Escolhi esta imagem, para desejar aos leitores e leitoras cristãos, não cristãos e os ateus, ou os que não acreditam em qualquer fé: FELIZ NATAL.
Ela é da minha infância. Foi por meio de imagem como esta é que fui apresentado ao Natal simples, religioso e de superação das dificuldades lá em casa. Sou cristão, não um submisso e nem um fanático. Ser cristão é apenas uma inspiração. E Natal, é a essência da fé cristã. É, afinal, o nascimento de uma crença, de uma mudança, de uma proposta de transformação não apenas religiosa. É um símbolo, inclusive social e de passagem terrena. Ele lembra mais do que o nascimento de Jesus Cristo, num ambiente físico e social totalmente adverso, mas incluso às sucessivas fases de provação e superação até a sua morte, ressureição… Tudo simbólico.
O Natal, de verdade, lembra muito a trajetória de muitas pessoas mundo afora – olhe o noticiário, por favor e agora em tempo real -, cristãs ou não, qual naquela manjedoura e que mesmo sob adversidade, este começo não pode significar a indignidade humana eterna.
A vocês que me deram o prazer da leitura, ao Miguel, um casual amigo feito exatamente por laços pós-infância e credo, mas que nos distanciamos por décadas, exatamente em caminhos próprios de superação, um Feliz Natal, o Natal da imagem. E não me distraiam, diminuam intelectualmente ou me constranjam, dizendo ser a imagem politicamente incorreta, antiquada e de um senso do cristianismo enfraquecido, que já foi de sangue.
Esta imagem é da união e superação, cada vez mais substituída pela ostentação, ambição, do isolamento e desunião – não me refiro à família somente – mas, e principalmente na comunidade, onde o cristianismo é usado – como nas Cruzadas – para impor poder sem qualquer sustentação teológica, quando a essência da fé cristã é o amor, a compreensão, o perdão…
Um aviso necessário: neste espaço não haverá férias. Ou você terá comentários inéditos, ou o Miguel e eu vamos compartilhar com vocês nossas leituras e observações sobre elas
7 comentários em “FELIZ NATAL, AQUELE NA RENOVAÇÃO NO SÍMBOLO DO NASCIMENTO DE JESUS CRISTO”
O Dia do Natal de 2022 esta terminando. Mas a imagem acima e o que ela nos representa permanece. Então. . .Feliz 2023!
SAUDADES DA TRANSIÇÃO DE FERNANDO HENRIQUE PARA LULA, por Elio Gaspari, nos jornais O Globo e Folha de S. Paulo
Há 20 anos Fernando Henrique Cardoso passou a faixa a Lula numa transição que podia sinalizar um processo civilizado para o futuro. FH levou caneladas antes, durante e depois da eleição. Passou o governo a Lula com a marca da elegância durante um período de incerteza econômica. Convidou Lula e Marisa Letícia, mulher do petista, para um encontro no Alvorada e, dias depois, FH e Ruth Cardoso jantaram na Granja do Torto, colocada à disposição do presidente eleito. Está nas livrarias “Eles não são loucos”, do repórter João Borges. Ele conta os bastidores das iniciativas que garantiram a paz nacional. Agora, sem maiores piripaques na economia, a transição civilizada revelou-se uma ilusão. Ninguém sabe como Jair Bolsonaro se comportará. Restará apenas a amargura de uma tensão inútil.
MINISTÉRIO DE LULA
Até agora, o Ministério de Lula se parece com um automóvel que sai da oficina depois que o mecânico desmontou o motor, fez alguns acertos e trocou peças. Parece-se também com a salada de frutas de centro-direita que na política de Portugal denominou-se de “geringonça”. Lá, só se conseguiu avaliar a máquina quando ela começou a funcionar, e funcionou por quatro anos. Cá, só se vai saber se o carro com 37 ministros funciona direito quando ele estiver na estrada.
RECONCILIAÇÃO A IRREDUTABILIDADE
Enquanto existirem presos e carcereiros alguém se lembrará da história de Nelson Mandela com Christo Brown, que vigiava a cela onde ele passou 18 dos 27 anos de encarceramento. O preso tornou-se presidente da África do Sul e o carcereiro continuou sua vida de humilde servidor público.
Ao encontrá-lo numa sessão do Congresso, Mandela o abraçou e pediu que sentasse ao seu lado para serem fotografados.
