Na segunda-feira, dia 12 de dezembro, escrevi aqui na sessão Trapiche – e você não vai ler isso em outro lugar até porque alguns dependem do “miserê” das verbas da Câmara e outros, não querem arrumar dores de cabeças para si, suas boquinhas, afilhados, padrinhos e de aparentados diante dos políticos – , algumas notas laterais, até porque não precisam ser mais do que isso:
“Piada do ano: a Câmara de Gaspar postou um press release em que afirma terem sido a ‘comunicação e a modernização’ as palavras deste naquela Casa. Realmente mudou o site, mas a transparência continuou comprometida. É preciso ser bom em informática para descobrir os atalhos”.
Na Câmara, no espírito de corpo, a maioria praguejou contra mim. Outros poucos, mas suponho no “espírito de porco”, riram e me aplaudiram, até com mensagens de congratulações. Não se precisava de tanto. Mas, como sempre escrevo, “o tempo é o senhor da razão“, ou “nada como um dia após o outro“. E por isso, outra vez estou de alma lavada. Na Câmara que afirmou no seu pífio balanço que fez este ano para a sociedade que lhe paga com os pesados impostos, ter sido a comunicação e a modernização, as palavras de ordem dela, a presidente ficou muda e faltou um intérprete de Libras para ela na última sessão ordinária da sua gestão.
O outro ditado, diz claramente, “a língua é o chicote do dono“. Então…
Na era digital, da comunicação à distância, das reuniões virtuais, mesmo com os pesados e caros investimentos feitos na Câmara de Gaspar nesta área, nada disso foi suficiente e capaz para resolver este reiterado problema de comunicação e atualização da Câmara – e seus vereadores – ao mundo digital em que todos nós estamos metidos. Os políticos continuam, pelo jeito, no tempo dos estafetas, dos carimbos, carimbadores, assessores de porra nenhuma – apelidados de aspones – e culpando outros dos seus mesmos erros de sempre e dos seus reiterados gestos de atrasos; menos eles próprios, é claro. Não se espelham e não conseguem enxergar a sociedade atualizada tecnologicamente, e que dizem representar.
Basta algum vereador, ao invés de faltar a única sessão da semana e que nem dura uma hora, ter a iniciativa em participar remotamente da sessão, que é um “deus nos acuda”. Parece que a Câmara vem abaixo. Inicia-se o vexame e à exposição do ridículo. Atestam-se três coisas: o atraso, o improviso e o alto custo de baixíssimo retorno nesta área da comunicação. É impressionante e vergonhoso, ao mesmo tempo.
Só falta agora, diante de tanta improvisação, contratar um monte de assessores e estagiários, bem como novas e caríssimas empresas “especialistas”, para então “solucionarem” à meia boca – como vem se demonstrando no dia-a-dia até aqui – este problema que qualquer sistema balela e barato resolve a vida de todos nós diariamente. E a presidente se diz escolada no ramo e com diploma de comunicação. Sei!
A quase ex-presidente disse que estava doente. Mesmo assim, quis presidir remotamente à última sessão ordinária dela e do ano. Boa iniciativa. Antes tivesse apresentado um atestado médico, do que um atestado de que a tal “comunicação e modernização” que ela espalhou em press release por aí, se não é falso, é marquetagem contra ela própria, a comunicadora. Se ela aparecia na tela, desaparecia a voz dela. Não se sabia o que se falava. Eu exagero? Está tudo gravado. Na metade da sessão ela saiu do ar por iniciativa própria. Ainda bem!
Na sessão pastelão, o vice-presidente Giovano Borges, PSD, estava sentado no lugar da presidente, sem ser o presidente da sessão, que veio a ser só mais tarde. A secretária da mesa, Zilma Mônica Sansão Benevenutti, MDB, duelava contra fatos e se socorria da funcionária Romy Cristini Schneider. E o jurídico Marcos Alexandre Klitzke fora do ambiente presencial de apoio à Mesa Diretora. Tempestade perfeita.
