Volto às coisas da aldeia. Não vou me distrair com as encenações de radicais que se dizem de direita, conservadores, cristãos, democratas, defensores da família e propriedade, e que, no entanto, quando perdem no voto, imitam nos gestos, os radicais da esquerda do atraso, do petismo, do lulismo e do sindicalismo pelego que deram votos para ser poder.
O pronunciamento manso, feito ontem à noite na sua rede social pelo presidente Jair Messias Bolsonaro, PL, veio devido à erosão gradativa do seu capital político e que é nítida, mas principalmente, porque estava afetando os que verdadeiramente suportam financeiramente os ideais da direita, conservadores e liberais. Essa gente não vive de pão e mortadela, geram riquezas no campo, nos parques industriais, no comércio e serviços. Essa gente não está acostumada a queimar dinheiro devido aos pneus em chamas dos caminhoneiros nos bloqueios das rodovias. Aliás, eles ganharam subsídios do governo – dos nossos pesados impostos – para compensar a alta do combustível.
Então vamos aos fatos daqui. As duas últimas sessões da Câmara de Gaspar, além das ausências ou saídas antecipadas contumazes dos vereadores da única sessão ordinária semanal e que não consegue durar nem uma hora e meia, houve alguns ensaios e recados claros ao poder de plantão. Ou seja, a campanha de 2024 está em andamento.
Já escrevi aqui: as andanças aos cantões do município dos vereadores como cabos eleitorais à cata de votos para o dia dois de outubro para deputados estaduais e federais paraquedistas e os daqui, mostraram o lado negro da cidade. Aquele que escrevo e sou rebatido. Aquele que aparece na tribuna da Câmara e é classificado como choro da quase inexistente oposição. Aquilo que aparece nas redes sociais e se corre o risco sério de bater na Delegacia de Polícia para dar num termo circunstanciado ou até num processo. Censura. Terrorismo. E de resultado contrário ao esperado por esses mesmos políticos.
Retomo. Os cabos eleitorais-vereadores do governo de Gaspar ouviram de seus eleitores e eleitoras queixas em cima de queixas. As urnas não deixaram dúvidas deste descontentamento. E agora, espertamente, alguns desses vereadores, obrigados a defenderem o governo, não querem levar unicamente para o seu lombo esta carga pesada que eles próprios a embrulharam e sabiam do seu conteúdo.
Os vereadores só agora, repito, só agora, descobriram que as águas das chuvas dos últimos dias fizeram estragos porque a prefeitura e a secretaria de Obras e Serviços Urbanos, esta tocada por Luiz Carlos Spengler Filho, PP, não fizeram o óbvio pela cidade e as pessoas: a limpeza das valas, drenagens, tubulações e bocas de lobos…. Pasmem. Descobriu-se mais. Que em Gaspar implanta-se bocas-de-lobo “cegas”. Elas não recebem e não levam as águas das chuvas a lugar nenhum – a não ser pelo acúmulo às casas das pessoas -, como o caso da Rua Tulipa, no bairro Figueira.
Já o caso da Rua Lino Vicente Alberice, no Barracão, é emblemático. Eu já mencionei em artigo exclusivo aqui. Foi notícia na cidade nas duas últimas semanas. E voltou à pauta na Câmara. Esta rua era um problema antigo porque não era pavimentada. Feita recentemente a pavimentação com a respectiva drenagem, não é que as chuvas destes dias atrás botaram quase um metro de água em casas e comércio de lá, e aonde nunca chegou água da chuva?
O mais longevo vereador José Hilário Melato, PP, que é originário da região e que cujo partido mantém o secretário de Obras no cargo, achou que as indicações políticas ou os profissionais concursados precisam levar a culpa disso tudo, não o prefeito e nem o secretário, que nada conhece desses assuntos técnicos. “Algo está errado”, vaticinou na matreirice política peculiar.
Mas, perguntar não ofende: se as indicações políticas feitas são parte do problema, trocá-las e continuar com outras indicações de apadrinhados e cabos eleitorais não vai perpetuar o que está comprometendo os políticos no presente? Gente teimosa.
