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GASPAR ESCONDE MORTES PELA COVID. OU SEJA, O DESASTRE NA TRANSPARÊNCIA NA SAÚDE CONTINUA MESMO COM A MUDANÇA DE GESTOR. É UMA PRÁTICA POLÍTICA

Como escrevi anteriormente, este espaço não está de férias. Nem os políticos. Só você pagador de pesados impostos.

Um dado e duas constatações vêm chamando a atenção nos últimos dias da mídia e parte dos técnicos na área de saúde pública, abafados pelo ambiente político contaminado, mudança de governo, as festas natalinas e de final de ano: é a repetida informação de que os casos de contaminação e mortes por Covid-19 estão em alta no Brasil, sem à devida repercussão e contrapartida.  Isto dá margem para dúvidas e más interpretações.

Com um governo negacionista à pandemia, em tempos de “normalidade”, à obtenção destes dados só foi possível via um pool de imprensa. Uma vergonha! Com um governo que perdeu para ele mesmo se desmanchando – inclusive nas narrativas – e os que estão assumindo disputando nacos de poder por ideologia e não exatamente por competência, tudo está bem pior, até porque a imprensa deixou de fazer este papel diário de apurar os dados esparsos nas secretarias estaduais, muito deles, inconsistentes e até sonegados.

Nos dados oficiais precariamente disponíveis, ou seja, não se trata de especulação ou fake news, Brasil aumentou o número de casos e mortes, Santa Catarina em menor proporção também demonstro isto ao final do artigo usando fontes o G1, no pool de imprensa que ainda faz o levantamento semanal, e o próprio site do governo do estado. 

E é pelo site do governo de Santa Catarina, sabe-se que Gaspar escondeu duas mortes. Uma ocorrida no dia 28 de novembro – uma mulher de 62 anos diagnosticada no dia 10 de outubro – e outra no dia oito de dezembro – outra mulher, de 84 anos, diagnosticada no dia 30 de novembro, naquilo que estava disponível na secretaria de Saúde do estado até ontem, dia 25 de dezembro, também num ambiente de transição, atualização morosa e com servidores burocratas de férias. Agora são 220 moradores de Gaspar que perderam a vida para a Covid-19

O último óbito registrado e só informado publicamente por aqui, sob protestos de agentes públicos quem tinham à obrigação da transparência, ocorreu no dia 16 de agosto, um homem de 85 anos. Ele tinha sido diagnosticado no dia 31 de julho. Naqueles dias, em pouco tempo, saímos de 215 para 218 óbitos.

O governo do prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, seja no primeiro mandato, ou agora no segundo, foi o que mais trocou de secretário de Saúde. Nunca se teve uma notícia igual na vida político-administrativa da cidade. Dado histórico, repito histórico, que por si só, revela-se um desastre, ou sintomas de problemas sérios na condução de uma política essencial para os cidadãos e cidadãs. Há coisas graves escondidas!

Por outro lado, dinheiro para a Saúde não faltou em Gaspar e comentarei em outro artigo. Reiteradamente o que faltou foi transparência, atendimento e soluções para os gargalos nos postinhos de Saúde, Policlínica e principalmente o Hospital de Gaspar, sob intervenção municipal e um impressionante sugadouro de dinheiro público.

As silenciosas mortes por Covid-19 entre nós que alteraram as estatísticas, aconteceram na gestão do vereador que virou secretário da Saúde de Kleber, Francisco Hostins Júnior, MDB. Hostins Júnior assumiu em julho. Ele apesar de advogado, já foi secretário da Saúde no governo petista de Pedro Celso Zuchi. Ou seja, não é um neófito no assunto.

