAÇÃO, por Madeleine Lackso, no Uol

    A eleição acabou e o presidente da República se chama Luiz Inácio Lula da Silva. Parece que ele não foi avisado. Pode e deve descer do palanque rumo à pacificação social que prometeu. Faz, no entanto, o movimento inverso, repetindo os vícios do petismo.

    Na cerimônia de posse do BNDES, o presidente contou duas mentiras. A primeira é que Cuba e Venezuela não devolveram ao Brasil o dinheiro do empréstimo feito pelo BNDES porque o ex-presidente Jair Bolsonaro cortou relações com os dois países. É mentira e Lula sabe.

    Os atrasos começaram em 2018, ainda no governo Temer, muito antes que Bolsonaro assumisse. Se a postura de isolamento do ex-presidente é o que impedia a cobrança, passou da hora de fazer a cobrança agora que o presidente mudou.

    A outra mentira é que a violência no dia 8 de janeiro se deveu à revolta dos ricos que perderam a eleição para ele, Lula, legítimo representante dos pobres. Caso fosse verdade, seria o maior sucesso mundial em redistribuição de renda. Em pouco mais de um mês, Lula teria produzido mais de 58 milhões de ricos no Brasil.

    Ele sabe que teve apoio dos ricos brasileiros, de vários deles com declarações individuais, do setor bancário, industrial. Até carta dos mais famosos economistas brasileiros apoiando Lula a gente viu. É esse o pessoal que está contra ele?

    Mentir, para político brasileiro, é o de menos. Fazem isso todos os dias. Pobres dos procuradores da AGU lotados no novo serviço de combate à desinformação sobre ações públicas do Governo Federal. Além dos devaneios dos aloprados bolsonaristas, agora têm na mira os discursos do próprio presidente da República.

    O pior, para mim, é jogar gasolina no fogo de um país que está com seu tecido social esgarçado. Lula prometeu na eleição que faria a pacificação nacional e seria o presidente de todos os brasileiros. Se você me acompanha, já sabia desde o lançamento da candidatura que isso não aconteceria.

    O presidente da República sempre colheu frutos suculentos do divisionismo social e do discurso do “nós x eles”. Por que abriria mão disso quando encontrou o contraponto perfeito, Jair Bolsonaro?

    Fazer esse discurso contra políticos razoáveis é mais difícil. O petismo precisou pintar Geraldo Alckmin como nazista. Até Marina Silva foi chamada pelos mais empolgados de “mãe do fascismo brasileiro”. Muito melhor o bolsonarismo. A maior parte do que você disser sobre eles, por mais exagerada que pareça, vai ser verdade mesmo.

    O truque que Lula repete com maestria é colocar no balaio do bolsonarismo e da extrema-direita qualquer um que o questione. É uma das formas mais eficientes de incentivar na sociedade o tipo mais burro de binarismo.

    Os luloafetivos vão repetir o que faz seu ídolo, porém com muito mais agressividade, sobretudo nas redes sociais, onde agem em bando. Retratar como extrema-direita ou golpista qualquer um que criticar Lula se torna um esporte para os Che Guevaras de apartamento. Vez ou outra isso vai parar na imprensa.

    Escolhem uma vítima por dia e vão todos para cima dela. Nem precisam do trabalho de criar argumentos, basta xingar bastante e inventar histórias que assassinem a reputação da pessoa. Exercitam o prazer de maltratar os outros e ainda fingem que é por causa de algo nobre, o debate político que jamais fazem.

    Os bolsomínions usam os ataques para vestir a farda do vitimismo. Nunca são eles os atacados, sempre é alguém moderado. As vítimas dos dois grupos são sempre as mesmas, aquelas que são contra a polarização tóxica.

    Ocorre que os ataques, sua ferocidade e a argumentação autoritária do petismo serão argumentos para a ideia de que o Brasil está acabando. E, diante do desespero, só nos resta recorrer a alguém como Bolsonaro. Enquanto isso, ele permanece exilado na Disney.

    Lula teve e tem a oportunidade de fazer um governo de excelência, que pacifique o Brasil e nos coloque num caminho como nação. Optou por mais do mesmo: acordos com o centrão fisiológico e discurso divisionista incendiário. Os grupos populistas ganham com isso. Infelizmente, o Brasil perde.