Mandiba, como era conhecido Nelson Mandela, queria reconciliar a África do Sul depois de décadas de segregação racial.
Depois de Bolsonaro, em menor medida, o Brasil precisa de paz.
O futuro ministro Flávio Dino desconvidou o futuro chefe da Polícia Rodoviária Federal porque ele exaltava o juiz Sergio Moro e comemorou a prisão de Lula. Se não devia tê-lo convidado, não deveria tê-lo desconvidado.
Dino escolheu o coronel da PM paulista Nivaldo César Restivo para a Secretaria Nacional de Políticas Penais. Há 31 anos, como tenente, ele estava na logística da operação policial que resultou no massacre de presos do Carandiru, onde foram mortos 111 presidiários. Nunca foi acusado de nada. Incriminá-lo por “estar presente” é um exagero.
Atribui-se a Restivo a afirmação, feita em 2017, de que o desfecho da operação foi “legítimo e necessário”.
O coronel é um servidor respeitado no sistema penal. Acusado, recusou o convite. Poupou Dino de um constrangimento.
Christo Brown nunca maltratou o preso Mandela.
MAU COMEÇO DE ANO
A partir do dia 1º de janeiro, todas as despesas de Jair Bolsonaro deverão caber na sua aposentadoria de R$ 80 mil por mês.
O Partido Liberal de Valdemar Costa Neto está com seus fundos congelados por ordem do ministro Alexandre de Moraes. De lá, não sairá um centavo.
OBRAS PARADAS
A julgar pela precisão estatística da equipe da transição, Jair Bolsonaro quase cumpriu sua promessa de acabar com o “ativismo” no Brasil. O vice-presidente eleito informou que há 14 mil obras paradas no país.
Retomar obras paradas é um bordão de todo governo que pretende alfinetar o antecessor, mas em 2016, quando Michel Temer assumiu, encerrando o primeiro ciclo petista, as obras federais paradas eram apenas 1,6 mil.
TRUMP MENTIROSO
A comissão da Câmara dos Estados Unidos aprimorou a forma de expor um mentiroso, fritando o ex-presidente Donald Trump pela sua conduta depois da eleição de 2020.
Pelo sistema convencional, quando um sujeito mente, mostra-se a verdade. A comissão valeu-se de uma nova tática. Mostrou 18 episódios nos quais Trump foi informado a verdade por colaboradores e, dias depois, mentiu dizendo o contrário do que lhe havia sido dito.
DOIS EXEMPLOS:
No dia 15 de dezembro de 2020, antes do ataque ao Capitólio, Trump havia dito que um vídeo mostrava o transporte de votos falsos numa mala. O vice-procurador-geral, Jeffrey Rosen, corrigiu-o: “Não era uma mala. Era uma caixa. É o que se usa para transportar votos. Coisa benigna.”
Sete dias depois, Trump voltou à carga: “Na Georgia, uma câmera de segurança registrou quando funcionários mandaram que os escrutinadores saíssem da sala e despejaram sobre a mesa votos que estavam numa mala”.
No dia 1º de dezembro de 2020, o procurador-geral Bill Barr disse-lhe:
“Alguém já lhe contou que o senhor teve mais votos em Detroit do que na eleição passada? Em suma, não há indícios de fraude em Detroit.”
No dia seguinte Trump insistiu:
“Todo mundo viu o tremendo problema de Detroit… Lá apareceram mais votos do que eleitores.”
MORO EM PERIGO
O mandato de senador de Sergio Moro está em perigo.
Na sua prestação de contas de candidato ao Senado ele usou recursos arrecadados para sua postulação natimorta à Presidência da República.
Quem entende do assunto calcula que o doutor tem pelo menos sete chances em dez de perder o mandato.
O NAVIO FANTASMA
Porta-aviões são as joias das marinhas de guerra. O americano Enterprise participou de 20 combates no Oceano Pacífico durante a Segunda Guerra Mundial. O japonês Akagi foi o orgulho da marinha japonesa até 1942. Na batalha do Midway (na qual estava o Enterprise) ele foi danificado, e os japoneses resolveram afundá-lo para que não fosse capturado.
A Marinha brasileira teve dois porta-aviões. O Minas Gerais foi comprado aos ingleses em 1956, provocou uma briga com a Força Aérea nos anos 1960 e foi vendido em 2002 a uma empresa chinesa que pretendia transformá-lo em museu. Acabou vendendo-o como sucata.
