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O MUNDO REAL E FALTA DE REAÇÃO SÃO OS VETORES QUE DESMENTEM OU AUTODESTROEM O POLÍTICO E SEU MARQUETEIRO DE ARAQUE

Ontem, eu comentei aqui – e não foi a primeira vez, então alguns acham que se trata de implicância pessoal – como o prefeito de Gaspar, Kleber Edson Wan Dall, MDB, perdeu-se como promessa de um grupo de políticos e poderosos, e entre eles, uma maioria de jovens. O grupo, como sonho, estabeleceu um projeto de poder de no mínimo 20 anos. Menos de dez anos depois está estraçalhado! Outros grupos, diante deste esfacelamento, tentam ocupar espaços, mas com o mesmo defeito de fabricação e origem ao de Kleber.

E vou recorrer a algo que deve estar na lata de lixo do próprio Kleber, grupo de poder dele que sobrou, familiares e da igreja, onde é um devoto dos planos dela usando a política partidária, seja qual partido ele estiver filiado. Aliás, é esta premissa que balizou a escolha equivocada do MDB de Gaspar por Kleber: votos não dos que acreditavam na política, mas dos induzidos pelos pastores evangélicos travestidos de cabos eleitorais enviados pelo Espírito Santo. Nem mais, nem menos.

Para o exewplo do erro e do desmoronamento do poder, vou escrever, e mais uma vez, sobre do Plano de Governo que o então candidato Kleber apensou à sua ficha de candidato no Tribunal Regional Eleitoral, quando se candidatou, concorreu em venceu a prefeito de Gaspar, mas lá em 2016. E sobre dois itens apenas, entre dezenas que estão listados no documento oficial e podem ser pinçados e vão dar o mesmo resultado nefasto para ele, o grupo, a cidade e por consequência os cidadãos. O de 2022 vai na mesma direção. Entretanto, deve-se esperar. Há milagres para quem ora tanto. E quem sabe, tudo pode mudar. Então estou acautelado. Vai que…

Volto ao ponto de partida do comentário de hoje.

Qual era o mote daquele Plano de Governo se – e foi – eleito Kleber? “Construir o futuro, recuperar a credibilidade e o desenvolvimento de Gaspar”. A bobajada começa no título. E no documento, os então candidatos Kleber e o seu vice Luiz Carlos Spengler Filho, PP, ex-vereador, um agente de trânsito concursado, hoje licenciado, atual secretário de Obras e Serviços Urbanos, expõem às conclusões e às promessas de governo, segundo eles, com aval da população. E por que? “Ouviram o povo”, numa pré-campanha, em oito reuniões itinerantes – na verdade, mobilizações disfarçadas de comícios – pelos principais bairros da cidade.

Pois bem. Tudo era possível. E foi para o papel. Quando digo que o papel aceita tudo é porque ele aceita, mas não o transforma. E transformar a teoria e sonhos em realidade tem sido o maior defeito de Kleber no primeiro e agora no segundo mandato. E politicamente, está pagando por isso,

A primeira coisa que colocaram no papel é uma descoberta impressionante e quase inusitada: a de que “Gaspar possui um potencial econômico e turístico”. Ou seja, o papel aceita tudo. Até a hipocrisia. Porque o potencial ainda continua potencial.

Então a pergunta que resta é uma só: o que de fato que foi feito para explorar esta “grande descoberta nas reuniões com a própria população lá em 2016?

O distrito industrial particular que se criou no Belchior Baixo, no Distrito do Belchior, por exemplo, apesar das reiteradas promessas – inclusive feitas em reuniões no gabinete do próprio prefeito Kleber e isto há anos, era o de asfaltar a poeirenta, estreita, as vezes lamacenta e perigosa Rua Vidal Flávio Dias até a BR-470. Nada foi iniciado. Nem mesmo com a prometida ajuda dos empresários. aos custos do município, muito menos com os empréstimos bancários autorizados para as obras e aprovados sob chantagem contra vereadores na Câmara Municipal. A não aprovação impediria tal e outras obras a favor dos gasparenses.

