O deputado reeleito, Ivan Naatz, do nada e repentinamente, iniciou o debate sobre a criação de fato da Região Metropolitana de Blumenau, origem do parlamentar. Teve quase quatro anos para liderar esta agenda. Não a liderou.
A ideia antes de ser boa, é necessária e está atrasada quase duas décadas, precisa-se salientar. Mas, o debate continua de forma equivocada. E na forma de uma narrativa política, disfarçada de suprapartidária, exatamente, quando o deputado está sob ataque dos bolsonaristas, parte de seus eleitores e eleitoras na região. Eles não concordam com Ivan de que é hora de voltar a trabalhar do que se fazer piquetes para questionar eleições que aqui além de elegê-lo, elas fizeram uma bancada expressiva do PL na Câmara e na Assembleia, sem falar em Jorginho Mello dos Santos, para governador e o desconhecidíssimo Jorge Seift Júnioir, para o Senado.
No press release que Ivan distribuiu e muitos publicaram comendo moscas, o deputado reeleito afirmou que “eu tenho dito nos últimos quatro anos e até quando era vereador em Blumenau que a Região Metropolitana é uma situação consolidada, nós temos que entender que não há mais diferença entre as nossas cidades, mas sim uma região com objetivos e soluções comuns que podem beneficiar a todos de forma integrada“. Ou seja, eu não exagero e nem implico gratuitamente quando afirmo que Ivan chegou tarde. Ele próprio reconhece no seu comunicado oficial.
E por que chegou tarde? Exatamente para criar uma cortina de fumaça e sair da linha de tiro a que está exposto – na minha avaliação -, injustamente. Ivan está se blindando naquilo que quer ser catalizador no PL e no governo do estado, mas vai ter muitas dificuldades diante de interesses e principalmente a ideologia bolsonarista e da qual não é dos puros. Simples assim! E vai precisar de paciência, habilidade que não é uma expertise dele.
E não vou me alongar neste assunto de fritação do Ivan pelos bolsonaristas. Esse questionamento já era esperado para quem nunca foi conservador, direita e até bolsonarista. É um convertido recente. Eu já expus isso em outros artigos e em pílulas no “Trapiche”, fato que deixa a pequena parte bolsonarista que me lê – a que me considera um comunista por ser um a serviço incondicional deles – fula da vida. Aliás, na carreira de político, Ivan se fez como estilingue. Agora será a vidraça. Então vai ter que atirar pedras para se defender. Será divertido…
Retomo o tema do título.
E antes que alguém construísse um discurso na velha pauta da Região Metropolitana, que engloba além de Blumenau, Gaspar – mencionou incluir Ilhota, naturalmente mais identificada com a Foz do Itajaí-, Timbó, Indaial e Pomerode, Ivan também embrulhou os novos deputados estaduais eleitos no dia dois de outubro por Blumenau.
Ivan conversou com os eleitos Marcos da Rosa, PSD, Napoleão Bernardes, PSD, ex-prefeito de Blumenau, além de Egídio Maciel Ferrari, PTB. É aí que mora o perigo: políticos, que até agora só fizeram discursos e nada de prático para que a região passasse sequer de interesses municipais à mínima integração. Fato e realidade que por si só mostram o quanto está distante a tal Região Metropolitana. Esta conversa mole do deputado Ivan, sabe ele, muito bem, é para boi dormir.
Está mais do que na hora, aí sim, com ajuda dos políticos, que a Associação Municípios do Vale Europeu – com a boa linha de técnicos que possui e onde estão os prefeitos suprapartidariamente que podem, aceitam ou querem a Região Metropolitana- assumir o protagonismo desta história e aí sim se criar o escopo da Região Metropolitana. Só assim ela vai sair do discurso e do papel. Aliás, sementes a AMVE já têm plantadas via os seus consórcios.
A metropolização – se assim pode ser definida – da região de Blumenau só será uma realidade quando isso se consagrar por legislação de autoridade específica e comum aos municípios aderentes via os municípios aderentes. A legislação é papel dos políticos, mas o comando e funções, a própria legislação precisa consagrar a técnicos com mandatos – e não empregados burocratas permanentes de altos salários. Eles não podem apadrinhados e indicações desses políticos, como Ivan, e outros políticos já estão pensando para ter poder e currais de votos no futuro.
