Não vou comentar a estultice de repercussão mundial, contra o país e ele próprio, do presidente Jair Messias Bolsonaro, PL, na segunda-feira, diante de meia centena de embaixadores estrangeiros. Ela o deixou como um parvo ao fim da exposição no Alvorada. Humilhante. Paciente e conscientemente ela ouviu as afirmações, várias vezes demonstradas e comprovadas como mentirosas; sem prova alguma.
E por que não vou adiante? Há gente melhor informada que já comentou, dissecou e esclareceu sobre isto aqui e lá fora.
No fundo, é um jogo calculado de provocação às instituições, às leis, à Constituição. É para melar e não haver eleições. Donald Trump que poderia ajudá-lo nesta “melaceira” está derrotado e até ameaçado de ser preso por fazer o que Bolsonaro quer repetir por aqui. Vladimir Putin, o ajudante, inclusive da “melaceira” nos Estados Unidos – assim se acusa ,- está metido numa guerra desonesta, perdendo dinheiro e se enfraquecendo politicamente por todos os lados. Não terá tempo para Bolsonaro.
Num lugar sério, onde prevalece a democracia e a ordem institucional, Bolsonaro já teria sofrido, ou estaria num processo de impeachment. Por muito menos Dilma Vana Rousseff, MDB, e Fernando Color de Mello, o mais novo amigo de Bolsonaro, foram embora.
O procurador Geral da República, Augusto Aras, como ajudante geral, não quer saber de se arguir as infrações. E Arthur Lira, PP-AL, presidente da Câmara, não quer perder a chave do cofre via emendas secretas do relator. E de verdade? O PT e Luiz Inácio Lula da Silva também não o querem. Este desatino radical do presidente lhes interessa também. Entretanto, pode ser uma cartada arriscada.
No fundo, Bolsonaro está provocando. Está esticando a corda. Se as instituições funcionarem como manda a Constituição, ele estaria ferrado. E é esta corda esticada que Bolsonaro quer para poder levar parte de seu eleitorado fanático para as ruas e até, em armas. Daí para um golpe, é um tantinho de nada. Afinal, sob a desculpa do ambiente descontrolado, nada mais necessário do que um Estado de Exceção para “colocar” as coisas em ordem. E as eleições? A gente vê depois… quando, e se, tudo se estabilizar ao gosto do mandatário de plantão.
O que está claro, no entanto, é que tudo isso e muito mais que virão das convenções. Elas começam hoje e vão até cinco de agosto. Elas definem o jogo das campanhas oficiais e como tudo será transformado para os resultados do primeiro turno em dois de outubro, não só aos que querem ir ao Planalto, mas os que disputam os governos nos estados. Porque no fundo, tudo se amarra.
O medo está instalado. É uma das campanhas mais provocativas e violentas que eu já assisti na minha vida e que começa antes do golpe militar de março de 1964.
Não tinha consciência política, nem era filho de pais politizados e muito menos na década de 1960 tudo o que se sabia – e eu ouvia, sem entender muito -, era via as rádios – com radiojornalismo muito ativo ou reproduzindo os conteúdos exclusivos dos grandes jornais como Jornal do Brasil, O Estado de S. Paulo e Última Hora -, principalmente as de grande alcance como a Nacional e Tupi, do Rio de Janeiro – onde tudo ainda fervilhava como Capital ou ex-Capital do Brasil, além da Guaíba, da antiga Caldas Júnior, aqui para o Sul.
Hoje, somos informados, esclarecidos, desinformados, manipulados e enganados pelas redes sociais. A grande mídia, como de apelida, passou a ser não mais uma influenciadora, mas uma grande agência de checagem do mundo virtual, onde estão milhões de produtores de conteúdos e opiniões para causas políticas, ao gosto do cliente e da busca do poder central, como bem mostra parte final da sexta temporada de Homeland, disponível na Starplus. Algo imaginado como ficção, bem antes da manipulação cotidiana de massas se tornar uma realidade.
E essa provocação de Bolsonaro como a de segunda-feira passada, depois de tantas outras iguais que se perderem pelo caminho como distração, não é à toa. Há método. Ainda mais, onde a ignorância é a massa que se deixa manipular por gente indecente, mas com espaços certos para serem ocupados.
Concluindo.
Só com o “ajeitamento” das melancias neste caminhão da corrida nacional, é que as carroças nos estados vão se desembestarem, inclusive em Santa Catarina, para então acionarem os carrinhos-de-mão nos grotões, como em Gaspar e Ilhota.
É uma eleição diferente. Cada uma possui a sua surpresa e peculiaridade. A marcha contra a corrupção e os marajás que já elegeram presidentes doidos, nem de longe elas hoje passam neste ano como bandeiras dos candidatos que polarizam a disputa. Ao contrário. E quem está marcado para vencer, é exatamente quem carrega à marca da corrupção, o que desmoralizou a Justiça que o condenou em várias instâncias e com fartas provas. Entranho país! Pobres eleitores e eleitoras.
Só este fato por si só mostra o quanto a direita xucra, o falso cristianismo, os conservadores do vinagre e os bolsonaristas erraram nestes últimos três anos. Nem montar um disfarce para se ter mais longevidade no poder como o PT e Luiz Inácio Lula da Silva fizeram nos primeiro quatro anos de governo, foram capazes.
E para completar a traição, quem permitiu tudo isso foi quem, agora ameaçado nas urnas por falta de votos, arma o golpe.