Para completar a papagueada da noite, chamada para ler o relatório do Projeto de Lei do qual era relatora, a suplente Rafaele Vancini, MDB, não sabia de nada. Apelou a sua assessora de gabinete. Nada! Um climão para salvarem-se todos do vexame. Até que o Arthur Lyra, da Câmara de Gaspar, o mais longevo dos vereadores José Hilário Melato, PP, experimentado, sugeriu que não se lesse o tal relatório. E assim aconteceu, com a aprovação de todos os partidos presentes à sessão: PP, MDB, PSDB, PSD e PT. Sem relatório conhecido, a matéria foi votada, digamos, no escuro. Inacreditável!
Como assim? O que diz o regimento interno sobre isso? Então aprovaram um Projeto de Lei, sem dar conhecimento público do seu relatório? Foi isso? É legal? Não contém vício formal e de origem? Se não precisa ser o relatório do relator, por que isso ainda é feito na Câmara de Vereadores de Gaspar? E se existe este relatório por que ele não está no sistema da Câmara – inclusive para o povo em geral? E estando no sistema, por que ele não foi acessado por uma das dezenas de caros computadores que assessores e vereadores possuem, mas de onde, na maioria dos casos, só servem deles, para registrar presença, inscrição para falar em plenário, aprovar, desaprovar ou se abster nas votações dos projetos que tem relatório conhecido e publicizados?
Como se vê, realmente este foi o ano da “comunicação e da modernização” na Câmara de Vereadores de Gaspar. E não ficou nenhuma dúvida na sessão na última sessão ordinária deste 2022. Acorda, Gaspar!
TRAPICHE
A missa de Sétimo Dia do vereador Amauri Bornhausen, PDT, está marcada para as 8h, deste domingo, dia 18, na Capela Santa Terezinha. Amauri nasceu no dia 14 de dezembro de 1968. Morreu no dia 12 de dezembro de 2022.
Nos poucos discursos feitos na Câmara sobre a morte do vereador Amauri, estava o de José Hilário Melato, PP. Ele lembrou que o ex-vereador era do PP. Só não disse a razão pela qual Amauri saiu de lá para estourar no PDT.
Perguntar não ofende. O que faz um agente público viajar para tão longe e sem querer trocar de mochila no aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro. O fato aconteceu logo no início manhã do dia primeiro de dezembro. Testemunhas? As câmeras de vigilância do aeroporto.
Registro: Nesta quinta-feira morreu aos 64 anos o ex-vereador (1996) Paulo Afonso Wandalen. Ele foi eleito pelo MDB, mas estava no PSD. Marceneiro, teve ativa vida comunitária e política em Gaspar. Lutava contra um câncer. Definitivamente, não foi um bom ano para as lideranças políticas de Gaspar.
O prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, exonerou da do cargo em comissão da Coordenadoria Municipal da Defesa do Consumidor, Roberto Procópio de Souza. Ela vale a partir de seunda-feira. Ele é o primeiro suplente do PDT e vai assumir a vaga deixada por Amauri Bornhausen.
Este espaço que não depende de verbas públicas, privadas, ajudas de custo e esmolas, não terá férias. Só está no modo de manutenção. Toda semana terá comentários novos. Os políticos ficam fulos, pois é nas nossa\s férias que eles são seus saltos carpados contra a sociedade que dizem representar. Acorda, Gaspar!
7 comentários em “A CÂMARA DE GASPAR ENCERRA O ANO COM PASTELÃO DE QUINTA CATEGORIA. AO VIVO, SEM DÚVIDAS E DISFARCES”
Boa noite.
Como dizem os analfabetos letrados, cola o diploma na parede pra não fazer feio na foto 👀
Quem perde com a baderna generalizada é a população gasparense, aquela que paga com sangue, suor e lágrimas as plumas e paetês do glamouroso andar de cima.
Mas tudo que se ergue em cima do NADA, uma hora desaba.