Mais. Culpar os engenheiros e técnicos da secretaria é um escape para discurso fáceis neste momento. Há meios de apontá-los, puni-los e excluí-los. Se a gestão política não fez ainda, é porque eles não possuem culpa, ou então, porque há uma conivência administrativa não exatamente contra a cidade, cidadãos e cidadãs que reclamam dos resultados das cheias e enxurradas nos seus pertences, ou no ir e vir, mas contra os próprios políticos. São eles é que no fundo vão pagar esta conta, ou seja, na falta de votos como pagaram neste dois de outubro.
Não entenderam, ou precisa desenhar? Aliás, de drenagem, o vereador Melato entende muito. Ele, vereador licenciado e como presidente do Samae, teve que enfrentar a única CPI contra o primeiro governo Kleber, exatamente porque embrulhou a drenagem da Rua Frei Solano. Todos se salvaram dela, não só os políticos, mas inclusive empreiteiros e os técnicos. Tudo foi para debaixo do tapete.
Apesar do mal-estar criado pelas eleições em que o grupo político no poder de plantão marchou desunido, o prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, continua a testar a fidelidade da sua Bancada do Amém (MDB, PP, PSD, PDT e PSDB) que faz ampla maioria de onze dos 13 vereadores, na Câmara. E ela continua sendo um puxadinho do Executivo e até em coisas menores. Veja esta.
O Kleber queria para hoje uma sessão extraordinária para passar cinco projetos alterando a peça contábil fictícia que é o Orçamento Municipal e até a Lei de Diretrizes Orçamentária, neste último caso, para dar mais dinheiro o Hospital -cujo dono ninguém sabe quem é -, o interminável sugadouro de dinheiro público, depois que o petista Pedro Celso Zuchi fez a marota intervenção municipal, tudo sem a contraparte da discussão e prestação de contas aos pagadores de pesados impostos.
A pretensão de Kleber foi barrada por supostamente não conter o prazo legal para realizá-la. Ela teria vindo cima do laço. Vai se fazer na próxima terça-feira, as quatro horas da tarde.
Contudo, perguntar mais uma vez não ofende. Terça-feira não é dia de sessão ordinária? Qual a dificuldade de se pautar esses cinco projetos, que são vapt-vupt, os quais, aparentemente não contém polêmica, e mesmo que contivessem, o governo de Kleber possui votos de sobra para fazer barba, cabelo e bigode nestas ou qualquer outra matéria? Já passou por lá até matéria inconstitucional com aval não só dos vereadores, mas da área técnica do Legislativo que a recomendou sem vícios, a mesma que tempos depois de plenamente usada a lei, recomendou a revogação admitindo o vício formal.
Alexsandro Burnier, PL, até tentou explicar e convencer este óbvio e desperdício: fazer duas sessões num mesmo dia. Nada. E a presidência da Casa, que possui a prerrogativa de ajustar a pauta, mais uma vez, fez o jogo de Kleber e, naturalmente, ficou exposta. Colocado em votação o requerimento de convocação da sessão extraordinária ele foi aprovado com os votos contrário do Alexsandro, de Amauri Bornhausen, PDT, e de Dionísio Luiz Bertoldi, PT. Muito tempo depois desta matéria já estar morta pelo voto, o vice-presidente da Câmara, Giovano Borges, PSD, queixou-se do procedimento do Executivo em criar a sessão extraordinária em cima do laço.
Todavia, perguntar, mais uma vez, não ofende: por que Giovano não votou contra quando o requerimento foi à votação?
O melhor recado político de um vereador ao Executivo é o voto. As palavras são, neste caso, mero chororô de quem já perdeu o bonde da história na aposta que fez com o vice-prefeito Marcelo de Souza Brick, para deputado estadual. Ele na calada da noite deixou o PSD para ingressar na aventura do Patriota. Acorda, Gaspar!
TRAPICHE
Estranho silêncio. Casualmente no Dia do Médico, a vereadora Mara Lúcia Xavier da Costa dos Santos, PP, homenageou o médico João Leopoldino Spengler. Duas horas depois, naquela noite, ele foi dado como morto. Uma sessão depois relembrou o fato e na outra até pediu a Moção de Pesar à família.