E o sucesso da Região Metropolitana de Blumenau, penso, só se consagrará se ela não abraçar o mundo ideal, mas escolhendo as prioridades das carências e onde há possibilidade de se tornar de verdade uma gestão regional, com metas e políticas comuns, como por exemplo e antes de tudo, um Plano Diretor e fontes da sua sustentação consultiva, gestora e de auditoria. Depois dentro do ambiente do Plano Diretor, escolher-se criteriosamente, as prioridades por prazos de implantação como mobilidade, integração no transporte coletivo, turismo, proteção da sociedade eventos climáticos severos, coleta e destinação de lixos, saneamento, despoluição, meio-ambiente, saúde, educação, segurança, assistência social, habitação popular, formação e qualificação de mão-de-obra…
Que seja bem-vinda a região metropolitana de Blumenau. Gaspar terá muito a ganhar neste processo de integração sem perder a sua identidade política, social e administrativa. Já escrevi isto várias vezes e há anos. Contudo, é algo que precisa do apoio político, e não o comando dos políticos como ensaia Ivan ao tentar promover o debate com políticos e até liderar este processo. Se for assim, todos sabem como isso começa e se enrola por toda a vida contra os pagadores de pesados impostos. Ou já se esqueceram do cabideiro de empregos para políticos sem votos criado pelo ex-governador Luiz Henrique da Silveira, MDB, nas tais Secretarias de Desenvolvimento Regional? Os órfãos estão aí esperando pela boquinha de sempre.
Que seja bem-vinda a Região Metropolitana de Blumenau, todavia, é necessário perguntar ao Ivan, se vamos ao menos terminar a duplicação da BR 470 até Indaial. Porque o governador eleito Jorginho Mello, PL, seu parceiro, fez de tudo para empacá-la. Na cara dura veio a Blumenau e adjacências defender, vejam só, que ela não recebesse os recursos estaduais aprovados pela Assembleia Legislativa, por proposta do governador Carlos Moisés da Silva, Republicanos, diante da inércia incompreensível do governo de Jair Messias Bolsonaro, PL, contra o Vale do Itajaí, de Ivan. Ou vão agora, criar mais entraves e jogar a culpa para Brasília, o PT e Lula para se ter discursos, enquanto sofremos?
A “nova” discussão para se implantar a Região Metropolitana de Blumenau recomeça muito tarde e como se vê, torta. Uma pena. Entretanto, se os eleitores e eleitoras ficarem vigilante há chances de desentortá-la.
TRAPICHE
Como já havia informado, o vereador de Gaspar, Amauri Bornhausen, PDT, está internado em Blumenau desde segunda-feira. Problemas coronarianos. Voltará para mais uma angioplastia. Devido aos protocolos do Hospital Santa Isabel, segundo a família, ele não está recebendo visitas de terceiros.
Teve ex-vereador petista de Gaspar que botou banca num bar perto de casa e saiu atropelado fisicamente por um bolsonarista. O caso foi abafado. Não deveria. Não pela arrogância do petista, mas pela falta de modos do bolsonarista.
O vice-prefeito de Gaspar, Marcelo de Souza Brick, Patriota, continua governando por suas redes sociais. Faria melhor, se instalasse um gabinete debaixo da figueira da Praça Getúlio Vargas, defronte à barrosa e o gabinete do prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB. Não faz isso porque não quer perder a pose. Enquanto isso, o poder de plantão deita e rola com a aparência do vice.
As mudanças que embalaram a eleição e a reeleição de Kleber Edson Wan Dall, MDB ficaram bem expostas esta semana na homenagem que o novo prefeito de fato de Gaspar, deputado Ismael dos Santos, PSD, arrumou para ele na Assembleia. A representatividade se resumiu à família, e a um baixo clero. O que sinaliza? A razão pela qual Kleber fugiu da possibilidade de se candidatar a deputado estadual.
Uma iniciativa do Arquivo Histórico Documental Leopoldo Schmalz, de Gaspar. Na segunda-feira, dia 28 acontece a entrega oficial do “compact disc representativo da Hemeroteca do Estado” dos conteúdos dos jornais “O Gasparense” (1923); “Voz de Gaspar” (1953), “Gazeta do Vale” (1970) e “Cruzeiro do Vale” 1990 (o único ainda em circulação). O evento será às 10h30min.
Perguntar não ofende: não está faltando alguém?
O Brasil jogou bem. Já a torcida, jogou mal e pesado. Nas redes sociais os petistas comemoraram a lesão de Neymar Júnior. Imbecis. No outro lado, Richarlison, aquele do gol de placa, o que deu a vitória a seleção, foi malhado pelos bolsonaristas. Imbecis também. Impressionante como se desqualificam as pessoas pelo simples fato delas terem opiniões diferentes ou divergentes.
