Tudo está muito estranho. Sinais dos tempos. No Brasil – não exatamente em Santa Catarina, e no Vale do Itajaí, incluindo o novo tal Europeu, ressalte-se -, costumava-se afirmar que o trabalho de verdade, inclusive o político, só começava depois do carnaval; neste ano, esse tal depois só será dia 27 de fevereiro. O que se parada, todavia, são só prefeitura e Câmara. Mas, nos bastidores do poder de plantão em Gaspar, e especialmente, o MDB, por exemplo, os políticos tramam como poucos. E para quê? Para as distantes eleições de outubro do ano que vem.
Na imprensa, você não vê, lê ou ouve nada. Nas redes sociais, igualmente. Nos aplicativos de mensagens, alguma coisa pipoca aqui e ali, mas com muito cuidado e de forma cifrada para que não se conheça as intenções, os traíras, ou ingênuos, ou os usados nestas jogadas. Todos pisando sobre ovos. E os eleitores e eleitoras, mais uma vez, desinformados desconhecem às tramas, armações e negociações de bastidores. Vão, outra vez, ser surpreendidos e engolir pratos feitos, receitados por gente acostumada à picanha entre eles, e ovo frito aos que os picanheiros classificam como de seu eleitorado. Nem mais, nem menos!
O “novo” presidente do MDB catarinense, o reeleito deputado Federal por Jaraguá do Sul, Carlos Chiodini (a direita na foto acima), já marcou as convenções para a escolha dos novos diretórios municipais do partido. Será nos dias 14, 15 e 16 de abril. É isto que está deixando os bastidores daqui um tanto “nervoso”, a começar pela omissão do atual presidente Carlos Roberto Pereira. Ele já foi de tudo por e nas campanhas e no governo Kleber Edson Wan Dall, MDB. No ano passado se exilou em Florianópolis em atividade privada. Esta atividade o restringiu para a exposição política e pública. Também não fez falta.
O diretório do MDB de Gaspar, está cada vez mais enfraquecido. Falta-lhe, principalmente, liderança e ainda mais depois da morte do ex-prefeito Osvaldo Schneider, o Paca. Acéfalo, o diretório está sendo disputado por uma ala chamada de tradicional e outra, de viés populista e marqueteira, que se diz “renovadora”. Para ambas faltam, cada vez mais, votos. Exagero? É só olhar para o mapa das eleições de 2016, 2018, 2020 e 2022 do Tribunal Regional Eleitoral e marcar a quantidade de sufrágios dos postulantes na corrida para vereador, bem como os votos que arranjaram para seus candidatos e dos quais eram cabos eleitorais por aqui.
E todos sabem que a eleição do ano que vem é a hora da onça beber água. Sabem que precisam procurar outras fontes. As conhecidas, dão sinais ou se secura ou contaminação. Vai ser preciso apurar o faro.
A ala tradicional, onde está o atual presidente, os ex-Ivete Mafra Hammes e Valter Morello, e até mesmo, por enquanto, o atual prefeito Kleber quer como candidato a presidente do diretório do MDB de Gaspar, o vereador e atual secretário de Saúde, o advogado Francisco Hostins Júnior. A outra, trabalha pelo vereador e alçado novamente a presidente da Câmara, Ciro André Quintino (a esquerda na foto acima e feita no encerramento do ano político de 2022), o mais emedebista de todos eles e que por incrível que pareça, nunca conseguiu por aqui, um lugar no ônibus do partido. Já escrevi sobre isto várias vezes.
Mas, por que eles querem a presidência do diretório? Ego? Talvez! A verdade é que há uma crença -e é falsa, posso lhes adiantar e explico adiante – de que tendo o diretório na mão, facilita-se com isso, à escolha do presidente para ser o candidato do partido a prefeito. E a partir deste ponto vem a explicação prometida. Se é preciso ser presidente do diretório para não perder a oportunidade de ser candidato, é a prova mais cabal de que se está fraco na liderança e estrutura partidária, que vai se gastar munição e tempo em ambiente minados – e que precisam de mão de ferro para contê-lo – e para um mesmo objetivo: se eleger prefeito.
Retomo:
Noves fora, seja quem vencer, o MDB de Gaspar estará mais fraco do que chegou até aqui, até porque segundo o seu atual presidente, o partido se espelha no de Blumenau. E lá ele é apenas um elemento histórico, sem atividade política capaz de conferir protagonismo na cidade.
Desde a saída forçada do poder em setembro de 1999 do ex-prefeito Bernardo Leonardo Spengler, o Nadinho, e a ascensão do ex-prefeito por três mandatos, Pedro Celso Zuchi, PT, a partir de 2001, que o MDB de Gaspar para colocar um seu como prefeito, precisou se unir ao arquirrival PP. Primeiro foi quando venceu em 2004 com Adilson Luiz Schmitt e que o MDB botou para correr quando ele não quis ficar refém do guloso partido. A segunda, quando elegeu em 2016 Kleber, e desta vez, com outra muleta, as denominações evangélicas d’onde vem o atual prefeito.
