Observação das 16h54min deste 01.11.22. O presidente, Jair Messias Bolsonaro, finalmente saiu do silêncio há pouquíssimos minutos. O post abaixo foi publicado as 8h13min desta manhã. E praguejado até há pouco. Mas, o próprio Bolsonaro reconheceu agora à tarde que os métodos usados pelos seus seguidores nos protestos bloqueando estradas e depredando patrimônio são os da esquerda. Outra vez estou de alma lavada. Esses políticos, tardam para perceberem o óbvio daquilo que os aniquila. Chorem!
Mudei o artigo de hoje. Fugi dos temas da aldeia. É provocador. Necessário. Não estou em cima do muro.
Os bolsonaristas provaram, mais uma vez, que foram eles que derrotaram Jair Messias Bolsonaro, PL, na tentativa dele em se reeleger presidente da República. Aliás, o único até agora que não conseguiu isto. O travamento das rodovias federais – e isso é proposital – que fazem desde que a derrota do seu “mito”, foi anunciada no domingo à noite. Esta decisão, que veio sem liderança organizada, mostra muito de como há um processo de radicalização na política nunca antes visto no Brasil. É um vale tudo perigoso.
Vai do constrangimento, passa pelo cancelamento e a rotulação com intenções de desqualificações de pessoas físicas, grupos e até organizações empresariais, até, pasmem, à agressão física. E quem pede diálogo, é chamado de “isentão” e também entra no mesmo rolo de destruição de reputação moral, intelectual, profissional e produtiva. E o pai desse método primitivo e destruidor, que agora reclama e se passa por vítima disso tudo, não há dúvidas, foi o PT, os sindicatos e a corrupção que permeou governos e poder, onde tudo podia e a maioria, calada e acuada pagava a conta. Ou seja, são faces de uma mesma moeda.
Perder é parte do jogo e principalmente numa democracia. Até porque alguma coisa falhou.
Os bolsonaristas, infelizmente, fizeram, a aposta errada da permanente confrontação. E perderam. E agora, nem admitir que erraram e perderam, são capazes. A aposta foi tão errática, que um reconhecido núcleo de corrupção estatal e político – cujos processos foram desclassificados pelo Supremo Tribunal Federal sem inocentar o réu – voltou ao poder, diante de uma maioria, conservadora nos costumes, cristã na fé, direita no ambiente político e liberal na economia. Este, por exemplo, é o retrato do novo Parlamento.
Um contrassenso? Não! É o mais claro tamanho do erro de quem liderou a permanência no poder. Se não se cuidar e continuar com essa afronta à significativa parcela da sociedade, o bolsonarismo, poderá estar sepultando prematuramente o seu futuro. Impressionante: o poder da direita, dos conservadores e liberais – estes de araque – durou menos de quatro anos. E prestes a deixar o poder no Planalto, na manifestação contra o resultado das eleições que eles próprios perderam, porque falharam, deram protagonismo mais uma vez ao ministro Alexandre de Moraes, e ao Supremo, que determinou a reabertura, inclusive com o uso da força, das rodovias bloqueadas.
Em Santa Catarina, um dos estados mais bolsonaristas – e não é nenhum demérito nisso, quando se é um democrata e se insere no respeito à pluralidade representativa da sociedade – puxou a fila contra a mobilidade de suas próprias riquezas. Os bolsonaristas estão punindo não os petistas ou Luiz Inácio Lula da Silva, o eleito presidente da República e que não queriam de volta ao poder, mas, inacreditavelmente, à própria economia que move o nosso estado e nossas cidades, uma parcela ponderável de pequenas comunidades, num modelo ímpar de diversificação econômica. Incrível!
Isto lembra ou não às greves petistas feitas unicamente para intimidar patrões, bagunçar a vida dos cidadãos e para eleger os petistas e esquerdistas do atraso de todos os matizes? É ou não algo parecido com as invasões de MST, de prédios do MTST por Boulos e sua turma? Para lembrar, foi esta baderna promovida pela esquerda do atraso por seus diversos aparelhos, que decretou o fim do petismo e sindicalismo de resultados. No fundo, ninguém suporta ficar refém de causas que não são exatamente suas, imediatistas ou usadas como bandeiras políticas para aparecer e intimidar terceiros. Eleições são escolhas. E a escolha foi feita. Devemos respeitá-la.