Está lá, para possivelmente resolver um ambiente sob sérias dúvidas, de queixas da população e com isso, em um dever funcional, se bem-sucedido, tentar recuperar o capital politico com a falta de memória dos eleitores, ganhar projeção na imagem, a qual perdeu – e os votos mostraram isso em 2020 – exatamente por colocar para debaixo do tapete, por manobras regimentais e possíveis, as dúvidas que a CPI da Drenagem da Rua Frei Solano, no Gasparinho, levantou. Júnior Hostins era o presidente da CPI.

Resumo da ópera. Mortes e problemas estragam o marketing do político nos seus projetos de poder. 

Mas, ao contrário do que os “çábios” que os cercam e se estabelecem no sistema entre eles para se perpetuarem no poder, e neste caso, a transparência é exatamente uma arma eficaz de alerta e prevenção. 

Vamos a um caso prático. Quantas pessoas morreram de Dengue em Gaspar? Nenhuma até agora. Acertadamente, a secretaria de Saúde foi para a rua conter focos e esclarecer por todos os meios possíveis danos na saúde das pessoas e no erário público que desembolsa no tratamento das pessoas doentes. Então por que Kleber e Hostins Júnior escondem os dados da Covid, ou não os usam para o mesmo senso de prevenção, sendo que a Covid é centenas de vezes mais letal entre nós como mostram as estatísticas oficiais? 

Porque a Covid está ideologizada e estigmatizada. E parte do eleitorado que Kleber e Junior Hostins precisam esclarecer e convencer a mais cuidados devido ao aumento de casos de Covid-19, são seus possíveis eleitores e eleitoras em 2024 em ambiente não só conflagrado, mas pior: congestionado no campo conservador, religioso e da direita em Gaspar. Então, preferem não cutucar a onça com a vara curta. Dois pesos e duas medidas diferentes, em dois exemplos, entre muitos que há entre nós. E eles ainda ficam putos quando se esclarece isso.

Estes políticos não se emendam nem naquilo que é essencial e mínimo na transparência à sociedade que representam. São convenientes e coniventes. São cúmplices nos resultados danosos.

Desde o dia primeiro de novembro até a semana do Natal, pelos dados da secretaria de Saúde do Estado de Santa Catarina, 304 pessoas tinham sido infectadas oficialmente pela Covid em Gaspar, quase o que se infectou pela dengue, mas no ano todo. Outro comparativo. Ilhota não há mortes registradas desde o dia três de julho. O total por lá é de 41 nesta pandemia. Cidades como Timbó (107 mortes por Covid-19), Indaial (154) e Rio do Sul (159) comparáveis ao tamanho de Gaspar, ou vizinhas a Blumenau, tiveram menos mortes por Covid do que aqui. 

Os dados estaduais disponíveis registraram 20 mortes em Santa Catarina na semana que antecedeu o Natal, contra uma média semanal que estava em cinco. Os dados nacionais de sexta-feira mostraram 181 mortes, contra uma média já em ascensão e que estava em 145. Hoje, no Brasil, oficialmente e naquilo que conhecemos, tivemos 692.461 mortes por Covid-19. Não é alarmante este aumento de infectados e mortes até por falta de mais dados mais consistentes, mas é preocupante. Acorda, Gaspar!

TRAPICHE

Fujo um pouco do meu foco e compromisso com a aldeia, mas, no fundo, ela é parte de um todo. Terrorismo no Brasil está associado intrinsicamente – e por linhas tortas e do imaginário de redes sociais ativas – a comunista, socialista, à esquerda do atraso e por aí vai.

Não é que a direita no Brasil acabou até com esta errônea mitificação? Já era deprimente se pedir defronte aos quarteis ditadura militar para restabelecer a “democracia” e com ela, manter no poder um civil um ex-militar indisciplinado – e por isso teve que ir para a reserva. Só para corrigir a falta de votos suficientes para se eleger, por culpa dele, dos filhos, dos rabugentos radicais que afugentaram os votos dos moderados do mesmo campo ideológico ou de simpatia.