Seis anos de enrolação. E olha que a vereadora mais votada é governista e é do Distrito; o atual vice-prefeito, Marcelo de Souza Brick, Patriota, que foi candidato dos empresários, mora no Distrito. Até uma comissão foi “criada” para debater este assunto na comunidade existe e nada se sabe dela. Ou seja, o prefeito quando “ouviu” a comunidade em geral há mais de seis anos e em campanha eleitoral “descobriu” um “potencial econômico”. Botou isso no papel. E na prática?

Esqueceu tudo, ou colocou na gaveta, ou está mal assessorado, ou está se vingando daquilo que pode gerar mais atração de negócios, empresas, empregos, gerar renda, tributos e pasmem: a imagem de um político realizador. Trata-se do marketing reverso e feito por uma equipe tosca, cara e amiga da onça. Só pode ser.

Eu poderia alinhar outras situações em igual resultado não só contra a cidade, mas contra o próprio gestor e seu grupo político que está obrigado a defendê-lo e na hora de mostrar o pau, descobre que não tem nem a cobra para matar. É repetitivo. É maçante. E desgastante para mim e os leitores e leitoras. Todavia, ao que parece, para os políticos que se estabelecem na zombaria. E eles estão perdendo mais que outros. Estão abrindo flancos para os adversários que queriam ver longe da concorrência pelo poder.

E no turismo? É bom ficar logo depois desta palavra e ponto de interrogação.

Tudo que existe aqui em Gaspar é iniciativa privada, gente pioneira, gente que viu o potencial, apontou isso ao prefeito para constar naquele documento, gente que apostou alto, gente que botou a mão no bolso, gente que fez e faz história, gente que não esperou pelos políticos de estimação transformar o potencial em realidade em favor do turi8smo da cidade e ser um complemento do que se tem na região.

Entre elas, destaco as cascatas, a Vila D’Itália , o Arraial do Ouro, a Rota da Linguiça, o Festival Nacional de Aeromodelismo, o Downhill, o Parapente, o Rodeio Crioulo e por aí vai a fila. Salva-se talvez, a Expo-feira onde realmente a prefeitura de Gaspar coloca a mão na massa e com sucesso. Nos demais, a prefeitura como fomentadora, está longe para a sobrevivência como negócio e infraestrutura mínima de eventos e empreendedorismo do turismo e seu potencial. A pasta do Desenvolvimento, Renda e Turismo é decorativa. É feita para trocas, para empregar quem não conseguiu se eleger.

Nem local para a realização de grandes eventos de atração local e turística, ou negócios, temos. A Arena Multiuso está praticamente perdida. O governo Kleber, ao invés de negociar e regularizá-la para a cidade, preferiu comprar a peso de ouro um terreno para salvar a Furb dos seus problemas financeiros e dizer que nele, vai construir, e não se sabe quando, um Centro Administrativo, que possivelmente nem será do município, mas de um terceiro ganhando dinheiro nesta parceria.

Retomo para finalizar.

Ah, mas agora somos a Capital Nacional da Moda Infantil! Ótimo, onde está ela? Como se compra e compara esta moda? Como um consumidor em alguma loja do Brasil a identifica? Inventar fantasias é coisa de políticos. Eu exagero? Então não é real o que escrevi até aqui? É isso? Quem vai me desmentir? E Kleber e seu entorno não sabe por que ele teve que correr do pau quando o Conselho “Fake” da Cidade, feito de riquinhos e alguns privilegiados – um deles nem no Brasil mora – quando indicou Kleber para ser o candidato deles a deputado estadual.

Quer medir o meu nível de exagero e implicância que tanto reclamam os que meteram Kleber numa redoma e o levaram a ser um político fraco já a procura de um carguinho em 2024? Qual era o primeiro compromisso de Kleber, se eleito em 2016 – e foi? “Gabinete do prefeito nos bairros”. Respondam quantas e onde isto aconteceu nestes seis anos de mandato de Kleber? Eu respondo quatro vezes, e por insistência, na Superintendência do Distrito do Belchior, só para comemorar a data da implantação do Distrito e para ajudar na marquetagem da vereadora de lá, sua aliada. Nem mais, nem menos!