A situação mais difícil é a de Hostins Júnior. Ela representa à continuidade de algo que vem se enfraquecendo cada dia mais. Mesmo assim, nada é diferente para Ciro que é cabo eleitoral do próprio presidente estadual do MDB e do deputado estadual Jerry Comper, MDB, outro alinhado nesta “renovação” do diretório estadual do MDB. Ciro tem um TOC que se chama pesquisas. E elas não o favorece há algum tempo. E se confirmou na baixa votação de 2020, bem como na péssima entrega de votos para Chiodini (945) e Jerry (900), bem próximo a sua eleição em 2020, 995 votos depois dele ter conseguido 1425 em 2018.
Ciro possui e ele sabe disso, sério problema de imagem. E não está só ligado à de ser um gastão do dinheiro público devido ao consumo exagerado de diárias, mas de confiabilidade. Como o próximo candidato a prefeito terá que ter nome acima dos partidos, Ciro precisa de uma guinada de 180 graus a favor de uma percepção melhor do eleitorado sobre a sua capacidade de realizar. E isto começa como a troca de quem o cerca, do que faz e daquilo que já lhe representa um desgaste estampado em números (nas pesquisas e nos votos).
Na verdade, Ciro está à espera da derrota no diretório. E por quê? Ele mataria duas cobras numa paulada só: tem uma desculpa para seus padrinhos Chiodini e Jerry para sair do partido dizendo que o MDB de Gaspar não lhe quis e ao mesmo tempo, fica livre para buscar não só partido, mas um nome para ser vice e que lhe dê votos, os quais estão lhes fugindo a cada eleição. Ciro que já escolheu um caminho errado no passado, pode estar sem bússola outra vez. De uma espiada no “Trapiche”
TRAPICHE
Para acertar à falta de votos e ter maioria na Assembleia, o governador Jorginho Mello, PL, está atraindo o MDB para o seu governo. É uma correção de rota da imprudência que cometeu. Lutou por uma maioria com o PP, dando esperanças a José Milton Schaeffer, PP, da pequena Sombrio, no sul catarinense para ser o próximo presidente da Alesc. Estancou nos 18 votos, dos 40 possíveis.
E quem botou a tranca? Júlio Garcia, PSD, articulando com o MDB. Vendo-se isolado, Jorginho recuou e está compondo. Como ex-presidente da Alesc, Jorginho sabe o tamanho deste vespeiro e ainda mais com Júlio Garcia. Jorginho está compondo. Está atraindo o MDB. Vai – como nos velhos tempos e até a legislatura que está findando – fazer com que a Assembleia seja compartilhada: dois anos para Mauro De Nadal, MDB, ex-prefeito da pequena Cunha Porã, no Extremo Oeste catarinense e dois anos para Zé Milton.
E como se dará esta costura e trocas? O deputado federal Carlos Chiodini seria o secretário de Desenvolvimento Sustentável e o deputado estadual Volney Werner, ex-prefeito da pequena São Ludgero, também no Sul do estado, seria o secretário de Infraestrutura e Mobilidade. Ou seja, o Vale Europeu, na rima, perdeu – a palavra era outra – mais uma vez para os joguinhos políticos que nada tem a ver com a capacidade e competência dos escolhidos. E sim, com o jogo do sistema de poder.
Com esse movimento, se ele vingar, além de dar a estabilidade mínima a Jorginho para fazê-lo passar as suas reformas administrativas e outros atos emergenciais na Assembleia, o governador coloca o ex-deputado estadual e ex-secretário da Educação, Luiz Fernando Cardoso, o Vampiro, também vindo do Sul do estado, na Câmara em Brasília, e o ex-prefeito de Porto Belo, Emerson Luciano Stein, da Costa Esmeralda, na Assembleia, no lugar de seus titulares e que farão parte do governo de Jorginho. Já colocou Giovânia de Sá, PSDB, de de Criciúma, volta a Brasília.
Olhando para as mexidas e quem está ocupando cargos de proa ou se beneficiando com estas mexidas, fica-se sabendo que eles foram, na maioria dos casos, prefeitos de cidades bem menores do ponto de vista econômico e de desenvolvimento do que Gaspar. Agora, politicamente tem sido atuantes e ocupando nacos expressivos no ambiente de poder.
O que ratifica todo este cenário? Que o MDB de Gaspar não foi protagonista nem em Gaspar, muito menos na região. Que Kleber Edson Wan Dall, MDB, não foi sequer protagonista no seu partido. Que Kleber não foi maioria em sua própria cidade. Que Kleber não se identificou com qualquer causa regional de um Vale cheio de oportunidades e que pudesse a ser olhado como um voto confiável de representação.
Kleber se tornou um delegado e refém de uma seita religiosa. E ela escolheu outro, o vereador de Blumenau, Marcos da Rosa, União Brasil, na dobradinha com o novo prefeito de fato de Gaspar, o deputado Federal, Ismael dos Santos, PSD. Por isso, não restou outra alternativa a Kleber, a não ser a de correr da candidatura que os risquinhos lhe declararam publicamente. Isto também mostra o tamanho do erro e da inutilidade da sua cara marquetagem.