Por aqui, no meu modesto casabre, o meu céu tem estrelas 🙌🌈🌟
Um feliz Natal pro Senhor, sua família e aos homens de boa vontade!!
Boa noite.
Como dizem os analfabetos letrados, cola o diploma na parede pra não fazer feio na foto 👀
Quem perde com a baderna generalizada é a população gasparense, aquela que paga com sangue, suor e lágrimas as plumas e paetês do glamouroso andar de cima.
Mas tudo que se ergue em cima do NADA, uma hora desaba.
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Um feliz Natal pro Senhor, sua família e aos homens de boa vontade!!
A DUPLA HADDAD-MERCADANTE E O FIES, por Elio Gaspari, nos jornais Folha de S. Paulo e O Globo
A década de governos petistas produziu políticas públicas exemplares e desastres. Na educação, conseguiu as duas coisas. No primeiro mandato de Lula, o ministro Tarso Genro, com a colaboração de Fernando Haddad, fez o ProUni.
Parecia mágica. As faculdades privadas recebiam isenções tributárias e argumentavam que ofereciam bolsas de estudo em contrapartida. Era meia-verdade, pois essas bolsas (quando existiam) eram distribuídas para amigos ou amigos dos amigos. O ProUni vinculou as bolsas à renda familiar do estudante e ao seu desempenho no Enem. Sem qualquer despesa, abriram-se as portas do ensino superior privado para jovens do andar de baixo.
Ia tudo bem, quando o ministro da Educação, Fernando Haddad (2005-2012), resolveu ressuscitar um programa de crédito público para estudantes de faculdades privadas, o Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies).
Aos poucos as regras do crédito foram mudadas. Não havia exigência de desempenho e afrouxaram-se as regras da fiança. O resultado foi uma explosão de bolsistas do Fies. Em 2012, Haddad, futuro ministro da Fazenda, foi substituído no MEC por Aloizio Mercadante, futuro presidente do BNDES. Em dois anos, os bolsistas passaram de 224,8 mil para 1,14 milhão, em 2014, uma expansão de mais de 400%.
Conglomerados privados do setor educacional prosperaram. A Kroton, com 130 unidades em 19 estados e mais de um milhão de alunos, lucrou R$ 517 milhões em 2013, 155% a mais que no ano anterior. Seu valor na Bolsa chegou a R$ 25 bilhões, tornando-a a maior do mundo no setor.
Em dezembro de 2014, Haddad, então na prefeitura de São Paulo, dizia: “O Brasil é reconhecido por ter os maiores grupos econômicos na educação e não adianta falar que é mérito do empresário, porque sem o pano de fundo institucional não tem quem prospere. O maior grupo econômico de educação do mundo é brasileiro.” Pudera. Naquele ano, o Fies rendera-lhe R$ 2 bilhões, cifra inédita até para a empreiteira Odebrecht.
Três meses antes o banco Morgan Stanley havia avisado que a inadimplência poderia levar a uma implosão do Fies.
Não deu outra. De um lado, o governo viu-se obrigado a fechar a porta do cofre; de outro, as astúcias do sucesso foram expostas. Em fevereiro de 2015, os repórteres José Roberto de Toledo, Paulo Saldaña e Rodrigo Burgarelli mastigaram o Fies.
Entre 2010 e 2014, o custo do programa passou de R$ 1,1 bilhão para R$ 13,4 bilhões em valores corrigidos. As faculdades privadas estimulavam os alunos a solicitar o financiamento, transferindo para a Viúva suas carteiras de inadimplência. Mais: se um estudante comprava a matrícula no balcão, às vezes tinha desconto. Para o plantel da Viúva, tarifa cheia. Pior: entre 2012 e 2013, a taxa de evasão das faculdades privadas era de 28%; entre os bolsistas chegava a 88%.