Quem fez aquele Plano de Governo, a marquetagem e faz a comunicação de hoje – e que são os mesmos -, deveriam ter esses Planos emoldurado na tela do computador e dos seus smartphones e do prefeito, seus auxiliares e “çábios”. No mínimo para lembrar que se está em dívida com a cidade, cidadãos e cidadãs. No mínimo para pedir desculpas. No mínimo para dar novos, criar explicações, alterar os planos e dar novos prazos. O prefeito das redes sociais não é exatamente o que prometeu ser para a cidade. Simples assim. E está documentado fartamente naquilo que produziu e protocolou no Tribunal Regional Eleitoral. Acorda, Gaspar! 

TRAPICHE

O prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, foi conhecer as obras de ampliação da Apae de Gaspar – um exemplo e inspiração de filantropia educacional em Gaspar, feita por eternos abnegados. E espalhou o ato de “fiscalização” na sua rede social. 

A prefeitura até agora, não meteu a mão no bolso para esta obra. Ela tem R$4.994.000,00 da Fundação Catarinense de Educação Especial.

Recentemente, o governador Carlos Moisés da Silva, Republicanos, liberou R1.119.900,00 para a Apae e R$3.112.000,00 para a AMA – a dos autistas. O projeto da ampliação da Apae foi recomendado e pago pela própria Apae para ter acesso aos recursos. Se esperasse pela ajuda do poder público teria perdido o prazo para se habilitar às verbas públicas.

Mais de 60% da obra já está executada. Espera-se que o prefeito – afeito às múltiplas reuniões de planejamento que as pública quase diariamente nas suas redes sociais como propaganda que não cola mais embalado pela equipe do marketing do atraso – tenha aprendido algo com esta visita como se transforma sonhos em realidade para a sociedade.

Os vereadores de Gaspar estão transportando alfaces nos carros da Câmara? Mas, o porquê disso? Num carro da secretaria de Agricultura e Aquicultura, até seria aceitável. Ou algum vereador fazedor de vídeo colheu as alfaces em ambiente público de alguma obra que marqueteia para ajudar o chefe?

Enquanto não se esclarece e para não punir o suposto mau uso dos carros, estabelece-se emergencialmente e uma “nova” regra geral. Os três veículos que os vereadores possuem à disposição só podem rodar das 13h às 17h. E o errado todo faceiro.

Novo rico, ou metido a rico, quando “ajuda” pobre, primeiro ele se exibe nas redes sociais e trombeteia aos quatro cantos sobre ação entre “amigos” que vai fazer. Tudo para dizer que é um filantropo. A mão que dá, não é a mesma que se mostra. Conheci pelo menos três que faziam isso sem se exibirem e a cidade inteira sabia que eles eram assim na alma e coração: Osvaldo Schneider, Bernardo Leonardo Spengler e Vilmar de Oliveira Schürmann. Tem outros, como a Dica Spengler.

Em seguida, faz um encontro da claque em lugar meio da moda, finamente decorado (mais dinheiro), com comida pobre, música duvidosa para que não se escute as confidências (mais dinheiro), gasta com roupa cara e as vezes cafona para o ambiente e a ocasião (mais dinheiro), lava de carro do ano, faz fila no cabelereiro, na maquiadora e cobra bem caro (mais dinheiro).

E aí diz que parte do que arrecadar (sim porque tem que descontar os gastos do encontro) vai para doação aos pobres, aos filhos dos pobres, aos brinquedos do sque não possuem brinquedos no Natal. Se fizesse a fórmula dos comuns, o bolo seria maior para a repartição. Veja a fórmula.

No outro lado, dezenas de pessoas da cidade, em microrregiões, fazem a mesma coisa, mas diferente. Reúne-se com amigos de qualquer afinidade, com vizinhos, com patrões, com fornecedores, na igreja, nos terçafeirinos, ou algo parecido, e com roupa do dia a dia, de chinelos meio-dedo e até barba por fazer, arrecada um troco, aceita doações, bota tudo no saco, coloca as contas do que recebeu no grupo do whats, do que gastou, ainda veste de Papai Noel molambento e faz a festas das crianças por um custo bem menor, mas bota menor nisso.

