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QUANDO FALTAM VOTOS, OS POLÍTICOS SE AGARRAM A TRANQUEIRA DA VEZ COMO SE NÃO HOUVESSE PASSADO

Os políticos – esses incoerentes – não me deixam tirar uma folguinha. Nem era para ter artigos esta semana de feriado patriótico, mas eles estão em campanha eleitoral e se estabelecendo naquilo que tem de pior: o discurso para se eleger a qualquer preço.

O presidente Jair Messias Bolsonaro, PL, ainda tem uma maioria de seguidores em Santa Catarina. Em 2018, Bolsonaro no então “alugado” e agora finado PSL, conseguiu 75,92% dos votos válidos, contra os minguados 24,08% dados a Fernando Haddad, PT, naquele segundo turno. 

Hoje, as pesquisas sérias – não estas que circulam nas bolhas de apoiadores nos aplicativos de mensagens – apontam que Bolsonaro, com toda a barbeiragem no governo central e mesmo maltratando Santa Catarina como poucos no retorno de recursos federais, diante da fraqueza dos nossos representantes e lideranças, ainda é dono de pelo menos 50% dos votos válidos. E isso é o que vale numa eleição: votos. E os políticos, novos, mas principalmente os velhos e que fazem dela uma profissão eterna, sabem muito bem dessa regra de ouro.

Não vou muito longe. O primeiro dos exemplos, vem da corrida para o governo do estado. Três candidaturas reivindicaram serem elas as legítimas representantes do bolsonarismo por aqui. 

A primeira a ter que bater em retirada nesta associação foi a do ex-prefeito de Florianópolis, Gean Loureiro, do União Brasil, aquele que que está dizendo que Santa Catarina possuirá várias capitais, para se descolar da rejeição que o interior trabalhador e gerador de impostos possui institivamente contra a capital da Ilha Magia.

Sobraram os senadores Jorginho Mello, PL, o que se diz legítimo e que escanteou Gean na Justiça e que na decisão, proibiu a associação, e o Esperidião Amim Helou Filho, PP.

Pois não é que neste final de semana, sentindo o bafo das pesquisas e querendo uma casquinha daquilo que seria o recall associativo de Bolsonaro, Jorginho e Amim, engalfinharam-se em trocas de acusações mútuas nas redes sociais e até em press-releases de que um e outro já foi petista de carteirinha: Amim já fez campanha aberta para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2006), e Jorginho, já foi do governo de Dilma Vana Roussef e como paga, tinha o Dnit daqui – aquele que não funcionava e que o ex-ministro Tarcísio de Freitas, Republicanos, teve que botar a mão.

Os bolsonaristas, no fundo, estão é mal-arranjados em Santa Catarina. E eles sabem disso. Aliás, diz o dito popular: “onde muitos mandam, e nenhum obedece, tudo fenece”.

Mas isto não é só entre gente coroada da República e das oligarquias políticas daqui que querem voltar e perpetuarem no poder em Santa Catarina, depois que perderam para o atual governador Carlos Moisés da Silva, Republicanos, um outsider, que também se elegeu com o rastro de Bolsonaro, foi excluído porque não se ajoelhou ao sobrenome que usou para se eleger naquele 2018, no também PSL, com 71,09% dos votos válidos.

Permeia também o zé pequeno e até mesmo os que se dizem representar a “nova política”.

Não é que nesta quarta-feira, atolado de dúvidas, e ainda lutando para ter o seu registro de candidato a deputado estadual confirmado, o vice-prefeito de Gaspar, Marcelo de Souza Brick, que trocou o PSD pelo Patriota na última hora, disse-se Bolsonaro raiz? A reação foi imediata e de grande repercussão na cidade. 

O que deveria ser uma sacada para virar o jogo, na verdade, piorou tudo. Marcelo ficou mais exposto no seu jeito de ser e agir. Isto mostra muito do que é Marcelo e de como está perdidinho nesta nova empreitada dele. Marcelo está se agarrando a qualquer tranqueira para lhe salvar desta correnteza onde está metido e não sabe como chegar à barranca são e salvo. O processo que enfrenta é uma prova disso. Faltou transparência desde o início. Faltou construir e compartilhar soluções. Está num voo cego.