Estranho mesmo foi o silêncio dos vereadores José Hilário Melato e Cleverson Ferreira dos Santos, ambos do mesmo PP do doutor João. Gaspar, seus mistérios acompanhados da ingratidão dos políticos.
Vão faltar votos. Quem se declarou disponível para ser candidato a prefeito pelo PT em 2024 é o vereador Dionísio Luiz Bertoldi. Ela já tinha jurado que não concorreria mais a vereador. Vai apostar numa suposta onda Luiz Inácio Lula da Silva.
Depois de ser acusado – injustamente e registrei isso – de misoginia por uma observação ingênua e descontextualizada, o vereador Ciro André Quintino, MDB, disse que deveria haver pena de morte para quem bate em mulher, ao se referir um vídeo – de outro estado – que viu e circular exaustivamente nas redes sociais. Menos vereador. Exagero também faz mal ao populismo em busca de exposição barata.
O que está encucando alguns vereadores é qual a razão que faz as lâmpadas da iluminação pública de Gaspar durarem tão pouco depois de trocadas. Para sair do discurso e das queixas, é preciso pedir ou fazer um levantamento técnico.
A saída do secretário Jean Alexandre dos Santos, MDB, da secretaria do Planejamento da prefeitura de Gaspar, não apaziguou os ânimos dos empresários e investidores na área imobiliária e de prestação de serviços.
Eles querem a cabeça do fiscal ambiental, que dizem não estar “habilitado” para a função. Como é que é? Concursado e está habilitado? E continua lá? Gaspar impressiona até os mais experimentados.
Ora se não está habilitado quem o chamou não conferiu a habilitação? E alguém que está ferrando os empresários – usando a lei e por tanto tempo -, não teria caído, exatamente por esta suposta fragilidade formal e técnica? Hum!
O prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, e seu irmão Nelson, foram ontem a Blumenau. Estavam discretamente no protesto dos bolsonaristas dedronte o quartel do Exército no bairro do Garcia. A pergunta é: por que discretamente?
E para finalizar. Pode-se dizer que é democrata, quem vai para a frente dos quarteis pedir a volta a intervenção e ditadura militar, quando os votos das urnas não lhes dão o poder? Acorda, Brasil!
2 comentários em “PASSADA AS ELEIÇÕES, OS POLÍTICOS EM GASPAR DÃO SINAIS QUE VÃO SALVAR A PRÓPRIA PELE”
NEVOA ECONÔMICA E O NOVO GOVERNO, editorial do jornal O Estado de S. Paulo
Dissipar a névoa econômica deve ser uma das principais tarefas do presidente eleito e de sua equipe, neste fim de ano e nas primeiras semanas de mandato. Um horizonte mais claro é essencial para os grandes investidores, para os empresários, para as famílias e também para os formuladores da política de juros, muito importante para as condições de consumo e de produção. A última decisão sobre os juros básicos, mantidos pela segunda vez em 13,75%, foi tomada diante de um cenário com “visibilidade abaixo do normal”, segundo avaliação do Copom, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (BC). A deliberação foi oficializada na quarta-feira, 26/10, na reunião periódica do grupo, quatro dias antes do segundo turno da eleição.
A visibilidade é muito baixa até 2024, em todo o horizonte relevante para as decisões políticas sobre juros e crédito, ressalta o Copom, formado por diretores do BC. A grande incerteza sobre o curto e o médio prazos, citada na ata da última reunião, foi destacada neste ano em todos os comunicados do Comitê. A insegurança quanto à evolução da economia brasileira decorre de fatores externos e internos.
Fortes pressões inflacionárias, juros em alta e perda de ritmo das atividades marcam o cenário internacional. Todos esses fatores embutem riscos para o Brasil. O aumento de preços nas grandes economias e o aperto financeiro impõem cautela ao Copom, tornando perigosa uma rápida redução da taxa básica no País. Além disso, uma desaceleração mais forte da economia mundial pode prejudicar as exportações e afetar as contas externas brasileiras, por enquanto bastante sólidas.