Qual a diferença disso tudo? Em uma turma há exibição, disputa e inveja. No outro felicidade, coração e identidade de quem já nem teve Natal. Só isso!

A licença médica do vereador Amauri Bornhausen, PDT, vai até o dia cinco de dezembro. Ou seja, ela vai participar da eleição da Câmara. Amauri já está de volta a sua casa em Gaspar, depois da segunda angioplastia que realizou no sábado no Hospital Santa Isabel, em Blumenau.

Apenas para registro. Hoje 30 de novembro é a data de nascimento de Winston Leonard Spencer Churchil, ex-primeiro inglês que derrotou Hitler, o pai do mortífero e radical nazismo que conhecemos. Ele morreu em 24 de janeiro de 1965.

Frases e tiradas deles, muitas sarcásticas dele, outra geniais. Entre elas, destaco esta: “Você tem inimigos? Significa que você brigou por algo, alguma vez na vida”. Ou “fanático é aquele que não consegue mudar de opinião, porque não aceita mudar de assunto”

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6 comentários em “O MUNDO REAL E FALTA DE REAÇÃO SÃO OS VETORES QUE DESMENTEM OU AUTODESTROEM O POLÍTICO E SEU MARQUETEIRO DE ARAQUE”

  1. A NATUREZA DO GOVERNO, por Demétrio Magnoli, no jornal Folha de S. Paulo

    O Brasil é um país de conceitos políticos difusos, em perene fluxo. Por aqui, fala-se de presidencialismo de coalizão, semipresidencialismo e semiparlamentarismo. Hoje, assegura-se que teremos um governo de frente –e adjetivada, ao sabor das conveniências, como “ampla” ou “democrática”. Entre nós, a linguagem serve mais para iludir que para comunicar.

    No segundo turno, configurou-se em torno de Lula uma frente eleitoral, que merece o qualificativo “democrática” por apoiar-se na repulsa ao golpismo da extrema-direita bolsonarista. Contudo, em momento algum articulou-se uma frente política.

    Uma frente política repousa sobre um programa comum negociado por diferentes partidos. Durante a campanha do segundo turno, Lula anunciou a incorporação de algumas propostas de Simone Tebet e de Ciro Gomes, mas não modificou o núcleo de sua plataforma econômica, exposta em discursos e declarações públicas. “Governo de frente” sem programa comum é, na hipótese mais benevolente, a expressão de uma utopia pervertida.

    Em tese, Lula poderia governar exclusivamente com sua coligação eleitoral. Contudo, essa frente de esquerda não é viável pois falta-lhe um mínimo de sustentação no Congresso.

    Uma alternativa seria a construção tardia de uma frente democrática, por meio da formulação de um programa de consenso capaz de reunir os diversos partidos e facções partidárias que constituíram a frente eleitoral do segundo turno. Lula teria que ceder em pontos relevantes de suas promessas de campanha, especialmente na esfera da política econômica. No governo de centro-esquerda resultante, o PT teria forte influência, mas não a palavra final.

    O pacto firmado entre Lula e Arthur Lira evidencia que o presidente eleito escolheu um terceiro caminho, enraizado no solo pútrido da tradição política nacional: uma ilusória frente ampla. Seu governo será de frente e, simultaneamente, não o será. Não será porque prescindirá de um programa negociado com os parceiros. Será porque derivará da cooptação em massa de partidos e grupos parlamentares.

    O tortuoso expediente destina-se a circundar a negociação política, substituindo-a pelo loteamento da máquina estatal. “Uma mão lava a outra”, como quer o neoaliado Lira, cujas prioridades absolutas são a sua reeleição para o comando da Câmara e a manutenção do “orçamento secreto”.