Até o governador eleito Jorginho Mello, PL, que em entrevista a NSC disse não concordar com o ativismo pós eleições, foi massacrado pelos que o elegeram. As associações e organizações de transportes em notas oficiais dizem não apoiar o movimento. Ninguém sabe quem lidera o processo – o que por si só é estarrecedor e beira ao terrorismo -, mas ele existe e resiste.
Ao perdedor, sempre escrevi, lhe é dado o papel de oposição, fiscalização, expiar seus erros, se organizar e retomar pelo voto legítimo, o poder. Mas, os bolsonaristas estão dando sinais, pelo medo que causam quando perdem, como fizeram o petismo e o sindicalismo no passado, que isto pode não ser uma boa ideia para o futuro deles
Falta-lhes, por enquanto, e alimentado pelo silencioso Bolsonaro e a conivência assustadora da Polícia Rodoviária Federal e registrada em vídeos, de que a balburdia que fazem é algo normal quando não se ganha no voto. Aliás, se Bolsonaro tivesse ficado quieto na campanha bem como muito de seus apoiadores ruidosos, ele teria vencido esta parada com alguma facilidade. Wake up, Brasil!
TRAPICHE
O prefeito de Gaspar, Kleber Edson Wan Dall, MDB, disse que “vamos continuar trabalhando e orando pelo futuro da nossa nação”. Como assim, cara pálida? Primeiro terá que se concentrar em trabalhar por Gaspar, que não depende assim tanto de Brasília. E orar não substitui o trabalho e a qualidade dos quem se escolher para produzir resultados para a comunidade.
O secretário de Assistência Social, Salésio Antônio da Conceição, e que está na secretaria só porque é um suplente de vereador do PP não esconde que destoava do chefe e tinha uma preferência pelo PT.
O vereador Ciro André Quintino, MDB, anda arisco e em cima do muro. Depois de ensaiar aproximação ao bolsonarismo, e feito circular fotos que sacou em Brasília com deputado Federal por São Paulo, Eduardo Bolsonaro, Republicanos, foi votar com uma discreta camisa verde, e um adesivo do 22 na manga da camisa.
Uma das melhores ações de marketing que a atual gestão da Câmara de Gaspar fez, foi apelidá-la de CMG. Uma pesquisa entre os gasparenses dirá o quanto quase todos ligarão a tal CMG à Câmara.
O ex-prefeito de Blumenau, e agora deputado estadual pelo PSD, Napoleão Bernardes, escolheu a dedo dentro do PSDB onde já foi estrela estadual, os cabos eleitorais em Gaspar, já que foi traído pelo PSD de Marcelo de Souza Brick, que pulou para o Patriota para ser candidato ao mesmo cargo. Fez 607 votos.
No Distrito do Belchior onde mapeou arrombar em votos ele conseguiu 81 no Belchior Alto e 49 no Belchior Central. Ou seja, avisos ao cabo eleitoral de lá.
9 comentários em “O FANATISMO TRACIONA INTERESSES QUE NOS SURPREENDEM NA FALTA DE CAUSAS REAIS”
A APOSTA NA ARRUAÇA, por Bernardo de Mello Franco, no jornal O Globo
A história acontece como tragédia e se repete no Brasil como arruaça. O bloqueio de rodovias faz parte de um enredo premeditado por Jair Bolsonaro: a tentativa de melar, pela via do tumulto, o resultado da eleição presidencial.
O capitão sempre buscou imitar Donald Trump. No ano passado, o republicano incentivou seus apoiadores a invadirem o Capitólio. Queria barrar a posse de Joe Biden, eleito pela maioria dos americanos.
Na versão tupiniquim, a baderna foi menos organizada. Os bolsonaristas se limitaram a parar o trânsito, com a cumplicidade da cúpula da Polícia Rodoviária Federal. Outros grupos de extrema direita armaram piquetes em frente a quartéis, onde clamam por golpe e prisão de ministros do Supremo.
Bolsonaro está isolado. Seus aliados já começaram a reconhecer a vitória de Lula na noite de domingo. O discurso do presidente da Câmara, Arthur Lira, serviu como senha para o desembarque do Centrão.
Enquanto o capitão esperneava, escudeiros mais antigos também começaram a pular do barco. Até a senadora eleita Damares Alves admitiu a derrota. Faltava a fala do chefe, que se escondeu no palácio após a apuração dos votos.