A dificuldade do futuro governo de Luiz Inácio Lula da Silva, PT, em emplacar no Congresso Nacional a PEC fura teto com a desculpa de ajudar os pobres no discurso que seduziu na campanha, mostra de um lado como seu espaço de manobras está reduzido no atual e novo ambiente político. Entretanto, experimentado, Lula está esticando a corda para ver a elasticidade dela e qual é o ponto da sua ruptura. E a sociedade pagando as contas das jogadas dos políticos.
5 comentários em “A “CRIAÇÃO” DA REGIÃO METROPOLITANA DE BLUMENAU PARECE SER MAIS UMA CORTINA DE FUMAÇA PARA LIVRAR NAATZ DAS COBRANÇAS DOS BOLSONARISTAS”
ARTHUR LIRA ARRASTOU AS FICHAS, por Elio Gaspari, nos jornais O Globo e Folha de S. Paulo
Goste-se ou não do deputado Arthur Lira, nas últimas semanas ele foi um mestre. Durante a campanha, Lula condenava sua posição de senhor das verbas do orçamento secreto. No dia da eleição, ele foi um dos primeiros a reconhecer o resultado. Nos dias seguintes, jogou parado enquanto o comissariado petista se enrolava com a PEC da Transição.
Passaram os dias, e no PT já se admite que ele seja reeleito para a presidência da Câmara. Só um sonhador poderia acreditar que um governo obrigado a enfrentar uma oposição feroz seria capaz de aprovar uma emenda constitucional, com os votos de três quintos da Casa, hostilizando seu presidente. O senador Renan Calheiros avisou que a PEC era uma barbeiragem, mas não foi ouvido.
Em poucas palavras, Lira colocou uma boa parte do Centrão no colo de Lula, antes mesmo de o governo ter começado. Na contrapartida, colocou uma parte dos planos de Lula no colo do Centrão.
O que parece ser um amargo limão poderá ser uma limonada. Lula precisa da paz política e, desde o século passado, o Centrão a oferece.
O problema está na relação do Planalto com os congressistas. Em seu primeiro mandato, Lula deixou que as coisas deslizassem para o mensalão e deu no que deu. Quando os maus costumes voltaram a explodir, já no governo de Dilma Rousseff, a encrenca estava na Petrobras e nas empreiteiras.
Os pleitos dos parlamentares são legítimos, uma ponte aqui ou uma creche ali. O assalto ao Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), por exemplo, só prospera se houver a cumplicidade do Executivo. Esse foi o caso da licitação escalafobética de equipamentos eletrônicos para escolas públicas, ocorrido no primeiro ano do governo de Bolsonaro. Esse jabuti foi travado e denunciado pela Controladoria-Geral da União (CGU).
Os mecanismos de controle do Estado brasileiro são capazes de defender a moralidade, desde que sejam prestigiados. É duro para o Executivo reconhecer isso, mas é melhor assim. Durante o consulado petista, um comissário quis anular uma licitação e, desatendido, soltou a CGU em cima do servidor, como se na Controladoria vivesse uma matilha de mastins. Esse é o mau uso dos mecanismos de controle.
A máquina do Estado brasileiro pode ser eficiente. Na área da Educação, ela mostrou isso durante o consulado petista ao fazer o ProUni. Ela pode também ser ruinosa e, no mesmo consulado, fez o desastre do Fies. Ele repassava para a Viúva a carteira de inadimplência das faculdades privadas, dando financiamento a estudantes que não apresentavam fiador digno de crédito e tiravam zero na redação. Durante o governo de Dilma Rousseff, o ministro Cid Gomes acabou com essa festa. (A turma do Fies está com novas ideias. A ver.)
Tome-se outro caso: o SUS. Na pandemia, sua máquina e seus servidores foram uma ilha de sanidade num governo enlouquecido. A turma que ronda as arcas milionárias da saúde pública também está com novas ideias. O novo elixir da longa vida chama-se telemedicina. O melhor negócio do mundo seria criar uma operação privada para vender um sistema de telemedicina à freguesia do SUS. Tudo bem, num país em que criaram as audiências remotas com magistrados, aconteceu que um deles comparecesse de toga e cuecas.