Em 2015, a presidente Dilma Rousseff admitiu que o governo errou ao passar para as faculdades privadas o controle do acesso ao Fies. O novo ministro da Educação, Cid Gomes, pôs alguma ordem na maluquice e passou a exigir uma nota mínima de 450 pontos no Enem. Também não podia receber financiamento quem tirasse zero na redação. O mundo veio abaixo. Exigir desempenho seria “limpeza étnica” e outro magano da guilda das faculdades prenunciou uma “catástrofe”, pois o ministro não era “do ramo” e levara o governo a fazer “uma cagada”.
Antes dos anos de Haddad e Mercadante no MEC, o financiamento público dos estudantes ia mal das pernas. Depois, ficou sem elas. O mercado se acomodou, criando sistemas próprios, sempre com fiador.
O financiamento público tenta se reerguer. Em janeiro passado, o governo de Bolsonaro, acompanhando uma promessa de Lula, concedeu uma anistia de até 92% do valor devido por estudantes financiados até o final de 2017. Cerca de um milhão de jovens tinham atrasos superiores a 90 dias no Fies. O espeto pode chegar a R$ 6,6 bilhões.
UM VEXAME NA FIESP
Houve uma época em que a Federação das Indústrias de São Paulo era chamada de “a poderosa”. Esse tempo passou. A Fiesp fez fama com um pato amarelo plantado diante de sua sede, enfeitando as manifestações contra Dilma Rousseff. Confundiu-se por 17 anos com a figura de seu ex-presidente, Paulo Skaf, candidato a tudo e eleito para nada. No ano passado, a Fiesp elegeu para sua presidência o empresário Josué Gomes da Silva.
De uma hora para outra, surgiu uma rebelião destinada a depô-lo. Ganha um fim de semana de visitas às empresas de Skaf quem souber de um motivo razoável para o levante. Os grandes sindicatos estão fora da manobra, articulada junto a pequenas guildas. Poderia ser o caso de um levante de pequenos por grandes motivos. Não é.
O fim do mandarinato de Skaf pareceu um sopro de renovação. O doutor foi conhecido pela sua desenvoltura ao circular por gabinetes de Brasília, incapazes de produzir um prego. Josué Gomes dirige uma rede de 22 indústrias têxteis, onde trabalham 15 mil pessoas. Herdou-a do pai, o ex-vice-presidente José Alencar, que começou do nada.
Alencar passou pelo sucesso empresarial e político sem um cisco de nódoa. O filho, seguindo-lhe o caminho, foi convidado para o Ministério da Indústria de Lula. O convite deveu-se ao seu desempenho como empresário, e não ao fato de ser presidente da outrora “poderosa Fiesp”.
Para a instituição do pato amarelo de 2016, ver seu presidente convidado para o ministério poderia ser motivo de satisfação. Depô-lo por motivos explicáveis poderia ser medida necessária. Levante por motivos inexplicáveis deixa a impressão de que os motivos não podiam ser explicados.
A “poderosa” já teve presidentes com interesses municipais e já foi dirigida por campeões, mas nunca passou por vexame deste tamanho.
ESTILO DO ITAMARATY
Em 1964, quando o presidente João Goulart foi deposto, seu chanceler, o embaixador João Augusto de Araújo Castro, foi mandado para a embaixada em Atenas. Quatro anos depois, ele foi para a chefia de delegação na ONU e mais tarde tornou-se embaixador em Washington, onde morreu.
Era o espírito da Casa de Rio Branco, mantido em 1964, quando o chanceler Vasco Leitão da Cunha fechou a porta da Casa aos caçadores de bruxas.
“Doutor Vasco” foi um homem gentil e elegante. Quem o via não acreditava que, em 1942, como chefe de gabinete do ministro da Justiça, teve um bate-boca com o poderoso chefe de polícia, Filinto Muller, e deu-lhe voz de prisão.
ESTILO DA CHINA
Desde o início de 2020, os Bolsonaro implicavam pessoalmente com o embaixador da China, Yang Wanming. Chegaram a sugerir que ele fosse tirado do Brasil.
Yang é um diplomata rombudo, mas o governo chinês fez que não ouviu. Só agora trocou-o, a tempo de que seu substituto entregasse credenciais ao novo presidente.