O segundo foi o São Paulo, comprado à França em 2000 e vai entrar em 2023 como parte da história de batalhas ambientais e jurídicas. No ano passado seu casco foi vendido a uma empresa turca, como sucata. Como contém materiais tóxicos, nenhum porto o aceita, nem os turcos. Há meses ele vaga pelo oceano Atlântico como navio fantasma. O governo de Pernambuco não permite que o falecido São Paulo atraque em Suape.
Na semana passada as empresas que o arremataram mandaram uma carta a autoridades mundiais e às Nações Unidas protestando porque o governo brasileiro, que lhe deu autorização para deixar o país, não permite que retorne. Elas sustentam que “o resíduo exportado pertence ao Brasil”. Vagando pelo oceano, o casco do falecido porta-aviões já lhes custou 5 milhões de dólares. As empresas queixam-se de que não conseguem autorização para atracar o “resíduo”, como se ele não tivesse sido exportado com a papelada em ordem: “Afirmamos várias vezes que as autoridades brasileiras deveriam intervir responsavelmente a esse respeito e nos indicar um local para atracar, mas infelizmente não encontramos nenhuma resposta séria.”
AS BOAS FESTAS EM 2023, por Vinicius torres Freire, no jornal Folha de S. Paulo
A manchete desta Folha na véspera do Natal de 2002 era o anúncio completo do ministério de Lula 1. O assunto maior daquele dezembro era outro. Havia frustração e fúria contra o anúncio da política econômica “tucano bis” de Antonio Palocci.
Agora, a crítica contra a persistência do antigo regime tem o sinal trocado, baseada na suspeita de que Lula 3 possa ser uma variação de Dilma 1. Não importa o sinal, a conversa ainda é a mesma. A situação é muito pior.
Por volta de 2007, Lula desistiu de aprofundar o programa de conserto das contas públicas e de uma reforma tributária. Em parte, foi assim porque Lula apanhava de uma oposição arrependida de não ter pedido o seu impeachment e furiosa com a derrota de 2006.
Teria sido mudança profunda, assim como o foi a esquecida solução para o problema das contas externas, que se deu no governo Lula, por um tanto de competência e outro de sorte (mudança na economia mundial, China etc.).
Endividado em dólar, com déficits ruins nas transações com o exterior, o Brasil vivia crises periódicas de escassez de moeda forte, quando então tinha de pedinchar ao FMI. Era uma desgraça histórica, como essas que ocorrem na Argentina em média a cada três anos.
Nunca mais voltamos a falar de crise de financiamento externo. Em vez disso, nos dedicamos a cultivar crises no nosso jardim: dívida pública doméstica excessiva que resulta em altas de juros e risco de inflação desembestada.
É possível dar um jeito nessa crise que começou a se desenhar em 2013, piorada por azares e por barbárie política. Mas a situação de 2022 é muito pior do que a de 2002.
Em 2002, o governo federal gastou o equivalente a 15,1% do PIB, com receita de 17,4% (superávit primário de 2,3%). Em 2022, deve gastar 18,3% do PIB, com receita de 19,2%, um superávit mandrake de 0,9%, fruto de receitas extraordinárias e de represamentos picaretas de gastos do governo de trevas (2019-2022).
A situação é pior porque está difícil, em termos políticos e econômicos, aumentar a carga tributária, embora seja inevitável fazê-lo, de preferência eliminando favores para classe média, ricos e empresas protegidas.
Está difícil conter despesas, embora seja inevitável fazê-lo (bis). De 2002 a 2022, o gasto aumentou em 3,2% do PIB. Cresceu 2,1 pontos na Previdência (INSS), 0,6 ponto em BPC (benefícios para idosos e pessoas com deficiência pobres), 0,9 ponto para o Bolsa Família etc.: “tudo pelo social”.
Está difícil falar de problema fiscal. Quem o faz é tido como sociopata, um idiota perverso da elite ou da “Faria Lima” (de fato grossa e perversa, mas esse é outro assunto). Enfim, pouca gente trata de como acelerar o crescimento econômico.