Depois de 45 horas em silêncio, Bolsonaro reapareceu ontem à tarde no Alvorada. Num pronunciamento de dois minutos, evitou assumir que perdeu e se negou a citar o nome do presidente eleito. Terceirizou a tarefa ao ministro Ciro Nogueira, encarregado de tocar a transição.
O capitão passou a mão na cabeça de seus radicais. Descreveu os atos golpistas como reações legítimas a um sentimento de “indignação” e “injustiça” diante do resultado das urnas. Só fez uma ressalva quanto à forma dos protestos. “Nossos métodos não podem ser os da esquerda”, declarou.
Bolsonaro perdeu as condições objetivas para virar a mesa. Os governadores eleitos com seu apoio não estão interessados em confusão com o Judiciário. Os líderes de todos os países do G8 já cumprimentaram Lula pela vitória.
Ainda assim, o capitão evitou jogar claramente a toalha. Quer ganhar tempo e manter sua tropa mobilizada — seja para cultivar a imagem de “imbrochável” ou para negociar algum tipo de proteção a partir de 1º de janeiro.
Bom dia.
Com todo respeito, mas dizer que a direita brasileira é tradicional, pela família, pela RELIGIÃO e pelo amor ao país, é um DISPARATE.
Vou relembrar algumas frases proferidas pelo então excelentíssimo senhor presidente da república do brasil:
“Aqui nesse país aposentados é tudo VAGABUNDO”
“VAGABUNDA!!
Você não merece nem ser ESTUPRADA”.
“E daí que tá morrendo gente.
Eu não sou COVEIRO”.
“A fila do osso é coisa da oposição.
A ECONOMIA BRASILEIRA nunca esteve tão bem”.
Eu, na minha ingênua opinião, tenho outro conceito sobre Família, RELIGIÃO e por patriotismo.
O que mais me preocupa e me impressiona é o fanatismo messiânico que dominou o ambiente político brasileiro, como ele se coordena e propaga. E não entre pessoas sem instrução, mas entre pessoas com formação ou ao menos, com acesso à história 9 não confunda com estória), a dados, à ciência, ao conhecimento acumulado. Impressionante é como se estabelecem no cancelamento e da odiosa discriminação
👀😱😱😥😔
BOLSONARO FICOU FORA DA CURVA, por Elio Gaspari, nos jornais Folha de S. Paulo e O Globo
Lula já mostrou que sabe agregar, e os luminares do Centrão sabem agregar-se. Já Bolsonaro, com seu silêncio dominical, confirmou o que se sabia desde janeiro de 2019, quando ele chegou ao Planalto: o figurino das instituições democráticas assenta-lhe mal.
Prever sua morte política é uma precipitação. Ela só ocorre, às vezes, com a morte física. Mais morto que Lula no cárcere de Curitiba, só Getúlio Vargas no leito de seu quarto no Palácio do Catete. Nenhum dos dois morreu politicamente, e Lula viveu o suficiente para ser eleito pela terceira vez.
Deve-se buscar o Bolsonaro do futuro no inexpressivo capitão da política do Rio de Janeiro. Ele foi eleito em 2018 por muitos fatores. Um deles foi a soberba petista diante das denúncias de corrupção. Deve-se lembrar que o candidato petista, Fernando Haddad, dizia que, eleito, teria um conselheiro em Lula, preso em Curitiba. A coligação alimentada pelo sentimento antipetista elegeu-o. Quatro anos depois, Bolsonaro tornou-a minoritária. Minoritária, porém robusta.
Bolsonaro não é Floriano Peixoto nem Carlos Lacerda. Ambos foram grandes personagens da República. Um não passou o cargo ao seu sucessor, Prudente de Morais. Florianistas rasgaram o estofo de móveis do palácio. Colaboradores de Carlos Lacerda puseram sujeira nas gavetas do Palácio Guanabara. Depois de pirraça, ambos declinaram. Floriano, abatido pela cirrose, morreu pouco depois. Lacerda vagou por todas as conspirações disponíveis e acabou-se quase esquecido.
O sentimento que elegeu Bolsonaro em 2018 produziu dois quadros. Um é Tarcísio Gomes de Freitas, eleito governador de São Paulo. Sua ida para o Ministério da Infraestrutura sinaliza um daqueles momentos em que o governo de Bolsonaro poderia ter sido diferente. Ele conheceu-o de manhã, com suas credenciais de aluno estelar do Instituto Militar de Engenharia e de burocrata limpo. À noite, nomeou-o.