    A PEC da Transição ilumina a estratégia de Lula. O objetivo prioritário do novo governo é libertar-se das amarras fiscais que limitam o gasto público. Trata-se de concluir, a qualquer custo, o serviço conduzido pelo governo Bolsonaro. O preço econômico será pago sob a forma de juros maiores e crescimento menor. O preço político, pela inclusão no governo de correntes que apoiaram Bolsonaro e pela eternização do orçamento secreto.

    A responsabilidade política vai para o ralo para a responsabilidade fiscal poder ir para o ralo. A frente sem programa será muito ampla, estendendo-se do PSOL ao PP, mas não faz jus ao adjetivo “democrática”.

    Nos mandatos anteriores de Lula, o chamado “presidencialismo de coalizão” notabilizou-se por instabilidade estrutural, que foi solucionada por vias ilegais (mensalão e petrolão). Sua nova versão sofrerá do mesmo defeito inato. A direita bolsonarista ou semibolsonarista extrairá sucessivas concessões do Executivo, usando como moeda de troca o apoio circunstancial a propostas enviadas ao Congresso.

    De volta ao passado –ou seja, à estranha aliança entre a esquerda e o centrão dos anos do lulismo triunfante?

    Não exatamente. A novidade é a persistente agitação golpista da extrema direita. A ameaça à democracia que produziu a frente eleitoral em torno de Lula não evaporou com a apuração. Paradoxalmente, Lula precisa dos bolsonaristas nas ruas, em estado de permanente excitação. A ficção de um governo de frente democrática depende deles.

  2. QUE MERDA É ESTA?

    O governo de Jair Messias Bolsonaro, PL, admite que não tem dinheiro para pagar as aposentadorias de dezembro? E queria se eleger? E deu um gancho para o PT comemorar e malandramente pedir mais aos congressistas fora do teto?

    Essa gente – e me referido aos perdedores quanto aos ganhadores, pois um escolheu a dedo o outro para ser adversário e tudo ficar na mesma – não sabe qual a diferença entre merda verde, bosta seca e estrume. E ainda quer ou governa um país, dividido em fanáticos usados para sustentar este circo contra o nosso futuro

  3. USA, BRASIL E HAITI, por Eliane Cantanhede, no jornal O Estado de S. Paulo

    O possível encontro de Luiz Inácio Lula da Silva com Joe Biden, ainda em dezembro, será mais uma confirmação do quanto o Brasil está voltando ao cenário internacional e o quanto as relações do País com a maior potência mundial vão esquentar. Mas nem tudo o que reluz é ouro e nem tudo o que interessa ao Brasil convém aos Estados Unidos, e vice-versa.

    Há muito em comum entre Lula e Biden em ambiente, direitos humanos, gênero, igualdade racial e justiça social. E há muitos programas de cooperação que atravessam governos e ideologias, nas áreas de saúde, defesa e segurança, por exemplo. Porém, pelo menos uma proposta americana não agradar ao Brasil. Aliás, nem ao governo que entra nem ao que sai.

    Os EUA articulam nova força internacional no Haiti, não mais com tropas militares e sim policiais, para combater o caos do país mais pobre das Américas, onde milícias disputam o poder. O secretário de Estado, Antony Blinken, expôs a ideia no início do ano ao chanceler Carlos França, que se reuniu com os generais Paulo Sérgio e Freire Gomes, ex e atual comandante do Exército, mas os três não se mostraram animados.

    O secretário-geral da ONU, António Guterres, enviou carta ao governo e se reuniu com França para defender uma “tropa de choque” no Haiti. O Brasil comandou as forças militares da ONU no país, mas terá dificuldade em repetir a dose, em outro momento, com outro modelo. “A sociedade brasileira está preparada para ver policiais voltando em caixões ou matando civis em outro país?”, questiona França, que fala em “tropa de choque com ‘licence to kill’”.

    Também o general Augusto Heleno, homem forte do governo Bolsonaro e um dos ex-comandantes das tropas da ONU no Haiti, desaprova: “Uma ação policial não será suficiente jamais. O Haiti precisa de uma ajuda internacional intensa e em todos os campos, com intempéries, conturbado quadro político, estrutura social mal construída e economia frágil”.

