Hoje é sábado. Véspera das eleições gerais. Troquei o lazer e a leitura por alguns esclarecimentos, ainda mais depois que passei atentamente os olhos sobre a omissão dos veículos locais de comunicação nas atualizações de ontem e hoje. Por isso, estou compartilhando com vocês alguns pontos-de-vista e observações para reflexões.
A pesquisa de intenção de votos divulgada ontem a noite nos noticiários da NSC TV e com base em levantamentos do IPEC, feito por ex-executivos e profissionais do antigo Ibope, foi uma ducha de água fria nas propagandas que corriam soltas e à vista da Justiça Eleitoral. Foi também uma leve paulada -porque essa gente sabe que quanto mais confusão, melhor para seus objetivos – na disseminação de fake news pelos aplicativos de mensagens, estes sem controle algum de qualquer órgão de fiscalização.
O que a pesquisa IPEC desmentiu ou esclareceu: “Jorginho dispara”. Não disparou. “Gean na frente”, Está comendo poeira com Esperidião Amim Helou Filho, PP, que pode ser a maior decepção deste pleito. “Décio já é o segundo”. Ainda não saiu do quarto lugar em bolado com Gean e Décio. “Carlos Moisés está morto”. Não está. Caiu sim, como já mostrava o levantamento anterior, mas está empatado na margem de erro com Jorginho, que não o quer como concorrente, nem ele, nem os bolsonaristas que o tem como traíra.
Ao menos desta vez, diferente de 2018, o que restou do MDB catarinense, pode estar no segundo turno.
A pesquisa, apesar de espaçada e ter pouca série comparativa, é a única que possui um histórico comparativo. As demais são paraquedistas, ou se de notórios veículos ligados a partidos ou a candidatos. A probabilidade dela está mais ajustada à realidade é maior. E depois a NSC não iria colocar em risco, ao menos penso, a sua credibilidade em jogo, assim, tão gratuitamente e num momento tão importante da vida dos catarinenses.
A pesquisas trabalha só com os votos válidos: Jorginho Mello, PL, 29%; Carlos Moisés da Silva, 23%; Gean Loureiro, 16%; Décio 15% e Esperidião Amim, 14%. No segundo turno, pela mesma pesquisa, Jorginho venceria Carlos Moisés, Esperidião, Gean e Décio.
Até amanhã pode haver mudanças? Pode e haverá. Mas, nada tão significativa. Como tudo está na margem de erro dos supostos 3%, ninguém vai disparar ou recuperar espetacularmente. O que deverá influir são as abstenções.
Dois polos dos eleitores estão mais dispostos as urnas: os bolsonaristas e aí divididos e os de esquerda, concentrados em Décio. Carlos Moisés corre o risco de se prejudicar pela abstenções dos emedebistas que ainda não perceberam que é a única boia de salvação deles para não virarem nanicos.
O sonho de consumo de Jorginho, Carlos Moisés e Gean de ter Décio como adversário do segundo turno para vencê-lo sem qualquer esforço, parece que naufragou. Isto mostra o quanto erráticas ou falsas são as outras pesquisas que circularam e ainda circulam por aí. Este tal instituto Mapa não está no mapa. Igualmente o tal Brasmarket que já foi muito conhecido entre nós nas décadas de 1990 e 2000.
TRAPICHE
Coisa de doido. Nem armar direito para se dar bem, sabem. Ontem e hoje está circulando intensamente nos aplicativos de mensagens dos gasparenses, uma pesquisa sem origem, ou seja, falsa, sem controle da Justiça Eleitoral, como se fosse uma propaganda ufanista e vitoriosa disfarçada de um dos candidatos. Mas, onde está o erro? Esta pesquisa, no fundo, é contra os próprios candidatos daqui. Ela está dizendo que eles simplesmente não se elegerão.
A pesquisa por números, jura e testemunha que, um dos candidatos a deputado estadual, todo pimpão, como sempre, terá 27,5% dos votos; outro 13,3% e o terceiro 10,4% da preferência dos gasparenses. Não contesto os números. Não tenho nem acesso à metodologia, se é que há.