Agora, para Kleber, o MDB pode ser uma página do passado. Mas, no contexto que já esclareci em outros artigos e naquilo que mostro neste, ele também ajudou a enfraquecer o partido em Gaspar e na região. A conferir. Acorda, Gaspar!
9 comentários em “ESQUENTA A TEMPERATURA NOS BASTIDORES. MDB DE GASPAR SE DIVIDE E VAI CADA VEZ MAIS FICANDO PARECIDO COM O DE BLUMENAU: HISTÓRICO”
A IDEIA DA ORDEM UNIDA LEVA A NADA, por Elio Gaspari, nos jornais O Globo e Folha de S. Paulo
Depois de meia dúzia de anúncios desastrados, Lula reuniu seu Ministério. Cenograficamente, foi um belo espetáculo. Seu melhor momento deveu-se a algo que não aconteceu. Ele não mencionou uma proposta que circulava nos subúrbios do poder. A ideia era simples: programa do governo só poderia ser anunciado depois de ser submetido à Casa Civil da Presidência. Quase todos os governos anteriores tentaram, e nenhum conseguiu.
Não se consegue porque esse tipo de unidade a partir de um toque de corneta é sonho de noite de verão. No fundo, basta que se respeite a lição do presidente Rodrigues Alves há mais de um século: “Meus ministros fazem o que querem, menos o que eu não quero que eles façam.”
As trapalhadas dos hierarcas encantados com as próprias vozes foram prejudiciais no varejo. Isso numa semana durante a qual dois dos mais poderosos ministros causaram danos no atacado.
Rui Costa, o chefe da Casa Civil, foi perguntado sobre o texto que Lula escreveu dias antes do segundo turno: “Se eleito, serei presidente de um mandato só.” Um mês antes, ele havia dito que “não (seria) possível um cidadão de 81 anos querer a reeleição.”
Rui Costa respondeu:
“Se tudo der certo, e com fé em Deus dará, faremos um governo exitoso. E se ele continuar, como ele próprio diz, com energia e o tesão de 20 anos, quem sabe ele pode fazer um novo mandato presidencial.”
Nada melhor para desorganizar o tabuleiro de alianças que levaram o PT ao governo.
No dia seguinte, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foi perguntado sobre os efeitos da taxa de juros fixada pelo Banco Central e respondeu:
“Você tem um mundo onde você tem uma taxa de inflação menor que os EUA e a Europa, só que nós estamos com a taxa de juros maior do planeta, a taxa de juros real. Então olha o paradoxo que nós estamos vivendo. É uma situação completamente anômala, uma inflação comparativamente baixa, e uma taxa de juros real fora de propósito para uma economia que já vem desacelerando.”
Haddad sabe que o Banco Central tem autonomia para fixar a taxa de juros. Carlos Lupi falando em revisão da reforma da Previdência joga palavras ao vento. Haddad se metendo com a taxa de juros é prenúncio de uma relação agreste entre a Fazenda e o BC. Sobretudo com expressões professorais como “anômala” e “fora de propósito”. Dias depois, Rui Costa também se meteu com a taxa Selic.
Se a atual taxa de 13,75% é maléfica, esse tipo de contestação só serve a quem opera na especulação.
Em tempo: nos outros dois governos de Lula, o vice-presidente José Alencar falava contra a taxa de juros dia sim, dia não, mas à época o BC não tinha autonomia por força da lei.
REGISTRO PARRA A HISTÓRIA
No dia 30 de outubro, quando o eleitorado estava seguindo para as seções eleitorais, surgiram bloqueios da Polícia Rodoviária Federal (PRF) em estradas do Nordeste, onde sabidamente estava o grosso do eleitorado de Lula.
Essa era a hora da onça beber água, e água a onça bebeu. O presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Alexandre de Moraes, convocou com urgência o diretor da PRF ao seu gabinete.
Ao ser chamado, Silvinei Vasques tinha motivos para saber qual seria a agenda. Por alguma razão, ele teve a ideia de ir ao ministro com acompanhantes, todos ostensivamente armados.
Sentaram-se no gabinete de Moraes, e Vasques repetiu a patranha de que se tratava de uma operação para fiscalizar pneus carecas de ônibus.
O magistrado, ex-secretário de Segurança de São Paulo, não entrou na discussão dos pneus e surpreendeu Vasques dizendo, com todas as palavras, que se ele não retirasse imediatamente os bloqueios seria preso.
Os bloqueios foram retirados, o diretor da PRF deixou o cargo e se aposentou aos 47 anos.
Tentar melar uma eleição poderia ter sido um projeto. Entrar com um grupo armado no gabinete de Moraes foi uma ideia errada querendo intimidar a pessoa errada.
BOA NOTÍCIA
Na primeira semana da nova administração, saiu uma boa notícia da Secretaria de Comunicação do Planalto. Depois de quatro anos de caneladas, suspensão de serviços e silêncio, a Secom começou a remeter notícias do governo a jornalistas.