    No novo governo, o ânimo não é diferente. Para o ex-chanceler Celso Amorim, consultor de Lula na política externa, o Haiti “não precisa de tropas policiais, mas sim de apoio mais amplo para estruturar o futuro”. Segundo ele, é uma tarefa para a ONU, não para um país ou grupo de países.

    Afora isso, Biden dá sinais de apoio e simpatia para Lula, 200 apartamentos foram reservados pela embaixada dos EUA para a posse em Brasília e os americanos parecem prontos para curtir o “Festival do Futuro”, ou o “da alegria”, que Janja, mulher de Lula, organiza para 1.º de janeiro. Uma festa com “povo na rua”, para o Brasil curtir e o mundo ver.

  4. VAMOS COPIAR AS LEIS DIGITAIS DA EUROPA, por Pedro Dória, no jornal O Globo

    A equipe de transição para o futuro governo Lula já tem uma ideia do que fazer com as grandes plataformas digitais. O time escalado para discutir o assunto é inadequado – o ex-ministro das Comunicações Paulo Bernardo e seu então secretário executivo, César Alvarez, o ex-deputado federal Jorge Bittar e a única pessoa que tem real experiência trabalhando com redes sociais, a economista Alessandra Orofino. Ainda assim, a ideia do grupo é boa: copiar a nova legislação europeia para o tema.

    O PT é velho. Ou melhor: quem tem real poder, dentro do Partido dos Trabalhadores, é velho. O novo presidente não usa cotidianamente um smartphone. Muitos no comando da transição têm apenas um tico mais de experiência com tecnologia. E não adianta. Para começar a entender como a comunicação mudou radicalmente, só tem um jeito. Abrir o WhatsApp algumas vezes por hora, estar no Twitter todo dia, deslizar o dedo pelo Instagram, frequentar o YouTube para assistir a vídeos a ponto de o algoritmo já saber o que lhe recomendar, passear pelo Face, ter um TikTok. Tem de ser hábito.

    Esse é daquele tipo de velhice que nada tem a ver com idade. Há gente com 70 que já viveu as dores de apanhar nas redes, há aqueles com 40 que, prudentemente, passam ao largo. Ocorre que, aqui, a palavra dor é literal. É chave. As redes mexem com nossas emoções – e é isso que faz delas intensamente poderosas politicamente. Nas redes vivemos angústias, mágoas, euforia, raiva. Não é lugar para emoções banais. Nelas, tudo é intenso.

    Inúmeros deputados federais e senadores sabem disso. É comum que falem de medo, apreensão. Que celebrem vitórias num debate contra um adversário no Twitter mais que em plenário – até porque, ora, no Twitter há público. Dentro do Congresso, só raramente. Não é possível entender o bolsonarismo sem conhecer essa torrente emocional. Afinal, é nela que o bolsonarismo se ergue.

    Há gente competente, dentro do PT, na esquerda, ligada aos partidos que compõem a transição e, claro, na sociedade civil que conhece o assunto com profundidade. Não é o caso do time escalado. É daqueles problemas que, sem ser vivido, não pode ser enxergado. É o Efeito Dunning-Kruger, fenômeno da psicologia que pode ser explicado de forma bastante simples – quando alguém não é capaz de perceber o limite de sua ignorância. Acha que compreende quando, não, não compreende.

    Ainda assim, a solução proposta é excelente: copiar a legislação europeia. Regular as grandes plataformas digitais não é trivial, os europeus passaram três anos estudando o problema até chegar a uma tentativa que faz sentido.

    Por um lado, as regras trabalham para diminuir o poder dos monopólios. As gigantes não podem usar suas plataformas para esconder concorrentes e conquistar novos mercados. As multas são altas. As lojas de aplicativos, como a da Apple, tampouco podem ser a única opção.