Lula 3 e seu culto falam sem parar de “incluir os pobres no Orçamento”. Lula 1 dizia que viria o “milagre do crescimento”. Não foi lá milagre, mas veio e foi o maior responsável por tirar tanta gente da pobreza, não o “Orçamento”. Mesmo triplicando a despesa com o Bolsa Família (de 0,5% do PIB na última década para 1,5% do PIB em 2023), haverá muita miséria.
O PIB de 2022 vai ser um tico maior do que o de 2014: década perdida. Sem terraplanismo econômico (pior de 2012 a 2014) e barbárie política (pior de 2015 a 2022), não teria sido difícil ter crescido uns 20% desde 2014. Estaríamos em outro mundo, embora ainda pobres, sujos e malvados.
É possível ter políticas econômicas diferentes, alternativas, mas não essas burrices em torno das quais giramos faz décadas, entre elas a de achar que não há problema em pagar juros indecentes a ricos por um endividamento equivocado, fora de hora e sem limite.
Mas ainda dá para ter um feliz Natal em 2023.
ONTEM E AMANHÃ, editorial do jornal Folha de S. Paulo
A nomeação do petista Aloizio Mercadante para o comando do BNDES causou previsível apreensão.
O ex-ministro de Dilma Rousseff foi também coordenador dos planos de governo do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Essas diretrizes reafirmavam o compromisso com políticas adotadas entre 2008 e 2014, que não surtiram resultado ou contribuíram para um colapso econômico prestes a completar uma década.
O aumento de gastos proposto para o Orçamento de 2023, a composição da equipe econômica até agora, a indisposição quanto a reformas e a falta de clareza sobre o futuro da política fiscal completam um quadro de incertezas.
No caso do BNDES, uma volta ao passado não muito distante significaria refazer do banco um instrumento de subsídios para o setor privado, em especial para grandes empresas, com despesa bancada por endividamento do governo.
Entre as gestões de Lula e Dilma, a participação do BNDES no total de crédito bancário do país subiu até 21%. Hoje está em 8,5%.
Sob a ex-presidente petista, o crescimento econômico passou a diminuir, as pressões inflacionárias se intensificaram, a participação da indústria de transformação no PIB caiu —e as empresas beneficiadas, que não padeciam de restrição de acesso a crédito, mais baratearam seu capital do que aumentaram seus investimentos.
Em encontro com dirigentes de companhias, Mercadante sustentou que temores sobre sua indicação seriam infundados. O “BNDES do futuro”, disse, será um complemento do mercado de crédito e de capitais, dedicado a parcerias, à inovação, à preocupação ambiental e a pequenas empresas.
Não seriam recriadas taxas de empréstimos subsidiados. O banco, segundo seu futuro presidente, não pode contar com repasses do exaurido Tesouro Nacional. Anunciou-se, além disso, uma equipe que inclui nomes com carreira no setor financeiro privado.
O BNDES ainda pode ter um papel a cumprir. Empresas pequenas ou inovadoras têm dificuldade para obter crédito. A instituição pode servir de garantidor em esquemas de financiamento maiores, sem comprometer muito capital. Outra possibilidade é atuar na área de estruturação de projetos.
Terá papel tanto mais útil quanto mais forem removidas distorções tributárias e regulatórias que impedem um emprego eficiente dos recursos no país. Logo, sua atuação não depende apenas das boas intenções de sua direção, mas do programa maior de governo.
Espera-se, pois, que as palavras de Mercadante ganhem sentido prático —e que o BNDES do passado permaneça enterrado sob os escombros das políticas de Dilma.
Votos de um FELIZ NATAL e PRÓSPERO ANO NOVO. Muita saúde e paz.
Obrigado. A vc e sua família também
Para os políticos de Gaspar lerem
“NÓS NÃO PRECISAMOS DE PUXA-SACO”, por Ascânio Seleme, em O Globo
O presidente eleito não tem com o que se preocupar. De nossa parte, seu pedido será inteiramente aceito. Lula disse no discurso em que anunciou novos ministros que dispensa bajuladores. Suas palavras exatas foram essas: “Não precisamos de puxa-saco. Um governo não precisa de tapinha nas costas. Um governo precisa ser cobrado. Peço que vocês cobrem para que a gente faça mais”. Embora não tenha sido explícito, Lula parecia se referir à imprensa, que acompanhava o ato no escritório da transição no CCBB de Brasília.