  7. COM ATAQUES AO BC, LULA DIFICULTA O PRÓPRIO CAMINHO, por Sérgio Lamucci, no jornal Valor Econômico

    O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) resolveu intensificar as críticas à autonomia do Banco Central (BC) e ao nível dos juros e das metas de inflação. Num cenário de desaceleração da economia, é possível que os ataques de Lula e de outros líderes petistas à autoridade monetária se ampliem, seguindo uma estratégia surrada e contraproducente. Lula já colheu uma piora significativa das expectativas de inflação e uma alta expressiva dos juros futuros, o que deteriora as condições financeiras. O resultado tende a ser o adiamento do início do ciclo de cortes da Selic, afetando as perspectivas de retomada da atividade econômica.

    Na semana passada, em entrevista à RedeTV!, Lula criticou o nível dos juros, afirmando que “o presidente do Banco Central [Roberto Campos Neto] tem que explicar” por que a taxa está em 13,75%. Lula também indicou que pode rever a autonomia do BC após o mandato de Campos Neto. Por fim, voltou a questionar o nível da meta de inflação, que exigiria um “arrocho” da economia para ser cumprida. Essas críticas se somam aos ataques feitos por Lula ao BC em 18 e 19 de janeiro. Desde então, as expectativas de inflação pioraram consideravelmente. O consenso das projeções para o IPCA de 2023 subiu de 5,39% para 5,74%, bem acima da meta de 3,25%.

    Os juros no Brasil estão de fato elevados. A inflação, porém, ficou em níveis muito altos nos dois anos anteriores. Depois de atingir 10,06% em 2021, o IPCA fechou 2022 em 5,79%, acima do teto da banda de tolerância da meta, que no ano passado era de 5%. Além disso, as reduções de impostos sobre combustíveis, energia elétrica e telecomunicações tiraram 2,33 pontos percentuais do indicador no ano passado, resultado de medidas adotadas pelo governo Jair Bolsonaro e pelo Congresso para tentar melhorar a popularidade do então presidente num ano eleitoral.

    A inflação tem dado sinais de arrefecimento, mas as pressões sobre os preços em 2021 e 2022 não se limitavam a alimentos e a problemas relacionados ao rompimento das cadeias globais de suprimentos causados pela pandemia e pela guerra entre Rússia e Ucrânia. Isso fica claro no comportamento dos núcleos do IPCA, que buscam eliminar ou reduzir a influência dos itens mais voláteis. As cinco medidas de núcleo acompanhadas mais de perto pelo BC ainda subiram 0,58% no IPCA-15 de janeiro. Em 12 meses, acumulam alta de 8,71%, muito acima do teto de tolerância da meta deste ano, de 4,75%. O quadro também não é dos melhores na inflação de serviços subjacentes, que se concentra nos itens do setor mais sensíveis ao ciclo econômico. A alto de preços desse grupo perde ímpeto, mas em 12 meses eles ainda sobem 8,2%, segundo o IPCA-15 – em janeiro, avançaram 0,5%.

    Os números mostram que havia motivos de sobra para o BC elevar a Selic, ainda que obviamente se possa discutir aspectos da condução da política monetária – há quem ache, por exemplo, que a instituição cometeu erros de comunicação quando começou a aumentar a taxa, o que teria comprometido em alguma medida a eficácia do ciclo de alta e exigido mais elevações. Mas, encerrado o processo de aumento da Selic, a expectativa dominante era de que a inflação tenderia a desacelerar consideravelmente neste ano, num quadro de enfraquecimento da economia e de juros elevados, que subiram de 2% para 13,75% ao ano entre março de 2021 e agosto de 2022. A inflação e as previsões para os índices de preços mais comportadas abririam espaço para o BC começar a reduzir os juros, talvez na metade de 2023, desde que o novo governo deixasse claro o compromisso com a sustentabilidade das contas públicas e apresentasse uma nova regra fiscal crível para substituir o teto de gastos. Aí começaram os problemas. Mesmo passada a eleição, Lula continuou a ralhar com o mercado, contrapondo seguidamente responsabilidade fiscal e responsabilidade social, um dilema que não existe.

    No fim do ano passado, o presidente eleito patrocinou a aprovação da PEC da Transição, para garantir a manutenção do valor de R$ 600 para o novo Bolsa Família, elevando o teto de gastos em R$ 145 bilhões, além de abrir espaço para outras despesas extras. O aumento de gastos embutido na PEC foi visto como alto demais por muitos especialistas em contas públicas.

    O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, passou a tentar convencer os agentes econômicos do compromisso fiscal do governo. Apresentou um plano para reduzir o déficit público neste ano, visto com uma boa dose de ceticismo, por se concentrar no lado das receitas, uma parcela considerável da quais poderá não se concretizar. Haddad indicou ainda que pretende apresentar a regra fiscal até abril, o que é positivo, mas não deu detalhes da proposta. No front fiscal, em resumo, Haddad e a ministra do Planejamento, Simone Tebet, têm buscado mostrar que o governo será responsável, enquanto Lula mina esses esforços ao falar do tema.