    Por outro lado, onde está a ameaça política, as redes que usam algoritmos para impulsionar conteúdo são obrigadas a mudar seu comportamento. Se você quer saber por que um post apareceu na sua frente, essa resposta tem de ser fácil de achar. Os algoritmos têm de ser transparentes. Têm de ser compreensíveis. A ideia é que cidadãos sejam capazes de perceber que há um computador escolhendo o que veem com o objetivo de envolvê-los emocionalmente.

    É bom copiar as leis europeias, neste caso, não só porque foram muito estudadas, mas também porque facilita o trabalho de todo mundo. A adaptação técnica feita para a Europa já servirá para o Brasil.

  5. UM BANQUEIRO COMENTA HADDAD, por Vinicius Torres Freire, no jornal Folha de S. Paulo

    Por que parte da finança faz campanha contra Fernando Haddad no ministério da Fazenda?

    O dirigente de um bancão nacional responde, primeiro, que “isso não tem importância”. “O mercado”, empresários etc. não influenciam essas nomeações “faz mais de 50 anos”, diz.

    Em seguida, o executivo ri e abre uma pastinha de cartolina com cópias de entrevistas antigas de Haddad, grifadas com marcador amarelo de texto. “Tem gente que implica com isso daqui”, diz, e cita trechos.

    Nas entrevistas de 2018 quando ainda não era candidato a presidente, Haddad falava, por exemplo, em revogar parte da reforma trabalhista (como aquela que aumentou muito o risco de o trabalhador ter de pagar o custo de um processo e, assim, reprimiu o número de ações na Justiça).

    Noutra, diz que o PT atacaria o “patrimonialismo oligopólico” dos bancos e seus juros altos, o que poderia ser remediado com impostos maiores. Fala também em usar parte das reservas internacionais (poupança em moeda forte guardada no Banco Central) a fim de financiar investimentos públicos e usar estatais em planos de desenvolvimento.

    No mais, Haddad defendia reforma tributária parecida com a dos melhores projetos que andam por aí. Ao longo da campanha de 2018, falaria pouco sobre economia.

    É isso? Entrevistas velhas e vagas? Haddad não pode estar pensando outra coisa? Até pode, responde o banqueiro, “mas ninguém sabe o que ele pensa agora ou o que ele vai poder pensar”.

    Isto é, não se sabe quanta autonomia teria Haddad ou quanto interesse ou capacidade teria de mudar opiniões de Luiz Inácio Lula da Silva.

    O executivo comenta que Lula parece “mais cheio de si” do que em 2002. Além do mais, fez discursos seguidos contra aqueles que cobram um programa de contenção de endividamento público.

    Diz que “Haddad não é muito fácil, ouve pouco, não é habilidoso como o [Antonio] Palocci”, o ministro da Fazenda do Lula 1 mais “reformista”, de 2003 a 2006. Observa ainda que Haddad parece desconfiado quando pedem que abra suas ideias e é “muito leal a Lula”. Por outro lado, é “sem dúvida, o mais preparado dos que estão por aí, não só entre os que querem ser ministro”.

    Mas isso também não resolve. “Sem programa, sem o plano fiscal e sem equipe, isso que falam dele é só fofoca”. Por quê?

    Porque não se sabe o que Lula pensa e a força política que qualquer ministro da Fazenda terá para fazer mudanças e o “trabalho sujo” (contenção de gastos).

    Para o executivo, Lula 3 pode ter políticas econômicas diferentes, basta ter “fundamento técnico e gente para tocar”, mas na “questão fiscal nunca tem o que inventar e a situação é ruim”.

    Diz que está menos pessimista que os economistas, da casa e outros. “Dá para arrumar o fiscal. Sem fazer bobagem aí, o país cresce mais do que estão prevendo, a receita [de impostos] vai ser maior, a dívida [pública] sobe pouco, tem investimento privado engatilhado, as reformas já ajudaram um pouco, o país pode ficar mais calmo com Lula. Dá para levar”.

    Basicamente, isso quer dizer que o gasto extra em 2023 deve ser comedido e que tem de haver uma nova regra de teto, um limitador para o crescimento da dívida (gasto menor que receita por muitos anos, começando logo).