MAURO NA CROÁCIA
Não se pode atribuir ao governo de Michel Temer a remoção do embaixador Mauro Vieira, o chanceler de Dilma Rousseff, para a Croácia. Sendo chanceler o senador José Serra, Vieira foi mandado para a delegação do Brasil nas Nações Unidas.
Só em 2019, com o início da gestão de Ernesto Araújo, é que o diplomata foi exilado na Croácia.
No governo de Temer, a tradição do Itamaraty foi preservada: nas brigas internas vale quase tudo, desde que as vendettas não se tornem explícitas.
O MINISTÉRIO DE LULA
Tudo indica que Lula formou seu Ministério com 37 pessoas, obedecendo a lei geral pela qual, ao fim do processo, o presidente nomeia um terço dos ministros, colocando-os onde queria. Esse foi o caso de Fernando Haddad, Rui Costa e Luiz Marinho. No segundo terço, nomeia pessoas que desejava ver no Ministério, talvez em outra pasta. Neste grupo está Simone Tebet. No terço final, nomeia gente que mal conhecia. Se Lula conhecesse melhor Daniela Carneiro, não a teria colocado no Ministério, muito menos na pasta do Turismo. Produziu um espécime de jacaré com cobra d’água. Daniela, com suas conexões milicianas no ministério, e Marcelo Freixo, campeão das denúncias contra as milícias, na Embratur.
Lula fez uma nomeação que, expressamente, negava que viesse a fazê-la: Marina Silva para o Meio Ambiente.
A FILANTROPIA AMERICANA
Na segunda-feira, durante uma partida de futebol americano, o craque Damar Hamlin, de 24 anos, foi abalroado numa daquelas cenas típicas do esporte, perdeu os sentidos, teve uma parada cardíaca, foi reanimado e desde então luta pela vida num hospital. Essa é a má notícia esportiva.
A boa notícia:
Hamlin foi um menino negro criado num subúrbio de Pittsburgh. Em 2020, Hamlin criou uma instituição destinada a amparar e comprar brinquedos para crianças de sua cidade impactadas pela pandemia do Covid. Sua meta era arrecadar US$ 2.500.
Na tarde de quinta-feira, as doações chegavam a US$ 7,3 milhões.
No século XIX, viveu em Pittsburgh outro menino pobre. Andrew Carnegie tornou-se o homem mais rico dos Estados Unidos. Em 1889, aos 65 anos, ele disse que “morrer rico é uma desgraça”, passou o resto da vida distribuindo o que amealhou. Em dinheiro de hoje, doou US$ 5,5 bilhões, inclusive para 2.500 bibliotecas.
ALVO ERRADO
O enciclopedismo do doutor Rui Costa levou-o a cometer uma injustiça. Criticou o que chama de “travas” que atrapalham o progresso do país e deu como exemplo a demora de até três anos da Anvisa para liberar a venda de remédios.
Durante as loucuras oficiais da pandemia, a Anvisa foi uma ilha de racionalidade, e seu presidente, Antônio Barra Torres, um valente defensor da agência.
Homem educado, lembrou que ainda não conversou com Costa. Quando o fizer, poderá explicar as dificuldades que afligem a instituição.
Barra Torres já sugeriu ao governo que abra um concurso para contratar novos servidores, pelo menos para preencher as vagas de quem pode se aposentar.
COMO SERÁ O AMANHÃ, por José Robertto Mendonça de Barros, economista, no jornal O Estado de S. Paulo
Finalmente, o novo governo tomou posse sem maiores problemas, numa vitória da regra democrática. A grande pergunta que se coloca agora é o que ocorrerá em 2023 na área econômica.
Acredito que a maioria dos analistas concorda que o ano começa com várias coisas positivas. A divergência vem depois.
Temos a favor um ambiente mais desanuviado, embora ainda algo tenso, e a certeza de melhora substantiva nas áreas da saúde, educação, meio ambiente, relações exteriores e ciência e tecnologia, extremamente machucadas nos últimos anos. A busca pela redução da fome e da pobreza é tão bem-vinda quanto urgente.
Há, mais do que tudo, a concordância de que é preciso voltar a crescer de forma sustentada com redução simultânea da desigualdade. O problema é como fazer isso.
A maioria dos economistas acredita que é necessário praticar uma gestão fiscal equilibrada e com horizonte para podermos ter, simultaneamente, redução da pobreza, mais investimentos e crescimento.
Contrariamente, a heterodoxia acredita que a expansão do gasto e do crédito públicos é condição necessária e quase suficiente para obter os resultados desejados, dando pouca atenção para a trajetória da dívida pública emitida em moeda do País.
Naturalmente, o primeiro grupo (ao qual me filio) vê com muita preocupação a forte expansão fiscal autorizada pela PEC da Transição, que, levada adiante, implicará pressão sobre a inflação, tornando difícil a queda dos juros e a volta do crescimento. A propósito: continuar a subsidiar a gasolina com renúncia fiscal não é uma boa ideia.
A incerteza se torna mais aguda pela insistência do presidente em dizer que seu governo sempre buscou o equilíbrio fiscal e, portanto, as dúvidas seriam improcedentes. É impossível esquecer o desastre absoluto do governo Dilma, no qual a heterodoxia imperou, e deixar de observar que muitas pessoas relevantes daquele tempo estão em posições-chave do governo que se inicia.