DESTROÇANDO MARCOS INSTITUCIONAIS, editorial do jornal O Estado de S.Paulo
Nas últimas semanas, com a conivência do quase ex-governo e do governo que acaba de ser eleito, o Legislativo tem aprovado mudanças extemporâneas em leis que se tornaram relevantes marcos institucionais na história do País.
A Câmara, por exemplo, aprovou uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para permitir aos Estados que descumpram um dos pilares da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). O pretexto para a aprovação da manobra – viabilizar o pagamento do piso nacional da enfermagem – caiu como luva para uma demanda defendida há muito tempo.
Segundo os Estados, o cumprimento dessa nova obrigação levaria à violação do dispositivo da LRF que limita os gastos com pessoal a 60% da Receita Corrente Líquida (RCL). Quem ultrapassa essa marca pode ter de arcar com a suspensão dos repasses de fundos constitucionais. Com a flexibilização, os Estados poderão excluir a totalidade de gastos com a enfermagem desse cálculo, abrindo espaço no orçamento para reajustes salariais de outras categorias de servidores – eis o verdadeiro motivo da mudança. Não se trata de uma alteração trivial e, por isso mesmo, deveria ter sido discutida com mais tempo, a partir de dados concretos e considerando a situação de cada Estado e município, bem como o quadro funcional e as necessidades de cada ente federativo.
Não por acaso, a mudança ocorreu na mesma semana em que os deputados modificaram, de uma só vez, a Lei das Estatais e a Lei das Agências Reguladoras.
A exemplo da LRF, os deputados não mexeram em meros detalhes, mas nas regras para nomeação de diretores e conselheiros, fundamentos que contribuíram para fortalecer a governança das empresas e a regulação dos serviços públicos. A escolha do ex-senador Aloizio Mercadante (PT-SP) para a presidência do BNDES foi o pretexto para uma alteração que o mundo político já almejava publicamente desde o início deste ano.
Demandas para ampliar o limite prudencial de gastos com pessoal da LRF não são nenhuma novidade. Governadores e prefeitos até têm certa razão quando argumentam que a rigidez da lei só se aplica a Estados e municípios, enquanto a União já não cumpre os dispositivos referentes ao resultado primário há 10 anos. Propostas para alterar a Lei das Estatais e a Lei das Agências Reguladoras só não são tão antigas quanto porque as legislações são mais recentes. O fato de que essas mudanças foram aprovadas neste momento, por ampla maioria e em fim de legislatura, evidencia as consequências da falta de liderança do Executivo perante um Congresso cada vez mais fortalecido. Era responsabilidade do governo ter trabalhado para barrá-las – e, ao contrário, não se viu nenhum esforço nesse sentido.
Circunstâncias que se tornaram praxe no governo Bolsonaro se acentuaram depois que ele perdeu a disputa eleitoral. No limbo presidencial em que o País se encontra – enquanto Jair Bolsonaro não governa nem deixa o cargo e Luiz Inácio Lula da Silva ainda não o assumiu nem desce do palanque –, retrocessos institucionais deixaram de ser um risco potencial para se converter em realidade, alguns deles dependendo apenas do aval dos senadores para entrar em vigor.
A Lei de Responsabilidade Fiscal, a Lei das Estatais e a Lei das Agências Reguladoras foram debatidas por anos antes de serem aprovadas, assim como as legislações que criaram um arcabouço para setores como saneamento, energia e gás, entre outras. Não foi letargia legislativa, mas o tempo necessário para acomodar os diversos interesses da sociedade na construção do consenso possível, o oposto do que o Legislativo tem feito nos últimos dias deste ano.
Não é por acaso que são chamadas de marcos. Cada uma delas delimitou uma divisão temporal muito clara na direção da modernização do Estado, entre o que vigorava antes e o que passou a valer depois. Foram aprovadas por uma razão: regras estáveis e perenes são imprescindíveis para atrair investimentos, gerar empregos e estimular o crescimento. Normas modificadas em minutos, ao contrário, reforçam a dinâmica perversa que tem marcado o comportamento errático da economia.