    Qual seria o ministro da Fazenda ideal? “Pode ser também o Haddad ou outro. O pessoal [‘do mercado’] sonha com essa ideia de um economista de prestígio. Não adianta nada se não tiver capacidade política e apoio do Lula e do Congresso para fazer o básico”. “Tem muita gente que posa de informada, mas o fato é que a gente não tem a menor ideia do que o Lula vai fazer. Isso é o que importa e dá medo”.

  6. TARIFA ZERO EM 2022 E 2013, por Elio Gaspari, nos jornais O Globo e Folha de S. Paulo

    Geraldo Alckmin elegeu-se vice-presidente da República, e Fernando Haddad, derrotado nas três últimas eleições que disputou, é uma estrela do firmamento petista. No grande elenco da equipe de transição, circula a proposta da instituição de um regime de Tarifa Zero nos transportes públicos. Nas palavras do deputado Jilmar Tatto (PT-SP), ex-secretário municipal de Transportes de São Paulo:

    – O presidente Lula pode dar apoio a essa ideia. Joguei o tema para ser debatido no grupo de trabalho das cidades. Meu papel é ajudar a convencê-lo da necessidade do direito de ir e vir. Assim como a população tem acesso à saúde gratuita e universal, acesso à educação, precisa ter acesso ao transporte.

    Noves fora a mistura de saúde com transporte, a ideia é interessante. Mais de 40 cidades (a maioria pequenas) já a adotaram, com sucesso. Nas últimas décadas, o modelo de negócio dos transportes urbanos sofreu poucas alterações e, do nada, surge a surpreendente informação de que a Tarifa Zero tem o apoio de destacados empresários desse setor cravejado por malfeitorias. Vá lá. Com a Viúva bancando os custos dos transportes urbanos, só Deus sabe o que acontecerá com a gestão dessas arcas.

    Por ser um problema de gestão municipal, Tatto, Haddad e Alckmin deveriam ficar a quilômetros desse debate.

    Em 2013, quando a garotada do Movimento Passe Livre protestava contra um aumento das tarifas de ônibus, o que eles fizeram?

    Tatto, nada. Haddad foi severo na defesa do aumento, já que sua acrobacia tributária viu-se rejeitada pelo governo de Dilma Rousseff. Alckmin entregou a gestão das manifestações à Polícia Militar.

    Com esse modelo de gestão, apesar dos protestos nas ruas, Alckmin e Haddad foram para Paris com uma agenda de trabalho para trazer à cidade um evento internacional. Numa das noites parisienses, a dupla subiu num palco e cantou “Trem das onze”, de Adoniran Barbosa. Dias depois a PM investiu, sem motivo nem propósito, contra uma passeata ordeira. Na esquina da Rua Maria Antônia com a Consolação, a tropa de choque desceu com bombas de gás e estrépito.

    A violência potencializou os protestos. Tirou da garrafa o gênio das passeatas que, três anos depois, dariam base popular à deposição de Dilma Rousseff.

    Alckmin e Haddad geriram o problema dos protestos contra o aumento das tarifas com arrogante insolência e deu no que deu. Passaram nove anos, e a ideia da Tarifa Zero surge num governo em que Alckmin e Haddad são estrelas. Em 2013 a garotada da Tarifa Zero era demonizada por vândala e lunática. Vale repetir que, na esquina da Maria Antônia com a Consolação, vândala foi a PM. Coisa de quem acredita que caneta e cassetete resolvem qualquer questão.

    Uma Tarifa Zero decidida com canetadas de Brasília é coisa de megalomaníaco lunático. O sistema de transportes de uma pequena cidade nada tem a ver com o de uma metrópole. Além disso, a rede de São Paulo não pode ser comparada com a pantanosa tragédia que existe no Rio. Para os megalôs lunáticos, cria-se o transporte gratuito num momento de estranha conveniência dos empresários. Tudo bem.

    O que se fará quando os contratos não forem honrados (como no Rio), ocorrendo a deterioração dos serviços e incêndios de ônibus?

    Canta-se “Trem das onze” em Paris e deixa-se o choque da PM cuidar do caso.

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