A cacofonia de vários dos novos ministros não ajuda a melhorar as expectativas. Tem muita gente querendo salvar o Brasil no curto prazo, o que em geral não dá muito certo.
Neste momento, o Ministério da Fazenda busca construir um programa de ajuste e uma nova regra fiscal. A qualidade, consistência e aplicabilidade dessas propostas definirão o que vai ser de 2023.
Mas fácil não será.
Feliz Ano Novo, Senhor Herculano 🙌🌈
No quintal da tribo, quanto mais mexe, mais fede..👀
Como nunca, o povo gasparense sentirá a orfandade na Câmara municipal com a precoce partida do nosso querido Vereador Amauri.
Já não tinhamos PREFEITO, nem vice, nem Secretários;
Agora, nem vereadores.
Só estão presentes na hora de beber o nosso sangue de canudinho, direto na jugular.
Ciro não é menos oportunista que os demais e qualquer um dos que agora ocupam gabinetes refrigerados será capaz de fazer melhor seja hoje, amanhã ou em 2024, não por incapacidade, mas por não nos ter como PRIORIDADE.
Assim caminha a humanidade a caminho do abatedouro..👀😥
Obrigado, pelo votos de felicidade neste ano novo.
Bela e rara consciência política sobre a nossa aldeia
Realmente a Câmara está mais fraca, não apenas com a morte precoce do combatente Amauri Bornhausen, PDT, mas como instituição está cada vez mais decorativa. A sociedade elege vereadores como seus representantes fiscais, e eles se tornam um dos que deviam ser fiscalizados, ajudando a cidade ir para traz.
Dos 13 eleitos, um morreu, e três estão na prefeitura.
PUXANDO A CAPIVARA, por Carlos Alberto Sardenberg, no jornal O Globo
A Advocacia-Geral da União, agora comandada por Jorge Messias, defende os interesses do governo perante a Justiça. Órgão importante, já que o governo é alvo de frequentes demandas e, não raro, autor de processos. Mas é muito duvidoso que seja função da AGU fazer “o enfrentamento” de fake news e desmascarar “mentiras” a respeito de políticas públicas. A AGU pode, sim, ir à Justiça para acusar autores do que imagina ser fake news ou mentira. Mas quem decide o que é e o que não é só pode ser o Judiciário.
Muito estranho, portanto, que um dos primeiros atos envolvendo a AGU tenha sido a criação da Procuradoria Nacional de Defesa da Democracia, justamente com o objetivo de identificar e enfrentar fake news e mentiras a respeito do governo. A Procuradoria vai decidir e punir? Em causa própria?
Tem cheiro forte de censura.
Em vez disso, seria interessante saber o que AGU do governo Lula fará em relação aos processos do petrolão. Não, isso não acabou, embora o STF tenha anulado a Lava-Jato alegando vícios formais nos processos.
Acontece que a Petrobras é coautora, junto com AGU, Controladoria-Geral da União (CGU) — responsável pela defesa do patrimônio público, transparência e combate à corrupção — e Ministério Público Federal (MPF) em ações de improbidade administrativa. A estatal também é assistente de acusação em quase uma centena de ações penais relacionadas aos casos da Lava-Jato.
Ainda agora, por exemplo, em 19 de dezembro, o MPF, a CGU e a AGU comunicaram a conclusão de dois acordos de leniência, com duas multinacionais. Uma, a Keppel, pagará R$ 343,5 milhões à União. A companhia admitiu que um representante pagou propinas para obter contratos da Petrobras entre 2001 e 2014.
Repararam nas datas? Pega dois anos de governo FH, os oito de Lula e quatro de Dilma. Aliás, a Keppel já havia devolvido quase R$ 900 milhões em acordos anteriores.
Outra multinacional, a UOP, topou pagar R$ 456,3 milhões à Petrobras, por conta de reparação de danos e devolução de lucros obtidos ilegalmente. Também pagará multa de R$ 180 milhões.
A força-tarefa do MPF, da AGU e da CGU continua funcionando. A Petrobras, com esses dois últimos acordos, já recuperou cerca de R$ 7,5 bilhões. O compliance da Petrobras tem sido muito ativo nessa tarefa. O que fará sobre isso o futuro presidente da empresa, o petista Jean Paul Prates?
A CGU, agora comandada por Vinícius de Carvalho, anunciou medidas imediatas para tentar derrubar os diversos sigilos de cem anos impostos por Bolsonaro em vários temas que não são caso de segurança nacional. Trata-se de uma providência correta: puxar a capivara do governo Bolsonaro.
Mas há outras capivaras a levantar. E seria interessante saber se o governo Lula pretende manter os esforços para recuperar dinheiro da corrupção.
Até aqui, os corruptos têm devolvido dinheiro. Surgiu uma outra ideia agora: que as empreiteiras devolvam o que roubaram fazendo novas obras. Considerando que elas roubaram fazendo obras, fica esquisito. Pode não ser, mas parece levar o criminoso a um outro local de crime.