O que destaco é o amadorismo da propaganda falsa que era para amealhar mais votos, mas que se estudada, pode, na verdade, é tirar votos e afastar indecisos, quando o eleitor ou a eleitora é esclarecida com os próprios números da pesquisa. Os eleitores e eleitoras ainda vão preferir o voto útil para algum candidato de fora que sabem que vai ser eleito e podem se orgulhar de não ter “perdido o voto”. Grau infame de marquetagem.
Esta mesma pesquisa diz que 31,5% são votos de nulos, brancos e indecisos. Então é preciso fazer uma conta simples, a de padeiro. Somos 49,386 votantes. Tomando-se por base a abstenção de 2018 – e se acha que será maior neste pleito – sobram 40.496 eleitores. Agora, tira-se os 31,5% da pesquisa do candidato propagandista dela e se acha supostos 27.740 votos bons.
Se o candidato “líder da pesquisa” diz possuir 27,5% desse contingente de “votos bons”, noves fora ele terá apenas 7.628 votos. Para quem diz precisar de apenas 20 mil para se garantir e sair daqui com 15 mil, nem conta certa e propaganda falsa sabe fazer. Aprendizes, ou enganadores profissionais? Como é que quer ser candidato com representação efetiva? Meu Deus!
Recomendo relerem os artigos que escrevi nos dias 19 e 20 de setembro “Quantos votos ficarão para os candidatos de Gaspar a deputado estadual? O bolão de apostas rola solto. O medo também I e II“
Só ontem, depois da pesquisa IPEC é que o prefeito de Gaspar Kleber Edson Wan Dall, MDB, saiu oficialmente da toca e declarou apoio à reeleição de Carlos Moisés da Silva, Republicanos. Na mesma postagem abriu o voto evangélico para Jair Messias Bolsonaro, PL, à reeleição a presidência da República. Na esteira está Marcos da Rosa, União Brasil, de Blumenau, para estadual, e o novo prefeito de fato de Gaspar, Ismael dos Santos, PSD, de Blumenau, a Federal. E Gaspar possui três candidatos.
Olhando o site da Justiça Eleitoral, sabe-se que o médico e ex-prefeito de Brusque, Jonas Oscar Paegle, Patriota, já colocou na sua conta de campanha R$555 mil. Primeiro, ele devolveu R$150 mil do partido, ou seja, sem fundões e dinheiro que está faltando ao básico dos brasileiros mais carentes. Depois ele próprio colocou R$125 mil do seu próprio bolso e aceitou outros R$100 mil de Luciano Hang.
Este negócio do UM SEGUNDO de espera após a digitação para o confirmar na urna está causando a maior confusão. Gente, que se diz informada e plugada, mas ligada na pilha guerrilheira dos bolsonaristas, liga para me dizer que é um truque para anular o voto. Inacreditável! Ora, se apertar antes do UM SEGUNDO, nada acontecerá: nem se anulará, nem se confirmará. Só depois do UM SEGUNDO de espera é que a tecla confirma estará liberada.
“Mas, isto está exaustivamente explicado, inclusive na televisão”, advirto. “E eu tenho tempo para assistir tevê?” responde-me. Então vai passar vergonha e recibo. Acorda, Gaspar!
4 comentários em “PESQUISA DO IPEC DESMONTA PROPAGANDA DE JORGINHO, GEAN, DÉCIO E OUTROS “INSTITUTOS”. EM GASPAR A MESMA ENGANAÇÃO”
JUSTIÇA ELEITORAL DISTANTE DO POVO
É impressionante como a Justiça Eleitoral está trabalhando no ar-condicionado e mandando bananas para o eleitor, a eleitora, gente com certa idade e até dificuldades de mobilidade.
Estas seções eleitorais concentradas e lotadas é uma vergonha e descaso. Um incentivo à abstenção institucional.
A conta certa de que se deve fazer é a seguinte: se nenhuma abstenção acontecer e todos quiserem votar numa mesma manhã, o que acontecerá? Simples assim.
Ah, mas o povo deve se conscientizar e se dividir. Bananas para os burocratas e juízes. Falta-lhes previsibilidade, planejamento e senso mínimo. Gasta-se milhões para entulhar votantes num mesmo local, em labirintos mal sinalizados e empilhado em escadas para gente idosa subir e descer perigosamente. Vergonha.