O segundo quadro surgido em 2018 foi o general da reserva Hamilton Mourão, eleito senador pelo Rio Grande do Sul. Mourão tornou-se vice-presidente e foi escanteado por Bolsonaro a partir de futricas pretorianas. Vale lembrar que Mourão foi buscar seus votos no Rio Grande do Sul, a 1.500 quilômetros das companhias bolsonaristas do Rio de Janeiro.
Tarcísio de Freitas e Mourão reconheceram a vitória de Lula e se afastaram do bolsonarismo tóxico, golpista e primitivo.
Quando Lula diz que o Brasil é um só, enuncia uma frase bonita e felizmente pacificadora, mas os números mostram que a divisão está aí, há tempo. Pode-se entender a força de Lula no Nordeste pela sua identificação sincera com os pobres. Entender o mapa eleitoral dos municípios do interior de São Paulo é outra história. Neles, Haddad foi batido. Pior, de uma maneira geral, lá o PT nunca prevaleceu.
Na história da direita brasileira, o mais provável é que Bolsonaro venha a ser um infeliz ponto fora da curva.
Uma boa sinalização dessa excentricidade do capitão está em seu isolamento internacional. A direita de Pindorama sempre foi ajudada pelo seu cosmopolitismo. Dois presidentes americanos (John Kennedy e Lyndon Johnson), ambos do Partido Democrata, sopraram as brasas do fogaréu de 1964. Lula foi felicitado por Joe Biden, e só o esperto tatarana Steve Bannon disse que a eleição foi fraudada.
Diante de sua excelente análise, intitulada “O fanatismo traciona interesses”, Matutildo, o dúbio, questiona:
Será que para “se-contrapor-se” ao MST estão criando o MSM – Movimento dos Sem Mandatos?
Boa.
LULA NÃO GANHOU UM CHEQUE EM BRANCO, editorial do jornal O Estado de S. Paulo
O discurso da vitória mostrou que Luiz Inácio Lula da Silva conhece as reais circunstâncias nas quais foi eleito, pela terceira vez, presidente da República. “Esta não é uma vitória minha, nem do PT, nem dos partidos que me apoiaram nessa campanha”, disse. Esse reconhecimento é muito importante, pois indica que Lula aparentemente captou o recado das urnas – e não pode, sob pena de inviabilizar seu governo, ignorar esse recado uma vez investido da Presidência.
Uma parte significativa do eleitorado certamente não votou em Lula por concordar com o programa de governo do PT, até porque não foi apresentado nenhum programa de governo. Para esses eleitores, certamente na casa das dezenas de milhões, foi um voto para impedir que Jair Bolsonaro ficasse mais quatro anos no Palácio do Planalto. Foi um voto contra os devaneios autoritários, contra o conflito institucional, contra a irresponsabilidade no cuidado da população, contra a agressividade na vida política e social. Foi um voto, como Lula admitiu no domingo, “para que a democracia saísse vencedora”.
Eis um fato inegável das eleições de 2022. O PT ganhou a eleição presidencial, mas não obteve um cheque em branco da população. Apesar de disputar com o presidente da República mais disfuncional e incompetente desde a redemocratização, Lula não ganhou no primeiro turno. E, a confirmar as imensas reservas que o eleitorado tem em relação ao PT, a distância de votos entre Lula e Bolsonaro diminuiu significativamente no segundo turno. Em relação ao dia 2 de outubro, o candidato do PL conquistou no domingo mais 7,1 milhões de votos (de 51,1 milhões foi para 58,2 milhões) e o do PT, mais 3 milhões (de 57,3 milhões foi para 60,3 milhões).
O resultado estreitíssimo – nunca um candidato a presidente da República havia ganhado as eleições com tão pequena margem de vantagem – confirma a importância de ter havido um segundo turno. Por mais que tenha sido uma campanha sem projetos e sem propostas, na qual as agressões e mentiras foram as grandes protagonistas, essas quatro semanas serviram para que o resultado final das eleições manifestasse, tal como deve ocorrer na democracia, as preferências do eleitorado. Tanto no primeiro turno como no segundo, não houve o menor indício de adesão incondicional da população ao lulopetismo. E essa inequívoca mensagem do eleitor tem de ser respeitada e acolhida pelo candidato eleito não apenas no discurso da vitória, mas ao longo de todo o governo. Trata-se de uma decorrência da própria ideia de democracia representativa. Todo o poder emana do povo, diz a Constituição de 1988 em seu primeiro artigo.