São temas embaraçosos, claro, mas estes, sim, têm de ser enfrentados.
E por falar em capivaras ministeriais. Tem o caso da ministra do Turismo e suas ligações com milicianos. Mas tem mais: o ministro da Integração, Waldez Góes, foi condenado pelo STJ, ainda em 2019, a seis anos e nove meses, em regime aberto. Acusação: desvio de dinheiro de consignados. Está recorrendo e entrou com habeas corpus no STF, onde o processo está parado com pedido de vista desde abril do ano passado.
O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, tem uma condenação recente por nepotismo no Tribunal de Justiça de São Paulo. É segunda instância, tem recurso, como no caso de Góes.
Mas seria conveniente nomear para cargos públicos pessoas que têm condenação por mau uso de recursos públicos? Ambos alegam inocência. Então, que tal esperar o fim do processo para depois nomear?
Se bem que se a gente começar a procurar mais capivaras…
MUITO CEDO OU TARDE DEMAIS PARA CRITICAR, por Eduardo Affonso, no jornal O Globo
Já se pode comemorar muita coisa, de domingo para cá. Marina Silva cuidando do Meio Ambiente, em vez de Salles e sua boiada, por exemplo. Ou a esfuziante Margareth Menezes na gestão da Cultura, até outro dia a cargo de um álgido Mário Frias.
Foi bonito ver Raoni subindo a rampa e “o povo” – ali representado pelo venerando cacique, por uma criança de periferia, uma catadora de recicláveis, um operário, um professor, uma cozinheira, um artesão, um ativista anticapacitista – fazendo a passagem da faixa no lugar do capitão fujão. Sem falar na irresistível vira-lata Rê (difícil supor que ela seja tratada, na intimidade, pelo seu nome panfletário: “Senta, Resistência”, “Não pula, Resistência”, “No sofá, não, Resistência!”).
Há momentos – e aquele era um – em que o simbolismo é tudo.
Uma economia verde e sustentável, como proposta por Alckmin, é auspiciosa. Assim como a luta contra o preconceito, a exclusão e a invisibilidade social (“Vocês [todos] existem e são valiosos para nós”, nas palavras do ministro dos Direitos Humanos).
Ter esperança nas boas intenções está liberado – afinal, o governo já começou com força total. Entretanto, se o assunto forem os maus presságios, a coisa muda de figura: é cedo demais para crítica, “espera o governo começar!”.
Este governo deu a largada em dezembro, com o atentado à Lei das Estatais para permitir o aparelhamento do BNDES, da Petrobras e sabe-se lá do que mais. Inventou-se a quarentena pro forma (poderia ser de 40 minutos: não faria diferença, e ainda haveria um afago na etimologia).
Qualquer reparo que se bote no negacionismo econômico, na prestidigitação fiscal, na alteração do Marco Legal do Saneamento, no boicote à reforma da Previdência ou nas restrições à liberdade de expressão tem sido encarado como prematuro e ressentido – uma mal disfarçada nostalgia do recém-finado fascismo Porcina (aquele que foi sem nunca ter sido).
O país não precisa de uma Procuradoria Nacional de Defesa da Democracia ou de uma Secretaria de Políticas Digitais para coibir desinformação e discurso de ódio. Desinformação se combate com informação; para todas as outras coisas, existem os Códigos Civil e Penal – e a Constituição. Lembrando Vincenzo Gioberti:
– Os maiores inimigos da liberdade não são os que a oprimem, mas os que a deturpam.
Não há como comparar Nísia Trindade a Eduardo Pazuello, Silvio Almeida a Damares Alves, Camilo Santana a Ricardo Vélez, Abraham Weintraub ou Milton Ribeiro. Nem Simone Tebet a quem quer que seja do “antigo regime”. Porém – ah, porém! – existem Rui Costa, investigado por fraude na compra de respiradores e financiamento ilegal de campanha; Carlos Lupi, que só sairia do governo Dilma “abatido à bala”, mas economizou munição e caiu por denúncias de corrupção; Waldez Góes e as acusações de desvio de recursos públicos; Daniela do Waguinho e a camaradagem com a milícia.
O governo Lula precisa dar certo, para que nunca mais haja outro Bolsonaro. E, se der mesmo certo, é porque terá passado ao largo do receituário petista – o que nos provará a desnecessidade de outro governo do PT.
Não, nunca é cedo para criticar. Se tiver de esperar o fiasco consumado, aí será tarde demais
O DESASTRE DE ANTECIPAR 2026, por Vera Magalhães, no jornal O Globo
Lula ainda não completou uma semana de mandato, mas as bolsas de apostas para a sucessão presidencial de 2026 estão a todo vapor.
O erro é comum à imprensa e aos integrantes do próprio governo, e, além de ser o caminho certo para fofocas e conchavos que podem inviabilizar a largada da gestão, invariavelmente produzirá análises equivocadas.
Quem escreve coleciona uma série desses equívocos, frutos da tentação de passar a esquadrinhar a eleição seguinte tão logo é anunciado o resultado da última.