Apesar do pedido enfático, Lula sabe que terá muitos bajuladores na mídia. Ele conhece muito bem a sua “imprensa” amiga. O presidente sempre teve e continuará tendo um cordão de puxa-sacos travestidos de jornalistas. Quem não lembra dos famosos blogs sujos da primeira era petista? Agora, com Bolsonaro, outros blogueiros e tuiteiros aduladores, que se diziam jornalistas, aliaram-se ao carro-chefe do governismo bolsonarista montado na Jovem Pan. Mas Lula tem razão, estes não acrescentam nada, além de certo conforto enganador. O governante acha que está bem, ouvindo aquela enxurrada de elogios, nenhuma crítica, e não enxerga os erros que comete.
A imprensa profissional não vai puxar o saco do futuro presidente. Claro que saberá elogiar acertos. Parte do trabalho jornalístico é oferecer serviços, como em anúncios e na explicação de medidas governamentais que alterem rotinas na vida dos cidadãos, e muitas podem ser para melhor. Mas o principal compromisso do jornalismo é com a fiscalização, a vigilância permanente de governos e governantes. Bolsonaro viu isso ao longo dos quatro anos em que nada fez, além de pregar o golpe. Temer sentiu o calor da imprensa depois do famoso encontro com Joesley Batista no subsolo do Jaburu.
Com o PT foi igual. A imprensa não ficou indiferente às pedaladas de Dilma Rousseff e tampouco poupou Lula no episódio do mensalão. Uma definição cunhada por Millôr Fernandes serve como balizadora do seu comportamento: “Imprensa é oposição, o resto é armazém de secos e molhados”. Há um evidente exagero na frase, porque a imprensa não é parte do jogo político e não pode portanto ser chamada de oposição, mas a ideia central é essa. Governos têm que ser olhados com lupa, com desconfiança.
Há quem ache que jornalista tem que ser antigoverno, que deveria se pautar pela frase “Hay gobierno? Soy contra”, que alguns atribuem a anarquistas mexicanos e outros a Che Guevara. Não, jornalista não é intrinsecamente contra governos. Como todo mundo, ele é um cidadão que recolhe impostos, tem contas para pagar e quer que o governo funcione, que a economia cresça, que o meio ambiente floresça, para manter seu emprego, melhorar seu salário e ser mais feliz. Jornalista é contra erros governamentais e, por estar mais perto do fato e ter as ferramentas para investigar e o veículo para denunciar, cumpre um papel que não cabe a engenheiros, médicos e advogados.
Todo jornalista sai da faculdade com um ensinamento fundamental, um guia de conduta que deve ser observado durante toda a sua vida profissional. Ele aprende que jamais deve ser amigo da fonte. Se a fonte for governo, é ainda mais obrigatório manter um distanciamento profissional e profilático. Ele deve tratá-la como a autoridade que ela é, usando sempre “senhor” ou “senhora” quando for lhe dirigir a palavra ou fazer uma pergunta. Jamais tratá-la por “você”. É por isso, aliás, que muitas vezes se vê repórteres veteranos chamando de “senhor” parlamentares ou ministros bem mais jovens.
Lula pediu e já está sendo cobrado pela imprensa. As críticas que ouviu sobre a PEC da Transição, que a Folha de S. Paulo chama de PEC da Gastança, são parte dessa cobrança antes mesmo da posse. Ao nomear os primeiros cinco ministros, todos homens, todos brancos, o presidente eleito também ouviu duras críticas. Da mesma forma, Lula está sendo questionado por empurrar Simone Tebet e Marina Silva com a barriga e por fazer um Ministério mais petista e menos frente ampla. Faz parte do jogo.
PARA O BEM DO PAÍS
Os partidos União Brasil e PSD, habitats naturais da espécie centrãonista, querem os ministérios da Integração Nacional, da Infraestrutura, das Cidades, do Turismo e da Agricultura, além da Codevasf. Se levarem todos, vão dispor de R$ 94 bi para trabalhar em favor de melhorar o Brasil. Certo, não? Ou talvez você prefira a tese de Marcos Lisboa, de que não importa se à esquerda ou à direita, o que se vê em cada novo governo é uma corrida pela captura do Estado por grupos de interesses privados? O fato é que esses partidos só aceitam ministérios que tenham dinheiro. Ninguém imagina essa turma brigando pelas pastas da Igualdade Racial e dos Povos Originários.