E depois o exagerado sou eu. Impressionante. A foto foi feita no Palácio do Planalto quando Gaspar recebeu o título criado pelos políticos de Capital Nacional da Moda Infantil, que ninguém sabe onde está e onde se compra entre nós e os visitantes. Acorda, Gaspar!

TRAPICHE

Aliás, já está disponível, para quem quiser assistir e avaliar, os depoimentos dos que foram chamados à Justiça Eleitoral para esclarecer a filiação de Marcelo de Souza Brick, dentro do prazo e que se questiona, no Patriota. Ela foi realizada virtualmente no sábado passado. É só acessar:

https://consultaunificadapje.tse.jus.br/#/public/resultado/0601414-40.2022.6.24.0000

Atualização deste 08.09 às 8h05min. O juiz relator eleitoral do Tribunal Regional Eleitoral e que cuida deste caso, Paulo Afonso Brum Vaz retornou os autos para a Comarca. Indeferiu o pedido de perícias pedidas pelo autor das denúncias, pediu a juntada urgente da prova da data “em que o nome de candidato Marcelo de Souza Brick foi inserido na lista interna de filiação, no sistema Filia, do Patriota”.

E deu cinco dias, desde ontem, para as alegações finais. Depois mais dois dias para a Procuradoria dar o parecer. Ou seja, até o final da semana que vem estará tudo sacramentado. O Patriota já fez a parte dele ontem no início da noite quase imediatamente ao despacho do juiz. Atestou que a filiação ocorrida no dia 02 de abril foi registrada na lista interna do partido em Gaspar no dia 12, às 19h54min pelo usuário 052023120957

Perguntar não ofende: afinal o que é feito da milionária compra do terreno da Furb no Poço Grande pela prefeitura de Gaspar, sem arrego, sem discussão pública, sem projeto? O prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, jurava que iria construir ali anova sede do governo e novo centro administrativo? 

Está se esquecendo deste assunto como se esqueceu quando se comprou o prédio do antigo BESC aqui no Centro de Gaspar. Também se jurou ao povo e aos vereadores que se tinha destinação certa. Mas passados quase quatro anos, nada aconteceu. Continua-se pagando aluguel daquilo que se comprometeram economizar para a cidade.

Gaspar é um lugar sui-generis. Terceirizou-se a merenda escolar. Um bafafá danado na época. Apontava-se os erros e riscos. Apontava-se a falta de estrutura de fiscalização e regulação.  A Bancada do Amém na Câmara deu os votos para isso. Depois, suprimiram a nomenclatura e vagas novas para merendeiras. Mais bafafá. Novamente a Bancada do Amém deu aval para o prefeito Kleber Edson Wan Dall, MDB, e o então secretário da Fazenda e Gestão Administrativa, Carlos Roberto Pereira, presidente do MDB, autor da ideia e da manobra.

As reclamações continuaram contra o mau funcionamento e atendimento desta cara terceirização, vendida como eficiente e de menor custo. Mas, sem fiscalização…. As críticas e reclamações de pais, crianças e até professores – alguns marcados por isso – só diminuíram graças à pandemia, a qual colocou os alunos em casa. Agora, na volta das aulas, a realidade falou mais alto.

E o que está na Câmara de Vereadores? Um projeto de Lei que entre outras coisas autoriza a contratação de temporários para a função de merendeira. E a Bancada do Amém, mais uma vez, está todo pimpão e preparada para aprovar tal pedido de Kleber e do secretário de Educação, Emerson Antunes, um curioso de Blumenau que vaio dar aqui por indicação política.

Mas, perguntar o básico não ofende: quando se contratou esta terceirização não estava explícita e clara de que a fornecedora da merenda daria também toda a mão-de-obra de manipulação, atendimento e limpeza? O que aconteceu? Por que a prefeitura precisa agora arcar com um custo que supostamente estava embutido na licitação quando venderam a ideia? É só olhar as gravações da Câmara. Acorda, Gaspar!