Agora, depois de escolher o adversário e perder, desesperadamente, seus seguidores tentaram arquitetar explosões em Brasília para se criar caos e como isso provocar às vésperas da transição, um suposto Estado de Sítio porque tem que deixar o mandato. Tudo isso, é um delírio. Ele só atrapalha ainda mais os conservadores, os da direita e até os fanáticos religiosos comandados por pastores espertos transformaram uma parte dos seus rebanhos em cordeiros para serem imolados. 

E por que escrevo isto? Foi com um ato assim, a bomba que explodiu no colo de um militar, dentro do seu carro e que era para explodir no Riocentro como se fosse um ato terrorista da esquerda contra o povo, durante um evento popular, que a Ditadura Militar começou a se enfraquecer e gradualmente o poder e a democracia voltaram às mãos dos civis. Nem inovar na história essa gente é capaz? Meu Deus!

Fatos como estes não servem ao Brasil, aos brasileiros e principalmente aos conservadores e a direita, inegavelmente ainda maioria no Brasil, O radicalismo só favorece o fortalecimento de um governo de esquerda, que também será tão radical e vingativo quanto. Até quando vamos neste vai-e-vem do nós e eles? Só o sistema e os que estão neles ganham. Nós pagamos a conta.

Os sonhadores de esquerda precisam da pobreza perene para a sobrevivência. Prometem o céu, sem reformas, sem contenção da cara e ineficiente máquina pública. E por quê? Porque precisam para o aparelhamento para se manterem no poder, enfraquecendo a economia de mercado e perseguindo investidores, realizadores e adversários. Wake up, Brazil!

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3 comentários em “GASPAR ESCONDE MORTES PELA COVID. OU SEJA, O DESASTRE NA TRANSPARÊNCIA NA SAÚDE CONTINUA MESMO COM A MUDANÇA DE GESTOR. É UMA PRÁTICA POLÍTICA”

  1. País precisa de políticas públicas inovadoras. O novo mandato de Lula não pode ser uma volta de ideias atrasadas. O Brasil já sofreu muito com dogmas petistas, dilmistas e bolsonaristas

    PAÍS SEDENTO DE NOVAS POLÍTICAS PÚBLICAS, editorial do jornal O Estado de S. Paulo

    O novo mandato de Lula não pode ser uma volta de ideias atrasadas.

    Não é difícil de apontar as deficiências do governo de Jair Bolsonaro. Ao longo desses quatro anos, foram implementados retrocessos evidentes em diversas áreas. Como escreveu Simon Schwartzman no Estadão (As três agendas da transição, dia 9/12), a primeira e indispensável agenda do próximo governo é a de “desfazer as ações de terra arrasada do bolsonarismo na saúde, na educação, na política ambiental, na cultura, na ciência, tecnologia e no estímulo ao ódio, ao armamentismo e à violência política”. Mas isso não é suficiente. A agenda mais importante, lembrou Schwartzman, “é a de iniciar políticas públicas inovadoras, capazes de lidar de forma efetiva com as condições de pobreza e precariedade da população brasileira e fazer o País retomar um ritmo saudável de desenvolvimento econômico e social”.

    O País precisa de políticas públicas inovadoras. A eleição presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva – e isso vale para qualquer outro cargo público – não pode representar uma volta no tempo. As soluções para os problemas nacionais não estão no passado. Quando se diz que o interesse público estará mais bem atendido se a política econômica do novo governo aproximar-se mais de Lula I do que de Lula II, não significa pleitear uma volta ao passado – a aplicação das mesmas políticas do primeiro mandato petista –, mas simplesmente reconhecer que a virtude da responsabilidade (no caso, em matéria fiscal) tem de permear toda ação governamental.