A máquina do Estado brasileiro pode funcionar direito. O SUS mostrou isso na pandemia. Pode também absorver ideias novas, como as cotas nas universidades públicas e o ProUni. Basta que o propósito da iniciativa seja o bem público. Quando o propósito é outro, pode enganar, mas muitas vezes destrói governos.
TRANSIÇÃO DE ESTADO
Com 417 pessoas trabalhando na transição, o novo governo deveria acender uma luz vermelha para uma encrenca que aparecerá nos primeiros dias de janeiro. O Brasil deve US$ 84,5 milhões para pagamento imediato à Organização das Nações Unidas. De acordo com o artigo 19 da Carta da instituição, o caloteiro perde o direito de voto se não pagar a conta até 31 de dezembro.
O comissariado petista parece ter incorporado a alma vingativa do ex-chanceler Ernesto Araújo e pode estar desatento para essa questão.
Seria um vexame perder o direito de voto tendo assento no Conselho de Segurança, indo para a vala dos caloteiros onde está a Venezuela.
A conta não foi paga por obra e graça dos sábios que aconselham o ministro Paulo Guedes.
O Brasil deve à ONU US$ 302 milhões, e o calote nacional junto a organismos internacionais chega a US$ 1 bilhão.
A DANADA FAIXA
Se Bolsonaro insistir na pirraça da faixa, prosperará a ideia de ele recebê-la das mãos de representantes da sociedade, escolhidos pelo PT. É uma bonita ideia cenográfica, mas tem algo de folclórica.
Mais solene, seria uma cena na qual o chefe do cerimonial entrega a faixa a Rosa Weber, presidente do Supremo Tribunal Federal, e ela a entrega a Lula, ou a coloca nele.
Seria inclusive uma forma de reconhecimento do papel que o Judiciário teve para que aquela cerimônia acontecesse.
BLINKEN SE DESCUIDOU
O Secretário de Estado americano, Antony Blinken, deve tomar cuidado com o que diz.
Em fevereiro passado, falando na CNN, disse o seguinte:
“Veja, deixando de lado a legalidade da questão e indo aos fatos, as colinas de Golan são muito importantes para a segurança de Israel.
Enquanto Assad estiver no poder na Síria, enquanto o Irã estiver presente na Síria, apoiando milícias e o regime de Assad, tudo isso criará uma significativa ameaça a Israel.
Na prática, na minha maneira de ver, numa situação dessas, o controle de Golan tem uma importância real para a segurança de Israel. As questões legais são outra coisa.
No futuro, se a situação mudar na Síria, podemos tratar do assunto, mas não estamos nem perto disso.”
O chanceler russo, Serguei Lavrov, tem o texto dessa fala no seu celular, anotado por ele.
Ficou assim:
“Veja, deixando de lado a legalidade da questão e indo aos fatos, a região de Donbass é muito importante para a segurança da Rússia.
Enquanto Zelensky estiver no poder na Ucrânia, enquanto a Otan estiver presente na Ucrânia, apoiando milícias e o regime de Zelensky, tudo isso criará uma significativa ameaça à Rússia.
Na prática, na minha maneira de ver, numa situação dessas, o controle da região de Donbass tem uma importância real para a segurança da Rússia. As questões legais são outra coisa.
No futuro, se a situação mudar na Ucrânia, podemos tratar do assunto, mas não estamos nem perto disso.”
Antes de elaborar sobre a questão ucraniana, ele mostra os dois textos para outros diplomatas e, com prazer, lhes envia as imagens.
DUAS REALIDADES
No entorno de Bolsonaro, havia gente que acreditava na anulação do resultado da eleição a partir da chicana de Valdemar Costa Neto.
VEREADOR AMAURI OPERADO
O vereador de Gaspar, Amauri Bornhausen, PDT, passou por nova angioplastia no Hospital Santa Isabel, em Blumenau. Está na UTI em recuperação obrigatória, aguardando ser transferido para o quarto. As visitas estão proibidas, por enquanto. A informação é do gabinete do vereador
NOVO GOVERNO DEVERIA ESQUECER TENTATIVA DE MUDAR LEI TRABALHISTA, editorial do jornal O Globo
Mesmo que o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva tenha dado sinais de que não pretende revogar completamente a minirreforma trabalhista promovida em 2017, circulam na equipe de transição ideias de promover mudanças pontuais. O novo governo faria bem em esquecer o assunto. As mudanças modernizaram parte da legislação trabalhista, ajudaram a gerar e a manter empregos formais.