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4 comentários em “QUANDO FALTAM VOTOS, OS POLÍTICOS SE AGARRAM A TRANQUEIRA DA VEZ COMO SE NÃO HOUVESSE PASSADO”

  1. A INGLATERRA DE 1952 A 2022, por Elio Gaspari, nos jornais O Globo e Folha de S. Paulo

    Elizabeth II morreu na quinta-feira. No dia 6 de fevereiro de 1952 ela era apenas princesa e estava no Quênia. Subiu no mirante de uma árvore e, ao descer, soube que o rei George VI, seu pai, morrera no Palácio de Buckingham enquanto dormia. Aos 26 anos, ela era a rainha da Inglaterra.

    Muitas mudanças aconteceram durante seu longo reinado. Aqui vai uma, para quem manuseia uma nota de 50 libras.

    Um mês antes da morte de George VI a casa do professor Alan Turing havia sido assaltada. Ele tinha 39 anos e era um notável matemático, inglês de vitrine. Haviam levado roupas, uma bússola e algumas facas. Coisa de 50 libras. Turing deu queixa à polícia e as impressões digitais deixadas num copo confirmaram sua suspeita. No roubo estava um jovem com quem mantinha eventuais relações homossexuais. Ele ameaçava contar tudo e tudo contou.

    Enquanto os sinos tocavam pela morte de George VI, o caso mudou de aspecto. Havia um roubo, mas havia também a violação de uma lei de 1855, que previa penas de até dois anos de prisão para quem praticava “atos indecentes”. Em 1951, 174 ingleses foram condenados por violar essa lei. Em geral, pegaram menos de seis meses de cadeia. Inglês de vitrine, o próprio Turing havia contado à polícia sua relação com o jovem.

    Dias depois do funeral do rei, o rapaz foi para a cadeia. Turing voltou para casa depois de pagar uma fiança. Em março de 1952 ele foi julgado e condenado a se submeter a “tratamento médico qualificado”.

    A Inglaterra pediu desculpas

    Nos anos 50 do século passado, a homossexualidade era considerada uma doença, e Turing submeteu-se a um tratamento hormonal. Achava-se que injeções de hormônios femininos reduziriam a libido dos homossexuais (Nos Estados Unidos, outra vertente médica havia prevalecido, e em 11 estados castravam-se os “doentes”).

    O professor ficou impotente e cresceram-lhe seios.

    No dia 7 de junho de 1954, um ano depois da coroação de Elizabeth II, Turing foi encontrado morto em casa. No seu organismo havia cianeto de potássio, e até hoje prevalece a hipótese do suicidio.

    (No ano anterior a princesa Margaret, irmã da rainha, foi proibida de se casar com o piloto Peter Townsend. Durante a guerra ele havia derrubado nove aviões alemães, mas era divorciado. Ano que vem será coroado o rei Charles III, um divorciado que enviuvou e casou-se com a divorciada Camila ex-Shand e ex-Parker Bowles, sua amante por décadas e neta da namorada de Eduardo VII, avô do monarca.)

    A Inglaterra devia a Alan Turing uma de suas maiores vitórias militares durante a Segunda Guerra Mundial. Em 1939, ele foi recrutado para trabalhar nas instalações secretas do governo inglês que tentavam decifrar os códigos militares alemães. A criptografia do Reich embaralhava as letras do alfabeto em sopas de 105 mil possibilidades. Mais tarde, as possibilidades chegaram a 1,3 trilhão.

    Turing concebeu um equipamento com cerca de 20 quilômetros de fios e mais de um milhão de circuitos, chamado inicialmente de A Bomba e, depois, de Colossus. O supergrampo começou a funcionar em meados de 1940. Dois anos depois, os movimentos das tropas do marechal alemão Rommel, no norte da África, eram ouvidos por 50 máquinas inglesas. Em 1943, elas decifravam cerca de três mil mensagens por dia.