Nada é mera coincidência, nada se cria neste ambiente de doentes – que lideram usando seus fantasmas e que são vistos por outro bando mais doente e temente. Freud, o alemão, explica ambos.
ATAQUES À DEMOCRACIA, por Lourival Sant’Ana, no jornal O Estado de S. Paulo
A invasão do Capitólio se tornou uma espécie de dia da marmota nas democracias ocidentais. O flagelo americano do dia 6 de janeiro de 2021 se repetiu três vezes nos últimos dias: na Alemanha, no Peru e no Brasil. Em todos os casos, a democracia venceu. Mas, o que a História nos ensina sobre o efeito de ataques às instituições democráticas no longo prazo?
A Alemanha assistiu no dia 7 à maior operação de contraterrorismo desde a 2.ª Guerra. Três mil policiais cumpriram mandados em 150 endereços, resultando na prisão de 25 pessoas e investigação de mais de 50. Foram apreendidas armas, munição, explosivos, óculos de visão noturna e coletes à prova de bala.
MONARQUIA.
Os presos são acusados de conspirar para derrubar a república alemã e reinstalar a monarquia, que vigorou até 1918. Eles tinham uma lista de 18 pessoas para matar, incluindo o chanceler Olaf Scholz, a ministra das Relações Exteriores Annalena Bärbock e outros políticos e jornalistas. O plano era invadir o Parlamento, com a ajuda de uma ex-deputada do partido neonazista Alternativa para a Alemanha (AfD).
Segundo os investigadores, dois terços dos suspeitos têm ligação com as Forças Armadas, sobretudo a reserva. O movimento, chamado Reichsbürger (Cidadãos do Império), conta com 21 mil seguidores, de acordo com o serviço de inteligência interna, BfV.
VIOLÊNCIA.
Em outubro de 2016, um integrante dos Reichsbürger fortemente armado em sua casa abriu fogo contra agentes das forças especiais que cumpriam um mandado para prendê-lo. Um agente foi morto.
O movimento foi criado nos anos 80 por um ferroviário demitido que perdeu na Justiça o direito à aposentadoria de funcionário público e passou a propagar a tese de que a Alemanha é uma empresa a serviço dos aliados que a ocuparam em 1945. Durante a pandemia, ele cresceu, alimentado pela ideia de que as vacinas e lockdowns eram parte da conspiração dessa suposta empresa a serviço dos interesses americanos e europeus, para dominar os cidadãos e fazê-los de cobaias de laboratórios.
NAZISMO.
Alguns aderiram também à seita americana QAnon, para a qual Donald Trump é um anjo que veio libertar os americanos de uma suposta rede de prostituição infantil comandada pelos democratas. Para os Reichsbürger, Trump também salvaria a Alemanha do domínio americano.
Nos anos 1920, a Alemanha mergulhou na violência política, propulsionada por grupos que pareciam tão excêntricos quanto esses. Enquanto os liberais reagiam para conter esses revisionistas, criou-se um ambiente de polarização que culminou na ascensão do nazismo na década seguinte.
Eu mudaria o título original para usando indevidamente os pobres para satisfazer as insanas políticas de esquerda
IRRESPONSABILIDADE EM NOME DOS POBRES, editorial do jornal O Globo
Lula nunca desce do palanque. Ao discursar no Natal dos Catadores em São Paulo, não foi diferente. Além de chavões novos, como um governo com “um olhar humanista com o povo humilde”, poderia ter reeditado os velhos, como “incluir o pobre no orçamento”, “tirar milhões da miséria” ou até, por que não, o “churrasquinho com picanha”. Quem se oporia a essas promessas? Mais uma vez, porém, o presidente eleito antagonizou justiça social e responsabilidade fiscal. “A gente não cuida do pobre se ficar vendo estatística. Se ficar olhando para o orçamento, se ficar olhando para a política fiscal do governo, sempre haverá uma prioridade acima dos pobres.”