Do lado interno, as incertezas sobre a evolução das contas públicas compõem o principal fator de insegurança mencionado na ata da última reunião do Copom. As bondades eleitoreiras do presidente Jair Bolsonaro inflaram os custos orçamentários previstos para 2023, motivando mais preocupações em relação ao quadro fiscal. Também o candidato da oposição assumiu compromissos custosos, como o de manter o Auxilio Brasil de R$ 600. No projeto de Orçamento ainda no Congresso está previsto o valor de R$ 405. Por esse e por outros compromissos, também o candidato Luiz Inácio Lula da Silva, eleito no segundo turno, contribuiu para tornar inseguro o quadro fiscal do próximo ano.
Com essas incertezas, é compreensível a cautela do Copom. Além do cenário enevoado de 2023 e de 2024, é preciso levar em conta a inflação interna ainda elevada, apesar do recuo recente. Pelas últimas projeções do mercado, resumidas no boletim Focus de segunda-feira, a inflação deste ano, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), deve ficar em 5,61%, superando mais uma vez o teto da meta (5%). A estimativa para 2023 foi mantida em 4,94%, repetindo a da semana anterior. A taxa básica de juros deve diminuir de 13,75% para 11,25% no próximo ano, de acordo com a pesquisa. Ainda muito alta, será um entrave ao crescimento: um motivo a mais para o presidente eleito cuidar da redução da insegurança.
DOIS BRASIS, por Willian Waack, no jornal O Estado de S. Paulo
Lula é um populista clássico dono de um partido no qual manda e desmanda. Bolsonaro é um populista “moderno” cuja atuação política como líder de oposição vai depender do que foi muito útil em campanhas eleitorais – redes sociais – e inútil como instrumento para governar.
Ambos compartilham uma noção hipertrofiada do que seja a própria capacidade de “tomar as ruas”. Basta lembrar que o PT insistiu na convocação de contra manifestações em 2016, e perdeu. Quanto a Bolsonaro, parece claro que o silencio de 48 horas após o resultado de domingo escondia uma esperança: o de uma espécie de “insurreição” popular contra a vitória de Lula.
Sim, é muito forte para ser ignorado o flerte de forças da ordem (como a PRF) com a desordem, o que já acontecera no movimento dos caminhoneiros em 2018. Mas protestos desse tipo, espontâneos ou não, tendem a se esvaziar rapidamente pois carecem de sentido e direção.
Eles dão, porém, uma ideia da virulência da oposição que Lula enfrentará, e que nem de longe existia quando assumiu pela primeira vez. O novo governo terá as dificuldades de praxe com um Congresso no qual maiorias existem apenas no papel, e com o qual terá de dividir o poder também de forma inédita. Contudo, dispõe das ferramentas para sobreviver.
A oposição extra parlamentar é que deveria ser bem mais preocupante do ponto de vista de Lula. O bolsonarismo é apenas uma expressão dessa ampla e profunda oposição, e talvez nem a mais decisiva. Ao contrário do que discursa Lula, saíram dois brasis das urnas. Lula beneficiou-se em grande parte da rejeição de Bolsonaro. Ganhou sobretudo pelos defeitos de seu adversário, mas não por oferecer uma visão de mundo que convencesse a maioria do eleitorado.
Bolsonaro deixou claro que pretende ser o líder desse grande espectro bem evidenciado pelas eleições proporcionais. É muito difícil que o consiga. Supondo que ele saiba quais serão seus passos quando acordar desempregado em janeiro vai precisar da estrutura partidária à qual pertence formalmente mas que tem outro dono, com interesses próprios (que o levarão a se acomodar com Lula). E de uma estratégia, coisa que nunca teve.
Para Lula, é um quadro que oferece pouco conforto. Está bem consolidado o fenômeno que explica boa parte da vitória de Bolsonaro em 2018 e seus 58 milhões de votos em 2022. Uma imensa parte do Brasil quer mudar o que está aí, tem pouca confiança nas instituições das mais variadas (como Judiciário ou imprensa, por exemplo), despreza partidos e o sistema eleitoral e não está disposta a conceder a Lula o benefício da dúvida.