Depois de eleger João Doria prefeito de São Paulo em 2016 e na sequência governador do estado, Geraldo Alckmin foi apontado por todos, inclusive por mim, como nome forte para 2018. Teve menos de 5% dos votos válidos.
O próprio Doria, eleito duas vezes em dois anos, responsável por viabilizar a primeira vacina anti-Covid em 2021, era nome dado como certo na cédula de 2022, mas chegou avariado à campanha e bateu em retirada.
Voltando ainda mais no tempo e evocando o passado petista, em 2003, quando Lula subiu a rampa do Planalto, imediatamente se deflagrou uma disputa pelo posto de seu sucessor, entre José Dirceu, então instalado na Casa Civil, e Antonio Palocci, responsável pela Fazenda. Mudança de script: os dois se inviabilizaram por escândalos distintos e não chegaram vivos a 2010; sobrou para Dilma Rousseff, que no bolão dos cotados de sete anos antes não teria sequer um voto.
Um dos primeiros a darem corda para esse tipo de especulação estéril na nova equipe foi o titular da Casa Civil de Lula 3, Rui Costa, em entrevista ao “Roda viva” nesta semana. Depois de orgulhosamente desviar de todas as tentativas de jornalistas de colocá-lo como opositor de colegas de ministério ou candidato a receber a faixa de Lula, ele achou por bem dizer que nada impede que seja o próprio presidente o cabeça de chapa em 2026, a despeito de tudo que ele próprio tem garantido desde que se lançou candidato. Se a ideia era acalmar a disputa entre os ministros, o resultado foi o oposto: catapultar o presidente de volta ao palanque, com Jair Bolsonaro, que nunca desceu, do outro lado.
Lula tem vários defeitos, mas não custa lembrar que, em 2014, ele resistiu aos insistentes apelos do “volta, Lula”. Antes ainda, em 2010, desviou da casca de banana dos que propugnavam que ele tentasse um terceiro mandato. Em suma: nem tentou ser um autocrata com ares de democrata, nem puxou o tapete de Dilma Rousseff, sua criatura, mesmo quando petistas queriam vê-la pelas costas.
Tentar adivinhar em janeiro de 2023 quem será competitivo em 2026 é burrice política e falta de acuidade jornalística. Instados a opinar demais — além de nos espaços de trabalho, também nas redes sociais —, nós, jornalistas, não podemos repetir essa esparrela depois de termos apostado que Jair Bolsonaro encontraria um teto e ficaria pelo caminho em 2018. Sabemos qual foi o desfecho.
É importante escrutinar o novíssimo governo com as lentes de hoje (e do que ele resgata de ontem), sob pena de turvar a análise com a tentativa de adivinhar o grid eleitoral de 2026.
Bolsonaro estará elegível? Se estiver e for competitivo como hoje, haverá algum candidato que não seja Lula capaz de enfrentá-lo com alguma chance? Todas essas e mais muitas são questões de longo prazo a que só o dia a dia do governo que entra poderá responder.
Se repetir escândalos e desastre econômico, Lula não só se inviabilizará, como queimará qualquer um dos aliados de hoje listados como candidatos daqui a três anos e alguns meses. Cabe a ele, portanto, construir o caminho da própria sucessão. E a nós e a seus assessores, o bom senso de não enveredar pela predição supersticiosa no lugar da análise de dados, fatos e evidências.
MARCOS REPUBLICANOS SOB AMEAÇA, editorial do jornal O Estado de S. Paulo
Em seu primeiro dia, o novo governo tentou desmembrar a Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA) e esvaziar sua função reguladora no saneamento. Além de inepta, a manobra desperta apreensão por sinalizar um duplo retrocesso: no saneamento em si e na autonomia das agências reguladoras.
A MP que define as atribuições dos 37 Ministérios alterou a lei de criação da ANA para vinculá-la ao Ministério do Meio Ambiente. O mesmo ato retirou de seu nome a menção ao saneamento e excluiu sua atribuição de instituir as normas de referência no setor. Ao mesmo tempo, o decreto sobre o Ministério das Cidades atribuiu esse papel à Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental da pasta.
A medida é ilegal, porque a competência da ANA para elaborar as normas foi instituída pelo marco legal do saneamento e só pode ser alterada por lei. Além disso, apesar de a MP ter repassado a ANA para o Meio Ambiente, o decreto que estrutura o Ministério de Integração e Desenvolvimento Regional também prevê a vinculação do órgão.
A Casa Civil já sinalizou que vai retificar a confusão, mas a sensação de insegurança já está instalada. Porém, mais do que mero equívoco, a tentativa de transferir as competências da ANA à administração direta parece ser um balão de ensaio de um governo atavicamente hostil à iniciativa privada e à independência das agências reguladoras.
Ao contrário do que se fez na energia, transportes ou telecomunicações, os serviços de água e esgoto ainda são prestados quase que exclusivamente por estatais contratadas sem licitação nem metas. O marco, aprovado em 2020, fez valer a exigência constitucional de licitação e metas, criando condições para a atração do capital privado. Para garantir segurança e previsibilidade, foi atribuído à ANA o papel de editar as diretrizes de referência a serem seguidas pelas mais de 80 agências reguladoras infranacionais.