Ora, presidente, é precisamente o contrário. Para cuidar dos pobres, ou, melhor, tirá-los de vez da pobreza, é essencial olhar para o orçamento e a política fiscal. A razão é óbvia. Para fazer políticas sociais, sobretudo a mais eficaz e duradoura delas, a geração de empregos, é preciso ter dinheiro para distribuir e investir.
Lula deveria saber que a irresponsabilidade fiscal não é a solução, mas a raiz de todos os males. Afinal, foi ela que mergulhou o País na mais profunda recessão de sua história, dizimando empregos e recolocando o Brasil no Mapa da Fome. De fato, ele sabe. Tão bem que durante a campanha fez o diabo para esconder aquela que foi a responsável pelo descalabro das contas públicas, a sua criatura, Dilma Rousseff, a qual, por sua vez, fez o diabo para maquiar esse descalabro, nas chamadas “pedaladas fiscais”, que levaram ao seu impeachment. Mesmo eleito, Lula insiste em novas pedaladas eleitorais. O que eles sabem o povo brasileiro não esqueceu. Mas não custa lembrar.
Em seu primeiro mandato, Lula foi brindado com uma bonança perfeita: a herança bendita de FHC (o controle da inflação com o Plano Real, cimentado pelo tripé macroeconômico – meta para a inflação, câmbio flutuante e responsabilidade fiscal) – combinada a um superciclo das commodities. Nesse céu de brigadeiro, o governo ampliou programas assistenciais, impulsionou o consumo, ampliou gastos com os servidores e empregou bancos públicos para anabolizar empresas (os “campeões nacionais”), ao mesmo tempo que negligenciou as condições para um crescimento sustentável, como infraestrutura, produtividade e educação. Findo o ciclo, o PT dobrou a aposta: mais gastos, sem disciplina. O resto é história.
Segundo o FMI, no governo FHC e no governo Bolsonaro o crescimento da economia brasileira ficou cerca de 1 ponto porcentual ao ano abaixo da média dos países emergentes. Nos governos do PT ficou quase 2 pontos porcentuais abaixo, ou seja, um desempenho ainda mais medíocre do que a já medíocre média brasileira. Até agora, a única proposta econômica de Lula é um grande salto para trás: redobrar a aposta na “Nova Matriz Econômica”.
Sem equilíbrio entre receitas e despesas, o crédito público se esvai, a moeda se desvaloriza, a inflação sobe, os juros também, o consumo cai, a produção também e, finalmente, os empregos evaporam. Todo mundo empobrece, os pobres mais que os ricos, e falta dinheiro ao governo para ajudá-los. Por diversos que sejam os ingredientes das políticas econômicas populistas, a receita é sempre a mesma: vender uma satisfação instantânea e passageira sacrificando uma prosperidade estável e contínua. O que os demagogos dão com uma mão hoje, retiram em dobro com a outra amanhã.
Não há quem não se sensibilize com a miséria que se alastra a olhos vistos em um dos países mais desiguais do mundo. A população espera por programas sociais robustos e o contribuinte paga feliz por eles. Mas esses programas precisam ser sustentáveis. E essa sustentação depende de contas públicas equilibradas e de mais produtividade no mercado de trabalho. Mas, até agora, Lula e sua equipe não propuseram nenhuma política substancial nem em um sentido nem em outro. Gasto é “vida”, como dizia Dilma, mas só se for bem empregado, com recursos que existem, para gerar novos recursos. Senão, é miséria.
Responsabilidade social e responsabilidade fiscal não são, como sugere Lula, como água e óleo, mas só duas faces da mesma moeda.
O MARKETING DA RIQUEZA NA COPA, por Carlos Alberto Sardenberger, no jornal O Globo
Camarotes e acomodações especiais para os VIPs não são novidade nos eventos da Fifa ou em qualquer outro grande jogo de futebol. Pessoas importantes – chefes de Estado, governantes, artistas, ex-jogadores, membros da família real do Catar ou simplesmente caras muito ricos – esperavam essas, digamos, facilidades na Copa. Tiveram muito mais. Instalações espetaculares, com um detalhe especial: essas pessoas especiais receberam autorização para não respeitar uma das regras sagradas do islã, o veto às bebidas alcoólicas.