    Um novo governo deve ser – é isso, afinal, o que se espera de um novo mandato – um governo realmente novo, oxigenado com boas ideias, propostas e iniciativas. O País tem muitos desafios. A fome voltou. A educação avançou nas últimas décadas, mas precisa progredir muito. Os índices de aprendizagem são severamente insatisfatórios. O saneamento básico é uma chaga aberta. Falta infraestrutura e sobram entraves para quem deseja empreender. É normal que, numa campanha eleitoral, o postulante ao cargo público fale de seus feitos em governos passados. Mas – eis o ponto que não pode ser ignorado – mesmo as melhores ideias e iniciativas dos governos petistas são insuficientes para os desafios contemporâneos do País.

    Nem se fale, por óbvio, que o PT não tem o direito de repetir seus erros passados. A eleição de Lula não significa uma espécie de absolvição em relação aos muitos equívocos do partido, com uma autorização para replicá-los. Achar isso denotaria grave incompreensão do cenário político, verdadeiro alheamento da vontade do eleitor, bem como um indesculpável desprezo pelo País. Governar é ter a responsabilidade de cuidar do bem comum, e não fazer o que bem entender. Vale lembrar que foi justamente esse modo despótico de exercer o poder que o eleitor rejeitou nas urnas de 2022, ao não conceder um segundo mandato presidencial a Jair Bolsonaro.

    Reconstruir a racionalidade pública é, em sua primeira e imediata etapa, remover os retrocessos dos últimos quatro anos. Mas requer muito mais do que isso. É fazer um correto diagnóstico dos problemas nacionais. É detectar boas políticas públicas implementadas ao longo dos anos, também por governos não identificados com as ideias petistas. É não destruir o bom trabalho feito pelo Congresso, também em relação a projetos em que o PT pode ter sido, durante sua tramitação, oposição. É essa racionalidade, esse compromisso com o interesse público, que se espera de todo novo governo.

    Depois de quatro anos de bolsonarismo no Palácio do Planalto, o País está sedento por um novo patamar de responsabilidade, o que inclui de forma muito especial planejamento, estudo, reflexão e diálogo. Há muito a fazer, mas não basta ativismo ou voluntarismo. Nesse sentido, um governo genuinamente amplo, que esteja de fato conectado com muitos e diversos setores da sociedade brasileira, pode proporcionar uma compreensão mais abrangente dos problemas e das possíveis soluções. Basta de estreiteza de visão. O País já sofreu muito com ideias fixas e dogmas, sejam eles petistas, dilmistas ou bolsonaristas.

  2. PARA QUE SERVE UM COLUNISTA, por Joel Pinheiro da Fonseca, no jornal Folha de S. Paulo

    Nem só de notícias e reportagens vivem os jornais. Estamos afogados em fatos e dados. Isso vale tanto para os fatos e dados falsos, as fake news que jornalistas e checadores tanto se esforçam para corrigir, quanto para os verdadeiros. Há simplesmente muita informação sendo ofertada. Essa abundância, contudo, não é acompanhada de um aumento de capacidade de cada um de nós de entender, interpretar e julgar cada unidade dela.

    Precisamos de ordem: cada um de nós tem uma visão de mundo e uma narrativa simplificada da história recente. É dentro de uma estrutura assim que informações esparsas passam a fazer sentido, como tijolos numa construção.

    Uma narrativa pode se aproximar mais ou menos da realidade do que outra, mas não é trivial compará-las. Cada um dos tijolos ali pode ser retirado sem que a obra desmorone. Se alguém que mostra que a informação que você compartilhava sobre Bolsonaro era falsa, isso te leva a corrigir uma crença pontual, e não a revisar toda sua visão política.

    Aí entra o colunista —ou comentarista, analista, articulista— de opinião. Seu trabalho não é tanto trazer fatos novos, mas selecionar, interpretar e julgar os fatos, idealmente ajudando os leitores a entender melhor o que se passa. Isso é útil porque: 1) traz ao conhecimento do leitor fatos que, embora já públicos, ele talvez não conheça ou cujas implicações ele não tenha percebido (o que os números da economia significam? O que se conclui das nomeações do novo governo?) ; 2) ajuda-o a tomar decisões para sua vida ou a se posicionar sobre as questões que mobilizam a sociedade.