VOLTA ATRÁS
O recuo da nomeação de Edmar Camata para o comando da Polícia Rodoviária Federal faz sentido, embora a motivação seja mesquinha. O que não faz sentido é nomear uma pessoa para um cargo público sem antes fazer pelo menos uma breve leitura do seu histórico profissional e político, até para não dar vexame. O mesmo ocorreu com a indicação do coronel Nivaldo Restivo para a Secretaria de Políticas Penais. Membro da tropa de choque durante o massacre do Carandiru e apoiador da invasão, mesmo depois do desfecho trágico, o coronel foi convidado a recusar o convite depois que se descobriu o seu passado com uma rápida checada no Google.
DEMISSÃO SUMÁRIA
Outro dia, um bandido subornou um guarda penitenciário de Bangu e foi passear no Shopping. Sérgio Cabral, solto esta semana, foi flagrado no início do seus seis anos de encarceramento com regalias ilegais na cadeia, como isolamento térmico da sua cela. Mas boa mesmo é a história contada pelo Kakay, o mais conhecido advogado criminalista do Brasil. Ainda no início da sua carreira, ele fez parte do time de defensores de Castor de Andrade, preso com outros barões do jogo do bicho pela então juíza Denise Frossard. Um certo dia, numa visita de rotina ao seu cliente na cadeia, Castor o mandou ficar para o almoço. Kakay sentou-se junto com os 14 bicheiros presos. Cada um tinha um agente penitenciário fazendo o serviço de garçom. A comida era de um dos bons restaurantes da cidade. Castor disse então que não tinha os vinhos da qualidade que seu advogado certamente estava habituado a beber, e mandou abrir um Quinta da Bacalhôa, renomado tinto português. Na hora da sobremesa, Castor recebeu uma fruta-de-conde menor que a de outro bicheiro que estava ao seu lado. Chamou então o seu “garçom” e disse: “Você quer me humilhar diante do meu advogado? Como me serve uma fruta menor? Você está demitido!”.
QUEM MANDA?
Soube-se esta semana que “gente do PT” estaria articulando uma candidatura anti-Lira para disputar a presidência da Câmara. A informação circulou acrescida da observação que Lula não estava por trás disso e sequer sabia das maquinações. Acredite se quiser. O dado concreto é que ninguém faz nada no PT sem ouvir o Lula. Se já não era possível fazer qualquer articulação política sem o seu aval quando ele estava preso, imagina agora que é o presidente eleito.
CRISTINA LÔBO
Vai ser publicado pela Editora Planeta o livro de memórias que a jornalista Cristiana Lôbo começou a escrever em 2016 e deixou quase pronto antes de partir. Finalizado pela colega Diana Fernandes, que havia participado do projeto original como pesquisadora, revisora e editora, o livro (que ainda não tem título) faz uma radiografia dos oito governos civis pós-ditadura, de Sarney a Bolsonaro, com foco no temperamento de cada um dos presidentes.
ANDRÉA PACHÁ
Acaba de sair novo volume, ampliado e revisado, de “A vida não é justa” (Editora Intrínseca), da juíza Andréa Pachá. O original, lançado há dez anos, virou série de TV. O novo volume traz três histórias da era Covid. Uma delas mostra a degradação de um casamento contaminado pelo negacionismo bolsonarista.
OUTRA TRANSIÇÃO
Já está nas livrarias “Eles não são loucos — Os bastidores da transição presidencial FHC-Lula” (Editora Portfolio-Penguin), de João Borges. Mais do que mostrar como se transferiu o poder de um para outro presidente, o livro conta com detalhes que só um jornalista enxerga os momentos que antecederam e sucederam a passagem de comando. Além de evidenciar como é bom para um país uma convivência civilizada e cordial entre adversários políticos.
DOIS LIVROS
Um livro: para quem quiser entender melhor como é, como funciona e para onde caminha o Movimento dos Sem-terra, recomendo a leitura dos dois volumes de “Tecnologia Social e Reforma Agrária Popular” (Editora Anticapital), organizados pelos professores Felipe Addor, Farid Eid e Davis Gruber Sansolo. Disponível na Amazon. Outro livro: amparados em mais de 200 mil check-ups feitos ao longo de quase três décadas, os médicos Gilberto Ururahy e Galileu Assis escreveram o livro “Saúde e Prevenção” (Editora Rocco), um manual para uma vida saudável, equilibrada e longa.