    Turing não foi o único autor da proeza, mas sem ele talvez a criptografia alemã não tivesse sido violada. Esse era um tempo em que o primeiro computador americano pesava mais de quatro toneladas e custava algo como US$ 8,5 milhões em dinheiro de hoje. Atualmente, qualquer iPhone é cinco mil vezes mais poderoso

    Na operação dos ingleses chegaram a trabalhar umas dez mil pessoas, na maioria mulheres. Em 1945, o primeiro-ministro Winston Churchill mandou destruir todas as máquinas e vestígios do Colossus, o que atrasou em alguns anos o progresso da indústria de computadores da Inglaterra. Anos antes, depois de uma carta de cientistas (inclusive Turing), Churchill mandara destravar a burocracia que atrapalhava o serviço. Era coisa tão secreta que sua existência só foi conhecida décadas depois. (Uma avó de Kate Middleton, atual duquesa de Cambridge, trabalhou lá, mas não contava o que fazia.)

    Em 1990, o governo inglês desculpou-se pelo que fez a Turing, e em 2013 Elizabeth II perdoou-o. A lei de 1855 virou poeira e em 2014 foram exoneradas retroativamente todas as pessoas condenadas com base nela.

    No ano passado, quando um retrato de Alan Turing passou a ilustrar a nota de 50 libras. A princesa de 1952 já tinha comemorado seus 70 anos de reinado com o jubileu de diamante.

    O VALOR DA MEMÓRIA

    Em 1936, aos 24 anos, Alan Turing publicou numa revista acadêmica seu artigo “On computable numbers”, prenunciando o que seria uma “máquina universal”. Ele se tornaria um marco na história dos computadores.

    Os sábios da época acharam-no muito teórico, e a revista recebeu apenas dois pedidos de cópias do texto. Em 2013, o único exemplar em mãos privadas desse artigo foi vendido por 205 mil libras, equivalentes a R$ 1,2 milhão de hoje.

    A LIÇÃO CHILENA

    Os chilenos mandaram para o arquivo o projeto de Constituição votado por uma assembleia que havia incorporado quase todos os temas da agenda de centro-esquerda do século XXI. Em outro referendo, em 1988, os mesmos chilenos mostraram a porta de saída à ditadura do general Augusto Pinochet.

    Os plebiscitos chilenos resolveram pacificamente as divergências da sociedade. Em 1973, outra grande divergência foi resolvida pela força das armas e desembocou numa sangrenta ditadura.

    O presidente Gabriel Boric absorveu a derrota, reconhecendo a expressão da vontade popular e reorientou seu governo.

    É sempre bom lembrar que em dezembro do ano passado, no primeiro turno da eleição, Boric teve 25,8% dos votos. No segundo, prevaleceu com uma maioria de 56%. A Constituição foi rejeitada por 62% da população num pleito em que o voto era obrigatório.

    A professora Maria Hermínia Tavares disse tudo:

    “O desfecho do plebiscito mostra que a parcela organizada e politicamente ativa da sociedade não se confunde com as preferências da maioria, tampouco a exprime, mesmo quando se enxerga como a sua tradução mais legítima e generosa.”

    Agendas políticas são como árvores de Natal. Elas precisam de enfeites, mas se forem sobrecarregadas, caem. Sobrecarregada, a Constituição chilena foi rejeitada.

    No Brasil, até mesmo alguns dirigentes petistas já reconheceram que a queda da presidente Dilma Rousseff e a ascensão de Jair Bolsonaro deveram-se, em parte, à incorporação de um excesso de temas divisivos à agenda da coligação de centro-esquerda.

  2. A CNBB parece estar certa, mas possui a mesma prática que condena. As Eclesiais de Base, mais discretamente, porém, mais instrumentalizadas, fizeram o mesmo papel para afastar a essência da religião católica e instalar a política com viés ideológico de esquerda em suas capelas, igrejas e movimentos assistenciais.

    A CÉSAR O QUE É DE CÉSAR, editorial do jornal O Estado de S. Paulo

    Perante as inúmeras tentativas de usar a religião para angariar votos, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) lembrou recentemente que a manipulação religiosa “desvirtua os valores do Evangelho e tira o foco dos reais problemas que necessitam ser debatidos e enfrentados em nosso Brasil”. Em nota publicada no último dia 2, os bispos católicos manifestaram preocupação com a instrumentalização da religião “protagonizada por políticos e religiosos”.