Por dinheiro.
Quem chegava de carro ao estádio Al Bayt topava com um placa indicando os caminhos: “spectators”, ou seja, os comuns, deveriam dirigir-se à direita para os bolsões mais distantes. Pessoas com ingressos ou credenciais das categorias hospitality, VIP e VVIP (sim, very, very important people) seguiam em frente.
Para os “spectators” (ingressos “baratinhos”, tipo US$ 300 ), a oferta no estádio era de sanduíches, água e refrigerantes. Tudo pago, claro. E tinha filas. Do setor hospitality para cima, a coisa vai melhorando. Ingressos na faixa de US$ 1 mil davam ao espectador um cardápio simples – sanduíches, por exemplo, mas já podiam tomar cerveja e vinho. Subindo na escala de preços, o serviço vai melhorando. De US$ 3 mil a US$ 5 mil para cima (por pessoa, por jogo), o espectador especial tem direito a frequentar restaurantes de classe.
No ponto máximo, o VVIP tem direito a uma espécie de lounge, servido por garçons e chefes exclusivos, comida internacional. E o álcool sobe às alturas: champanhe francês, uísque escocês, vinhos franceses, conhaque e tequila, da boa. Cerveja, também, para quem tem gosto mais simples. Ou precisa prestigiar o patrocinador. Os espectadores comuns podem ver as instalações dos restaurantes e lounges. Não ficam escondidos.
Isso á cara do Catar e dos Emirados Árabes em volta. A riqueza é ostensiva. No monumental Dubai Mall, estão todas as marcas de luxo do mundo. E tem demanda. Filas na porta da Chanel. Em Abu Dhabi, um dos emirados mais ricos, há uma espécie de franquia do Museu Louvre de Paris. É pequeno ainda – obras imensas ao lado -, mas com boa e variada coleção. Exibe um Rodin. Como em todo museu, tem cafeteria para os visitantes. Água e refrigerante. Mas quem pode pagar mais vai a um restaurante francês, classudo, deck sobre águas. Ali se serve vinho francês. Sem qualquer restrição a alimentos.
No Catar, a família real chegava de helicóptero a um ponto reservado, pegava Mercedes e ia direto para a área VVIP.
Isso e mais os oito estádios quase suntuosos, localizados num raio curto, sustentam a visão fake que a região oferece. Considerando a população do Catar – cerca de 3 milhões, apenas 12% locais – , não há o que fazer com aqueles estádios depois da Copa. Um deles, o 974, levantado com contêineres, será desmontado e doado para algum país africano. Os outros, dizem que terão usos esportivos e sociais, não especificados.
Elefantes brancos, caros.
O mesmo vale para as instalações do metrô. Só servem para multidões se movimentando no mesmo horário – e funcionaram muito bem. Mas grande parte das estações simplesmente ficará vazia. A elite local vai preferencialmente de carro, em estradas de cinco pistas, também exageradas para um pós-Copa. Claramente, a monarquia absolutista do Catar quis se apresentar para o mundo. E do modo como vimos: ostentação.
Os trabalhadores em obras e serviços são todos estrangeiros. Chegaram de Nepal, Filipinas, Vietnã, Índia, Bangladesh, Paquistão. São contratados por empresas de serviços, que os alocam pelos diversos locais de trabalho. Tanto no Catar quanto nos Emirados, há uma elite local, outra de estrangeiros, ocidentais, basicamente – executivos e funcionários de empresas multinacionais. Frequentam escolas internacionais, estão ali de passagem. E depois os trabalhadores, estrangeiros que fogem de condições piores em seus países.
Catar é petróleo e gás. Em Dubai, acabou o petróleo, o emirado tenta se transformar num hub de negócios. Estão conseguindo. Desse jeito.