    Ocorre que toda questão admite diferentes posicionamentos. Além disso, a mente humana não se guia espontaneamente pelas melhores evidências; ela busca confirmar crenças prévias —crenças que reforçam identidades pessoais, alinhamentos políticos, interesses econômicos. Com mais informação disponível, a mente de cada indivíduo tem mais opções para selecionar os pedaços que interessam, descartar os que incomodam e montar assim uma narrativa que lhe convenha. E o fará enquanto jura de pés juntos —até para si mesmo— estar apenas buscando a verdade.

    Ser engenhoso em pegar os fatos novos —as notícias do dia— e encaixá-los em uma das narrativas dominantes é um trabalho em alta. Mostre que o seu lado está sempre certo e —mais importante— que o outro é um verdadeiro demônio. Dê à torcida tudo aquilo que ela quer. No limite mais baixo, até os fatos viram parte do jogo: forneça pretextos para rejeitar fatos indesejáveis e afirme com convicção fatos duvidosos —ou até patentemente falsos— que reforcem as convicções dos leitores. Você será amplamente recompensado; há mercado para quem for hábil nisso.

    O mercado, contudo, não é o melhor guia para a verdade. Ao menos não no curto prazo. O comentarista que estimula os preconceitos de seus leitores faz deles cidadãos e pessoas piores. Em um momento em que a divergência aumenta e em que narrativas muito simplórias são reproduzidas como verdadeiras armas de guerra ideológica, penso que a postura contrária agrega mais: mostrar os limites, as nuances e mesmo as falhas das narrativas. Instigar o leitor a interpretar a realidade sem se deixar instrumentalizar por algum projeto de poder. Defender aquilo que se crê ser o melhor, mas de forma honesta: priorizando argumentos e respeitando a realidade acima de tudo.

    Se ajudei os leitores nessa direção ao longo de 2022, cumpri meu papel. E, com todos os defeitos e imperfeições, é o que seguirei tentando em 2023. Feliz ano novo!

  3. VINGANÇA, NÃO, POR FAVOR, por José Nêumanne Filho, em O Antagonista.

    Lula ganhou a eleição presidencial apoiado por uma frente ampla, que teve tudo para se tornar amplíssima e tornar viável governar um país dividido

    A cultura brasileira glorifica duas negações à vingança que geraram grandes obras no teatro e na literatura pelo abandono do velho hábito rural da legenda do talião bíblico do olho por olho, dente por dente. Quando João Suassuna foi assassinado no Rio por um pistoleiro profissional para punir com a morte o chefe político acusado de ter sido o mandante da execução de João Pessoa, em Recife, a matriarca Ritinha Vilar reuniu os filhos e os fez jurarem que jamais vingariam o pai. Desde os três anos, Ariano seguiu a lei dos irmãos mais velhos e se dedicou a honrar a memória paterna em sua vasta obra teatral e romanesca.

    Um ano mais novo do que Ariano e nascido no longínquo sertão do mesmo Estado da Paraíba, Francisco Pereira da Nóbrega assumiu compromisso similar com a mãe, Jardelina, e interrompeu o derramamento mútuo de sangue. Assim, rompeu a corrente da vendeta do pai, o cangaceiro Chico Pereira, assassinado pela polícia de seu Estado. Padre, filósofo, membro da Academia Paraibana de Letras, escreveu o primoroso Vingança, não! sobre a saga familiar. A crônica policial é pródiga de exemplos em que a violência da tradição tem sido substituída pelo convívio pacífico de antigos inimigos mortais.