    O problema não é teórico e vem causando danos muito além da própria liberdade política. A manipulação da religião para fins políticos tem sido ocasião de violência. No dia 31 de agosto, um fiel foi baleado dentro da igreja da Congregação Cristã no Brasil, em Goiânia, por discordar das falas do pastor que pregava o voto contra a esquerda. O disparo foi feito por um policial militar de folga que se envolveu na discussão política.

    Em tempos confusos, como são os atuais, a nota da CNBB é muito importante, reafirmando um aspecto fundamental do regime democrático. A manipulação religiosa não é apenas um desvirtuamento de valores e convicções pessoais para fins político-eleitorais. Ao colocar o exercício da liberdade política como uma escolha entre o bem e o mal, essa instrumentalização da fé ataca o caráter laico do Estado – a separação entre Igreja e Estado – e a própria ideia de liberdade política. A mensagem dos manipuladores é a de que a adesão a um credo religioso implica uma específica escolha na urna. Não poucas vezes, a tramoia é feita sem nenhum pudor, sendo o próprio líder religioso candidato a cargo político.

    Ao condenarem a manipulação religiosa, os bispos católicos reafirmam a existência de um âmbito de liberdade fundamental no Estado Democrático de Direito. Líder religioso não pode impor um determinado voto a seus fiéis – assim como patrão, cônjuge ou quem quer que seja não pode impor voto a ninguém. Há liberdade política, reconhecida e protegida pela Constituição.

    A CNBB menciona um aspecto fundamental relativo à autonomia entre religião e política. “A Igreja (católica) é advogada da justiça e dos pobres, exatamente por não se identificar com os políticos nem com os interesses de partido”, diz a nota da entidade, citando um ensinamento do papa Bento XVI. A manipulação religiosa consiste justamente em identificar credo religioso com um político ou partido específico. Em suas expressões mais severas – que limitam de forma ainda mais radical a liberdade política –, essa manipulação chega a apresentar candidatos a cargos políticos como enviados de Deus.

    É preciso defender a liberdade política. E, precisamente por existir liberdade política, cada pessoa tem o direito de definir o seu voto de acordo com suas convicções e sua visão de mundo. O caráter laico do Estado não impõe valores, sejam religiosos ou cívicos, a seus cidadãos. Cada um é livre para, dentro da lei, escolher e apoiar o que bem entender.

    No caso dos católicos, os bispos lembram que “nossa fé comporta exigências éticas que se traduzem em compaixão e solidariedade concretas”. Logicamente, cada credo religioso tem suas doutrinas e suas especificidades. De toda forma, o que parece necessário destacar é a gritante incongruência entre discurso religioso (seja qual ele for) e desrespeito a quem pensa de forma diferente.

    A manipulação religiosa da política tem sido fonte contínua de atritos e tensões, produzindo um ambiente de agressividade incompatível com o Estado Democrático de Direito. Segundo o Estadão revelou, lideranças evangélicas ligadas à esquerda estão preocupadas com a escalada da violência política, também dentro de instituições religiosas. Há disputa, pluralidade de ideias e embate de propostas, mas a democracia é fundamentalmente um regime de paz.

    A liberdade – em suas diversas dimensões, também a política e a religiosa – não é um slogan vazio, e muito menos pretexto para agredir os demais. É um princípio fundamental inegociável, que, entre outras consequências, demanda respeito ao outro e à sua consciência.

  3. POBRES, DEMOCRACIA E IMPRENSA, por Reinaldo Azevedo, no jornal Folha de S. Paulo

    O Datafolha vai dizer daqui a pouco se a cruzada criminosa de Jair Bolsonaro no 7 de Setembro interferiu de forma importante na decisão do eleitorado. Estava em curso já um movimento de discreta aproximação entre os líderes das pesquisas. Tendo havido uma aceleração, pode-se especular que a “demonstração de força” tenha surtido efeito.

    O TSE não vai cassar a chapa encabeçada pelo presidente. Ou sobreviria o caos. O populismo em tempo de redes é novo, mas a prática é antiga: acuar as instituições ou cooptá-las, a exemplo da Procuradoria-Geral da República. Os inquéritos hoje sob a relatoria de Alexandre de Moraes são a única barreira de contenção. Moraes se tornou um dos alvos da imprensa.