    Com a entrevista à GloboNews, em 18 de janeiro, Lula abriu uma nova avenida de incertezas, ao fazer vários ataques ao BC e às metas de inflação, críticas que foram aprofundadas na semana passada. As expectativas de inflação tendem a seguir piorando, o que deve levar o BC a adiar o início do ciclo de cortes dos juros, como a instituição indicou no comunicado da reunião da semana passada do Comitê de Política Monetária (Copom), quando manteve a Selic em 13,75%. O BC também evidenciou que não descarta uma elevação dos juros.

    Como os indicadores de atividade devem mostrar uma economia em desaceleração, a pressão de Lula e de outros líderes petistas sobre a autoridade monetária poderá aumentar. Atacar o BC autônomo e mudar a meta de inflação no atual cenário só vai piorar as coisas. Lula, aliás, deveria ser grato pela autonomia do BC. Em 2022, para recuperar a popularidade, Bolsonaro foi agressivo na redução de impostos e aumento de transferências, como na elevação do valor do Auxílio Brasil no segundo semestre. No campo monetário, contudo, o BC seguiu o ciclo de alta da Selic sem ser incomodado, elevando a Selic num ano eleitoral de 9,25% para 13,75%.

    Lula começou o seu mandato com a perspectiva de que o próximo passo da Selic seria para baixo, bastando ao novo governo apresentar um plano de voo crível para as contas públicas. Ele tem preferido, no entanto, trombar com o mercado na área fiscal e, agora, criticar o BC. Lula, com isso, dificulta o próprio caminho. Se for além das bravatas, tentando mudar as metas de inflação e forçando uma troca na presidência do BC, será ainda pior. As expectativas de inflação sairão totalmente do controle e o dólar e os juros futuros tenderão a subir com força, caso um presidente do BC domesticado derrube a Selic. Deu errado no primeiro governo de Dilma Rousseff, com Alexandre Tombini no comando do BC. Não há motivos para acreditar que uma estratégia parecida levará a um resultado diferente.

  8. FAKE NEWS ESTATAL, por Lygia Maria, no jornal Folha de S. Paulo

    O futuro presidente da EBC (Empresa Brasil de Comunicação), jornalista Hélio Doyle, disse em entrevista para a Folha que, se depender dele, os veículos da organização tratarão o impeachment de Dilma Rousseff (PT) como “golpe”.

    Em matérias opinativas, não há problema. Afinal, o evento gerou análises divergentes. Contudo, no noticiário factual, é um erro técnico.

    O jornalismo é um processo de conhecimento, assim como a ciência, e mantém com ela semelhanças e diferenças. Ambos se baseiam em métodos profissionais que visam à aproximação mais objetiva possível da verdade —e objetividade tem a ver com o método, não com o sujeito.

    É justamente por constatar que o sujeito não pode ser objetivo —pois possui crenças, valores etc.— que o método precisa ser. O modo como o jornalista ou o cientista chegou à dada constatação deve ser transparente, para que outros profissionais possam validá-la ou refutá-la. Ou seja, objetividade é intersubjetividade.

    Assim, diversos veículos de imprensa cobriram a saída de Dilma Rousseff do poder, e a grande maioria deles atestou que o que se deu foi um processo de impeachment. Para isso, verificou-se, por exemplo, que a popularidade da presidente era baixíssima, que o rito seguiu as exigências legais, foi votado pelo Congresso e referendado pelo STF.

    Se a EBC pretende chamar “impeachment” de “golpe”, precisa deixar muito claro o método que usou. Precisa explicar por que Lula e o PT estão aliados a partidos e políticos que teriam sido responsáveis pelo tal “golpe”. Precisa mostrar o erro cometido pelo ministro do Supremo que o validou. Mais importante, por se tratar de crime contra o Estado de Direito, a EBC tem de exigir que o STF julgue e puna os culpados por esse atentado à democracia.

    Caso contrário, é só usar dinheiro público para divulgar fake news. Pior ainda, é usar uma empresa estatal, que deve servir à toda população brasileira, para servir a interesses políticos do governo. Nada mais antirrepublicano.