As evidências de êxito são abundantes. Pelos dados do Ministério do Trabalho, de 2018 até setembro passado foram criados mais de 5,8 milhões de empregos formais no país, embora a informalidade ainda seja alta, ao redor de 40%. O índice de desemprego medido pelo IBGE recuou de quase 14% para os atuais 8,7%. Ignorar tais fatos em nome de uma visão atrasada do mercado de trabalho pode pôr a perder todas essas conquistas.
Não significa que a legislação seja perfeita. Um dos objetivos do PT é fazer ajustes nas regras para o contrato de trabalho intermitente, comum em setores como entretenimento, indústria alimentícia ou consultórios. O contingente de empregados intermitentes aumentou de 72.275 em 2020 para 92.626 no ano passado. De janeiro a setembro, foram abertos 59.158 postos do tipo, com garantia dos direitos trabalhistas e pelo menos parte da contribuição previdenciária paga pelo contratante. O grupo próximo a Lula quer limitar o trabalho intermitente a poucas atividades, como turismo, shows e bufês. Comete-se um erro recorrente: prefere-se uma legislação com direitos inaplicáveis, que vira uma usina de informalidade.
Os principais defensores da revisão das regras trabalhistas são as centrais sindicais, que ainda buscam uma forma de financiar suas atividades depois que perderam o dinheiro fácil do imposto sindical. Ao tornar a contribuição facultativa, a reforma criou um estímulo para as entidades prestarem bons serviços às categorias. A garantia do desconto compulsório na folha de salários incentivava uma indústria de sindicatos irrelevantes, a serviço apenas de seus diretores. Não se pode voltar a esse passado. Central Única dos Trabalhadores (CUT), Força Sindical e União Geral dos Trabalhadores (UGT) se dizem contrárias à volta do imposto, mesma posição defendida por Lula no final dos anos 1970, quando surgiu no sindicalismo.
O trabalho na transição de governo ainda é incipiente. É natural, nesse ambiente, que vicejem demandas de todo grupo de interesse que possa se sentir prejudicado. A equipe da transição precisa saber escolher. Deveria se dedicar a problemas mais urgentes. Não faltam questões políticas mais importantes, do meio ambiente à educação, da segurança à saúde. O novo governo deveria receber propostas para consertar o que está errado, não o que deu certo. Neste momento deveria ignorar qualquer sugestão de mudança na lei trabalhista.
LULA COMEÇA A ESCOLHE O SEU VINI JR, por Vinicius Torres Freires, no jornal Folha de S. Paulo
Vini Jr. começaria no time titular? A maioria dos comentaristas dizia que Tite faria uma escalação “mais cautelosa”. Ao que parece agora, o técnico da seleção já havia feito seus testes, escondido, e faz tempo escolhera o atacante do Real Madrid, ex-Flamengo.
Nesta quinta-feira de estreia do Brasil na Copa, a praça financeira estava animada com rumores. Corria o zum-zum de que Luiz Inácio da Lula Silva estaria fazendo testes com uma dupla no comando da economia: Fernando Haddad na Fazenda e Pérsio Arida no Planejamento e chutes similares.
Pelo que foi possível investigar, a escalação seria apenas uma hipótese, mas ao menos hipótese já cogitada por Lula (em vez de apenas boato do entorno). Quanto a Arida, não se sabe nem se ele estaria propenso a ir mesmo para o governo ou em que termos aceitaria a tarefa.
A animação era maior com a hipótese de Arida, liberal de fato, embora as tão faladas restrições de “o mercado” ao nome de Haddad sejam em parte maledicência de meia dúzia de figuras da finança e de outra meia dúzia de desafetos do PT. Segundo, difundiu-se entre negociantes de dinheiro a impressão de que os planos mais ambiciosos de gasto do “governo de transição” foram bombardeados pelo Congresso. Lula teria de recuar, aceitar uma “licença para gastar” menor e transitória.
O grosso desses parlamentares está, claro, mais preocupado em manter Lula sob cabresto do que com o crescimento da dívida pública. Mas há gente que se opõe à “PEC da Transição” gorda, de gasto adicional de quase R$ 200 bilhões, por convicção econômica
Terceiro, sabe-se que enfim petistas próximos de Lula passaram a lhe dizer, ainda cautelosamente, que é preciso “adiantar um pouco” a escolha da equipe econômica.
O senador Jaques Wagner (PT-BA) disse até em público que conversaria com Lula sobre o assunto nesta sexta-feira. Mas a pressão nas internas petistas aumentou bastante, dado o enrosco político com a PEC, com a terrível repercussão do aumento desmedido da dívida e com “recados” de aliados recentes do petismo.