Isto sem falar em áreas sem estacionamento próximo e ruas estreitas com congestionamentos
Saiam do ar-condicionado, por favor.
SACANAS
Recebo no meu aplicativo de mensagens um vídeo feito de última hora de um político, com um político, recomendando outro político amigo dele, para receber o meu voto – e de outros – nestas eleições, com a seguinte informação afirmação: “eu nunca vi nenhuma sacanagem dele”.
Primeiro, a coisa pega quando é preciso fazer tal assertiva e defesa.
Segundo, talvez não tenha visto por que seja um estado de normalidade dessa gente.
HOJE É O DIA, por Elio Gaspari, nos jornais O Globo e Folha de S. Paulo
O Datafolha saiu no início da noite de quinta-feira informando que o placar estava em 50% para Lula e 36% para Bolsonaro e que 85% dos eleitores já haviam decidido seus votos. O debate da Globo terminou de madrugada, e é razoável supor que não serviu para mexer os ponteiros. Vai daí, só no fim do dia de hoje ou na madrugada de amanhã vai-se saber o resultado do primeiro turno.
Desde que John Kennedy derrotou Richard Nixon no primeiro debate transmitido pela televisão, em 1960, muitos candidatos arrastaram as fichas nessas ocasiões. Na França, François Mitterrand moeu seu adversário. Nos Estados Unidos, Ronald Reagan se impôs. Todos os grandes momentos desses debates tiveram o ingrediente da seriedade associada à presença de espírito.
Em 1981, o presidente francês Giscard d’Estaing achou que tinha uma pegadinha letal e perguntou a Mitterrand o preço do pãozinho.
“O senhor não é meu professor, e eu não sou seu aluno”, respondeu o candidato socialista. Arrastou as fichas.
Lula e Bolsonaro foram para o debate com tamanha agressividade que perderam a calma.
Ganha uma coleção de sermões do Padre Kelmon quem for capaz de repetir uma ideia nova e boa de Bolsonaro ou de Lula apresentada durante o debate. O capitão continua repetindo patranhas de 2018, mesmo sabendo que os ventos favoráveis que o elegeram viraram poeira na eleição municipal de 2020.
Os 15% que poderiam mudar de voto na pesquisa do Datafolha decidirão se a fatura será liquidada neste primeiro turno.
MIRO NO TEMPO DA CIVILIDADE
Hoje os eleitores poderão restabelecer o primado da civilidade nas relações políticas nacionais. Os bons modos evitam brigas de conveniência, e, quando as crises entram no palácio, saem menores. Quando há elegância no convívio, o impossível acontece.
Aqui vão duas histórias, ambas envolvendo o deputado Miro Teixeira.
Em 1980, Lula estava preso. Era um líder sindical de barba negra e discurso a um só tempo novo e amedrontador. A ditadura agonizava com o último general no Planalto. Thales Ramalho era um deputado do MDB conhecido pela sua intransigente moderação. Conversava com generais (poucos, porém relevantes), e a ala mais radical da oposição detestava-o. Uma jovem e ilustre figura chegou a negar-lhe o cumprimento. Thales nada tinha a ver com Lula, mas, de Brasília, telefonou a Miro, que estava no Rio, pedindo-lhe que fosse a São Paulo, como deputado e advogado, para cuidar das condições carcerárias do preso.
Miro desceu em São Paulo e, numa pequena delegação, foi ao carcereiro de Lula. Era o delegado Romeu Tuma, outra figura do mundo de bons modos. O policial disse-lhes que não poderiam visitar o preso, mas se a sua mulher, Marisa Letícia, quisesse trazer algumas roupas, talvez o delegado do próximo plantão não soubesse as normas da incomunicabilidade desse preso. Dito e feito, Marisa visitou Lula. Thales agiu sem deixar suas impressões digitais no lance.