    A extrema-direita populista que fala diretamente às massas por intermédio das redes sociais, sem qualquer mediação, populariza, como é sabido, teses e pautas as mais obtusas e reacionárias. O algoritmo virou senhor da razão e critério para aferir a verdade.

    Nota rápida: se é assim, apor que os ditos “progressistas” não fazem o mesmo? Porque é mais fácil tornar virais as “respostas simples e erradas para problemas difíceis”. A Terra plana parece bem mais óbvia do que a física quântica.

    Está hoje nas mãos dos mais pobres salvar a democracia no Brasil. A despeito de suas brutais imperfeições, o regime nos permite, ao menos, equacionar as diferenças e buscar modos de corrigir desigualdades. Há aí um aparente paradoxo, não é? As dificuldades materiais eram rotineiramente compreendidas, e isso fazia sentido no mundo pré-redes, como um entrave ao acesso a tecnologias de ponta e, por consequência, à informação qualificada.

    Até a semana passada, o mundo bruto que Bolsonaro representa e vocaliza, em que uma pistola é a última expressão do argumento, encontrava na camada da população que recebe até dois salários mínimos o seu limite. Num outro corte, que não é o de renda, mas que também conhece a exclusão, as mulheres constituíam uma barreira importante – aquelas mesmas evocadas em palanque pelo presidente dito “imbrochável”, que fez de Michelle mero instrumento da sua autoglorificação. E, como também evidenciavam os números, o Nordeste era outro território inóspito para o destruidor de instituições.

    Como resta óbvio, é claro que Bolsonaro tem milhões de eleitores em todas essas categorias, mas os números que o separavam de Lula – até a semana passada, reitere-se – tornavam impossível a sua vitória. Nesses casos, a vida ela – mesma tem se sobreposto ao Brasil paralelo das redes, que obviamente se traduz também em pessoas concretas, ou não estaríamos nesse lamaçal legal e institucional. A esmagadora maioria dos beneficiários do Bolsa Família (“Auxílio Brasil” é bolsonarês), por exemplo, não haviam trocado os R$ 200 suplementares (até dezembro) por seu voto.

    Sim, leitoras e leitores: a sobrevivência do regime de liberdades públicas e individuais depende hoje, em larga medida, do voto dos pobres no geral – e das mulheres pobres em particular. No mais, constata-se, de maneira um tanto aterradora, que as instituições do Estado e mesmo as da sociedade civil estão desaparelhadas para enfrentar o assalto à democracia.

    Vimos, por exemplo, parte da imprensa a transmitir em tempo real – e parcela dela o fez por ingenuidade, não por adesão ideológica – os comícios ilegais de Bolsonaro, ecoando a voz da barbárie. A agressão à Lei Eleitoral e à Constituição ampliava, assim, o seu público. E que se note: um dos inimigos da massa que foi reverenciar o seu “duce” era justamente a imprensa. Não por acaso, um cartaz sórdido, pendurado num guindaste, demonizava de maneira covarde e asquerosa a jornalista Vera Magalhães.

    Mais: aqui e ali, articulistas convidaram os leitores, espectadores, ouvintes e internautas não bolsonaristas a reconhecer, afinal, a força do “Mito”, condescendendo com o criminoso contumaz porque, afinal, não foi tão golpista assim —só um pouco. Está em curso um processo de normalização da política do ódio.

    Salvando a democracia, os pobres contribuirão também para salvar a imprensa.

  4. Bom dia.

    Sobre a terceirização da merenda escolar, cada gaveta aberta, voam cem baratas.

    Será que isso acontece pq ninguém FISCALIZA e RESPONSABILIZA os atos dos nobres membros da Câmara municipal?

    Será que isso acontece pq lá na Casa dos Representantes do POVO não tem ninguém PREOCUPADO CONOSCO?

    Será que isso acontece pq, independente do CUSTO/BENEFÍCIO,
    os TREZE VEREADORES da Câmara municipal RECEBEM, pra ESBANJAR DE RODO, 7% da ARRECADAÇÃO MUNICIPAL?

    O poder é TRANSITÓRIO, TEMPORÁRIO..
    A história, o legado e a colheita,
    NÃO.

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