Como se diz no futebol, tem ainda “crise no PT”, entre pessoas que seguem ordens estritas de Lula, e assim têm sua confiança, e aquelas que ora não estão na cozinha do presidente eleito: próximas, mas mais independentes.
Geraldo Alckmin tem tentado baixar a fervura e arrumar um meio do caminho em que todo mundo da “frente” possa se encontrar, falando em público sobre diretrizes de um plano de “nova regra fiscal”, de medidas que coloquem a dívida pública sob controle.
As taxas de juros caíram um tico, embora ainda mais de um ponto percentual acima nível da véspera do Lula Day (em nove de fevereiro; como no caso da taxa para um ano).
“Tudo que sabemos sobre o insustentável é que não pode continuar para sempre (lei de Stein). O corolário de Dornbusch é: mas vai durar mais tempo do que se pensava possível e vai terminar quando menos se espera”, escreveram os economistas Willem Buiter e Catherine Mann em um texto sobre a “Teoria Monetária Moderna”, aquela que anima alguns espíritos adeptos da ideia de que mais “gasto é vida” e que não tem consequências, em qualquer hipótese.
O “insustentável” pode ser qualquer problema macroeconômico ruim: dívida pública e/ou déficit externo grandes e crescentes; inflação.
As frases citadas são variantes daquelas atribuídas aos economistas Herbert Stein (1916-1999) e Rudiger Dornbusch (1942-2002). O texto de Buiter e Mann é “Modern Monetary Theory: What’s Right Is Not New. What’s New Is Not Right, and What’s Left Is Too Simplistic”, uma rápida introdução crítica ao assunto.
MEIA-VOLTA, VOLVER!, por Eliane Cantanhede, no jornal O Estado de S. Paulo
Por que os novos comandantes militares, escolhidos pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, seriam nomeados e assumiriam os cargos ainda em dezembro, antes da posse dele e do seu ministro da Defesa? E por que o ainda presidente Jair Bolsonaro assinaria os atos de nomeação? Para ser bonzinho com Lula? A ideia não cheira bem.
Segundo o repórter Marcelo Godoy, já foi definida até a data da transmissão de cargo do comandante da Aeronáutica, dia 23 de dezembro, uma semana antes da posse de Lula. Assim, ele e os demais seriam nomeados oficialmente por Bolsonaro, capitão insubordinado do Exército.
Qual a intenção? Manter a Aeronáutica, em particular, e as Forças Armadas (FA), em geral, sob algum controle de Bolsonaro? Confrontar o presidente legal, constitucional e legitimamente eleito, futuro comandante em chefe? Tumultuar o País, com as hordas bolsonaristas em torno dos quartéis?
O Alto-Comando da FAB se reuniu nesta semana e o comandante Carlos Alberto Baptista Jr., considerado “o mais bolsonarista dos três”, fez um aceno para o futuro governo: as FA seriam institucionais, não criariam problema. Mas… Veio a ideia da nomeação antecipada e ontem Bolsonaro já convocava ministros e comandantes para atiçá-los contra o ministro Alexandre de Moraes, que rechaçou a palhaçada do PL contra o resultado da eleição.
Bolsonaro deixa um rastro de contaminação política e divisão interna nas FA, a instituição mais prestigiada do País, segundo as pesquisas. Enquanto o ministro da Defesa, os comandantes e o general Villas Bôas soltam notas condescendentes com os atos antidemocráticos em torno de quartéis, oficiais responsáveis de Exército, Marinha e Aeronáutica dialogam com o novo governo.
Em respeito à Constituição, à eleição e ao papel das FA, esses oficiais já põem na mesa o essencial, a manutenção de avanços e projetos justamente da era Lula: Sisfrom e novo blindado do Exército, caças Gripen NG da FAB e submarinos da Marinha, inclusive o de propulsão nuclear.
Também querem manter o artigo 142 da Constituição, que prevê a Garantia da Lei e da Ordem (GLO), as especificidades militares da reforma da Previdência, a paridade entre pessoal da ativa e da reserva e a autonomia da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman) e das escolas militares que, vira e mexe, são alvo do PT.
A Defesa é área sensível, passa por seu pior momento desde a redemocratização e está gravemente dividida. Lula terá muito trabalho tanto para não ficar refém do Centrão como para tirar os militares desse nefasto transe bolsonarista.