Um ano depois, o caso de Lula seria julgado no Superior Tribunal Militar (STM). Dessa vez, a operação foi conduzida por Tancredo Neves, que nada tinha a ver com Lula. Ele chamou Miro, pedindo-lhe que o acompanhasse ao STM, para mostrar a importância do julgamento. Dito e feito. O Tribunal decidiu que o caso não era da alçada da Justiça Militar, e a ação prescreveu.
Era o exercício da política com gestos, poucas palavras e muita civilidade.
LULA DEVIA APRENDER COM LULA
Durante o debate da TV Globo, Lula perdeu a calma com o Padre Kelmon, da igreja ortodoxa do Peru, ex-petista, hoje no PTB, do deputado Roberto Jefferson. Onze entre dez cidadãos também perderiam, mas Lula estava lá como candidato à Presidência da República.
Faz tempo, Lula estava preso no Dops de São Paulo e foi tirado da cela no meio da noite. No caminho, achou que ia apanhar.
O então dirigente sindical foi levado para uma sala onde o apresentaram a um assessor da Secretaria de Segurança, que desejava conversar com ele. Era mentira, o assessor era um oficial do Serviço Nacional de Informações e havia um grampo na sala.
A conversa durou cerca de uma hora, e a transcrição circulou em Brasília.
Lula deu um baile no inquisidor. Ele queria saber se Lula tinha um canal secreto de comunicação dentro do governo e ouviu o seguinte.
– Durante esse processo, ninguém falou mais com autoridade do que eu. Reclamamos pela situação do trabalhador, como era que ele se encontrava (…) A gente sentia a coisa… Ninguém estendia a mão para o trabalhador, quer dizer, vamos fazer um negócio e colocar na mão do trabalhador.
MURALHA NO TSE
Há uma muralha no Tribunal Superior Eleitoral, formada pelos ministros Alexandre de Moraes, Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia e Benedito Gonçalves.
Têm votado juntos, sempre contra as maracutaias.
OBSERVADORES DA ELEIÇÃO
Estão no Brasil cerca de 30 observadores internacionais.
Depois de acompanhar a votação e a totalização do resultado, alguns deles estão prontos para anunciar ao mundo suas conclusões.
LULA MUDOU A ESCRITA
Lula alterou a escrita dos candidatos a formar frentes de apoio às suas campanhas. Pelo protocolo, o apoio de notáveis era buscado a partir do início da campanha oficial. Por tática ou pelo simples movimento da roda, Lula recebeu-os no finalzinho do segundo tempo.
Foi o caso das manifestações de Joaquim Barbosa e do economista André Lara Resende. Barbosa significou uma poderosa vacina contra o reaparecimento das denúncias de corrupção ocorridas nos governos petistas.
Só o tempo dirá se o apoio de Lara Resende significará algo mais do que uma simples declaração de voto.
VIGARISTA
Chegará às livrarias americanas na terça-feira “Confidence man” (“Vigarista”, em inglês), da repórter Maggie Haberman
É uma biografia de Donald Trump, cuja presidência ela cobriu para o New York Times, e cuja vida ela escarafunchou.
Quem já o leu informa que, para a repórter, a chave que explica sua presidência está na sua origem na cultura da malandragem da periferia de Nova York (cidade em que ela foi criada e vive).
CONTA OUTRA, DOUTOR
Surfando a onda de promessas da campanha eleitoral, o ministro Paulo Guedes disse o seguinte:
“Tem um grupo de fora que quer comprar uma praia numa região importante do Brasil, quer pagar US$ 1 bilhão. Aí você chega lá, pergunta: vem cá, vamos fazer o leilão dessa praia? Não, não pode. Por quê? Isso é da Marinha.”
Em 2018, durante a campanha eleitoral, Guedes já propunha esse feirão de imóveis da Viúva. Dizia que esses imóveis valeriam R$ 1 trilhão. Admitindo-se que essa carteira existisse, à época ele foi advertido por um economista de respeito de que a promessa não ficava em pé.
Admitindo-se que, mesmo assim, ele estivesse certo, fica uma pergunta: passados quatro anos, tendo incorporado vários ministérios, ele continua prometendo o mesmo feirão?
Que tipo de líder é esse que não confia sequer em membros de sua comunidade? Segundo os entendidos, líder que não confia nos seus, fracassa!