No domingo à noite, Lula assumiu um compromisso importante com o País. “A partir de 1.º de janeiro de 2023, vou governar para 215 milhões de brasileiros, e não apenas para aqueles que votaram em mim”, afirmou. Depois de quatro anos de um governo que insistiu em dividir a sociedade e em agredir todas as instituições que não lhe foram submissas, aqui está o maior desafio do próximo presidente da República. É preciso promover a paz e a união, distensionar as relações entre os Poderes, respeitar quem pensa de forma diferente. Nada disso ocorrerá se Lula repetir o que foi feito nos 13 anos de PT no governo federal. Os tempos atuais demandam um novo agir.
Diante da rejeição do eleitorado brasileiro ao PT, Lula, para ganhar as eleições, teve de recorrer ao apoio de lideranças políticas cujo histórico é muito diferente do de seu partido. No discurso de domingo, o presidente eleito reconheceu esse fato, agradecendo, em primeiro lugar, o apoio da senadora Simone Tebet no segundo turno. Essa necessidade de ampliar a base estava explícita já na própria composição da chapa, com Geraldo Alckmin como candidato a vice. Se ter ido muito além do PT foi importante para Lula ganhar as eleições, essa abertura será ainda mais necessária para cumprir o compromisso de governar para todos os brasileiros.
“A ninguém interessa viver num país dividido, em permanente estado de guerra”, disse Lula no domingo. Ninguém mais do que o presidente eleito tem a possibilidade de promover a paz e a união no País. Essa é agora sua responsabilidade, que não pode ficar apenas em palavras.
Lula e PT não receberam um cheque em branco quando eleitos no domingo. Ao menos é o que diz a princípio, a composição do parlamento
FORÇA OPOSICIONISTA, editorial do jornal Folha de S. Paulo
Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é o primeiro a obter um terceiro mandato por meio do voto, e Jair Bolsonaro (PL) é o primeiro presidente a perder a reeleição. O conjunto dos ineditismos de 2022, porém, não configura situação política favorável para o recém-eleito.
Lula volta ao poder com a maioria mais diminuta de um presidente desde a redemocratização. O incumbente foi derrotado pela repulsa de metade do eleitorado, mas não deixou de obter votação expressiva, tendo a seu favor a queda do desemprego e da inflação.
Dado o resultado das urnas, o petista chega ao poder com menos capital eleitoral e popularidade para queimar. Terá, assim, menos tempo para elaborar um programa de aceitação nacional mais ampla, urgência extremada pela situação social e econômica.
Lula terá de lidar com um Congresso de composição inédita na República de 1988. Partidos do velho centrão, de centro-direita e direita dominam cerca de metade da Câmara, ao menos. O centro e partidos tradicionais como MDB e PSDB perderam peso relativo ou se tornaram diminutos. A esquerda teve o pior resultado desde 1998.
O Senado tem um bloco de 35 parlamentares de PL, União Brasil, PP e Republicanos. Um outro grupo mais centrista, de MDB, PSD e PSDB, tem 24 cadeiras. O PT e seus aliados tradicionais à esquerda, 13. Embora a casa seja mais ponderada do que a Câmara, a negociação ali será também penosa.
Filiações partidárias são maleáveis e sujeitas a condições tais como a popularidade presidencial ou a barganha de poder. O ponto de partida, porém, indica que o custo de convencimento será maior, tanto mais porque parte relevante dos eleitos têm compromissos mais estritos com um eleitorado conservador ou reacionário.
No comando dos estados, a esquerda teve também seu pior resultado desde 1998. A relação dos governadores com o Executivo federal, porém, costuma se dar em termos algo mais construtivos, por interesse de cooperação administrativa e de repartição de fundos.
Registre-se que até o bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos), que conquistou o Palácio dos Bandeirantes, declarou que pretende trabalhar em harmonia com o governo petista de Brasília.
É fácil perceber que Lula terá de negociar cargos e planos a fim de montar uma coalizão parlamentar, conquistar eleitores oposicionistas, manter aqueles que aderiram a sua candidatura por rejeição a Bolsonaro e obter apoios sociais que fundamentem esses movimentos políticos.
O presidente eleito tem reafirmado que seu governo irá muito além do PT. Trata-se um bom ponto de partida, mas a tarefa será árdua.