À época, o PT se opôs ao marco, e em dezembro o grupo de transição para o novo governo já recomendou a sua “revisão” para barrar concessões ou privatizações e esvaziar a autonomia da ANA. Dito e feito.
Trata-se de uma tentativa de autorrealizar uma profecia. Membros do governo alegam que a ANA não tem “controle da sociedade”, gerando insegurança jurídica, e que o marco não trouxe os investimentos desejados. Mas, como toda agência, a ANA é fiscalizada pelo Congresso. Só em 2021, os investimentos no saneamento cresceram 27% – só os privados, 41%. Agora, porém, esse avanço está ameaçado.
“Evidentemente, essas incertezas geram a procura por um plano B”, disse ao Estadão uma fonte ligada ao setor. “No limite, as empresas privadas de saneamento vão apenas manter a estrutura que têm hoje e parar de investir, à espera de uma definição sobre o futuro.” O freio põe em risco as metas de universalização estabelecidas pelo marco, ameaçando perpetuar o estado de exclusão e degradação em que vivem os 35 milhões de brasileiros sem água potável e os 100 milhões sem esgoto.
A ofensiva sobre a ANA é parte de um conteúdo programático. As agências reguladoras foram criadas nos anos 90 para garantir que as privatizações e concessões fossem reguladas por critérios técnicos, em prol do interesse público, livres de pressões de corporações políticas e econômicas a serviço de interesses privados. Trata-se de órgãos de Estado, não de governo – e muito menos de um receptáculo de aparelhamento partidário. É justamente isso que sempre despertou a ojeriza do PT. Na oposição, o partido se opôs à criação das agências. No governo, fez o diabo para sabotá-las, fosse asfixiando-as financeiramente, fosse retardando nomeações, fosse obliterando projetos de lei que fortalecessem sua isenção e sua capacidade técnica.
A pandemia foi a grande vindicação das agências. Só Deus sabe o quanto Jair Bolsonaro teria retardado a aprovação das vacinas não fosse a autonomia da Anvisa. O lulopetismo e o bolsonarismo se apresentam como antíteses um do outro. Mas eis mais um ponto em que convergem: o anseio mútuo por submeter toda a máquina do Estado ao seu arbítrio.
QUEM NÃO SE COMUNICA, por Elena Landau, economista e advogada, no jornal O Estado de S. Paulo
Lembrei de Abelardo Barbosa e Sergio Porto nesta primeira semana de governo. Chacrinha usava muito o bordão “eu vim para confundir, e não para explicar”. Foi exatamente o que se passou nas idas e vindas sobre o Marco do Saneamento. Uma enorme confusão sobre o papel da Agência Nacional de Águas (ANA), que deixou no ar a possibilidade de retrocesso numa das mais importantes reformas regulatórias dos últimos anos. O novo marco gerou um aumento significativo do investimento privado e impôs metas de universalização, dando esperanças de acesso a água e esgoto à população de baixa renda abandonada na lama por anos de atuação estatal.
Stanislaw Ponte Preta criou a expressão Febeapá (“Festival de Besteiras que Assolam o País”). A semana foi pródiga. Na sua posse, Lupi bradou: “A Previdência não é deficitária”. É terraplanismo puro em governo que promete respeitar a ciência. Sua “antirreforma” foi mais um anúncio a ser desmentido em menos de 24 horas.
A ideia de rever a governança das estatais, anunciada por Esther Dweck, é outro equívoco. A ministra assumiu em evento prestigiado por um discurso de Dilma, que sugeriu a reversão de inúmeras reformas do governo Temer – aquelas que salvaram o País da terra arrasada legada por ela.
A suspensão das privatizações era previsível. Inclusive, a retirada da Petrobras, que não passava de fanfarronice de Guedes. Mas quando até a Ceitec está sendo ressuscitada, nem Pollyanna resolve.
Nesse cenário, a Lei das Estatais se torna ainda mais relevante. A lei não criminaliza a política, simplesmente exige qualificação técnica para cargos na administração das estatais.
Em seu discurso, Lula errou no tempo ao afirmar que as estatais estão sucateadas. Estavam em 2015, quando se registrou prejuízo recorde no seu conjunto. A intervenção nos preços, mais investimentos para lá de duvidosos, geraram um nível de endividamento na Petrobras e Eletrobras que teria levado à falência qualquer empresa privada. Lucros foram registrados já em 2016 com uma nova gestão e, após anos de ajustes, dividendos voltaram a ser distribuídos.
Quem mais ganhou com isso foi o dono delas: o governo federal, que representa a todos nós. Não houve rapinagem alguma. E junto ganharam os trabalhadores, que nos anos 2000 acreditaram na empresa e usaram o FGTS para comprar ações da Petrobras. Conseguiram recuperar todo o dinheiro perdido por conta das desastrosas administrações que se seguiram. A tal “nova governança” coloca tudo isso em risco novamente.
Em boa hora, Lula resolveu colocar ordem na casa, afinal quem não se comunica, se trumbica.