Na verdade, Bolsonaro está no cadafalso que ele próprio construiu. Foi assim que ele interrompeu a sua carreira militar e foi para a reserva como capitão do Exército, e hoje o quer para salvá-lo. Wake up, Brazil!
TRAPICHE
Em Gaspar, o governo de Kleber Edson Wan Dall, MDB, não se cansa de passar vergonha. Na falta de algo mais conclusivo, publica fotos nas redes sociais de gente reunida em gabinete monitorando obras. Obras são monitoradas no campo. Simples assim.
Palanque I. Ninguém quer uma terceira via viável. A candidata oficial do MDB, a senadora Simone Tebet, está sendo esvaziada dentro do próprio partido. E quem encabeça são os que sempre estiveram com o PT. E pela mesma causa. Foi assim no PSDB com João Dória.
Palanque II. O PL catarinense, quer porque quer que o PP seja um coadjuvante dele na corrida pelo Centro Administrativo. O senador Esperidião Amim Helou Filho, está numa encruzilhada e numa estranha muda.
Palanque III. O prefeito de Chapecó, João Rodrigues, PSD, já mostrou a que veio, repetiu a dose e dobrou a aposta.
Palanque IV. Depois de chupar a laranja até bagaço em verbas para seu município no tal Plano 1000 e ser socorrido na barbeiragem que fez na pandemia da Covid-19 quando exportou doentes, está dizendo que o governador Carlos Moisés da Silva, Republicanos, faltou com empenho e palavra, por isso, estaria livre para a crítica e oposição.
Palanque V. O temor é que outros sigam o mesmo exemplo, inclusive os que assinaram manifestos. É nestes políticos que se está votando nos municípios. E eles não sabem porquê em muitos dos casos perdem credibilidade e votos.
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MULHERES NO TOPO? DEIXA PARA DEPOIS, por Vera Magalhães, no jornal O Globo
Os últimos dias foram marcados por dois movimentos – de origens distintas, mas muito similares na forma e no significado – de investida de partidos e grupos eminentemente masculinos para retirar de cena a candidatura de mulheres à chefia do Executivo.
Tanto a senadora Simone Tebet, pré-candidata do MDB à Presidência, quanto a governadora do Ceará, Izolda Cela, do PDT, são consideradas inapropriadas, fracas, incapazes pelos dirigentes de seus partidos, todos homens, para disputar e vencer as eleições. Melhor descartá-las, deixar essa coisa de candidata mulher ou para ornamentar chapas como vices vistosas ou para uma outra hora.
Não se trata de discutir a viabilidade eleitoral de uma e de outra. Tebet enfrenta, na disputa presidencial, a mesma dificuldade de todos os outros postulantes homens para se colocar diante da cristalização das preferências eleitorais por Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro. Mas o questionamento e as investidas contra sua permanência no páreo são muito mais ostensivos, sem cerimônia e graduados que os feitos contra João Doria, que se davam às escuras, nos bastidores.
Luciano Bivar patina mais que a senadora nas pesquisas, não apresenta a mesma disposição que ela em abordar vários temas, mas não enfrenta a tentativa explícita de aniquilação que exercem contra ela os principais caciques do velho MDB. Por quê? Porque ele é o dono do União Brasil, administrador da massa falida do PSL, anabolizada pelo bolsonarismo, cujo polpudo fundo eleitoral ficou para ele administrar. E porque é homem, então o espírito de corpo dos cavalheiros da política impede que seja rifado em praça pública, com direito a foto, como fazem com ela.
E o que dizer da governadora do Ceará? Assim como outros tantos vices, assumiu a cadeira depois da renúncia do petista Camilo Santana. A dobradinha entre eles foi fruto de uma longeva e bem-sucedida parceria entre PT e PDT no estado, que vem resistindo até aos atritos entre Ciro Gomes e o lulopetismo no plano nacional.
Mas, mesmo contando com o apoio do antecessor e tendo um invejável currículo como gestora pública à frente da revolução educacional promovida primeiro em Sobral, depois no estado, pelo próprio grupo político dos Ferreiras Gomes, Izolda Cela foi descartada.
Foi derrotada em votação do diretório estadual do PDT por 55 a 29, uma decisão de que Ciro e Cid Gomes procuram de toda forma se desvincular. Democrático? Certamente. Mas não há como negar que, num grupo tão vinculado a seus líderes como é o PDT cearense, a orientação política define um processo como esse.
Bem antes do desfecho de agora, Ciro já apresentava o ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio, outro gestor de indicadores positivos, aliás, como “futuro governador do Ceará”. Fez isso na Brazil Conference, em Boston, em abril.
O fato de estar no cargo deveria dar a Cela, como dá a todo governador homem em toda parte, a prerrogativa de disputar a eleição. Ela poderia se tornar a primeira mulher governadora de um estado em que um candidato bolsonarista, Capitão Wagner, já disputou com chance a prefeitura da capital e agora desponta nas pesquisas. Esse deveria ser um projeto abraçado por siglas de esquerda que, no discurso, enchem a boca para defender maior representatividade de gênero na política.
Mas, na hora do vamos ver, a defesa da maior participação feminina nas disputas vai ficando para depois. As dificuldades de Tebet numa eleição em que a disputa entre Lula e Bolsonaro se mostra fato consumado e de Cela diante de um candidato que desfilará todo o léxico bolsonarista na campanha não são diferentes das de outros candidatos. Mas os obstáculos que vão impedindo que elas figurem na cédula não são os mesmos que se apresentam quando os postulantes são homens. Essa é mais uma das nossas muitas lacunas democráticas.