  9. GOVERNO DÁ UM TIRO NO PÉ COM CAMPANHA CONTRA BC, editorial do jornal Valor Econômico

    Encabeçado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o governo faz uma investida sistemática contra a taxa de juros determinada pelo Banco Central e a independência da instituição recentemente consagrada em lei. Os juros reais no Brasil são os mais altos do mundo, o que dá às críticas de Lula a falsa aparência de bom senso e de realismo. Na verdade, o presidente não gosta da independência do BC porque não pode nele influir, caso precise, acha que a meta de inflação deveria ser maior e já afirmou que quando Roberto Campos Neto, que comanda o BC, deixar o cargo em dezembro de 2024, as coisas podem ser bem diferentes.

    As falas do presidente deram sinal verde a um processo de descrédito do BC que é inútil, prejudicial e caro – os juros de mercado têm subido quando Lula, por exemplo, sequer menciona mais o nome do presidente da instituição e o chama de “esse cidadão”. A esperança de consolidação de valorização do real na semana passada, quando a taxa de câmbio por alguns momentos caiu abaixo de R$ 5, está indo para o espaço com as declarações de Lula sobre metas de inflação e autoridade monetária. A apreciação do real é uma ajuda decisiva para derrubar mais a inflação.

    Lula conhece de longa data o comportamento dos investidores e sabe da importância de suas orientações sobre os preços dos ativos. Tanto que no 22º dia de seu primeiro mandato, em 2003, o BC aumentou os juros de 25% para 25,5% e, na reunião seguinte, para 26,5%. A inflação de 2002 foi de 12,53% e a do primeiro ano de governo, 9,3%, para uma Selic média de 23%. O Brasil teve então taxa de juros real semelhante ou maior que a de agora, sob Lula. A variação dos preços era maior, e o aumento da Selic e, poucos meses depois, seu corte foram acertados e limparam o terreno para o período de crescimento posterior.

    As expectativas para o IPCA, no entanto, estão subindo, depois de o índice fechar em 5,79% em 2022. Desde agosto, a Selic está parada em 13,75%. Não é fácil, porém, colar na imagem do presidente do BC a de amigo dos “rentistas”. Em agosto de 2020, o Copom diminuiu os juros básicos a 2%, na prática taxa zero ou negativa, e testou, não sem críticas posteriores dos investidores, o limite de baixa a um nível que nenhuma outra autoridade monetária houvera conseguido desde 1997.

    No Planalto, confecciona-se a versão de que houve “traição” de Campos Neto quando, logo na reunião do primeiro mês de governo, o Copom acenou com juro alto por mais tempo, tida uma quebra ingrata de “confiança” (Folha de S. Paulo, ontem). Lula esquece que começou a governar antes da posse e conseguiu com a “PEC de Transição” obter R$ 163 bilhões em gastos sem cobertura para sua gestão, ainda em dezembro. As declarações do presidente e de seu ministro da Fazenda, Fernando Haddad, espalharam a desconfiança de que a dívida pública subirá bastante, elevando juros e inflação. O BC soou então o sinal de alerta.

    O que quer Lula, afinal? Pelo que tem declarado, quer o crescimento da economia para já, acionando as ferramentas que no passado fizeram isso, mesmo que tenham destruído a expansão depois. Haddad está preocupado com a retração de crédito, consequência óbvia do aperto monetário. Para Lula, o mais importante é que o juro caia e a roda da economia gire mais forte. Não há condições de se fazer isso agora, porque o BC e seu presidente não estão subordinados ao presidente da República. Resta a Lula esbravejar e, talvez, planejar mais gastos que, já se sabe, redundarão em juros mais altos.

    O BC independente deve ser julgado pelos resultados que apresenta. A inflação brasileira passou mais de 12 meses acima dos 10%. Caiu e, com aperto monetário, programa fiscal consistente e boa reforma tributária, a inflação cederá mais, ajudada por valorização do real. De nada adianta dizer o que Campos Neto é – bolsonarista, um fato -, mas, sim, o que ele faz. Alan Greenspan era republicano e foi reconduzido por governos democratas. Jerome Powell é um republicano indicado por Donald Trump e reconduzido por Joe Biden. É raro o Federal Reserve ser criticado por suas decisões terem viés partidário.

    Pode-se sempre discutir com calma e profundidade a revisão das metas de inflação, prós e contras de um BC independente no Brasil, a relação entre a carga de juros e o montante da dívida pública – são temas assíduos de debate global. O que não dá certo, e pode levar a desastres, é o presidente Lula ficar aborrecido com a taxa Selic, achar que é preciso gastar mais já e dissociar ainda mais a política monetária da fiscal. Com isso colherá os resultados que Dilma Rousseff colheu: um salto da dívida e uma enorme recessão.

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