    Na vida pública, o talião também pode ser trocado por reconciliação de ex-desafetos. A Paraíba, palco dos fatos narrados, tem bons exemplos disso: em 1950, José Américo de Almeida saiu da União Democrática Nacional (UDN) e foi para o Partido Liberal (PL) para derrotar na eleição para governador o chefão de sua ex-legenda. Teve, então, o apoio do arquiadversário Partido Social Democrático (PSD). Em 1986, os inimigos João Agripino Filho e Ernani Sátiro se uniram para apoiar a indicação de Antônio Mariz, que perdeu a eleição indireta para o indicado de Zé Américo, Tarcísio Burity. Destino inglório também teve a Frente Ampla formada por Juscelino Kubistchek e João Goulart com o ex-rival Carlos Lacerda, em 1966. A iniciativa foi abortada pelos antigos aliados da ditadura militar de 1964.

    Caso clássico a ser narrado ainda é o do Partido Popular (PP), fundado pelo udenista Magalhães Pinto e por seu antiquíssimo rival, o pessedista Tancredo Neves, em 1980. Mas só duraria dois anos, após reforma partidária imposta pelos sequazes da ditadura. Ou seja, são exemplos eloquentes, mas nem todos deram certo.

    Ainda é cedo para determinar êxito ou fiasco da tentativa de qualificar a Frente Ampla partidária formada para atender ao clamor popular pelo fim do desgoverno nazifascistoide de Jair Messias Bolsonaro. Mas manda a prudência temer pela possibilidade de não dar certo a gestão a ser empreendida pela Frente Amplíssima necessária para dar à chapa eleita pelos Partidos dos Trabalhadores (PT) e Socialista Brasileiro (PSB). Pois há nítidos indícios de que o PT não prioriza o fortalecimento de uma aliança multipartidária e mutiideológica para reconstruir o Estado e dar continuidade ao projeto democrático contido na Constituição de 1988, implodidos pela perversa atuação da extrema direita no poder desde 2019.

    O emedebista Michel Temer, duas vezes eleito pela população vicepresidente na chapa de Dilma Rousseff, foi excluído da lista de convidados para a diplomação de Lula e Alckmin. Este é o claro recado de que os petistas não desistiram da vingança do impeachment de Dilma, esquecendo que madame não teria mandatos a cumprir sem os votos do aliado da chapa. E mais: que as eleições não foram fraudadas e, portanto, ele não foi golpista, mas eleito pelo voto popular que a elegeu. Isso é grave, mas não é tudo. Pior ainda é a conformação de um governo que não promete ser de um Lula novo, mas a recuperação de um velho desastre econômico que resultou em grotesco arremedo de Pietá nos jardins do Alvorada abandonado por Jair Messias e Michelle Bolsonaro. O Dilma 2 e meio.

    A outra vingança é a volta por cima da temporada do líder máximo na prisão da Polícia Federal em Curitiba. Iniciada com a colaboração do adversário favorito na farsa da transformação de multicondenado em inocente-mor, ela se concretiza na tentativa de tornar o presidente eleito uma versão sindical de Nelson Mandela. Consagrando por evidente a desnecessidade de qualquer tipo de arrependimento. Ou da garantia de que um Lula 3 não repita seu passado oculto nas trevas desse nefando acordo com o Congresso de Arhur Lira e seus nefastos orçamento secreto e PEC da Gastança, aumentos absurdos de vencimentos de maiorais de republiqueta e indulgência absoluta para a mais suprema impunidade.

    Diante de tais fatos nefastos resta a esperança que a divisão do País, refletida nas votações dos candidatos a presidente, sirva de alerta contra abusos repetitivos e insuportáveis. O povo brasileiro não suporta mais farsas e avanços absurdos de assaltos ao erário, seja em arrombamentos dos cofres das viúvas, seja no aumento da dívida pública para sustentar sombra, água fresca e luxo nos palácios de ostentação de uma casta indiferente, insensível e insaciável. A história já deu várias demonstrações de que quando a situação chega a esses extremos, uma explosão pode se tornar inevitável. É melhor criar juízo e consertar.

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